
Fanáticos da justiça social já não são pessoas fazendo campanhas e discutindo na internet (famosos 'outrage', movimentos de pessoas revoltadas xingando no twitter
http://www.slate.com/articles/life/culturebox/2014/12/the_year_of_outrage_2014_everything_you_were_angry_about_on_social_media.html). Eles estão em instituições com influência governamental, dentro de universidades, avançando políticas sobre fenômenos sociologicamente complexos e cientificamente controversos na base do pânico moral (
http://t.co/oAZ6wd6q4B http://time.com/30545/its-time-to-end-rape-culture-hysteria/). Alguns deles engajam em atos criminosos, vandalismo, agressão (
http://nymag.com/daily/intelligencer/2015/01/not-a-very-pc-thing-to-say.html). Tem argumentos racionais e evidências contra o conceito de "cultura do estupro"? Cuidado, não vai ter palestra sua. Vai ter baderna o suficiente para cancelarem sua fala por "motivos de segurança".
Eles são graduandos. São professores de universidades prestigiadas querendo o fim da liberdade acadêmica sobre assuntos que os ofendem: "Se a comunidade da nossa universidade se opõe ao racismo, sexismo, e heterossexismo, por que não devemos permitir pesquisas que vão contra os nossos objetivos em nome da 'liberdade acadêmica'?". São ativistas que invadem e cancelam palestras porque empurram pessoas, impedem pessoas de falar porque tocam instrumentos em auditórios, cortam a luz de prédios, vandalizam (
http://www.wsj.com/articles/barry-a-fisher-free-speechs-shrinking-circle-of-friends-1419899071). Há anos eram os conservadores quem ameaçavam a liberdade acadêmica, agora são pessoas com as tais crenças progressivas. Eles já afetam pessoas que querem estudar assuntos controversos em um ambiente acadêmico (
https://clairelehmann.wordpress.com/2014/09/26/post-modern-assumptions-about-gender-harm-women/). Certos feminismos, assim como muitas lutas por "justiça social", viraram uma febre na cabeça de certas pessoas. De pessoas aleatórias como professoras de direito de Yale, até pessoas aleatórias por aí. Não importa o grau de conhecimento ou desempenho intelectual, já se tornou uma insanidade absurda para muitos. É por isso que muitas pessoas representativas de grupos dos quais os justiceiros clamam defender (LGBTTs, mulheres e pessoas não-brancas) nos mandam denúncias e expressam: "é sério que essas pessoas existem e funcionam no mundo real?" Sim, elas existem e estão nas sociedades e governos. Algumas delas preferem se manter anônimas depois de serem atacadas dentro de seus grupos de auto-ajuda (coletivos, centro acadêmicos, etc), pois divergiram da "câmara de eco" e omitiram uma opinião ou preferência diferente. A situação se tornou tão cômica que outros assuntos políticos outrora vistos como "cansativos" se tornaram "leves" perto das brigas que acontecem dentro de movimentos sociais. Algumas pessoas, mesmo se considerando "justiceiras sociais", se afastam por vários motivos, mas principalmente porque não aguentam conviver socialmente nesses ambientes.
Alguns desses "espaços seguros" ou "coletivos", seriam locais de discussão, apoio e auto-ajuda. Na prática os espaços seguros são uma aberração completamente diferente. Não é um "espaço neutro e inconsequente" para auto-ajuda. Não é nem um espaço de apoio psicológico, como o gerenciado por cursos de psicologia em universidades. É na prática um "coletivo de justiceiros sociais" de péssima qualidade. Um espaço criado com intuito de blindar estudantes para a realidade, uma forma de auto-censura, com apoio ideológico a favor da censura, em nome de criar espaços seguros. É por isso que os estudantes de universidades distribuem panfletos por de baixo da porta de dormitórios e pedem oficialmente para que os alunos "colem" em portas em janelas os escritos dizendo: "esse lugar é um espaço seguro, eu quero que esse espaço seja seguro" (
https://whyevolutionistrue.wordpress.com/2015/02/22/the-anti-free-speech-police-ride-again/). Quer dizer, como os estudantes falaram, que tentativa esperta é essa de tentar distinguir que alguns lugares são seguros e outros não? É uma tentativa politicamente esperta, mas moralmente abjeta. A univerdade TODA é um espaço seguro para se locomover, discutir e ouvir qualquer coisa que o indivíduo deseje ouvir. Principalmente em face da primeira emenda americana.
Tanto é que essas universidades públicas e privadas que tentam implementar espaços seguros, "códigos de fala", perdem perante a lei comum em processos civis (
https://www.thefire.org/cases/?limit=all). O mundo real fora da universidade não é um "espaço seguro" e o principal papel da universidade é preparar estudantes pra lidar com esse mundo e não outro. Um mundo que contém conteúdos ofensivos, desconfortáveis, radicais e perigosos. Essa ascensão de espaços seguros só serve como alicerce para coletivos de justiceiros sociais se protegerem do mundo e criar uma coalizão moral e intelectual de estudantes que não querem entrar em contato com o contraditório, para angariar forçar para criar movimentos internos dentro das universidades contra alunos e professores (
http://reason.com/blog/2015/04/22/interview-wih-christina-hoff-sommers-saf#.syo8wj:5hre). Muitos desse sobem nas hierarquias das universidades e tomam posições de poder. Servem como palco para organizar protestos irracionais e até violentos contra palestrantes, para criar "códigos de fala" e "trigger warnings", uma extensão dos espaços seguros, fazendo administradores adotar punições para quem falar coisas ofensivas demais.
Um palestrante polêmico que defende o estado de Israel (
http://www.dailytarheel.com/article/2015/04/opinion-campus-speakers-should-be-chosen-with-discretion)? Cria-se uma campanha que naquele dia a universidade não é um "espaço seguro". Naquele dia da palestra a universidade não é mais um espaço seguro, ela se tornou perigosa. Tenta-se criar pânico moral suficiente. Confusão física e administrativa ao ponto de fazer com que as necessidades de segurança (e.g. custos) cancelem a vinda de palestrantes (
https://www.thefire.org/cases/disinvitation-season/ http://www.mindingthecampus.com/2014/07/campus-censorship-free-speech/). Não muito diferente das vezes que o professor Norman Finkelstein, que defende a palestina, sendo banido (
http://www.csun.edu/~vcmth00m/finkelstein.html) porque suas palestras afetam a "segurança psicológica" de judeus (muitos deles blue dog democratas nos EUA) em universidades. Eles querem fazer de um espaço acadêmico público um espaço de terapia psicológica pública. Professores que antigamente se preocupavam em não ofender conservadores, agora morrem de medo de ofender aqueles que querem transformar a sala de aula em um espaço seguro, sob o preço de sofrer retaliações e incômodos ao ponto de a administração da universidade ter que tomar uma medida (
http://whitehotharlots.tumblr.com/post/114067452180/a-personal-account-of-how-call-out-culture-has http://chronicle.com/article/My-Title-IX-Inquisition/230489/?key=HG4gdAI5NSFLM31gZT8SZD0GandvYk4nZXdIbnkjbl9WEA%3D%3D). Esses "espaços seguros" são anunciados através de mega-fones e cartazes toda vez que um palestrante que eles não gostam vai falar em uma universidades (como no caso da Christina Sommers): "essa pessoa é uma apologista do estupro, se você não se sentir seguro ou tiver suas experiências negadas, você pode ir para o lugar XYZ onde a gente vai discutir o problema em um ambiente seguro".
Agora, como é o espaço seguro de fato? "O espaço seguro, a Sra. Byron explicou, tinha como objetivo dar a pessoas que achassem comentários "problemáticos" ou "provocantes ('triggering')" um lugar para se recuperar. A sala foi equipada com cookies, livros de colorir, bolhas, massinha de modelar, música calmante, travesseiros, cobertores e um vídeo com filhotinhos de cães brincando, além de estudantes e funcionários treinados para lidar com trauma." (
http://www.nytimes.com/2015/03/22/opinion/sunday/judith-shulevitz-hiding-from-scary-ideas.html?_r=0). Reitores de universidades lá fora reclamam que os pais desses alunos ligam pessoalmente pedindo para que ele resolva "brigas" entre os grupos em dormitórios. Típicas brigas de adolescentes, misturadas com teorias sociológicas espúrias, para que o reitor vá pessoalmente resolver. É como se a extensão da família e do privado invadisse o universo público e civil. Não há mais separação. Tudo é problemático.
Para se ter uma ideia de até onde, por enquanto, essa aberração em torno de ambientes como 'espaços seguros' pode ir: estudantes são banidos de certas áreas do campus porque alguém os acusou de serem "parecidos demais com as pessoas que as estupraram" (
http://www.nationalreview.com/article/398852/student-banned-areas-campus-resembling-classmates-rapist-katherine-timpf). Esses são espaços seguros na prática. Não tem nada a ver com saúde mental, apesar de estar envolvido na roupagem patética de defesa bonitinha da justiça social. Os estudantes são livres para criar coletivos de justiceiros sociais mascarados de "espaço seguro". Mas na prática, como eu evidenciei acima, não é só isso que acontece. Em teoria, teoria e pratica são a mesma coisa. Na pratica, não. Em teoria, na definição, é algo bonito, eficiente. Na pratica se torna um dos mesmos justiceiros que criticamos aqui. Se alguém tem problemas psicológicos, a melhor coisa é procurar um profissional em alguns dos projetos de auxílio aos estudantes, feitos por estudantes de psicologia de diversas vertentes, orientados por professores. E se for participar de um "espaço seguro" organizado por um coletivo, é bom estar preparado para ter as próprias crenças confirmadas de maneira sistemática.
[1] Projeto para punir expressões contrárias ao feminismo, que tentaram apresentar na União Européia e em países escandinávos, com apoio de alas do governo norueguês:
http://www.friatider.se/forslag-gor-det-straffbart-kritisera-feminism[2]
http://www.diamondbackonline.com/article_1d36f21b-e20b-5f4f-a134-f34ed136fa2b.html —Steph Winter
[3]
http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,157165,00.html[4]
http://reason.com/archives/2007/04/16/last-call-for-rape-crisis-femi[5]
https://news.google.com/newspapers?nid=1350&dat=19931010&id=w2NPAAAAIBAJ&sjid=XgMEAAAAIBAJ&pg=3761%2C2515343&hl=en[6]
https://www.insidehighered.com/news/2014/02/12/disagreement-campus-judicial-systems#sthash.x7Ii0Trf.HJpELFCF.dpbs[6] Senadora Claire McCaskill emitiu uma pesquisa sobre abuso sexual para 350 presidentes de colégios e universidades. A pesquisa classificava as pessoas que faziam acusações como "vítimas", e as pessoas que foram acusadas como "perpetradoras". E na página 14, continha um item sobre os procedimentos de investigação internos da universidade que poderiam desencorajar vítimas a denunciar abusos: "1. Revelação dos direitos de defesa do perpetrador no devido processo legal". A implicação é que pode ser impróprio ressaltar que os estudantes acusados de crimes sexuais podem estar cientes de que possuem direitos.
http://www.cotwa.info/2014/04/sen-clare-mccaskills-nationwide-survey.html[7]
http://www.stanforddaily.com/2014/10/30/carry-the-weight-protestors-ask-for-mandatory-expulsion-in-sexual-assault-cases/[8]
http://msmagazine.com/blog/2014/06/18/men-sue-in-campus-sexual-assault-cases/-Geralt of Rivia
Fonte: Aventuras na Justiça Social (29 de maio de 2015).