Eu estou lendo um texto, e meio que estou impressionado das razões pelo qual os liberais austríacos rejeitam a matemática. Veja bem, eu concordo que há fenômenos complexos cuja "matematização" (isto é, criação de um modelo matemático) é "insuficiente", mas o meio como eles defendem essa ideia é um tanto insana:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1690No final, eles chegam a escrever isso aqui:
A popularidade da lógica matemática na filosofia em detrimento da lógica verbal pode ser atribuída à influência do positivismo na filosofia. Para uma constatação de que a lógica matemática é essencialmente subordinada à lógica verbal, ver as observações de Andreé Laelandes e Renée Poirier sobre "lógica" e "logística" in (A. Laelande, ed.) Vocabulaire Technique et Critique de la Philosophie, 6th eEd. (Paris, 1951). Pp. 574, 579.
Não há nenhuma diferença entre lógica matemática e lógica verbal, uma vez que podemos reduzir uma à outra, no entanto, a "preferência" pela lógica matemática se deve à sua abstração e generalidades de resultados, e não ao positivismo na filosofia que já tinha sido abandonado no início do Séc. 20. A preferência pela lógica matemática na filosofia se deve sobretudo ao racionalismo de filósofos como o Russel e aos trabalhos de lógicos como Gödel.
E essa não é a pior parte:
O método matemático, assim como várias outras falácias, conseguiu adentrar e dominar o pensamento econômico moderno por causa da influente epistemologia do positivismo.
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Por que a matemática é tão útil na física? Exatamente porque os próprios axiomas utilizados, bem como as leis deles deduzidas, são desconhecidos e, com efeito, sem significado. Seu significado é exclusivamente "operacional", uma vez que eles são significantes somente na medida em que podem explicar determinados fatos.
Por exemplo, a equação da lei da gravidade, por si só, não tem sentido nenhum; ela só adquire sentido quando nós humanos observamos determinados fatos que a lei pode explicar. Consequentemente, a matemática, que efetua operações dedutivas sobre símbolos por si só inexpressivos (sem significado), é perfeitamente apropriada para os métodos da física.
Que noções perturbadoras eles tem da abstração matemática. Eu só tinha visto isso com os pós-modernos.
Por outro lado, a lógica verbal permite que toda e qualquer lei tenha sentido quando deduzida. As leis da economia já são conhecidas aprioristicamente como significativamente verdadeiras; elas não têm de recorrer a testes "operacionais" para adquirir significância. O máximo que a matemática pode fazer, portanto, é converter laboriosamente símbolos verbais em símbolos formais inexpressivos e, então, passo a passo, reconvertê-los em palavras.
Será que eles conhecem a história da matemática no ocidente? Pois se eles conhecessem ela, saberiam que a matemática na Europa antes do Séc.16 era feita de forma verbal, isso é, não se usavam símbolos para representar as operações e objetos matemáticos. Somente quando os matemáticos começaram a abstrair essas entidades, a matemática se desenvolveu. Oha só que aberração:
No entanto, por causa da esterilidade dos símbolos matemáticos, tal procedimento tende a gerar graves erros. Se um indivíduo for obstinado o bastante para, ainda assim, embarcar em tal aventura, podemos apenas desejar-lhe boa sorte. O fato é que, por mais metódico que este indivíduo seja, este procedimento de conversão de palavras em símbolos matemáticos e posterior reconversão de símbolos matemáticos em palavras não sobrevive à Navalha de Occam — o famoso princípio científico que diz que não deve haver nenhuma multiplicação desnecessária de entidades, ou seja, que a ciência deve ser o mais simples possível.
A navalha de Occam diz que entre dois modelos teóricos que explicam o mesmo fenômeno, é preferível entre eles o que possui menos premissas necessárias para a explicação do fenômeno, e não o que é o mais "simples" possível de se trabalhar, até mesmo porque um menor número de premissas não significa uma maior facilidade, na verdade, é mais provável o contrário. Ele confundiu a Navalha de Occam com o instrumentalismo.
O melhor guia para a selva da economia matemática é ignorar o pomposo e sofisticado emaranhado de equações e se concentrar na busca pelas hipóteses que dão sustento a essas equações. Invariavelmente, tais hipóteses são poucas, simples e erradas. E elas são erradas exatamente porque os economistas matemáticos são positivistas, que ignoram que a economia se baseia em genuínos axiomas.
Será que as teorias econômicas não podem ser representadas por modelos lógicos, com esquemas lógicos, grafos, etc? Será que eles não sabem que grande parte da matemática que é feita se concentra no estudo de padrões e propriedades qualitativas (ao invés de quantitativas) de entidades lógicas, numa tentativa de um entendimento mais geral como ele sugere? Será que isso não pode ser feito na economia? Isso torna me um positivista? O foda é saber que quem escreveu isso, tem um PHD em matemática, isto é, ele deveria saber um mínimo de filosofia matemática.
A maior parte dos argumentos deles são baseados num instrumentalismo burro, mas ainda possuem um ponto interessante: Relações matemáticas não nos fornecem informações sobre as causas do fenômeno em si, e nesto sentido acho necessário sim o uso da praxeologia.
Termino esse texto aqui com uma pérola que eu ví num dos comentários:
A vida abrange fenômenos que não são integralmente materiais. A aritmética diz que, se um homem pode tosquiar uma ovelha em dez minutos, dez homens podem fazê-lo em um minuto. Isso é o que diz a matemática pura, mas não é a verdade, pois os dez homens não o poderiam fazer; eles entrariam um na frente do outro tão confusamente que o trabalho seria retardado em muito.
As matemáticas afirmam que, se uma pessoa representa uma certa unidade de valor moral e intelectual, dez pessoas representariam dez vezes esse valor. Mas, ao lidarmos com a personalidade humana, estaríamos mais próximos da verdade se disséssemos que uma tal associação de personalidades é uma soma que se iguala muito mais ao quadrado do número das personalidades, envolvidas na equação, do que à simples soma aritmética. Um grupo social trabalhando em harmonia coordenada representa uma força muito maior do que a soma simples das suas partes.