Autor Tópico: Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque  (Lida 753 vezes)

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Offline 4 Ton Mantis

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http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/explosao-de-equivocos-fraudes-em-estudos-publicados-deixam-ciencia-em-xeque-13259159


RIO - Observação e formulação de hipótese, realização de testes e experimentos, compilação e interpretação dos resultados, construção de teoria, redação de artigo, análise dos pares, publicação em um periódico reconhecido e replicação. Um breve resumo do método científico moderno mostra o rigor que as pesquisas devem seguir. Mesmo assim, a expansão da pesquisa veio acompanhada de uma explosão no número de estudos retirados da literatura, seja por erros sistemáticos ou de modelagem, má conduta ou mesmo má-fé, formada pela infame trinca plágio, manipulação e fraude. Um levantamento da revista “Nature” mostrou que, só na primeira década deste século, o índice de anúncios dos temidos retracts, palavra em inglês que define o envio dos artigos para o esquecimento dos anais da ciência, multiplicou-se por dez, muito acima da alta de 44% na produção científica.

Para além de apenas manchar ou destruir reputações, os casos de fraude são os que mais preocupam os especialistas por colocar em risco o próprio futuro da ciência, tanto pela má distribuição dos já limitados recursos investidos em pesquisas quanto por minar a confiança da sociedade nos seus cientistas, o que pode se traduzir em ainda menos investimentos.

Dois casos rumorosos recentes

Só nas últimas semanas, dois casos voltaram a chamar a atenção do público para a questão. Em um deles, a empresa Sage Publications, responsável pela edição do periódico “Journal of Vibration and Control”, anunciou a remoção de nada menos que 60 artigos ligados ao pesquisador formosino Chen-Yuan Chen publicados nos últimos quatro anos. Chen é acusado de montar um esquema de citações e revisões no qual criou falsos cientistas e assumiu a identidade de outros existentes de forma que ele próprio acabou por analisar e sancionar seus artigos para publicação.

Já no início de julho, a própria “Nature” informou a retirada de dois artigos que havia publicado só cinco meses antes. Divulgados com estardalhaço no fim de janeiro, os estudos afirmavam que era possível forçar células adultas a regredirem ao estágio de células-tronco, capazes de se transformar em praticamente qualquer tecido ou órgão do corpo, usando apenas estresses físicos e químicos, como tratá-las com uma solução ácida, algo que só era possível por meio de delicadas e complexas manipulações genéticas.

Realmente, a descoberta era muito boa para ser verdade. Logo após a publicação, começaram a surgir dúvidas sobre métodos e resultados, que nenhum laboratório conseguiu replicar. Líder das pesquisas, a jovem cientista Haruko Obokata, do Centro Riken para Biologia do Desenvolvimento, no Japão, acabou condenada por má conduta pela instituição, que agora vê seu próprio futuro em xeque, com ameaças de corte de recursos e no número de pesquisadores. Com um detalhe: foi justamente no Riken que o japonês Shynia Yamanaka, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 2012, descobriu, em 2006, o método para transformar células adultas em células-tronco, dispensando o polêmico uso de embriões nas pesquisas na área.

Com isso, Chen e Obokata se juntam a uma nada invejável lista de cientistas marcados pela fraude, que tem nomes como o do sul-coreano Hwang Woo-Suk e o do inglês Andrew Wakefield. Elevado à categoria de herói nacional após anunciar em dois artigos publicados em 2004 e 2005 na também prestigiada revistas “Science” o sucesso na clonagem de células-tronco embrionárias humanas, o que permitiria ao menos reduzir o polêmico uso de embriões nas pesquisas, o sul-coreano caiu em desgraça em 2006, quando se demonstrou que seus resultados eram falsos. Wakefield, por sua vez, encabeçou a lista de autores de um estudo publicado em 1998 na revista “Lancet”, uma das mais reconhecidas na área de medicina, que associou a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) a casos de autismo em crianças e está por trás dos movimentos antivacinação responsáveis pelo aparecimento, nos últimos anos, de surtos das doenças em países onde elas estavam praticamente erradicadas. Investigações posteriores mostraram que Wakefield tinha sérios conflitos de interesse quando da realização do estudo e falsificou resultados para atendê-los, mas o artigo só foi retirado pela “Lancet” em 2010.

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— É verdade que hoje se publicam mais artigos do que nunca, mas o número de remoções está crescendo a um ritmo muito maior, então a explicação para o fenômeno não está aí — diz Adam Marcus, editor-executivo dos periódicos “Gastroenterology & Endoscopy News” e “Anesthesiology News” e um dos criadores do blog “Retraction Watch”, que acompanha esses casos. — Uma explicação menos provável é que mais cientistas estão se engajando em más condutas. Já a mais provável é que, graças a tecnologias de informação como a internet, os estudos estão sob escrutínio maior. Outro problema é a tremenda pressão para publicação, especialmente nas revistas mais prestigiadas, a fim de conseguir bolsas e financiamento. Isso pode levar os cientistas a se apressarem, pegar atalhos ou cometer fraudes.

CNPq cria diretrizes para o problema

Diante disso, os próprios cientistas e as agências de fomento buscam soluções. No Brasil, em 2011 o CNPq criou uma comissão de integridade científica e baixou uma série de 21 diretrizes para enfrentar o problema, que incluem desde recomendações óbvias como não copiar o trabalho alheio a indicar que autores deverão ser responsabilizados no caso de fraudes.

— Mesmo sabendo que, em termos proporcionais, a incidência das retiradas é pequena (menos de 1% dos mais de 1,4 milhão de artigos científicos publicados anualmente acabam sendo alvo de correções ou remoções), seu número é suficientemente grande para afetar a confiança do público na ciência e no financiamento de projetos, e por isso temos de ficar muito atentos — analisa Paulo Beirão, diretor de Cooperação Institucional do CNPq que chefiou a comissão até o ano passado. — É preciso um cuidado sistemático e agir agora, antes que o problema cresça ainda mais e fique difícil de controlar. O CNPq, por exemplo, passou a adotar procedimentos de avaliação de pesquisadores e projetos que não dependem mais só do número de publicações, mas muito mais de sua qualidade.
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Offline Entropia

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Re:Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque
« Resposta #1 Online: 27 de Agosto de 2015, 10:54:30 »
Esse negócio de pressao pra publicar é mesmo bem comum. Eu encontrei um texto que tem uns 2 anos que fala bem sobre isso
http://simetriadegauge.blogspot.com.br/2013/07/ciencia-fastfood_22.html

Alguns trechos

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O problema atual da ciência é que quase todo nosso trabalho tem se resumindo a “Fornecimento de material” para esses periódicos. Vou explicar com calma como isso funciona, espero que você tenha paciência para ler. :)

Você sabe como um cientista é reconhecido como o bonzão na sua área? Pasme…. é pelo número de publicações nesses periódicos, sim, simplesmente isso “número”, não qualidade. Publique 10 receitas de bolo em um periódico que você será, do ponto de vista dos nossos órgãos de fomento, um pesquisador muito mais foda e receberá mais recursos que outro pesquisador que publicou apenas um trabalho, mas que revolucionou a sua área de pesquisa. Se Einstein ou qualquer outro emérito cientista de sua época trabalhasse hoje no Brasil, eles seriam pesquisadores medíocres, pois eles possuem baixo número de publicações, mas de impacto enorme. Se não me engano Einstein teve apenas 4.

Com isso nem preciso falar que a Ciência mudou de nome para “fábrica de artigos”. A única coisa que se quer é publicar, publicar e publicar…

Na minha primeira reunião quando entrei na pós graduação, a segunda coisa que a coordenadora falou, logo após o “boa tarde”, foi “Vocês precisam publicar!”.

[...]

A maioria esmagadora dos pesquisadores está nem aí para a qualidade de suas publicações, eles querem apenas um grande número publicações para engordar seu Currículo Lattes. Isso está causando um enorme contingente de publicações sem relevância alguma, pois a preocupação com qualidade acabou ficando em segundo plano.


Offline Gabarito

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Re:Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque
« Resposta #2 Online: 27 de Agosto de 2015, 13:32:37 »
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EUA nega ação movida por cientista da Unicamp contra associação de diabetes
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
24/08/2015 02h03

A Justiça de Massachusetts, nos EUA, indeferiu o processo de difamação movido pelo professor da Unicamp Mario Saad contra a Associação Americana de Diabetes. Foi o mais recente capítulo na disputa, que começou no início de 2014, entre a associação e um dos mais produtivos cientistas brasileiros.

A revista "Diabetes", publicada pela associação, diz que há indícios de duplicação de resultados e manipulação de imagens em quatro trabalhos com Saad. A entidade publicou uma "nota de preocupação" –um alerta para pontos problemáticos de um artigo– mencionando as acusações.

Inocentado em duas investigações independentes feitas por pesquisadores da Unicamp e de outras universidades, Saad decidiu ir à Justiça para tentar tirar do ar esse material.

Picaretagem Acadêmica








Na decisão, na semana passada, o tribunal entendeu que a revista tem o direito de manifestar sua opinião sobre o assunto, e por isso o processo por difamação era improcedente. O médico ainda pode recorrer.

Após ser notificada pela revista de que "leitores haviam indicado problemas" nos artigos, a Unicamp conduziu uma investigação interna para avaliar o caso, que concluiu que houve de fato alguns erros (repetição não intencional de imagens), mas que esses não alteravam as conclusões dos papers.

Pouco após ser comunicada do resultado, em fevereiro de 2015, a revista não aceitou o parecer e fez um novo pedido de investigação. Paralelamente, impôs uma "moratória" à universidade, que ficou impedida de publicar na revista.

A Unicamp fez uma segunda investigação, agora com cientistas externos, incluindo um estrangeiro. Novamente Saad foi inocentado.
Notificada em maio sobre o novo relatório, a "Diabetes" não se manifestou e manteve o alerta contra Saad.

Ex-diretor da Faculdade de Ciências Médicas e candidato derrotado a reitor em 2013, Mario Saad é um dos cientistas brasileiros mais produtivos. Segundo o ranking da plataforma Google Acadêmico, é o 43º pesquisador mais citado do país, com cerca de 11 mil menções.

"A orientação da NIH [agência americana] é de guardar o material por cinco anos. Um dos artigos é de 1997. Eu não era obrigado, mas guardei as coisas. Pude provar que não teve fraude."

Saad reconhece, porém, erros na montagem do material. "Eu assumo que a repetição de imagem passou por mim, assim como passou pelos três revisores e pelo editor da revista, além dos outros autores. Cada artigo tem entre 150 e 300 imagens como aquelas. Infelizmente, passou", diz.

Os problemas aconteceram no processo conhecido como "splicing", de cortar e unir pedaços de um mesmo gel usado nos experimentos para compor uma imagem.

OUTROS CASOS

Além da "Diabetes", Saad também precisou prestar esclarecimentos sobre um artigo publicado na revista "PLoS One", que também tinha problema com as imagens. O periódico não invalidou o artigo, mas divulgou uma correção das imagens duplicadas.

Um outro trabalho nos "Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia" chegou a ser retratado por cópia de trechos. Mas, meses depois, a revista republicou o artigo, com alterações no texto.

Procurada, a Unicamp afirmou que "a comissão reconheceu a 'não desonestidade dos pesquisadores', 'não alteração do resultado fundamental das pesquisas' e a 'não intenção de burlar o resultado ou enganar os potenciais leitores dos artigos'."

POLÍTICA

O professor da Unicamp Mario Saad atribui as acusações de fraude a questões políticas, como um certo ciúme profissional e mesmo um cenário para as próximas eleições para reitor da Unicamp. Segundo ele, esses grupos tentariam destruir sua imagem fazendo denúncias a periódicos em que ele publicou.

Saad também diz que, por ser da América do Sul, tem tratamento mais rigoroso do que os americanos.

"Vários americanos, inclusive editores da revista, tiveram erros semelhantes. Não enfrentaram qualquer tipo de sanção."

A Associação Americana de Diabetes não quis comentar as declarações.

*

ENTENDA O CASO

Ações da revista

    Alega manipulação e duplicação de imagens publicadas
    Não aceitou justificativas e pediu investigação à Unicamp
    Publicou "nota de preocupação" com o trabalho

Ações do autor

    Foi inocentado de duas investigações distintas conduzidas pela Universidade
    Acionou a associação na Justiça americana para tentar remover as acusações do site


Offline Sergiomgbr

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Re:Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque
« Resposta #3 Online: 27 de Agosto de 2015, 14:21:52 »
Ao ler o tópico, antes de rolar a página eu já ia pensando em postar: Entropia ataca novamente. Como vi depois que o forista Entropia postou, tenho que desambiguar. To falando do fenômeno entropia.
Até onde eu sei eu não sei.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Explosão de equívocos e fraudes em estudos publicados deixam a ciência em xeque
« Resposta #4 Online: 04 de Janeiro de 2020, 11:11:58 »
Citar

The Perfect Crime - Scientific Fraud in America

This is the story of the largest scandal ever in criminology, alleged fraud, anonymous whistleblowers and more. It took me the 4 months to uncover, getting all the sources and records requests in from FSU as well as fact-checking the material in this piece. It changed the way I look at fraud and I hope you find it as incredible of a story as I did.



Um forista daqui (Donatello) também parece que se encrencou em acusar afirmações questionáveis de certas publicações como fraude, ameaçado de processo ou processado. Aquela coisa toda de contabilizarem como homo ou lesbofobia um acidente onde uma namorada atropelava acidentalmente a outra enquanto brincavam de levar uma à outra no capô do carro (sem trocadilho intencionado com capô de certos carros). A "explicação" de tal qualificação seria algo nas linhas de que isso poderia ter tido a ver com álcool, e o preconceito da sociedade torna a população cis-não-hétero à ser mais suscetível a alcoolismo.

Isso é praticamente como um socialista (ou anti-socialista) colocar todas as mortes não-naturais no país antes dos 80 anos de idade como resultado do capitalismo (ou do comunismo).

 

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