05/09/05 17:48 ( Fonte: Reuters)
Para autor Salman Rushdie, a celebridade é uma maldição
Por Mike Collett-White
LONDRES (Reuters) - Quando Salman Rushdie se queixa de ser tratado pela imprensa como celebridade, fica claro que os efeitos da "fatwa" iraniana que o condenara à morte já se desfizeram.
O escritor indiano provocou revolta no mundo muçulmano com seu livro "Os Versos Satânicos", visto como blasfemo, e em 1989 ele foi sentenciado à morte por clérigos iranianos.
Hoje ele condena a cultura da fama instantânea quase tanto quanto condena o radicalismo islâmico.
"O problema é que, quando você é conhecido, existe por parte de setores da mídia o desejo de escrever sobre você mesmo quando você não tem um livro do qual falar", disse o escritor de 58 anos em entrevista concedida na semana passada. "Eles falam de toda espécie de bobagem."
Assim, depois de ter vivido isolado na Grã-Bretanha, sob proteção 24 horas por dia, sendo transferido de casa em casa para escapar de potenciais assassinos, Rushdie se tornou presença constante em jornais e revistas ansiosos por registrar seu gosto por participar de festas.
"Do mesmo modo como o radicalismo islâmico é uma das maldições de nossos tempos, a cultura das celebridades também é."
O fascínio da mídia por uma personalidade que abarca os mundos da literatura e do show business aumentou desde que, no ano passado, Rushdie se casou com a atriz e ex-modelo indiana Padma Lakshmi.
Rushdie disse que o efeito dos nove anos vivendo escondido em função da "fatwa", que o transformou no escritor talvez mais conhecido do mundo, já ficou para trás.
"Em termos dos efeitos dela sobre minha vida diária, hoje eles não existem", disse o escritor no escritório de seu agente, em Londres, onde não havia sinais de segurança extra.
O Irã se distanciou formalmente da fatwa em 1998.
"Essa questão só vem à tona quando dou entrevistas. Eu me esforcei muito para virar a página e começar um capítulo novo em minha vida; 99 por cento do tempo, a 'fatwa' não vem ao caso", disse ele.
LADO SÉRIO DA FAMA
Rushdie brincou, dizendo que a razão pela qual a imprensa presta tanta atenção a sua vida privada é que ele escreve lentamente, o que faz com que as pessoas tenham menos oportunidade de falar de seu trabalho.
Essa situação mudou nas últimas semanas com a proximidade do lançamento de "Shalimar, o Equilibrista", um romance ambientado em parte na Caxemira e que fala do extremismo islâmico, da brutalidade militar, do amor e da traição, além do fenômeno da fama.
O livro foi lançado primeiro no Brasil, em português, durante a Festa Literária Internacional de Parati (Flip), com a presença do escritor, em julho.
"Meu problema é que escrevo devagar. Se eu conseguisse produzir um livro por ano, então, sem dúvida, poderia falar de meus livros com mais frequência", disse Rushdie em Londres, onde está divulgando "Shalimar".
"Este livro me levou quatro anos. É um projeto demorado."
O romancista britânico disse que tem a obrigação de utilizar sua fama para boas causas.
Como presidente da sucursal norte-americana da PEN, organização de escritores que defende a liberdade de expressão, ele ajuda autores ameaçados de prisão ou algo ainda pior em função de seus escritos.
"Ninguém quer escrever sobre isso", disse Rushdie. "Querem escrever sobre mim jogando palavras cruzadas com Kylie Minogue, mas o fato de que a PEN diariamente ajuda a salvar as vidas de escritores ameaçados parece que não merece ser mencionado."
Ele descreveu o caso recente de um escritor iraniano ameaçado de ser deportado da Austrália, mas autorizado a permanecer no país após a intervenção da PEN, "que quase certamente salvou sua vida".
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Transcrito de:
http://newsbox.msn.com.br/article.aspx?as=article&f=br-olbrent-entretenimento-nofilter&t=3778&id=1219331&d=20050906&do=http://newsbox.msn.com.br&i=http://newsbox.msn.com.br/mediaexportlive&ks=0&mc=0&ml=ma&lc=pt&ae=windows-1252