Outro dia estava perdendo tempo em uma dessas discussões fúteis de internet com um negacionista do aquecimento global, que usava como base aquele vídeo do Ricardo Felício, professor da USP, no Jô Soares, onde ele fez diversas alegações sem fundamento que provavelmente a maioria aqui já soube. Em certo ponto da discussão, ele apelou ao currículo do cara, dizendo que ele era especialista, que havia estudado a vida toda e que eu não ia refutá-lo com alguns links e textos. Apelo à autoridade clássico. Então eu respondi dizendo que entre os especialistas, pessoas com o mesmo gabarito científico do RF ou maior, há um quase consenso de que o aquecimento global existe, é causado em grande parte provavelmente por fatores antropogênicos, citei aquela lista das academias de ciências que endossam essa conclusão, etc.
Enfim, a discussão acabou em nada, como previsto, mas depois de um tempo comecei a pensar se na verdade o que eu fiz também não seria uma variação de um argumento de autoridade. Ou seja, pareceu óbvio que eu apenas troquei a autoridade dele por outra pretensamente maior e mais confiável, esperando que isso desse maior credibilidade à conclusão apresentada. Dificilmente não daria pra chamar isso de apelo à autoridade. Ainda mais, concluí que boa parte da minha própria opinião ser essa (aquecimento global é real e antropogênico) advém da minha consideração de o consenso científico ser uma autoridade confiável, já que não sou climatologista e nem domino todo o ferramental teórico e prático para tirar conclusões em primeira pessoa sobre o tema.
O que me levou às verdadeiras questões que compartilho agora: na opinião de cada um de vocês, qual é a postura mais correta a ser adotada diante da incapacidade de conhecimento científico em primeira pessoa? Por que o consenso científico seria mais do que um grande apelo a autoridade, já que para o não-cientista até mesmo o conhecimento sobre os métodos de fiscalização e correção da ciência nos são dados por autoridades (divulgadores e filósofos da ciência)? Como fazer em áreas onde os especialistas estão frequentemente em oposição (economia, política, sociologia, psicologia)? Ou na verdade não existe uma falácia do apelo à autoridade, na verdade existe a falácia de apelo à "má" autoridade (como a de um climatologista) enquanto o apelo à "boa" autoridade (consenso das academias de ciência) se mantém como um argumento válido?
Lembrando que a suspensão de juízo é uma impossibilidade prática, já que quase sempre temos que tomar decisões baseadas em conhecimentos dessas áreas.