Autor Tópico: Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?  (Lida 1091 vezes)

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Offline Digão

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Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Online: 09 de Fevereiro de 2016, 18:57:18 »
Quando quero me informar sobre uma área de conhecimento, eu costumo me fiar no que é consenso entre os especialistas dessa área.

Mas não vejo muita gente fazendo isso em relação a sociólogos; no caso deles, parece que é comum as pessoas terem o pé atrás e questionarem sua competência.

Isso é verdadeiro somente para os sociólogos ditos de esquerda ou PTistas? Eles são a maioria ou os mais respeitados de sua área? Existe quantidade expressiva de sociólogos de centro/direita?

Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #1 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 19:54:28 »
Quando quero me informar sobre uma área de conhecimento, eu costumo me fiar no que é consenso entre os especialistas dessa área.

Mas não vejo muita gente fazendo isso em relação a sociólogos; no caso deles, parece que é comum as pessoas terem o pé atrás e questionarem sua competência.

Isso é verdadeiro somente para os sociólogos ditos de esquerda ou PTistas? Eles são a maioria ou os mais respeitados de sua área? Existe quantidade expressiva de sociólogos de centro/direita?


Acho complicado um sociólogo ser de direita considerando o tanto que a sociedade em geral é movida a mentiras e a busca por poder.


 
« Última modificação: 09 de Fevereiro de 2016, 19:58:03 por JJ »

Offline Luiz F.

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #2 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 20:17:53 »
Não dá pra comparar muito os especialistas das ditas "ciências humanas" com os das ciências naturais.

Especialistas em ciências naturais entram de fato em contato com o que estudam, fazem cálculos, podem fazer previsões confiáveis, usam esse conhecimento de forma a criar produtos e tecnologia que trazem bem estar e prosperidade à humanidade. Em resumo, são confiáveis.

Já os das "ciências humanas" são, geralmente, velhos que não tem qualquer vivência prática sobre aquilo que dizem estudar, não se fiam em números, não podem fazer previsões, geralmente não geram nada de útil e, fora o fato de que dois pensadores diferentes vão dar respostas diferentes sobre o mesmíssimo assunto, o que acaba tirando qualquer credibilidade que eles possam ter.

Lê-los requer uma dose muito grande de ceticismo, e uma forma, geralmente empírica, que a própria pessoa desenvolve ao longo do tempo de filtrar a merda que provavelmente a maioria vai proferir em algum momento.

Antes que alguém comece a consultar o caderninho de falácias, não, não foi uma generalização. Note o uso de geralmente e provavelmente no texto, fora que ficar citando cada exceção tornaria o texto enrolado e prolixo.
"Você realmente não entende algo se não consegue explicá-lo para sua avó."
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Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #3 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 20:33:53 »
Pessoas que estudam e denunciam a sociedade mundial mentirosa, hipócrita e falsa  geram reações em pessoas que a aplaudem. Normal.
« Última modificação: 09 de Fevereiro de 2016, 20:49:10 por JJ »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #4 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 21:39:09 »
Citar
http://heterodoxacademy.org/problems/

The Problem

American universities have leaned left for a long time. That is not a serious problem; as long as there are some non-leftists in every field and every department, we can assume that eventually, someone will challenge claims that reflect ideology more than evidence.

But things began changing in the 1990s as the Greatest Generation (which had a fair number of Republicans) retired and were replaced by the Baby Boom generation (which did not). As the graph below shows, in the 15 years between 1995 and 2010 the academy went from leaning left to being almost entirely on the left. (The 12% in the red line for 2014 is mostly made up of professors in schools of engineering and other professional schools; the percent conservative for the major humanities and social science departments is closer to 5%).



HeterodoxAcademy.org was founded to call attention to this trend and the problems it is causing for scholarship, particularly in the social sciences and related fields (such as law and public policy). The word heterodox means “not conforming with accepted or orthodox standards of beliefs.” We chose that word to contrast with “orthodoxy,” which refers to conforming with accepted norms and beliefs. Orthodoxy has religious connotations, but it can be applied to any view that becomes dogma or dogmatic, such as “orthodox Marxism,” “social constructionist orthodoxy,” or “progressive orthodoxy.”

Sometimes (to paraphrase the evolutionary biologist, Stephen Jay Gould), ideas become accepted because there is so much evidence in support of them that it would be perverse to believe otherwise (e.g., the Earth is round; modern living species are descended from earlier ones).  Other times, however, ideas become widely accepted, even entrenched, without any real evidence.   Such entrenched beliefs often arise because they support particular political or moral agendas; if the beliefs are falsified, the moral agenda will be threatened.

[ ... ]


The dangers of orthodoxy to the academy are many:

   
  • We do our colleagues students a disservice by not challenging their cherished beliefs.  We fail as colleagues and as scholars when we allow unjustified dogmas or simply insufficiently justified claims go unchallenged.
  • We fail as teachers to teach students the most important skill — how to think. When we shield them from strong counter-arguments on the issues they care most about, we set them up for confusion and anger when they later encounter people who think differently.
  • By failing to contest inadequately justified dogmas, we risk advancing solutions that have no effect. For example, if a particular inequality does not result primarily from prejudice, and we engage in prejudice reduction efforts, we will fail to reduce that inequality.
  • Promoters of these orthodoxies often create an environment of intolerance for diversity of ideas and dissent in the very institution in which free exchange of ideas is its raison d’etre. Free speech and the exploration of unsettling ideas is threatened on many campuses  If you think that goes too far, look at this post regarding the extent to which people have been intimidated by campus protests, and this post about Jon Haidt’s experience about his experiences at a high school.
  • [...]

     

Offline Dr. Manhattan

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #5 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 21:45:24 »
Quando quero me informar sobre uma área de conhecimento, eu costumo me fiar no que é consenso entre os especialistas dessa área.

Mas não vejo muita gente fazendo isso em relação a sociólogos; no caso deles, parece que é comum as pessoas terem o pé atrás e questionarem sua competência.

Isso é verdadeiro somente para os sociólogos ditos de esquerda ou PTistas? Eles são a maioria ou os mais respeitados de sua área? Existe quantidade expressiva de sociólogos de centro/direita?


Acho complicado um sociólogo ser de direita considerando o tanto que a sociedade em geral é movida a mentiras e a busca por poder.


 

Li e reli, mas ainda não consegui encontrar a conexão entre a primeira parte de sua frase e a segunda.
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Alan Watts

Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #6 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 22:45:40 »
Quando quero me informar sobre uma área de conhecimento, eu costumo me fiar no que é consenso entre os especialistas dessa área.

Mas não vejo muita gente fazendo isso em relação a sociólogos; no caso deles, parece que é comum as pessoas terem o pé atrás e questionarem sua competência.

Isso é verdadeiro somente para os sociólogos ditos de esquerda ou PTistas? Eles são a maioria ou os mais respeitados de sua área? Existe quantidade expressiva de sociólogos de centro/direita?

Acho complicado um sociólogo ser de direita considerando o tanto que a sociedade em geral é movida a mentiras e a busca por poder.
 

Li e reli, mas ainda não consegui encontrar a conexão entre a primeira parte de sua frase e a segunda.


Usei o "ser de direita"  num  sentido de ser o que acha que a atual sociedade  capitalista moderna é melhor que se pode fazer e é o fim da História, ou seja algo que praticamente não merece crítica.

Mais ou menos no sentido do comentário abaixo:

"Sociólogo de esquerda vs. Sociólogo de direita

Os sociólogos de esquerda, com os quais perfilho a identidade, cumprem uma missão histórica, potencialmente subversiva. Aliás, é aí onde, no meu entender, reside a verdadeira sociologia: a subversão dos sentidos superficiais atribuídos à vida quotidiana. (...)
Ser sociólogo de esquerda é ser sociólogo por vocação.

Por outro lado, existem os sociólogos de direita, que são os ideólogos do sistema, os que se preocupam com o status quo. São os lambe-botas do sistema. Sobre eles não preciso mais dissertar. São claros os prejuízos que trazem à imaginação sociológica e à dúvida radical.

Uma terceira categoria é a dos sociólogos mercenários. Esses são autênticos garimpeiros da sobrevivência.

Os sociólogos de esquerda encontram-se geralmente mais expostos até porque intervêm nas lutas sociais ao lado daqueles que dispõem de menos recursos materiais e simbólicos. Dependendo da maturidade do regime democrático nem sempre o sociólogo que assume esta identidade é bem vindo.

Relativamente ao sociólogo de direita o cenário parece-me oposto."

http://sociologavense.blogspot.com.br/2007/11/socilogo-de-esquerda-vs-socilogo-de.html


« Última modificação: 09 de Fevereiro de 2016, 22:48:46 por JJ »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #7 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 22:52:30 »
Não acho que o número de sociologistas de esquerda ou direita deve influência significativa ao avanço da economia de mercado, exceto no que é correlato a haver liberdade política e não imposição a haver apenas sociologistas de esquerda ou direita.

Citar
Os sociólogos de esquerda, com os quais perfilho a identidade, cumprem uma missão histórica, potencialmente subversiva. Aliás, é aí onde, no meu entender, reside a verdadeira sociologia: a subversão dos sentidos superficiais atribuídos à vida quotidiana. (...)
Ser sociólogo de esquerda é ser sociólogo por vocação.

Não, sociólogo de esquerda é lambe-botas do Stálin.

Essa é a versão equilibrada do texto. Se vamos ser simplistas, sejamos simplistas dos dois lados, igualitariamente.

Offline Digão

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #8 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 23:16:13 »
Já os das "ciências humanas" são, geralmente, velhos que não tem qualquer vivência prática sobre aquilo que dizem estudar, não se fiam em números, não podem fazer previsões, geralmente não geram nada de útil e, fora o fato de que dois pensadores diferentes vão dar respostas diferentes sobre o mesmíssimo assunto, o que acaba tirando qualquer credibilidade que eles possam ter.

Lê-los requer uma dose muito grande de ceticismo, e uma forma, geralmente empírica, que a própria pessoa desenvolve ao longo do tempo de filtrar a merda que provavelmente a maioria vai proferir em algum momento.

Achava que sociologia também podia ser feita com base em empirismo, evidência estatística, pesquisas revisadas por pares, teorias falseáveis, enfim, algo que tivesse caráter mais científico.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #9 Online: 09 de Fevereiro de 2016, 23:27:41 »
Até há essa intenção. A minha impressão é que é mais comum, ou mais "pesado", nos EUA, geralmente. Mas isso não torna a coisa totalmente livre de influências ideológicas (de quaisquer lados), na melhor das hipóteses as torna mais fáceis de criticar nas suas "manifestações" metodológicas. Não significa que a crítica vá ser significativamente ouvida, de qualquer forma, seja na sociedade, ou mesmo na academia.

Offline Cinzu

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #10 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 01:06:30 »
Não dá pra comparar muito os especialistas das ditas "ciências humanas" com os das ciências naturais.

Especialistas em ciências naturais entram de fato em contato com o que estudam, fazem cálculos, podem fazer previsões confiáveis, usam esse conhecimento de forma a criar produtos e tecnologia que trazem bem estar e prosperidade à humanidade. Em resumo, são confiáveis.

Já os das "ciências humanas" são, geralmente, velhos que não tem qualquer vivência prática sobre aquilo que dizem estudar, não se fiam em números, não podem fazer previsões, geralmente não geram nada de útil e, fora o fato de que dois pensadores diferentes vão dar respostas diferentes sobre o mesmíssimo assunto, o que acaba tirando qualquer credibilidade que eles possam ter.

Lê-los requer uma dose muito grande de ceticismo, e uma forma, geralmente empírica, que a própria pessoa desenvolve ao longo do tempo de filtrar a merda que provavelmente a maioria vai proferir em algum momento.

Antes que alguém comece a consultar o caderninho de falácias, não, não foi uma generalização. Note o uso de geralmente e provavelmente no texto, fora que ficar citando cada exceção tornaria o texto enrolado e prolixo.

E o problema se agrava ainda mais quando estudiosos de humanas tentam opinar (sempre fazem) sobre assuntos de ciências naturais sem nenhum embasamento científico, como é o caso do nosso grandioso filósofo Olavo de Carvalho falando que a terra é plana.
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #11 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 07:59:56 »

Achava que sociologia também podia ser feita com base em empirismo, evidência estatística, pesquisas revisadas por pares, teorias falseáveis, enfim, algo que tivesse caráter mais científico.


E alguém negou isso ? 

Na verdade, acho que as coisas que foram ditas aqui no julgamento sobre sociologia não passaram de senso comum, achismo, e rasgação de seda por ciências exatas.



Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #12 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 08:04:24 »

Achava que sociologia também podia ser feita com base em empirismo, evidência estatística, pesquisas revisadas por pares, teorias falseáveis, enfim, algo que tivesse caráter mais científico.


Saindo do senso comum e achismo:


O método científico nas Ciências Humanas e Sociais

Apesar da contribuição do pensador Auguste Comte para tornar o método científico mais abrangente, incluir o estudo do homem no campo das Ciências não ocorreu de maneira pacífica. Até hoje, ainda existe o debate sobre se as Ciências Sociais e Humanas podem mesmo ser consideradas Ciências, uma vez que não apresentam a mesma objetividade das Ciências Naturais. Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi um dos estudiosos que defendeu uma autonomia metodológica das Ciências do Homem ou Ciências do Espírito, como chamava o filósofo, a partir de uma distinção entre explicar e compreender.

Para Dilthey, o método científico físico-matemático corresponderia a um conhecimento explicativo, enquanto o método científico histórico estaria vinculado a um conhecimento compreensivo. Assim, as Ciências do Espírito abordariam as manifestações da vida e as objetivações do homem no mundo social e histórico, e o principal modo de acessá-la seria através da compreensão.

O sociólogo e Acadêmico Simon Schwartzman explica esse conceito da seguinte maneira: "pensemos em um antropólogo buscando relacionar as crenças religiosas de uma sociedade com seu sistema familiar, ou um historiador tratando de entender o que levou um país para a guerra ou a uma revolução social, ou ainda um crítico literário buscando interpretar a obra de um autor em função da cultura de seu tempo, ou um jurista buscando entender as normas do que é permitido ou proibido em determinadas sociedades. Em todos estes casos, o pesquisador busca interpretar ou compreender o que está estudando em função do contexto mais geral da sociedade, da cultura ou do tempo histórico de que está tratando. Seu método é, em outras palavras, "compreensivo" - não basta descrever o objeto de estudo, ou relacioná-lo com outros, é necessário entender o seu sentido".


Schwartzman afirma que, da mesma maneira que as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e Sociais fazem uso de observações sistemáticas, modelos matemáticos, análises estatísticas e experimentos, ao tratar de fenômenos sociais - instituições, movimentos populacionais, comportamentos, atitudes, preferências, conflitos, tecnologias.


Segundo o sociólogo, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) adaptaram o evolucionismo (desenvolvido, a princípio, para as Ciências Naturais) para a interpretação da história e das sociedades, supondo que estas passavam de fases mais primitivas e atrasadas para outras mais modernas e desenvolvidas. Essa idéia marcou boa parte da produção das Ciências Sociais e das humanidades nos últimos 200 anos. Já o sociólogo, historiador e economista Max Weber (1864-1920) acreditava que as sociedades deviam ser interpretadas a partir da cultura e da religião das principais civilizações e de comparações históricas. Além disso, ele dizia que a definição de modelos de organização social e política deveriam servir de referência para a análise empírica de casos históricos concretos, criando, assim, uma "Sociologia compreensiva".


Schwartzman diz, no entanto, que foi Émile Durkheim (1858-1917) quem inaugurou a Sociologia como Ciência Social à maneira das Ciências Naturais, ao defender que era preciso olhar os fatos sociais "como se fossem coisas" e fazer uso das estatísticas para verificar as relações entre diferentes fenômenos sociais. O Acadêmico afirma que, enquanto isso ocorria na Sociologia, no início do século XX, outras inovações se passavam na Economia e na Psicologia: "Cada vez mais, as estatísticas passaram a ser utilizadas para descrever e depois interpretar as relações entre fenômenos sociais medidos de forma sistemática, seja pelos institutos de estatística governamentais, seja através de pesquisas por amostragem".


Porém, de acordo com Schwartzman, apesar de grandes avanços nas Ciências Sociais de tipo empírico, formal e quantitativo, as interpretações de tipo histórico e cultural não foram abandonadas. Assim, um profissional precisa saber conviver com os dois lados - ou seja, deve ser familiarizado com o uso da matemática e da estatística, com a obtenção e análise de dados e o trabalho com experimentos, além de ter conhecimentos históricos, a fim de entender processos de grande duração e amplitude e comparar resultados atuais com os do passado.


Na prática, as Ciências Sociais e Humanas utilizam o método na investigação científica sobre a realidade social, ou seja, na aplicação de técnicas de pesquisa científica a situações e problemas concretos em um contexto social, para os quais se buscam respostas e novos conhecimentos.


Segundo a "Teoria da Prática", do cientista social Pierre Bourdieu (1930-2002), essa investigação científica significa "ir ao cotidiano, questionar o banal para nele ver não o imediato e o banal, mas as grandes estruturas; significa pesquisar histórias de gente comum, das ditas camadas subalternas, sua trajetória, seu cotidiano, entrevistá-las, para assim analisar o significado real das macroestruturas (...)", conforme é descrito no estudo Metodologia das Ciências Sociais: elementos para um debate, da professora Selene Herculano.


O Método Científico


 História do método científico

Um exemplo de uso do metódo científico


http://www.proficiencia.org.br/article.php3?id_article=490

« Última modificação: 10 de Fevereiro de 2016, 08:07:50 por JJ »

Offline JJ

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #13 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 08:15:24 »
Quando quero me informar sobre uma área de conhecimento, eu costumo me fiar no que é consenso entre os especialistas dessa área.

Mas não vejo muita gente fazendo isso em relação a sociólogos; no caso deles, parece que é comum as pessoas terem o pé atrás e questionarem sua competência.




Esses questionamento de competência que você observa talvez tenha a ver  com  opiniões políticas ditas por algum sociólogo durante algum evento político, e que tenha desagradado algum partidário de outra ideologia.

Possivelmente tal questionamento não foi em relação a algum trabalho publicado em algum periódico mais bem conceituado da área.




Offline Pregador

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #15 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 11:53:33 »
Não dá pra comparar muito os especialistas das ditas "ciências humanas" com os das ciências naturais.

Especialistas em ciências naturais entram de fato em contato com o que estudam, fazem cálculos, podem fazer previsões confiáveis, usam esse conhecimento de forma a criar produtos e tecnologia que trazem bem estar e prosperidade à humanidade. Em resumo, são confiáveis.

Já os das "ciências humanas" são, geralmente, velhos que não tem qualquer vivência prática sobre aquilo que dizem estudar, não se fiam em números, não podem fazer previsões, geralmente não geram nada de útil e, fora o fato de que dois pensadores diferentes vão dar respostas diferentes sobre o mesmíssimo assunto, o que acaba tirando qualquer credibilidade que eles possam ter.

Lê-los requer uma dose muito grande de ceticismo, e uma forma, geralmente empírica, que a própria pessoa desenvolve ao longo do tempo de filtrar a merda que provavelmente a maioria vai proferir em algum momento.

Antes que alguém comece a consultar o caderninho de falácias, não, não foi uma generalização. Note o uso de geralmente e provavelmente no texto, fora que ficar citando cada exceção tornaria o texto enrolado e prolixo.

Quanta bobagem. Da forma como você coloca os cientistas das humanas são apenas palpiteiros que não estudam. Como se não existissem estudos das ciências exatas baseados em premissas falsas ou não má interpretação ou manipulação dos dados. Os estudos sérios da sociologia são, em grande parte, baseados em dados estatísticos e contato direto, empírico, com o objeto de estudo. E sim, existem sociólogos com ideias mais de "direita". A análise sociológica normalmente parte de dois grandes grupos teóricos, as teorias do consenso e as teorias do conflito. As teorias do consenso (Durkheim) partes da ideia de que a maioria das pessoas está de acordo e obedece as leis e padrões estabelecidos de comportamento. Os problemas sociais são tratados como desvios, como aquilo que distoa do normal. Já as teorias do conflito (Marx) se baseia na ideia de que o conflito, a oposição, as divergências, são o normal da sociedade e que, na hipótese de grande consenso, quase nada de oposição, tem-se que, provavelmente, há algo de errado na sociedade, como, por exemplo, a dominação do poder ou de classe.
Existem milhares de escolas sociológicas, mas praticamente todas partes destas duas concepções e vão elaborando.

Por exemplo, as análises sociológicas sobre a afirmação genérica de que no Brasil o sistema penal é para pobre, puta e preto se revelava absolutamente verdadeiro. Dados estatísticos provam que a maior parte da população selecionada pelo sistema penal é negra, é pobre e sem perspectiva. O sistema penal é utilizado como ferramenta de contenção, em considerável grau, da parte mais excluída da sociedade. A maioria das leis pune severamente crimes contra o patrimônio individual e a liberdade, que são coisas de interesse maior das classes mais abastadas (antigamente se dizia burgueses). Já as leis que tratam de crimes típicos das classes mais abastadas (crimes de colarinho branco, desvio de verbas públicas, etc) tem penas menores, algumas ridículas. Toda a estrutura policial foi pensada e criada para o combate a crimes violentos e contra o patrimônio e não para a complexa investigação de crimes financeiros, estelionato, desvio de verbas públicas, etc. Os índices estatísticos demonstram a total discrepância na apuração dos crimes e de quem é preso pelo sistema penal. Ainda, a maioria dos crimes praticados por quem é rico, normalmente branco, nem sequer é descoberta ou investigada. A maioria prescreve, pois as penas são baixas.

Eu não estou querendo dizer que as pessoas que cometem crimes violentos ou contra o patrimônio não devam ser punidas, nem que são vítimas, mas sim, de que, no geral, parece que só existe lei penal para eles. A lei penal deveria ser para todos. É claro que você pode citar vários exemplos de ricos e brancos sendo presos. De fato existe e isso tem aumentado, no entanto, por dados estatísticos gerais, isso representa uma fração mínima.

São essas coisas que fomentam essas afirmações de racismo existente no Brasil e dominação de classe por uma "elite". É claro que existem várias coisas a serem consideradas, como a colonização, a urbanização, eventos históricos, etc. A maioria das boas obras trata todas estas variáveis. Assim, é bem injusto e incorreto atacar sem qualquer ponderação essas ideias de "esquerda". Elas tem muito a ensinar sobre nossa realidade que é muito mascarada. Você pode absorvê-las, entende-las e aceitá-las e continuar sendo capitalista. Aliás, o capitalismo não é imune de críticas e sempre pode evoluir sem deixar de ser capitalismo.

A maioria dos estudos da criminalidade nos EUA são baseadas em dados estatísticos e experimentais. O sociólogo faz pesquisa de campo e se insere no ambiente de estudo. Ele compreende sim a realidade.

A sociologia, junto com a estatística e a economia, por exemplo, é capaz de prever, em certo grau, o comportamento coletivo das pessoas, mas não o individual, que distoa do padrão geral.

« Última modificação: 10 de Fevereiro de 2016, 12:10:44 por Pregador »
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Offline Pregador

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #16 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 12:17:40 »
É tudo questão de saber colocar as coisas no contexto certo. Eu, por exemplo, concordo com 90% com a obra Manifesto do Partido Comunista do Marx. No entanto, eu a interpreto segundo a realidade da época em que foi escrita. Hoje, a sociedade é outra e a realidade é outra, de maneira que aquela análise não condiz com sociedade contemporânea. Tem sociólogo que entende isso, tem os que não entendem.

Se a gente desse mais ouvidos para os sociólogos, a educação básica no Brasil não seria um lixo e nem haveria tanta impunidade, por exemplo.
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Offline Muad'Dib

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #17 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 12:37:34 »
É tudo questão de saber colocar as coisas no contexto certo. Eu, por exemplo, concordo com 90% com a obra Manifesto do Partido Comunista do Marx. No entanto, eu a interpreto segundo a realidade da época em que foi escrita. Hoje, a sociedade é outra e a realidade é outra, de maneira que aquela análise não condiz com sociedade contemporânea. Tem sociólogo que entende isso, tem os que não entendem.

Se a gente desse mais ouvidos para os sociólogos, a educação básica no Brasil não seria um lixo e nem haveria tanta impunidade, por exemplo.

Eu concordo com tudo o que você escreveu, não é algo nem um pouco aceitável colocar todos os profissionais da área de humanas como inúteis palpiteiros. Há diversos, inúmeros, exemplos dignos de nota (embora eu não consiga pensar em nenhum de direita agora de bate-pronto), entretanto, mesmo que com certeza não seja a regra, hoje em dia, se você pegar os profissionais das tais "ciências humanas", pelo menos os que tem visibilidade popular, é raro encontrar boas análises dos mesmos. As melhores análises sociológicas que eu encontro hoje na internet proveem de pessoas com formação na área de exatas e biológicas. Se há, hoje, bons exemplos de cientista nessa área seu trabalho não está tendo o mínimo de divulgação.

A impressão que eu tenho é que diferente das áreas de humanas e biológicas, onde os idiotas e maus profissionais acabam marginalizados e por fim descartados, na área de humanas idiotas e maus profissionais conseguem prosperar e se destacar. Talvez pela ausência de rigor que é própria desta área.

Pelo exemplo que você citou --nosso sistema penitenciário, estes dados são óbvios, são claros, é estatística inegável. Porém o que se esperaria de pessoas que dedicam a vida ao estudo da sociedade seria análises que não fossem superficiais, fantasiosas ou mal intencionadas.

Hoje em dia, no Brasil, Olavo de Carvalho é considerado pela população como um grande filósofo. Nossos filósofos e sociólogos de verdade não tem capacidade de fazer frente nem àquele velho tosco.

Offline Luiz F.

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #18 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 12:59:52 »
Em um mundo ideal, seria isso que o Pregador disse, mas no mundo real existem diversas criticas sobre como os filósofos e sociólogos usam os dados estatísticos a disposição e sobre a falta de dados que suportem as colocações feitas por eles. Há hoje um movimento grande no sentido de combater os profissionais do achismo, pelo menos na academia, mas ainda não deu muito resultado, fora o fato de que os com maior visibilidade, tanto para a população quanto dentro da própria academia ainda são os palpiteiros.

Nem é tanto pela falta de uso de dados, mas pelo mau uso deles. É mais do que comum encontrar trabalhos com erros de metodologia na coleta e análise de dados, conclusões não suportadas pelas estatísticas, manipulação pura e simples de números e falta total destes.

Disclaimer: Antes que alguém diga, não estou dizendo que as ciências exatas não sofrem desse mal. Sofrem em alguma medida, mas parece haver uma padronização de métodos e análise que minimiza muito possíveis erros e manipulação de dados, coisa que é muito incipiente ainda em ciências humanas, tirando uma ou outra área.
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Albert Einstein

Offline Cinzu

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #19 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 14:20:32 »

Achava que sociologia também podia ser feita com base em empirismo, evidência estatística, pesquisas revisadas por pares, teorias falseáveis, enfim, algo que tivesse caráter mais científico.


E alguém negou isso ? 

Na verdade, acho que as coisas que foram ditas aqui no julgamento sobre sociologia não passaram de senso comum, achismo, e rasgação de seda por ciências exatas.

Não creio que isso seja "rasgação de seda por ciências exatas". Até porque não vemos ninguém de exatas criticando as ciências biológicas.

O problema está no fato de boa parte (talvez maioria?) dos sociólogos não serem críticos na divulgação de ideias, e utilizarem o achismo para especular e defender suas OPINIÕES, e não o que realmente acontece.
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline Digão

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #20 Online: 10 de Fevereiro de 2016, 20:55:59 »
Estava lendo sobre sociologia e encontrei essa pérola no Yahoo! respostas:

Citar
TENHO UM INSTITUTO DE PESQUISA PEQUENO ESTOU A PROCURA DE UM SOCIÓLOGO PARA ASSINAR MEUS PROJETOS A MAIORIA POLÍTICOS, SERÁ QUE PODEM ME AJUDAR ME DANDO EMAIL DE TELEFONE DE ALGUM NO RIO DE JANEIRO
ATT FABIO FEIJO
CONTATO:Presição.pesquisas@gmail.com

A indústria das estatísticas :)

Offline Cinzu

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #21 Online: 14 de Fevereiro de 2016, 21:24:51 »
Neste vídeo o Michio Kaku trata exatamente sobre esse assunto.

<a href="https://www.youtube.com/v/NK0Y9j_CGgM" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/NK0Y9j_CGgM</a>

Seu comentário final sobre formandos em sociologia no contexto do debate refere-se ao fato de que as estatísticas americanas sobre quantos % dos doutorandos são do próprio país são infladas pela participação deles nas humanidades. Quanto mais próxima da ponta tecnológica é a área de pesquisa, menor é a participação de estudantes americanos.
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Offline Diegojaf

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #22 Online: 15 de Fevereiro de 2016, 09:45:09 »
Pra quem se interessar, eu estou fazendo uma especialização no Coursera a respeito de métodos e estatística em ciências sociais.

O primeiro de 4 cursos começou hoje. Parece interessante.
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

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Offline DDV

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Re:Não deveríamos nos fiar mais nos sociólogos?
« Resposta #23 Online: 15 de Fevereiro de 2016, 11:09:43 »
Sociologia é uma área onde aquele mecanismo descrito dos 'paradigmas' de Kuhn funciona a todo vapor. A agenda política e o prestígio do sociólogo contam muito mais pontos do que as evidências e a cadeia de raciocínio que ele apresenta pra suas teses.

Agora mesmo estou lendo um ótimo livro de Thomas Sowell que discorre sobre as diferenças étnicas em ocupações, renda, escolaridade e outras variáveis ao longo da história. O raciocínio e as evidências/fontes apresentadas são irrepreensíveis...mas eu acho que o mainstream da sociologia prefere uma visão mais "esquerdista" das relações entre etnias, mesmo que baseadas em evidências porcas ou raciocínios inconsistentes.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

 

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