Autor Tópico: A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?  (Lida 1518 vezes)

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Rhyan

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A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Online: 09 de Maio de 2016, 06:44:57 »
Hans-Hemann Hoppe é um dos principais austro-libertários da atualidade.

Hoppe é herdeiro intelectual de Murray Rothbard, Rothbard de Ludwig von Mises, Mises de Eugen von Böhm-Bawerk, Böhm-Bawerk de Carl Menger, fundador da Escola Austríaca. A influência é tão grande que na ordem inversa um foi professor do outro, e em muitos casos, o principal professor e mentor intelectual.

Segundo Hoppe, a sua Ética Argumentativa é uma teoria apriorística, um argumento praxeológico livre de valor para uma ética deontológica libertária.

A Ética Argumentativa consiste (não há uma única forma sobre o seu modelo, aparentemente) nessa sequência de premissas e conclusão:

1. Nenhuma posição é racionalmente defensável a menos que possa ser justifica pelo argumento.
2. Nenhuma posição pode ser justificada pelo argumento se isso negar uma ou mais das precondições da troca argumentativa interpessoal.
3. A troca argumentativa interpessoal requer que cada participante da troca tenha controle sobre seu próprio corpo.
4. Negar o direito de auto-propriedade é negar o controle exclusivo do corpo de cada um.
5. Portanto, a negação do direito de auto-propriedade é racionalmente indefensável.

Automaticamente, quem tentasse negar a auto-propriedade cairia numa "contradição performativa", como denominou Hoppe.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Resposta #1 Online: 09 de Maio de 2016, 10:41:14 »
"Civilizadamente defensável", "igualitariamente defensável", "humanitariamente defensável", talvez fossem melhores termos, já que você poderia argumentar, racionalmente, que se você tem poder físico sobre um pessoa ou grupo de pessoas, logo elas lhe pertencem, tal como a capacidade de manter animais capturados configura a propriedade desses animais.

É plenamente racional; sob a mira de um rifle, mesmo dado todo o direito de argumentação (por concessão daqueles com rifles), alguém cuja auto-propriedade seja contestada, não está em condições de provar o contrário, a menos que admita como prova razoável de sua auto-propriedade o cenário de tentar fugir e ser então executado -- deixando então de existir como propriedade alheia. (Exceto como propriedade de um cadáver.)

É algo que poderia ser levantado inclusive por aquele que clama o outro como propriedade, ainda que talvez sob a argumentação de que, mesmo que em última instância a auto-propriedade seja sempre do indivíduo, a auto-propriedade não confere inerentemente a toda liberdade que ele esperava ter, podendo ser reduzida a ponto do indivíduo ser, para todos efeitos, se quiser se manter vivo, propriedade alheia.

"Observe. Você, tente fugir." BLAM! "Quod erat demonstrandum."

Rhyan

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Re:A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Resposta #2 Online: 10 de Maio de 2016, 06:27:16 »
Argumentum ad baculum não seria uma refutação.

Da auto-propriedade se chega a apropriação original lockeana, a praxeologia e seu estudo da economia de livre mercado ou a cataláxia, e por fim, o princípio da não-agressão.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Resposta #3 Online: 10 de Maio de 2016, 09:27:51 »
Não é argumentum ad baculum, mas apenas um fato. Talvez o caso mais definitivo de "contra fatos, não há argumentos".

Ad baculum seria algo mais na forma de "aqueles que não acreditam em deus serão presos/executados, logo, deus existe". Enquanto o que digo está mais próximo a "ao cair na lava, a pessoa morrerá incinerada". Isso não é apelo ad baculum meu ou da lava, é a natureza.


As pessoas/os seres efetivamente são donas daquilo que querem e podem controlar, incluindo outros seres, incluindo outras pessoas, a despeito de qualquer objeção intelectual que possam levantar. O argumento mais lógico e impecável não irá necessariamente controlar a vontade daquele efetivamente em posse de outro ser, se não tiver conseqüências práticas nas linhas de "liberte-(n)os ou morra". E ele pode ter motivos plenamente racionais para manter outro(s) ser(es) como propriedade, como é com qualquer dono de gado ou escravos.


A auto-propriedade não existe sem a capacidade de auto-defesa ou de defesa mútua de pessoas que queiram ser donas de si mesmas, apenas por "razão pura", como se recitar uma equação ao ar fosse fazer pessoas escravizadas serem libertas, como por encanto.

Que não era o sugerido, daí minha colocação inicial ter sido apenas quanto a auto-propriedade humana não poder ser negada igualitariamente/humanitariamente/civilizadamente, em oposição a apenas "racionalmente". Escravização não é irracional, mas imoral.
 

Rhyan

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Re:A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Resposta #4 Online: 12 de Maio de 2016, 14:40:01 »
Mas o uso da força não é um argumento.

Ele não disse que uma pessoa que dá a sua opinião está necessariamente em total liberdade em relação à auto-propriedade. Ele coloca a pessoa num xeque-mate lógico, quem negar que as pessoas têm auto-propriedade está negando o próprio debate em si. Quem aceita o debate de ideias não pode negar a auto-propriedade.

Negar a auto-propriedade ou o debate pela força, fere a primeira premissa, pois isso não seria uma defesa racional e nem um argumento justificado.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:A Ética Argumentativa de Hans-Hermann Hoppe contém falhas?
« Resposta #5 Online: 12 de Maio de 2016, 15:02:29 »
Sim, o uso da força não é um "argumento". Seria mais um "fator" que "argumento".

Mas negar a auto-propriedade alheia pode ser racional, apenas não será igualitário/etc.

"Você é minha propriedade, porque assim me convém, dado que disponho de meios de obrigar você a me servir a um custo menor do que você se disporia a fazer em alguma troca voluntária; caso objete, posso te torturar ou eventualmente te matar, se for necessário".

"É apenas minha capacidade e disposição para subjugá-lo e controlá-lo que faz de você efetivamente minha propriedade, e não qualquer fator extrínseco a isso, sujeito a debate. Posso perfeitamente conceder períodos de folga em que tenha total liberdade de expor razões pelas quais você supõe que não seria propriedade minha, mas nenhuma delas muda o fato de que eu tenho condições de tê-lo como tal".

Etc.

No sentido estrito acho que tal debate surrealista seria inegavelmente "racional", embora não seja nesses sentidos que se aproximam de civilizado/igualitário/razoável.

 

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