Só tem uma coisa pior que o governo no Brasil: a oposição.
28 DE OUTUBRO DE 2015
RODRIGO DA SILVASó existe uma coisa pior que o governo no Brasil: a oposição.
Poucas coisas são tão difusas e descompromissadas com qualquer ideal no país. Enquanto Aécio Neves sonha com uma
nova eleição, José Serra planeja
tocar a Fazenda num governo Michel Temer e Geraldo Alckmin quer Dilma Rousseff
se arrastando até 2018 para entrar no páreo, o tucanato bate cabeça na panela de pressão que virou a política brasileira. Onde entra o governo nessa história? Grudando a ideia de impeachment em Eduardo Cunha, repetindo a pauta e seu nome à exaustão, como se esse não fosse um cenário possível longe dele e da hipocrisia de suas sujeiras. Tudo isso, claro, enquanto
negocia com Cunha para manter tudo como está.
Cunha, não por acaso, é o alvo infalível. Com ele, o governo constrói um cenário onde o impeachment deixa de ser uma bandeira das ruas, sem eco político, para se tornar um golpismo de gabinete de um deputado federal corrupto pego
com a boca na botija. É o crime perfeito. E tudo isso com apoio da imprensa, que insiste em associar a pauta ao deputado, como se fossem irmãos siameses.
Embriagados em interesses pessoais mesquinhos, os grandes caciques da oposição brasileira realizam um esforço monumental para sustentar Dilma no Planalto. Ou, quase isso. Sem coragem para liderar um processo de impeachment conectado com a população, Fernando Henrique Cardoso pede uma “renúncia com grandeza”, esperando que a decisão da saída ou da permanência fique a cargo da própria presidente. Questionado sobre o impeachment – de interesse de 66% da população,
segundo pesquisas – para o ex-presidente, o PSDB está sendo “bastante prudente” sobre o assunto.
E “bastante” aqui está longe de ser exagero. Prova disso é a posição de Geraldo Alckmin, que
há um mês reuniu oito grandes empresários na capital paulista para informá-los a respeito da sua posição sobre o impeachment: é contra. Para Alckmin, se Dilma cair por uma razão como as pedaladas fiscais, haverá precedente para que governadores e prefeitos eleitos sejam afastados. Melhor deixar tudo como está.
E Alckmin não é o único. Para Aécio Neves, que
voltou atrás da ideia de novas eleições com medo de soar oportunista, o impeachment de Dilma
não lhe “favorece”:
“Para mim, o calendário de 2018 é muito mais confortável do que este que está aí”, diz.
O impeachment, por sua vez, não é a única pauta a conectar os tucanos a esse sentimento de “prudência”. Como noticia o
Estadão, nessa semana José Serra criticou os vazamentos das buscas em curso na Operação Zelotes em uma empresa do filho de Lula. Para Serra, os sucessivos vazamentos sobre as investigações em curso têm sido algo sem precedente no país. Para um dos principais membros do partido que, nas palavras de Lula,
representa o genocídio da juventude negra no Brasil e
age como os nazistas, é preciso prudência para não arranhar a imagem da família Lula.
De fato, PT e PSDB
confundem suas histórias e ajudaram a construir não apenas os nomes que ocuparam a principal cadeira do país nas últimas duas décadas, como a própria concepção do papel da esquerda brasileira no século 21. No Brasil, os tucanos fingem que fazem oposição enquanto os petistas disfarçam que não possuem um caminhão de similaridades com eles. E a ausência de um confronto político mais robusto é testemunhada ao longo de toda trajetória do Partido dos Trabalhadores no Planalto – da omissão tucana no perdão ao impeachment de Lula no pós-Mensalão ao silêncio em relação aos atentados do chavismo venezuelano à democracia nos últimos anos. Por mais de uma década o Partido dos Trabalhadores pautou o cenário político nacional. E tudo isso sem que o PSDB surgisse como uma opção válida no confronto de ideias.
Envolto em toneladas de escândalos, transformando a economia numa experiência frankensteiniana, aparelhando o Estado brasileiro, destruindo estatais, financiando ditaduras, o PT viu seu caminho livre de qualquer oposição em seus quase 13 anos de protagonismo na política nacional. Por anos, o PSDB vem reiteradamente abandonando qualquer possibilidade de confronto com as ideias que circundam o Partido dos Trabalhadores, envergonhado da sua própria posição enquanto governo nos anos 90.
Se chegamos em 2015 encalacrados pela estupidez política, tal culpa está longe de ser uma exclusividade petista. É tucana também. Nesse cenário, não resta dúvida: os que querem se livrar do primeiro, devem necessariamente condenar o segundo. PT e PSDB são instrumentos obsoletos da política nacional.
RODRIGO DA SILVA
Fonte:
http://spotniks.com/so-tem-uma-coisa-pior-que-o-governo-no-brasil-a-oposicao/