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Não foi o PT quem tirou 36 milhões de pessoas da misériaDeixei de ser petista, dentre outros motivos, justamente depois de me convencer sobre o que escrevo neste artigo: o Partido dos Trabalhadores NÃO foi responsável, nem exclusivo e nem majoritário, pelos 36 milhões de brasileiros e brasileiras que deixaram a miséria extrema.A desigualdade começou a cair em 2001, antes da eleição de LulaReproduzi o gráfico da forma como ele foi elaborado pelos técnicos do próprio governo, adicionando uma barra vermelha no ano de 2001, quando a desigualdade começa a cair no Brasil. E em 2001 e 2002, como se sabe, Lula ainda não havia vencido as eleições para presidente do Brasil. Não me parece que, fora do governo, Lula ou o PT tenham exercido alguma influência mágica para reduzir a desigualdade por aqui. Além disso, a queda verificada nos primeiros anos de governo dificilmente pode ser vista como mérito do presidente, já que não faz sentido imaginar que as políticas de Lula tenham surtido efeito imediato a partir do momento em que o ex-presidente chegou ao poder.Ele mostra que, durante os últimos 20 anos, cada vez mais crianças brasileiras passaram a ter acesso à escola, fazendo crescer significativamente a escolaridade média da população brasileira. Entre 1992 e 2013, o número de adultos brasileiros com 4 anos de estudo ou menos caiu pela metade, enquanto o grupo com mais de 9 anos de estudo dobrou em tamanho. [...] A política econômica do governo Lula, ao menos até 2008, pode ser acusada de tudo, menos de petista. Desta forma, o crescimento econômico no Brasil certamente não ocorreu pela adoção de políticas inovadoras após 2003, mas justamente pela repetição do que havia sido feito durante o governo FHC.Ainda assim, isso não é suficiente para explicar por que o Brasil cresceu. Analisando comparativamente, a situação dos dois governos é bem parecida: tanto com Lula quanto com FHC, a economia brasileira cresceu pouco mais do que a média dos vizinhos latinoamericanos. A diferença é que, durante o governo Lula, a taxa de crescimento dos países da América Latina foi 72% maior do que durante o governo tucano. Não é que Lula tenha inventado a roda com políticas públicas geniais que beneficiaram os trabalhadores. O motivo é mais simples: no início da década passada, o mundo se tornou um lugar muito mais agradável para países como o Brasil.[...]O erro mais comum de quem trata a inclusão econômica e social dos últimos anos como obra exclusiva do PT é antigo. Trata-se de uma velha falácia lógica conhecida como post hoc ergo propter hoc – em português, seria algo como “depois disso, logo, por causa disso”. Quase todo o processo aconteceu depois da eleição de Lula, logo, simpatizantes do ex-presidente tendem a deduzir que ela aconteceu por causa da eleição de Lula. Como vimos, não foi bem assim. Acontecimentos internacionais, que o ex-presidente não poderia controlar, assim como dinâmicas internas anteriores à sua chegada ao poder foram mais influentes do que qualquer medida tomada por ele durante a presidência. Claro que há algum mérito a ser reconhecido. [...]Apoio popular e razão nem sempre andam juntos. A aprovação de Lula durante o seu período na presidência é compreensível, assim como suas vitórias eleitorais de 2002. Lula provavelmente seria igualmente popular em qualquer outro país do mundo que passasse por tudo o que o Brasil nos últimos anos, mas a voz do povo não é a voz de Deus. Dar ao povo a razão em tudo o que diz não é nada inteligente, ainda mais num país como o Brasil, onde desde Floriano Peixoto nada é impossível quando o assunto é populismo. Conceder tons divinos ao voto popular é, também, conceder uma aura divina a nossa larga tradição de políticos autoritários.