Autor Tópico: Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social  (Lida 1249 vezes)

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Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Online: 16 de Julho de 2015, 13:39:06 »
OS VALENTÕES DA JUSTIÇA SOCIAL


Tradução autorizada pelo autor, Aristotelis Orgino, do texto publicado originalmente no Medium.



Justiça social, como um conceito, já existe há milênios – pelo menos enquanto houve desigualdade na sociedade e havia indivíduos esclarecidos o suficiente para questioná-la. Quando estudamos a história, vemos, como num famoso escrito do transcendentalista norte-americano Theodore Parker, que “o arco [do universo moral]… se inclina em direção à justiça.” E isso parece relativamente evidente quando se olha para a história como se fosse uma única linha de enredo. As coisas melhoram. E, se a história é lida como um livro, os partidários da justiça social são normalmente considerados os heróis, enquanto seus adversários são os vilões.

Talvez esse seja o meu coração progressista falando, o fato de que eu cresci em uma cidade progressita, aprendi a história dos Estados Unidos com um socialista com S maiúsculo e estudei numa das universidades mais progressistas do país –  mas vejo essa ideia como uma coisa boa. A noção de que os males da sociedade deveriam ser corrigidos, de modo que a determinado grupo não é dada uma vantagem injusta sobre outro, não é, para mim, uma ideia radical.

Mas os jovens da Geração Y estão crescidos agora – e eles estão com raiva. Quando crianças, foram informados de que poderiam ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa, e que eram especiais. Como adultos, eles criaram uma novo tipo de identidade política, em que os grupos com os quais cada indivíduo se identifica são utilizados como parâmetros. Com essa concepção tão fortemente focada nos grupos aos quais cada um pertence, houve uma crescente segmentação das identidades políticas. Numa tentativa de ter a mente aberta em relação a outros grupos para tratar de questões de justiça social através de uma lente de interseccionalidade, linhas claras e distintas foram traçadas entre as pessoas. As palavras de uma única pessoa, bem como suas ações, são inseparáveis da sua própria identidade. Por exemplo: este não é um artigo, mas um artigo escrito por uma pessoa branca, de classe média, do sexo masculino (e por essa razão, será desacreditado por muitos, pois meu privilégio me cega – trato disso mais tarde).

E se por um lado isso é muito bom (o orgulho de si mesmo e de sua identidade), por outro a cultura sociopolítica resultante entre a Geração Y e seus precursores políticos um pouco mais velhos é corrosiva e destrutiva para o progresso da justiça social. E aqui reside o problema – na tentativa de resolver questões sociais prementes e importantes, os jovens dessa nova geração que são defensores da justiça social sabotam violentamente as oportunidades reais para o progresso, infectando uma concepção política progressista com, ironicamente, ódio.

Muitos entenderão esse termo que eu usei – jovens defensores da justiça social – como um sinônimo para os pejorativos “Social Justice Warriors” (SJW – Guerreiros da Justiça Social). É um termo que perdeu sua força por conta do uso excessivo, mas ilustra uma questão-chave aqui: que, com espada em punhos e sedentos por sangue, os defensores da justiça social têm se deixado levar pela violência verbal, emocional – e, às vezes, física.


Em uma exibição deslumbrante e arquetípica da Teoria da Ferradura (nota do tradutor: teoria segundo a qual a extrema direita e a extrema esquerda se aproximam), esse tipo particular de jovens defensores da justiça social têm deformado uma causa admirável para a igualdade social, econômica e política, em um movimento social autoritário que tem dividido e desumanizado indivíduos com base em uma ideologia segregadora disfarçada de teoria acadêmica. O moderno movimento de justiça social disseminado no Twitter, Tumblr e Facebook é muito muito mais uma reminiscência da Guerra Fria do que de um movimento histórico em defesa dos Direitos Civis.

Quando George Orwell escreveu 1984 (e aqui alguns vão me desancar por escolher um autor homem, branco, nascido numa potência historicamente colonialista, apesar do fato de que ele lutou e escreveu contra esse colonialismo), ele o fez para alertar contra os vários perigos do extremismo em ambos os lados do espectro político. A maior obra de Orwell é sobre autoritarismo em ambos os polos do espectro político. Se o arco do universo moral se inclina para a justiça, em seguida, o arco do espectro político se inclina para o autoritarismo em ambas as extremidades.

O próprio fato de que eu estou desenhando uma conexão entre o livro mais lembrado quando se discute degeneração política é um problema em si mesmo. Mas ele merece uma maior exploração.

2 + 2 = 5


Citação de: George Orwell, 1984
No final, o Partido anunciaria que dois e dois são cinco, e você teria que acreditar. Era inevitável que eles fizessem tal declaração cedo ou tarde: a lógica da sua posição exigia. Não apenas a validade da experiência, mas a própria existência da realidade externa, foi tacitamente negada por sua filosofia.

Este tipo particular de justiça social ataca a razão de um modo especialmente assustador: negando-a inteiramente e utilizando a intimidação para  desencorajar a dissidência. Não há nenhum meio-termo: somente preto e branco. É preciso mimetizar esse pensamento radical ou ser escarnecido pela comunidade e expulso do grupo. Discordar do radicalismo da justiça social da nova geração é tornar-se voluntariamente um pária. Aderir a essa narrativa é o teste decisivo para a aceitação social na comunidade (e além dela) nos dias de hoje.

Tomemos, por exemplo, um exemplo tópico: o caso da revista Rolling Stone e a história do estupro na Universidade da Virgínia. A jornalista Sabrina Rubin Erdely, escreveu um artigo acusando vários membros do corpo discente da universidade de estuprar uma garota chamada “Jackie”. “Jackie” é a única fonte de Erdely. Posteriormente, num editorial da Rolling Stone, foi colocada em dúvida a confirmação dos fatos realizada pela revista e pela jornalista, e argumentou-se que “havia várias maneiras de Elderly confirmar, por conta própria, a veracidade do  que Jackie tinha dito a ela.” Erdely acreditou em Jackie sem questionar. Por quê? Porque, em obediência aos defensores da justiça social, somos orientados a não questionar as vítimas de estupro. Questioná-las é “culpar a vítima” e isso é capaz de voltar a traumatiza-la.

No artigo “Lutar contra a cultura do estupro significa nunca ter que pedir desculpas“, o autor Charles Cooke analisa esse caso da Rolling Stone. Cooke escreve que houve um questionamento inicial de Jackie e Erdely e ele observa que a reação a esta linha de investigação foi recebida com extrema hostilidade. Cooke diz:

“No Washington Post, Zerlina Maxwell argumentou que “devemos acreditar, de regra, naquilo que alguém que acusa outros [de estupro] diz”, pois, “os custos de equivocadamente desacreditar a vítima superam em muito os custos de chamar alguém de um estuprador.” Esta visão foi apoiada pela advogada e jornalista Rachel Sklar, que afirmou, para registro da posteridade, que ela considera “as mulheres que falam de suas próprias experiências de estupro” automaticamente “críveis”, e qualquer um que faz perguntas a elas é um apologista do estupro. No Twitter, por sua vez, a jornalista Amanda Marcotte concluiu que qualquer pessoa que tenha dúvidas sobre um determinado relato de estupro está envolvida numa tentativa covarde de demonstrar que histórias de estupro nem sempre são verdadeiras, enquanto que Sally Kohn, da CNN, indignou-se com Jonah Goldberg quando pediu mais provas. Talvez o melhor exemplo da presunção de que todos os céticos são heréticos vieram da notavelmente desagradável Anna Merlan, que recompensou Robby Soave por seu trabalho investigativo rotulando-o de idiota.”


Grande parte dessa retórica vem da idéia de que há uma cultura do estupro generalizada nas universidades de todo o país que deve ser erradicada; mais exatamente, haveria manifestações do patriarcado opressor das mulheres que são socialmente e institucionalmente endossadas. As idéias apresentadas no trecho acima procuram resolver isso através de algo que chamam de justiça social. Mas em que mundo essas afirmações são progressistas e representativas da justiça social?

No artigo “Não importa o que Jackie disse, devemos em geral acreditam alegações de estupro”, Zerlina Maxwell sugere que deveríamos geralmente escrever o equivalente a um cheque em branco para alguém apresenta uma acusação de estupro. Isso não é justiça e certamente não é a justiça social também. É uma perversão não-progressita da justiça. Sir William Blackstone é famoso pelo que é conhecido como a Regra de Blackstone: “É melhor que dez pessoas culpadas escaparem do que um inocente sofrer.” Este axioma é uma fundação dos modernos sistemas de justiça em todo o mundo. É uma regra que presume a inocência; condenar alguém com base numa acusação em virtude da identidade ou da situação de oprimido do acusador é uma perigosa estrada morro abaixo. Ela corrói o princípio mais essencial do progressismo: o devido processo legal.


O devido processo legal, ou a idéia de que um órgão deve respeitar todos os direitos de um indivíduo, é concedido aos americanos pela 5ª e 14ª Emenda. Sugerir que não há recurso para o acusado ​​- e de que exigir isso é apologia ao estupro – é absurdo, reacionário e lança mais luz sobre a natureza preto-e-branco desses defensores da justiça social da Geração Y. Discordar (ou até questionar) esse radicalismo é ter suas palavras distorcidas para uma interpretação desfavorável: você não está defendendo o “devido processo legal”, você está defendendo que os racistas não sejam punidos, perpetua a cultura do estupro e fortalece a apologia ao estupro. Porque, afinal de contas, alguém exigiria o devido processo quando uma mulher está acusando um homem de estupro? Do ponto de vista da justiça social da Geração Y, essa é uma exigência que resulta em sexismo contra as mulheres e que tem por base, eles acham, uma taxa estatisticamente insignificante de falsas acusações de estupro.

Para o defensor da justiça social dos nossos tempos, as conclusões dependem dos fatos; ao invés, os fatos dependem das conclusões. Em um exemplo geral de viés da confirmação, a verdade é maleável. A verdade maleável é moldada em torno dos pontos de vista teóricos da justiça social. A fim de preservar a santidade desses pontos de vista, os adeptos exilam quem discorda. Não é nada novo – é uma tática tão antiga quanto a própria religião. Em vez de textos sagrados, porém, a justiça social contemporânea curva-se diante da trindade ideológica atualmente vigente:  marxismo, feminismo e pós-colonialismo.

NOVILÍNGUA


Citação de: George Orwell, 1984
Você não vê que todo o objetivo da Novilíngua é limitar o alcance do pensamento? No final, tornaremos literalmente impossíveis as manifestações de pensamentos criminosos, pois não haverá palavras para expressá-los. Qualquer conceito que seja necessário será expresso por uma única palavra, com seu significado rigidamente definido e todos os demais significados subsidiários apagados e esquecidos.

A Novilíngua da justiça social da Geração Y é um mecanismo intricada e poderosamente concebido que procura erradicar e socialmente criminalizar a dissidência.

Falemos do racismo, por exemplo. O mantra do movimento é assim: é impossível ser racista contra os brancos, pois o racismo é a soma do preconceito com a posição dominante. Já que os brancos detêm um poder social e econômico institucionalizado, aqueles que são racialmente oprimidos não podem ser racistas contra os brancos na medida em que não têm poder.


Por que não posso simplesmente refutar isso com uma incursão ao dicionário? Porque isso é objeto de gargalhadas da turma da justiça social. A ideia de uma pessoa branca indo ao dicionário para encontrar uma definição de racismo é, literalmente, uma figura de linguagem, pois o defensor da justiça social moderna acha muito divertido que um dicionário, criado por quem está poder para servir aos que falam a linguagem do poder, possa eventualmente dar uma definição precisa de uma palavra.

Entende onde quero chegar com isso? Hoje em dia você pode livrar-se da culpa de trabalhar academicamente todos os nuances de uma palavra a ponto de alterá-la fundamentalmente a seu favor.

O mesmo é dito sobre sexismo e homens – que não se pode ser sexista contra os homens porque vivemos em uma sociedade patriarcal. E, no entanto, quando é exposto que os homens enfrentam problemas sociais, políticos e econômicos legítimos, eles são informados de que o feminismo tem a solução para eles também.

Orwell chama isso de “pensamento duplo”.

Ao invés de a discussão focar-se no fato de que advogar “a morte de todos os brancos” como estratégia política e utilizar #CastreTodosOsHomens como hashtag expressam sentimentos odiosos e preconceituosos, os defensores da atual justiça social justificam e legitimam essas frases sugerindo que não são racistas ou sexistas mas legítimas manifestações contra os opressores. A discussão do quanto essas assertivas são genuinamente odiosas e anti-progressistas sequer vem a tona pois, a medida em que o roteiro é seguido, isso seria desviar-se da discussão de letígimos problemas dos oprimidos para focar-se nos não-problemas dos opressores.

O que estou falando até agora não tem a intenção de desacreditar o feminismo ou qualquer posição justiça social que visa capacitar as pessoas oprimidas ou remediar os males sociais. Como já deixei claro o suficiente no início essas são metas fundamentalmente boas e necessárias. O problema aqui são as táticas usadas por alguns detentores de suposta superioridade moral para imunizar-se de críticas enquanto promovem um autoritarismo obtuso que captura a sociedade através de táticas sinistras e arrepiantes.


Isso nos leva aos fundamentos supostamente estatísticos do movimento de justiça social contemporâneo. Como Mark Twain celebremente disse: há mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.

Vamos voltar ao exemplo da Rolling Stone e do suposto estupro na Universidade de Virgínia. Há uma estatística frequentemente citada de que “uma em cada cinco mulheres sofrerão um ataque sexual nas universidades americanas”. Isso choca a consciência, como deveria, e é usado para alimentar a histeria da cultura do estupro em universidades de todo o país. Infelizmente para os defensores da justiça social (e felizmente para mulheres em idade universitária em todos os lugares), esta estatística é criminalmente enganosa. Como Glenn Kessler, do Washington Post, escreve, esta estatística resulta de “uma só pesquisa, baseada nas experiências de estudantes em duas universidades. Como os pesquisadores registraram, esses resultados podem ser para essas duas grandes universidades, mas não necessariamente para as demais” Mas por que defensores de vítimas de agressão sexual que incluem esse detalhe? O 1-em-5 é uma ótima maneira de disseminar o medo. Em um relatório divulgado pelo Bureau of Justice Statistics intitulado “estupro e agressão sexual de mulheres em idade universitária, 1995-2013″, Lynn Langton e Sofi Sinozich relatam que “a taxa de estupro e agressão sexual foi 1,2 vezes maior

para mulheres não-estudantes (7,6 por mil) do que para estudantes (6,1 por 1.000).” Usar estatísticas deliberadamente enganosas em uma campanha maquiavélica, na qual a erradicação dos ataques sexuais em campi universitários depende da má interpretação de dados e da eliminação do devido processo legal, colabora mais para nos desviarmos de conversas sobre ataques sexuais nas universidades do que um debate produtivo e legalmente responsável nos desviaria.

Tome também como exemplo a estatística sobre diferença salarial citada em todos os lugares, desde uma aula de sociologia até discursos presidenciais: de que as mulheres recebem 70% do que os homens. A verdade é que esta é, de novo, uma estatística enganosa, que tenta aplicar a nível nacional os dados agregados ao nível individual. A revista Time informa que “essa disparidade salarial é simplesmente a diferença entre as médias dos ganhos de todos os homens e mulheres que trabalham em tempo integral. Ele não leva em conta diferenças de ocupações, posições, educação, estabilidade no emprego ou horas trabalhadas por semana. Quando esses fatores são considerados relevantes, a diferença salarial estreita a ponto de desaparecer”. Isso é corroborado por uma quantidade aparentemente infinita de fontes como o Wall Street Journal e Abigail Hall, que ironiza que “você não gostaria de comparar os rendimentos de professores do ensino fundamental com os de acadêmicos com doutorado e reclamar de que há uma diferença salarial entre físicos e professores secundaristas”. Note-se que há cinco fontes em só este parágrafo.

Usar estatísticas enganosas para empurrar uma agenda faz nenhum bem a ninguém. Isso impede o progresso. na tentativa de apoiar uma causa legítima com fundamentos de má qualidade. Fundamentos que, com o tempo, entrarão em colapso – e o progressismo com eles.

Aqui está o problema – muitos leitores ficarão indignados só pelo fato de que estou apresentando essas estatísticas sob um ponto de vista negativo. Afinal, porque eu faria tal coisa senão para retratar o feminismo de um modo feio ou para minimizar problema do estupro nas universidades? Como um homem heterossexual, presume-se que estou fazendo isso não em nome da honestidade acadêmica de confirmar os fatos, mas por razões sexistas, ou porque sou um apologista do estupro, ou porque acho que as mulheres são “pedindo por isso”.

Mas aqui está o detalhe – quem eu sou não tem (ou não deveria ter) qualquer influência sobre os fatos. O problema com esse tipo de defesa da justiça social moderna é que a identidade de uma pessoa (raça, classe, gênero, etc.) torna-se o princípio e o fim de toda a sua capacidade de ter um certo ponto de vista. Um defensor da justiça social moderna pode desqualificar uma opinião simplesmente porque ela é dita ou escrita por alguém de um grupo que é considerado opressor. É uma falácia lógica conhecida como ad hominem, na qual alguém ataca uma pessoa que apresenta um argumento ao invés de atacar o próprio argumento. Mas essa falácia lógica tornou-se a principal arma da justiça social da Geração Y. É a morte da vida acadêmica, do pensamento crítico e da honestidade intelectual. No entanto, essa é a principal forma de se comportar nas universidades em todo o país.

CONCLUSÃO


Esse longo artigo poderia ir muito mais longe. Eu poderia falar sobre como a segmentação das pessoas em grupos baseados na identidade política é uma ideologia regressiva e passional que agride a verdadeira diversidade. Eu poderia falar sobre como a proposta “diferentes mas iguais” acaba não se tornando uma coisa boa pois a esquerda a reformula e a chama de “espaços de segurança”.

O fato é que esse tipo particular de estratégia da justiça social é destrutivo para a academia, a honestidade intelectual, o verdadeiro pensamento crítico e a mente aberta. Já o vemos ter um impacto profundo na forma como as universidades agem e como eles abordam o currículo.

Os argumentos apresentados sob a bandeira desse tipo de justiça social são muitas vezes insignificantes, geralmente mesquinhos e sempre absolvidos de qualquer culpa pelo autoposicionamento moral do orador. E sim, às vezes eles são machista e racistas também.

Enxergar tudo através de um ponto de vista teórico particular (isto é, feminista, marxista, pós-colonialista, etc.) é um exercício intelectual limitativo que só funciona no vácuo. O mundo é mais do que um ponto de vista. O exílio público daqueles que sustentam pontos de vista alternativos não é de forma alguma favorável ao progresso social. O oposto do ódio não é ódio na direção oposta. Não há desculpa – nenhuma – para ser uma má pessoa em relação a outra com base na sua identidade.

Permitam-me, finalmente, ser suficientemente, suficientemente claro (aprendi que isso era necessário alguns meses atrás). A justiça social e a defesa da justiça social é uma coisa boa. Utilizar a educação de alguém para resolver problemas sociais é uma meta admirável.


A versão da justiça social de que tenho falado – a que usa a política da identidade para segmentar grupos de pessoas, que gera ódio entre grupos, que mente deliberadamente para impulsionar metas políticas, que manipula a linguagem para criar imunidade à crítica e que publicamente constrange qualquer um que remotamente manifeste alguma espécie de discordância da abrangente narrativa radical – não é admirável. É deplorável. Ele apela para os mais vis dos instintos humanos: o medo e o ódio. Não é uma posição esclarecida ou educada de se assumir. A história não verá com bons olhos esta perversão orwelliana e autoritária da justiça social que passou a dominar as mídias sociais e uma geração inteira ao longo dos últimos anos.

Aqueles que precisam ouvir esta mensagem provavelmente argumentarão que (1) tenho privilégios demais para compreender, (2) estou policiando os oprimidos (e eu não deveria dizer ao oprimido como devem tratar seus opressores) e (3) sou na verdade um racista e sexista disfarçado de progressista. Espero esses argumentos, em parte porque estou acostumado a ver esse roteiro se repetir nos últimos quatro anos de universidade.

Mas o fato que importa é o seguinte: aqueles que não estão dispostos a, sob a proteção moral do progressismo e da justiça social, engajar-se em diálogos produtivos, abertos e mutuamente críticos com pessoas que discordam não são progressistas, não são defensores da justiça social; eles são os valentões da justiça social.



Nota do tradutor 1: todas as imagens que ilustram este texto são verdadeiras e foram retiradas da página progressista Aventuras da Justiça Social.

Nota do tradutor 2: como o autor deste artigo, o site Ano Zero é vocacionado à defesa do progressismo social, o que não implica na aceitação acrítica de todas as estratégias dos movimentos progressistas contemporâneos.

Fonte: Tempo de consciência. Site do Portal Ano Zero
« Última modificação: 16 de Julho de 2015, 13:44:09 por Skeptikós »
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
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Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

Offline Diegojaf

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #1 Online: 16 de Julho de 2015, 14:11:15 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline Geotecton

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #2 Online: 16 de Julho de 2015, 15:51:17 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.

E precisa a direita criar algo para fazer isto?  :)
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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #3 Online: 16 de Julho de 2015, 15:57:58 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.

E precisa a direita criar algo para fazer isto?  :)

Ué, quando foi o contrário, racistas fazendo racistisse, suspeitaram que era um golpe dos movimentos sociais, com tramas que envolviam o Mensalão, a Lava-Jato e a Globo, mas quando o contrário acontece é fato consumado e não precisa questionar?

Que... exótico...
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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #4 Online: 16 de Julho de 2015, 16:12:37 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.

E precisa a direita criar algo para fazer isto?  :)

Ué, quando foi o contrário, racistas fazendo racistisse, suspeitaram que era um golpe dos movimentos sociais, com tramas que envolviam o Mensalão, a Lava-Jato e a Globo, mas quando o contrário acontece é fato consumado e não precisa questionar?

Que... exótico...

Eu não afirmei que é para ser crédulo (ou 'não questionar', como preferir) a fonte e sim de que estes "movimentos sociais" fazem tanta asneiras quanto os "movimentos anti-sociais".
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Offline Skeptikós

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #5 Online: 16 de Julho de 2015, 22:34:08 »
Research article

The ironic impact of activists: Negative stereotypes reduce social change influence

NADIA Y. BASHIR1*, PENELOPE LOCKWOOD1, ALISON L. CHASTEEN1, DANIEL NADOLNY2 AND INDRA NOYES1

1Department of Psychology, University of Toronto, Canada; 2University of Waterloo, Canada

Abstract

Despite recognizing the need for social change in areas such as social equality and environmental protection, individuals oftenavoid supporting such change. Researchers have previously attempted to understand this resistance to social change byexamining individuals’ perceptions of social issues and social change. We instead examined the possibility that individuals resistsocial change because they have negative stereotypes of activists, the agents of social change. Participants had negativestereotypes of activists (feminists and environmentalists), regardless of the domain of activism, viewing them as eccentric andmilitant. Furthermore, these stereotypes reduced participants’ willingness to affiliate with ‘typical’ activists and, ultimately, toadopt the behaviours that these activists promoted. These results indicate that stereotypes and person perception processes moregenerally play a key role in creating resistance to social change. Copyright © 2013 John Wiley & Sons, Ltd


Artigo completo aqui.



Em essência, o artigo acima mostra como ativistas mais radicais conseguem com suas atitudes mais violentas, odiosas ou mimizentas, fortalecer o estereótipo negativo dos ativistas daquele grupo como um todo. As pessoas tendem a ver por exemplo, o feminismo e o ambientalismo de acordo com aquilo que seus ativistas radicais (geralmente sendo eles os mais ativos) fazem, e em como por tanto estas atitudes radicais mais atrapalham do que ajudam nas lutas sociais destes grupos.

Abraços!
"Che non men che saper dubbiar m'aggrada."
"E, não menos que saber, duvidar me agrada."

Dante, Inferno, XI, 93; cit. p/ Montaigne, Os ensaios, Uma seleção, I, XXV, p. 93; org. de M. A. Screech, trad. de Rosa Freire D'aguiar

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #6 Online: 16 de Julho de 2015, 22:42:45 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.
A fonte original do artigo é historicamente reconhecida como progressista e/ou esquerdista, as imagens ilustrativas foram adicionados pelos tradutores, a fonte das imagens é uma página da internet também progressista e esquerdista. Logo as criticas acima partiram diretamente de pessoas e/ou grupos esquerdistas, e não direitistas. Mas você é livre para contestar, apresente seus argumentos e então poderemos debater.

Abraços!

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Offline Diegojaf

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #7 Online: 17 de Julho de 2015, 08:42:35 »
Não existe debate pra quem só está disposto a pregar.
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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #8 Online: 17 de Julho de 2015, 11:55:58 »
Eu apresentei argumentos, você é quem esta a fazer acusações repetitivas sem fundamenta-las. Existe a possibilidade de uma conspiração direitista, sim, mas as fontes do material são ambas comprovadamente esquerdistas, você pode refutar isso, se não, esta possibilidade perde valor enquanto a de que movimentos de minorias sociais esquerdistas de fato estão a agir com intolerância, violência, e na base da mentira, cresce.

No caso da garota do tempo do JN ter sofrido ataques racistas, o caso já foi bem esclarecido, se sabe que não foi conspiração de grupos de minorias, e nem um ataque racista em massa feito por pessoas que não se conheciam, e sim por um grupo da internet cujo objetivo é causar tumulto. Eu aceitei esta conclusão, até por que eu ainda não tinha apresentado nenhuma, mas apenas levantado hipóteses possíveis, que eu admiti que poderiam estar equivocadas (como de fato estavam).

Abraços!
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Offline Gauss

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #9 Online: 12 de Junho de 2016, 21:16:36 »
Citar
A doutrina totalitária dos “justiceiros sociais”
Os justiceiros transformaram causas justas em uma autoparódia maligna.

Cathy Young, no Observer

O movimento moderno de justiçamento social, ou o novo “politicamente correto”, ganhou muito destaque no ano passado. Protestos estudantis varreram diversos campi, com demandas frequentemente focadas no expurgo do crime de pensamento – levando a acalorados debates sobre se esse movimento é um perigoso autoritarismo pseudoprogressista ou um há muito esperado esforço para se conseguir justiça para todos. Uma retrospectiva no The Daily Dot proclamou 2015 como “o ano do justiceiro social”.

O autor da retrospectiva, o estudante de graduação e colunista político Michael Rosa, louvou essa tendência, e conclamou os esquerdistas a “abraçarem o termo”. Porém, as realizações que ele invoca são, como o povo do justiçamento social diz, problemáticas. Seu primeiro exemplo, a legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo, na verdade teve muito pouco a ver com o atual movimento de justiçamento social; foi o resultado de décadas de um ativismo muito diferente, pragmático, focado em um objetivo claro – o direito legal de se casar – e que enfatizou igualdade, não identidade gay. E o #BlackLivesMatter, também um movimento com foco específico – violência policial contra afro-americanos –, pode-se dizer ter sido mais prejudicado do que ajudado pelo dogma politicamente correto que suprime a discussão de questões espinhosas tais como crimes de negros contra negros e ataca discursos dissonantes “insensíveis”.

Infelizmente, outros exemplos de “justiça social” do Sr. Rosa – o ressurgimento feminista, a nova visibilidade de questões transgêneras, oposição à “islamofobia” – estão em pleno território do fracasso. Não que haja algo errado com os princípios: a maioria dos americanos apoia igualdade de gênero, acredita que pessoas transgêneras devem poder viver como desejam e rejeita o ódio antimuçulmano. Mas os justiceiros sociais transformaram essas causas em uma autoparódia maligna. Seu feminismo se preocupa com homens que se sentam com as pernas abertas em locais públicos, deseja “espaços seguros” livres de discordância e denuncia opressão nas preocupações sobre os riscos da obesidade. Sua defesa dos transgêneros exige respeito a identidades de gênero customizadas com pronomes pessoais que podem mudar de uma hora pra outra, e crucifica um cineasta devotamente progressista por uma piada “transfóbica” que presume que personagens femininas são anatomicamente fêmeas. Sua anti-islamofobia despreza críticas feministas do conservadorismo islamista e culpa jornalistas assassinados por desenharem cartuns de Maomé.

Será que em 2015 os justiceiros sociais apoiaram alguma causa digna? Certamente. Mas muito de sua paixão é dirigida ao policiamento de culturas e discursos que geram crimes sem vítimas – mas que violam seus tabus morais.

Por trás desses surtos de ódio farisaico está uma ideologia distinta, ainda que amorfa, que poderíamos chamar de “JusSoc”. (A lembrança do “IngSoc” de Orwell em 1984 não é mera coincidência.) No centro dessa visão de mundo estão o mal da opressão, a virtude das identidades “marginalizadas” – baseadas em raça, etnia, gênero, sexualidade, religião ou deficiência – e a busca perfeccionista de se eliminar tudo que os marginalizados percebam como opressivo ou “invalidante”. A tais percepções é dada uma quase absoluta presunção de validade, mesmo que elas sejam compartilhadas por apenas uma fração do “grupo oprimido”. Enquanto isso, os pontos de vista dos “privilegiados” – categoria que inclui brancos economicamente carentes, especialmente se forem homens – são radicalmente desvalorizados.

Devido ao JusSoc estar tão focado em mudar más atitudes e desmascarar preconceitos sutis e insensibilidades, sua hostilidade às liberdades de pensamento e expressão não é um infeliz subproduto do movimento, mas a sua verdadeira essência. Você pode ser receptivo e respeitoso com pessoas transgêneras e, ainda assim, ser classificado de preconceituoso se não acreditar que mulheres trans que se identificam como mulheres mas têm uma anatomia masculina intacta são “mulheres de verdade” – e, ainda que você mantenha essa opinião para si mesmo, pode vir a ser chamado para provar sua lealdade à linha do partido.

Obviamente, a retaliação a opiniões impopulares não está limitada ao JusSoc; mas é difícil de imaginar outro grupo contemporâneo tão implacável até mesmo com ofensas verbais involuntárias.

Tampouco existe outro grupo tão preocupado com limpeza linguística. Uma discussão num fórum de justiçamento social propõe expurgar do vocabulário termos “capacitistas” como “louco”, “estúpido” e mesmo “deprimente”; no Smith College, ano passado, o jornal dos estudantes publicou matéria sobre um painel (ironicamente, um painel dedicado à liberdade de expressão), e, ao invés de escreverem “feroz e louco”, escreveram “feroz e [calúnia capacitista]”. Dizer que alguém tem “espírito animal” gera nariz torcido, porque isso é “apropriação” de um conceito específico a algumas culturas oprimidas. Uma lista acadêmica de “micro-agressões” inclui perguntar “de onde você é?” ou elogiar o inglês de alguém nascido no estrangeiro.

O policiamento de discurso e pensamento do JusSoc inclui autopoliciamento. “Eu controlo rigorosamente meus pensamentos e me livro de perigosos pensamentos ‘impensados’ – mato minha própria mente – com certa frequência”, escreveu o colunista Arthur Chu em uma discussão no Facebook. “É isso que você tem que fazer se quiser ser um progressista feminista antirracista, i.e., um soldado da justiça social.”

Alguns conservadores classificam o JusSoc de “marxismo cultural”; ele também tem sido comparado ao maoísmo, particularmente à Revolução Cultural e seu foco em reeducação e confissões públicas de erros ideológicos. Mas, como disse a blogueira ateia Rebecca Bradley, o movimento também tem muitos elementos de culto religioso apocalíptico que enxerga o mundo mergulhado em pecado e mal, exceto por um punhado de eleitos. Um post popular no Tumblr, grande ninho do JusSoc, lamenta que “estar no Tumblr toda hora me dá uma ideia errada do mundo. Eu começo a acreditar que todos são pró-escolha, mente aberta, com bússola moral… se importam com sexismo, racismo, vergonha do corpo etc, mas aí eu saio de casa e descubro que todo mundo é tão imbecil quanto era dois anos atrás.” Isso é um exemplo claro de mentalidade de culto.

Existe uma palavra para definir ideologias, religiosas ou seculares, que desejam politizar e controlar todo aspecto da vida humana: totalitária. Ao contrário da maioria de tais ideologias, o JusSoc não tem doutrina fixa ou uma visão utópica clara. Mas sua falta de forma o torna ainda mais tirânico. Se é verdade que toda revolução está fadada a comer seus filhos, o movimento JusSoc pode ser especialmente vulnerável à autoimolação: seu credo de “interseccionalidade” – múltiplas opressões que se sobrepõem – significa que o oprimido está sempre a apenas um passo de ser um opressor. Sua camiseta feminista legalzinha pode se transformar numa atrocidade racista ao clicar do mouse. E, como sempre podem surgir novas identidades “marginalizadas”, ninguém pode dizer com certeza quais palavras ou ideias atualmente aceitas podem vir a ser excomungadas amanhã.

A interseccionalidade também deixa o JusSoc unicamente vulnerável a conflitos e tensões internas. Como reconciliar crenças progressistas sobre gênero com uma “anti-islamofobia” que trata defensores do fundamentalismo islamista misógino e homofóbico como simpática “gente marginalizada”? É muito estranho: na University of London, em dezembro último, feministas e grupos LGBT se solidarizaram com a Sociedade Islâmica, que reclamava que uma palestra no campus da feminista e ex-muçulmana nascida no Irã Maryam Namazie configurava violação de “espaço seguro”.

O movimento de justiçamento social tem muitas pessoas bem intencionadas, que querem fazer do mundo um lugar melhor. Mas muito de seu “ativismo” não passa de um busca autocentrada de pureza moral. Remover “louco” de seu vocabulário não vai melhorar em nada os serviços de saúde e as oportunidades de emprego para os mentalmente doentes. Protestar contra a “apropriação” de tranças ou rap por parte de um cantor branco tem efeito zero nos problemas reais enfrentados pelos afro-americanos.

A influência do JusSoc se espalhou para além da academia e círculos de ativistas. Ele é agora uma forte presença no mundo tech (um popular código de conduta para comunidades digitais explicitamente “prioriza a segurança de povos marginalizados, antes do conforto de povos privilegiados”) e nas subculturas geek, como entre os fãs de ficção científica e quadrinhos. Ele também dita o tom em grande parte da mídia online. Mas seus dias de ascendência sem desafio podem ter acabado.

Os conservadores há muito tempo criticam o “politicamente correto”; mas agora até mesmo alguns progressistas estão dizendo que ativismo baseado em políticas de identidade, autocorreção e intolerância aos discordantes e aos erros é um beco sem saída. Mais do que isso. Como Conor Friedersdorf disse na The Atlantic, a adesão da esquerda a políticas de identidade de raça estimulou um crescimento das políticas de identidade de raça entre os brancos na extrema direita. E não ajuda em nada que o estigma contra o racismo perde potência quando “racismo” é aplicado ao uso de sombrero em festas de Halloween.

Felizmente, uma reação mais individualista, culturalmente libertária também tem sido fomentada – exemplificada pela elogiada 19ª temporada de South Park, que fez do “PC” seu tema central. Quem sabe? Se 2015 foi o ano do Justiçamento Social, 2016 poderia ser o ano da rebelião anti-autoritária.

http://www.revistaamalgama.com.br/02/2016/a-doutrina-totalitaria-dos-justiceiros-sociais/

Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #10 Online: 13 de Junho de 2016, 18:28:13 »
Interessante como nesse caso não se aventa a possibilidade de ser uma criação do pessoal de direita pra sabotar os movimentos sociais referidos.

E precisa a direita criar algo para fazer isto?  :)

Ué, quando foi o contrário, racistas fazendo racistisse, suspeitaram que era um golpe dos movimentos sociais, com tramas que envolviam o Mensalão, a Lava-Jato e a Globo, mas quando o contrário acontece é fato consumado e não precisa questionar?

Que... exótico...

Exótico?

...Bem, enquanto que declarações racistas, ou sexistas, ou até homofóbicas aleatórias são forma garantida de conseguir atenção e revolta, o mesmo dificilmente é o caso com "progressivismo extremado", então é uma estratégia duvidosa de ser usada, mesmo que de fato existam tais "fakes".

Até mesmo uma campanha de marketing lembrar mulheres com namorados ou maridos de coisas que eles fazem e as agradam tem maiores chances de "escândalo", de ser praticamente universalmente condenada como machista (talvez homofóbica/heteronormativa, também), do que "extremismo politicamente correto". De modo geral negros, mulheres e homossexuais podem falar coisas que se "invertidas" e ditas por homens heterossexuais brancos, seriam sim, escandalosas, e até ofereceriam grande risco (talvez certeza) de processo ou condenação pública/midiática.

Isso faria com que os "fakes" precisassem ser muito extremistas, para pretender qualquer utilidade política/atenção, o que não parece o caso desses exemplos, lendo apenas superficialmente. A Anita Sarkeesian (crítica da cultura POPressora), que disse como uma das declarações aí, que não é possível homens serem vítimas de sexismo, foi dar palestra na ONU.



Mas tais fakes, "fanfics", na outra orientação política, existem também*. Só que para esses temas é meio desnecessário dada a abundância de material legítimo, ao mesmo tempo em que tem uma utilidade mais restrita, não "causam" na mídia mainstream, mas praticamente só entre circulozinhos meio esquisitos, meio racistas, meio misóginos, meio homofóbicos. O que deve inclusive ter um efeito similar ao mencionado no artigo citado antes no tópico.

* lembro de "dois" casos de farsas sobre islâmicos: uma era uma foto dizendo que uns marmanjos de uns 16-20 anos estavam na fila para se casar com pirralhinhas de 5-10, mas era outra coisa qualquer; outra eu acho que pode nem ser 100% fraude, mas é uma foto de uma mulher com a cara toda ensanguentada que parece que pelo menos um vez por mês é estuprada por uma gangue de muçulmanos, onde quer que vá, de tantas vezes que já vi a foto. Houve ainda a mulher que cortou o B de Barack na própria testa, para algo mais próximo desses que tentam apelar à simpatia por vítimas.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #11 Online: 03 de Agosto de 2018, 17:37:28 »

How Morally Outraged Are You? Well, That Depends on Who’s Watching | Molly Crockett

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #12 Online: 17 de Novembro de 2018, 16:07:10 »
O anti-político-corretismo parece cada vez mais se tornar uma espécie de político-corretismo as avessas, hiper-sensível na outra direção, achando que é tudo conspiração/opressão politicamente correta/feminista/anti-racista. Também é crescente a sobreposição com neonazistas propriamente ditos.

<a href="https://www.youtube.com/v/KLdMV57fW1M" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/KLdMV57fW1M</a>

<a href="https://www.youtube.com/v/5oFpplJ0eoI" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/5oFpplJ0eoI</a>


Depois quero ver se acho um sobre comentários de ódio dirigidos à Anita Sarkeesian. Agora eu fico até receoso de criticá-la (não que faça isso regularmente, já que não acompanho o que ela vem fazendo e nem o Thunderfoot) a fim de evitar qualquer associação com o tipinho.

Offline Muad'Dib

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Re:Ódio, violência e mentiras em movimentos de justiça social
« Resposta #13 Online: 17 de Novembro de 2018, 16:55:44 »
Tentei assistir o último vídeo e não consegui.

O Putin é o Troll master do planeta. Ele está surfando nessa onda como nenhum outro.

Eu fico de cabelo em pé quando vejo essas coisas. De um lado e de outro. É um desespero olhar isso e ver que quase ninguém está apavorado com o que está acontecendo com a nossa sociedade.

Não consigo nos ver emergindo dessa onda de ignorância. O fim disso é que os piores elementos que a espécie humana possui vão começar a ditar a narrativa da maioria das pessoas, e vai dar merda.


 

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