LITERATURA
Sorocabano assume risco de concluir a saga de "O Senhor dos Anéis"
[ 04/09 - 00:02 ]
O escritor sorocabano Paulo Henrique Rabello Nascimento, que assina simplesmente P.H.R. Nascimento, mergulhou no complexo mundo mitológico do "Senhor dos Anéis" para executar uma dificílima missão literária que deverá provocar polêmica entre os milhares de admiradores da trilogia da "Guerra do Anel". O motivo: ele "matou" todos os personagens principais das histórias bem boladas do mestre John Ronald Reuel Tolkien, que assina J.R.R. Tolkien. Com exceção do esperto e maldoso Gollum, que já havia morrido e se tornado uma página virada, todos os demais personagens, sem distinção, foram mortos e sepultados, quem dira, em Sorocaba.
Sem os principais e lendários personagens, restaram perdidos e vagando no espaço da imaginação apenas os elfos, orcs, anões e outros seres que protagonizaram apenas efeitos secundários nos contos de Tolkien.
O texto do livro contém duzentas páginas e encontra-se sob análise da Biblioteca Nacional para poder receber o devido registro para a sua publicação no Brasil. O escritor sorocabano, um médico de 33 anos de idade, está ciente do tamanho da discussão que poderá provocar pela frente por ter decidido colocar no mercado literário nacional o fim da bem sucedida história de três volumes _ "A Sociedade do Anel", "As Duas Torres" e "O Retorno do Rei".
Ao mesmo tempo, ele demonstra disposição de pagar para ver e o faz isto não apenas como escritor, mas sobretudo como fã ardoroso de um dos maiores clássicos da atualidade. Trata-se de um admirador que se diz inconformado com o fato de o mestre Tolkien não ter deixado sequer um manuscrito contando ou pelo menos dando uma dica sobre o final de tudo.
Foram três anos escrevendo e criando, depois de ter saboreado com os olhos cada palavra das obras do renomado autor inglês. Escrevia na maioria das vezes à noite ou mesmo nas madrugadas, após chegar do trabalho. Entrou de corpo e alma num mundo mágico, onde aprendeu a falar e a escrever cada palavra do vocabulário élfico. O idioma dominado habilmente pelos mais entendidos num assunto que se compara a uma religião mitológica, tantos são os "seguidores" espalhados pelo planeta.
Como se este esforço não bastasse, o escritor P.H.R. Nascimento ainda foi obrigado a transportar-se para o mundo da realidade material, especificamente o mundo jurídico, cercando-se de uma assessoria especializada para prevenir-se e evitar a ocorrência de qualquer deslize que possa vir a lhe causar problemas de ordem autoral nos tribunais.
Para o deleite (ou a censura) dos admiradores de carteirinha das aventuras originais de Tolkien, enriquecem a obra de Paulo Henrique as ilustrações da artista Leticia Barreto (
www.leticiabarreto.com.br), uma profissional da pintura e do desenho que já possui uma carreira internacional consolidada, incluindo a sua formação no Instituto Lorenzo de Medici, em Florença, Itália.
A história derradeira do autor sorocabano só não dá continuidade ao enredo alucinante dos três volumes, pois no seu texto não há guerras, mortes violentas ou quaisquer outros atos mais traumáticos. Os personagens agora estão todos idosos, com mais de cem anos e acumulando uma experiência à toda prova. E como todos os seres vivos em idade avançada, estes buscam e geralmente obtêm um cotidiano em ritmo desacelerado, bem light, aproveitando ao máximo cada instante que lhes resta. Nem por isso, no entanto, a obra de Paulo Henrique deixa de excitar a imaginação, fazendo exalar sabedoria por parte dos seus personagens. Ainda mais que, por motivos óbvios, agora eles estão todos mais sábios. Um texto que leva à reflexão e à diversão.
Nas ilustrações, os personagens foram todos envelhecidos, exibindo uma aparência tranqüila, como autênticos anciões, mas sem perder o elo de ligação com a infantilidade. Foram todos transformados pelo tempo e através do enredo buscam, naturalmente, um final feliz para suas vidas. É este o contexto em que vivem os personagens do livro intitulado "Indo Além do Senhor dos Anéis e Continuando até o Fim".
"Seguindo a orientação das histórias originais, criei um final e fui mais além. É uma continuação, mas com fatos inéditos. Um exemplo disto é a partida de Sam. Todos sabem que ele se foi, mas não sabem como isto ocorreu. Eu conto como Sam foi e o que aconteceu com ele. Em resumo, nesta história todos têm um final natural. Apesar de não abordar guerras e aventuras, esta última história sem dúvida deverá ser extremamente traumática para os fãs da trilogia. Eles vão dizer por aí: quem é este cara que escreveu o final do livro? Quem ele pensa que é para criar um fim para nós?", prevê o escritor Paulo Henrique.
Dúvidas e perguntas
Se o escritor está ou não preparado para o que virá, nem ele sabe dizer ao certo: "Não é uma questão de estar preparado ou não. Fiz esta história primeiramente para mim, porque gosto de escrever e isto me satisfaz. Outro motivo é o que já expliquei: não me conformava com a falta de um fim, sem ficar sabendo o que aconteceu com cada personagem no final de suas vidas. Muitos não vão concordar, principalmente porque sou um autor desconhecido. Se a minha obra fosse um manuscrito deixado pelo Tolkien, certamente tudo seria diferente. Sejam boas ou ruins, acho que as críticas são importantes. Torço e tenho fé de que o livro será editado e chegará ao mercado literário como uma obra inédita".
Alguns trechos do prefácio reforçam a preocupação do escritor sorocabano com a falta de um final para os personagens: "Depois que vi o navio sair dos Portos Cinzentos em direção àquela intensa luz amarela no horizonte, indo em direção oeste, fiquei pensando: Quanto tempo será que demorou para chegar?. E se chegou, como foram recebidos?. Frodo não sentiu falta do Condado ou de seus amigos em algum momento?. Onde ele foi morar? Em uma casa?. Sozinho ou com os elfos?".
E ainda diz: "(...) E Bilbo, Merry, Pippin?. Gandalf?. Voltou para casa ou lá ainda não era a sua casa? Eles morreram ou ficaram lá para sempre? Legolas e Gimli?. Foram para o Oeste? Gimli conseguiu rever Galadriel?".
O autor continua justificando: "Tantas perguntas. Precisava de respostas, pois sem elas nunca poderia haver um fim. E mesmo sabendo que a necessidade de um fim é relativa, e que talvez para alguns as respostas já existam ou nem sequer sejam necessárias, o fato é que eu precisava delas". E prossegue justificando: "Não tenho dúvidas de que o único que poderia ter todas as respostas para essas e muitas outras perguntas que eu talvez nem tenha imaginado seria John Ronald Reuel Tolkien. Mas existe uma única dúvida - Ele teria continuado? Obviamente então não haveria dúvidas e nem perguntas, e eu seria nada mais que um leitor fascinado deixando o coração repousar depois do fim".
O escritor não se preocupou apenas em mostrar o que aconteceu com os personagens principais no exato momento final de suas vidas. Lembrou-se, por exemplo, de contar como Frodo, ainda criança, foi morar com Bilbo. E quando Frodo encontra-se com o elfo Nauteu na busca por mais informações sobre a sua existência.
Uma outra passagem interessante é quando Sam viaja para as terras do Oeste (Valinor), para encontrar-se com os amigos elfos e lá ficar até a morte. Disse o próprio Sam, em forma de poesia, antes de partir: "Aqui vou eu, deixando o meu lar rumo ao Oeste desconhecido,/ mas não sei como chegar./ Então vou até onde posso e depois vou esperar. (...)" E ainda previu: "(...) Já estive com magos, elfos e anões ao meu lado,/ E de todos eles amigo me tornei,/ E agora que está acabando o tempo que me foi dado,/ Atrás deles estou indo e acho que não voltarei".
A morte dos sábios
Está no livro: sem guerras, sem aventuras. Vidas trilhando o último caminho. É a morte para todos, independente de quem seja mocinho ou bandido. De quem tenha nascido numa toca no chão da floresta ou dentro de um imponente castelo. É assim na vida real, é assim nas histórias que marcaram indelevelmente as mentes não só das crianças, como dos adultos e idosos que folhearam a obra prima de Tolkien. Este não foi o desejo do escritor sorocabano para Frodo, Sam, Gandalf, Pippin e os demais colegas de aventura, mas apenas se constitui naquilo que pode ser comparado perfeitamente a uma operação aritmética da vida. Ou seja, o nascimento somado à toda uma vida é igual à morte - para todos, sem distinção.
Esta conta resulta naquilo que é temido por todos que não conseguem viver como viveram cada um dos heróis da trilogia do "Senhor dos Anéis". Eles viveram intensamente cada segundo, mas no livro de Paulo Henrique, não há mais caminho para percorrerem no ambiente em que nasceram. É o fim da linha, e eles não só têm que enfrentar a morte numa boa, como têm a absoluta certeza de que há uma continuação, já que estão todos felizes e satisfeitos. E este é um detalhe que foi sutilmente materializado até nas ilustrações, pois os personagens idosos aparecem sempre com um brilho especial nos olhos, como se ainda fossem crianças sapecas brincando sobre a relva da floresta encantada.
"Desejo mostrar que a morte não é um fim para os personagens e para ninguém. Procurei não entrar em conflito com nenhuma religião. O fato, porém, é que existe uma visão geral, independente de religião, que todo mundo morre um dia, mas que a morte não é o fim. As grandes amizades e outras coisas boas que são conquistadas e desfrutadas em vida, nos embalam para além da morte. No caso, os personagens da história viveram e tiveram grandes amizades. É o que basta para que tenham um final feliz, com a sensação do dever cumprido. Afinal, o objetivo da vida não é ser infinita, mas que no final possamos chegar satisfeitos com tudo que fizemos", conclui P.H.R. Nascimento.
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