Autor Tópico: O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas  (Lida 756 vezes)

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Rhyan

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O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas
« Online: 22 de Junho de 2016, 05:08:30 »
As taxas de juros negativas na Europa sinalizam a aproximação de uma profunda crise econômica
por Gary North, terça-feira, 21 de junho de 2016


Hoje, um investidor tem de pagar para emprestar dinheiro a longo prazo para os governos da Alemanha e da Suíça.
A pergunta é inevitável: por que alguém aceitaria pagar para que o governo pegasse seu dinheiro emprestado?

Tal ideia seria completamente inconcebível há não mais que cinco anos.  Hoje, a prática está se tornando uma norma na Europa.

E o pior é que ela faz total sentido hoje.

Comecemos pelo básico.

Não há escapatória

Muitas pessoas, normalmente leigas, se perguntam por que pagar para emprestar dinheiro ao governo (que é o que ocorre quando as taxas de juros são negativas) sendo que seria muito mais vantajoso simplesmente deixar o dinheiro parado.  Afinal, no primeiro caso, você está perdendo um pouco do dinheiro; no segundo, você mantém a quantia original intacta.

Essa pergunta é típica de quem não conhece o atual sistema financeiro e monetário.  A esmagadora maioria do dinheiro (mais de 85%) está na forma de dígitos eletrônico; apenas uma quantia mínima (não mais do que 10%) está na forma de cédulas e moedas metálicas.

Sendo assim, simplesmente não há como investidores que gerenciam bilhões de euros — ou até mesmo aqueles que gerenciam "apenas" milhões de euros — irem até o banco da esquina e sacaram tudo em espécie.  Os bancos não restituem em espécie esses valores.  Eles são legalmente isentos, pelo governo, de fazerem isso.  O dinheiro eletrônico está "preso" no sistema financeiro e não há como esses dígitos serem convertidos integralmente em cédulas e moedas metálicas.  Tudo o que os investidores podem fazer é transferir dígitos eletrônicos de um lugar para outro.  E só.  Não há como sair dos dígitos eletrônicos.

O Banco Central da Suíça, por exemplo, já anunciou que os bancos não mais têm de fornecer cédulas para nenhum fundo de investimento que queira sacar dinheiro.  Uma empresa de seguros tentou fazer isso, mas o banco se recusou.  O Banco Central da Suíça, portanto, fez uma declaração ao mundo: ele deixou claro que não há como fugir do dinheiro eletrônico digital.

Portanto, dado que não há como fugir desse arranjo monetário e bancário, a única maneira de grandes investidores preservarem seu principal é aplicando-o justamente naquilo que é considerado essencialmente um ativo livre de riscos.

E só há um ativo que seja oficialmente considerado livre de risco: títulos da dívida de um governo considerado financeiramente sólido (alemães e suíços são os que mais se destacam nesse quesito, mais ainda que os americanos).

Adicionalmente, vale enfatizar que, em uma situação em que as taxas de juros estão em queda, é possível obter elevados ganhos de capital ao se comprar títulos de longo prazo: à medida que os juros vão caindo ainda mais, os preços de mercado desses títulos vão subindo.  Ou seja, se você comprar um título por $ 100, e os juros caírem, você pode revender esse mesmo título por, digamos, $ 102.  Isso é uma taxa de retorno muito positiva, e nada negativa.

O que vem por aí

Tendo entendido agora que fundos de investimento e hedge funds não têm como converter em papel-moeda todos os bilhões de dólares e euros sob sua administração — eles operam com dígitos eletrônicos e esses dígitos eletrônicos podem apenas ser transferidos de um lugar para outro —, fica mais fácil começar a entender o que se passa.

Mas por que então eles simplesmente não deixam esse dinheiro parado em alguma conta-corrente de algum banco?  Afinal, bancos ainda não estão aplicando taxas de juros negativas sobre as contas-correntes.

É aí que a encrenca se revela: tudo indica que os investidores não estão seguros quanto à solidez dos bancos europeus.

Esse fenômeno que está ocorrendo na Europa indica que:

1. Uma crise econômica se aproxima

2. Há uma grande desconfiança em relação ao sistema bancário europeu.  Assim como ocorreu no Chipre, caso os bancos europeus quebrem não mais haverá pacotes de socorro com dinheiro público; os próprios correntistas é que terão de socorrer seus respectivos bancos.

3. Os títulos alemães e suíços são mais seguros que quase todos os outros

Em um cenário de grandes incertezas econômicas e de desconfiança em relação à solidez do sistema bancário, investidores fazem exatamente o que estão fazendo agora: eles direcionam seu capital para aqueles ativos mais seguros que existem, mesmo que para isso tenham de pagar uma taxa (os juros negativos).  E eles pagam alegremente essa taxa, desde que ela lhes garanta proteção.

Mais ainda: caso os juros caiam ainda mais — o que significa que o preço dos títulos está subindo — é possível auferir grandes lucros.

Tendo em mente todo esse cenário, onde você colocaria o seu dinheiro caso fosse rico?

Os grandes investidores europeus estão fazendo exatamente o que fazem em épocas de grande incerteza: tentando manter seu principal.  Eles querem receber de volta o máximo possível do valor total de que eles inicialmente abriram mão.  Para isso, aceitam pagar aos governos alemão e suíço uma "taxa de custódia".

Isso não ocorre nos EUA

Nos EUA, há um serviço privado que não existe na Europa.  São as contas CDARS (Certificate of Deposit Account Registry Service).

Quando você coloca seu dinheiro em um CDARS, ele divide esse dinheiro em várias contas bancárias entre mais de 3 mil bancos diferentes.  Cada conta bancária fica dentro do limite de US$ 250.000 garantido pelo FDIC (o FGC americano) em caso de quebra bancária.

Ou seja, por meio dos CDARS, os milionários e bilionários americanos podem dividir suas fortunas em mais de 3 mil bancos distintos, em montantes que não ultrapassam US$ 250.000 por banco, de modo que o montante total acaba contando com a cobertura da FDIC.  Assim, eles têm a segurança de que serão totalmente restituídos em caso de quebras bancárias, não perdendo nem um centavo.

Na Europa, tal serviço não existe.  Consequentemente, todos correm para os títulos dos governos alemão e suíço.

As taxas de juros que os grandes investidores europeus estão pagando aos governos alemão e suíço em troca de seus títulos nada mais são do que um seguro contra um calote.  Faz muito sentido.

Conclusão

O fato de que milionários e bilionários estão pagando essa taxa aos governos da Alemanha e da Suíça indica que há um crescente temor de que haverá uma monumental contração na economia européia — pior do que qualquer coisa já vista no mundo pós-Segunda Guerra.

Títulos públicos com juros negativos indicam um amplo e profundo temor entre os grandes investidores de que está se avizinhando algo pior do que a crise de 2008-2009.

"Melhor uma perda pequena e segura do que uma enorme e altamente provável" tornou-se o mantra entre os grandes investidores europeus.

Isso não é alarmismo barato.  Trata-se de uma reação perfeitamente sensata a um cenário inconcebível em 2010.

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Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website.

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2445

Rhyan

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Re:O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas
« Resposta #1 Online: 22 de Junho de 2016, 05:17:45 »
A era da insanidade - um resumo das medidas surrealistas dos Bancos Centrais mundiais
por Fernando Ulrich, terça-feira, 14 de junho de 2016

A era do papel-moeda estatal não conversível em nada e lastreado apenas na confiança dos bancos centrais não para de se superar.
Iniciado oficialmente em 1971, após o fim do vínculo do dólar ao ouro, o grande experimento dos bancos centrais tem gerado excessos recorrentes nos mercados financeiros e não há sinal algum indicando que cessará em breve.

Enquanto no Brasil não conseguimos vislumbrar a mais mínima chance de uma taxa de juros de apenas um dígito, os bancos centrais de países desenvolvidos enfrentam o dilema de taxas em zero ou até negativas — juros de um dígito, jamais, isso seria suicídio.

E nesse processo, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central Europeu (BCE) e companhia descarregam munição pesada, inédita, sem precedentes e tudo sem nenhum respaldo da teoria econômica, baseada unicamente no medo da deflação, de os mercados derreterem e de o sistema eclodir.

O cataclismo financeiro que deve ser evitado a todo custo.

Janet Yellen, a presidente do Fed, não retira nenhuma opção de cima da mesa; juros negativos podem ser adotados nos EUA sim. Mario Draghi, do Banco Central Europeu, promete fazer "tudo o que for necessário". Haruhiko Kuroda, do Banco Central do Japão, jura combater a deflação até as últimas consequências.

E o restante dos banqueiros centrais dança conforme a música: juros abaixo de zero, quantitative easing, compra de diversos ativos em larga escala.

A extraordinária liquidez injetada no sistema de alguma forma acaba se manifestando. Cedo ou tarde, aparecem os sintomas decorrentes das políticas monetárias não-convencionais implantadas, especialmente, desde a crise financeira de 2008.

As distorções nos preços dos ativos abundam. A magnitude das ações dos bancos centrais assombra cada vez mais. As economias patinam e o mercado laboral preocupa. Mas, a despeito de tudo o que foi feito, os índices de preços ao consumidor não registram aumentos expressivos. O que é pior — na visão dos banqueiros centrais —, em vários países o fantasma da deflação teima em não sumir.

Mas não se preocupem, defendem eles, está tudo sob controle. Eles sabem o que estão fazendo. Será que sabem mesmo?

Vejamos alguns fatos surreais da economia mundial atual que talvez nos façam, pelo menos, levantar alguns pontos de interrogação.

As políticas não convencionais: taxa básica de juros, QEs e balanços dos bancos centrais

1) Há 35 países com taxas de juros abaixo de 1%. Isso inclui todos os países do G8 e toda a Zona do Euro. Quase 50% do PIB mundial com juros nesse patamar inédito.

2) Com taxas abaixo de 3%, existem 50 países atualmente.

3) Há 5 bancos centrais que já adotaram alguma forma de taxa de juros negativa, ou 23 países submetidos a esse experimento inusitado (Japão, Dinamarca, Suécia, Suíça e todos os membros da Zona do Euro).

4) O Federal Reserve está com juros entre zero e 0,5% há 90 meses, ou 7,5 anos. Quase uma década. Isso nunca ocorreu na história. No último meio século, os juros situaram-se ao redor de 1% por, no máximo, não mais do que 6 meses. E, segundo eles, ainda é cedo para mais elevações da Federal Funds Rate (a taxa básica de juros americana).

5) Faz mais de duas décadas que o Banco do Japão (BoJ) mantém os juros em zero.

6) Após as diversas rodadas de QE, o Fed multiplicou seu balanço por 5 em questão de seis anos, alcançando US$ 4,5 trilhões.

7) Já o Banco da Inglaterra aumentou em 5 vezes os seus ativos desde o estouro da crise de 2008.



8) Desde o início do chamado "Abenomics", em 2013, o Banco do Japão inflou o seu balanço em cerca de 200%.



9) O BoJ já está na nona rodada de QE.

10) O Banco Nacional da Suíça (BNS), na tentativa de sustentar um piso para o euro, expandiu seus ativos na ordem de 5,5 vezes desde 2008, ultrapassando 668 bilhões de francos, o que equivale a mais de 100% do PIB.



11) Já o BCE de Mario Draghi praticamente triplicou o balanço nos últimos seis anos.



12)  A magnitude da expansão monetária perpetrada pelos BCs de países desenvolvidos é comparável a de países que enfrentaram alta inflação ou hiperinflação, como o Brasil da década de 80, o Zimbábue nos anos 2000, a Argentina na era Kirchner e a Venezuela nos últimos anos.



E o resultado disso tudo? Rendimentos dos títulos (taxa de juros, ou yield), índices de ações, e outros ativos

13)  Os rendimentos dos bônus soberanos estão no menor patamar de toda a história financeira do mundo.



14) Os juros implícitos nos títulos da Holanda, cujos registros de dívida soberana datam de 500 anos atrás, nunca estiveram tão baixos.



15)  O endividamento de grande parte dos governos também está em níveis recordes. Um paradoxo das finanças pós-bancos centrais.

16)  Você se lembra da crise de dívida soberana de 2010/11 dos chamados PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Espanha e Grécia)? À exceção da Irlanda, todas as demais nações estão com um endividamento maior que quando da eclosão da crise. Mas o custo do refinanciamento das dívidas despencou, a despeito de tudo.

17)  O German Bund de 10 anos (bônus da Alemanha) está sendo negociado a quase 0%, um recorde. Por sinal, está prestes a adentrar território negativo.

18) A Inglaterra realizou um leilão de títulos de 30 anos com cupons de 2,095%, algo inédito para o país. O Gilt de 10 anos também registra as menores taxas de juros da história.

19) O corolário de juros em níveis irrisórios é o custo de refinanciamento baixíssimo para os governos. Em virtude disso, o Tesouro da Inglaterra resgatou em 2014 os primeiros títulos perpétuos — os quais pagavam um cupom de cerca de 5% e não tinham data para amortização — emitidos durante a bolha do South Sea Company, durante as guerras Napoleônicas e da Crimeia, e durante a Primeira Guerra Mundial.

20) A curva de juros da Suíça (yield curve) está negativa até 20 anos. Um recorde absoluto — e surreal — da história financeira mundial. O bônus com vencimento em 30 anos está em 0,07% ao ano. É possível que, no momento em que este artigo for publicado, a curva inteira já esteja abaixo de zero.



21) Já a curva de juros do Japão apresenta rendimentos negativos até 10 anos. Vender JGBs (japanese government bonds) a descoberto segue fazendo viúvas (widowmaker trade), há décadas. E o governo deve 250% do PIB.



22) Se o Bund de 10 anos ultrapassar a barreira do zero, toda a curva de juros da Alemanha também registrará taxas negativas até 10 anos.

23) Até meados de 2014, era desprezível a quantidade de títulos soberanos sendo negociados com rendimento abaixo de zero.

24) Há pouco mais de um ano, quase US$ 2 trilhões de bônus estavam sendo negociados com rendimentos abaixo de zero.

25) Em janeiro deste ano, já havia um total de US$ 5 trilhões de dívida soberana com juros negativos.



26) Um mês depois, esse montante subiu para US$ 7 trilhões.

27) E, em junho, ultrapassou nada menos que US$ 10 trilhões.



28) Quase 90% do mercado global de dívida soberana, cerca de US$ 22 trilhões, rende não mais do que 2% ao ano.

29) O Banco do Japão detém hoje 35% da dívida pública do governo. Há 3 anos, isso não passava de 11%.

30) Nos EUA, o Fed carrega 15% da dívida pública federal. Em 2008, os Treasuries no balanço do Fed representavam apenas 5% do total emitido.

31) Quase US$ 1,8 trilhão é o valor das hipotecas no balanço do Fed. Sim, as notórias mortgage-backed securities (MBS, títulos lastreados em hipotecas) que quase quebraram o sistema bancário americano em 2008. O real valor de mercado desses ativos? Só Deus sabe.

32) Imagine o BACEN entrando pesado no mercado e comprando ações da Petrobrás, Gerdau, Ambev, Vale etc.  Kafkiano, não? Pois é exatamente isso o que anda ocorrendo na terra do sol nascente. Como resultado dos estímulos agressivos do "Abenomics", o Banco do Japão é hoje um dos grandes acionistas em mais de 90% das empresas no Nikkei 225. Não, não é um erro de digitação. Leia novamente. São cerca de 200 empresas em que o BoJ é um grande acionista. Na Mitsumi Electric, o BoJ detém mais de 11% das ações.



33) Mais de 55% de todo o mercado de ETFs (Exchange Traded Funds) pertence ao BoJ.



34) Agora imagine o BACEN acumulando títulos de dívida emitidos pela Petrobrás, Gerdau, Ambev, Vale. Inacreditável, não? Pois o Banco do Japão também está fazendo isso. Em decorrência da crise de 2008, o BoJ passou a intervir no mercado para socorrer empresas com dificuldade de financiamento e hoje possui um portfólio de ¥ 5,5 trilhões (aprox. US$ 52 bi) de bônus corporativos e comercial-papers.

35) Consegue imaginar o BACEN comprando debêntures da Ambev? Nem precisa imaginar, basta olhar para o BCE, que já adquiriu papéis da AB Inbev no mercado europeu, como parte do recém-expandido Programa de Compras de Ativos (APP, Asset Purchase Programme). Depois de inundar o mercado com liquidez para cumprir a meta de € 60 bilhões em compras de títulos soberanos por mês, Mario Draghi agora ampliou o escopo da versão europeia do QE e, juntando-se ao BoJ, passou a "diversificar" o portfólio da autoridade monetária da UE, prometendo acrescê-lo com alguns bilhões de dívida corporativa a partir de junho.

36) Quando feito o anúncio, em março, apenas dívida com "grau de investimento" seria elegível ao programa do BCE. Mas, como Draghi definiu um piso aos rendimentos dos títulos a serem adquiridos — não menos que a taxa da deposit facility, atualmente em 0,40% negativos —, e uma boa parte dos bônus corporativos europeus já está sendo negociada abaixo de zero, o BCE se viu obrigado a ceder e logo na primeira intervenção no mercado comprou, além de AB Inbev, também dívida da Telecom Italia, classificada como "grau especulativo" pela Moody's e S&P.



37) Fixada inicialmente em -0,10%, a taxa da deposit facility logo teve de ser reduzida para - 0,20% e depois -0,40% — como previsto neste artigo — porque o BCE restringiu a si próprio ao impor tal taxa como piso à compra de ativos. O problema é que, tão logo as compras começaram, Draghi acabou achatando e reduzindo toda a curva de juros na Europa. Resultado? Sobraram poucos títulos elegíveis para o QE. Reduzir ainda mais a taxa da deposit facility era inevitável.

38) Toda a curva de juros da Alemanha até 5 anos está com rendimentos abaixo de -0,40%.  Isso significa que Draghi necessariamente trabalhará na ponta mais longa da curva e/ou comprará mais títulos de países periféricos como os do PIIGS.



39) Assim como o Fed, o BCE não tem intenção de reverter o seu balanço após as intervenções do QE. Quando do vencimento dos títulos, Draghi vai rolar ou reinvestir — mesmo se algum bônus virar "lixo" (junk). As empresas já têm se antecipado e emitido dívidas pensando no BCE como potencial comprador — as emissões neste primeiro semestre explodiram —, o que é lógico e inevitável, pois nada mais natural que aproveitar essa "janela de mercado" em que o único ente com "recursos ilimitados" (impressora de dinheiro) garante intervenções mensais bilionárias e sem data para expirar.



40) No escopo ampliado do Programa de Compras de Ativos (o APP) do BCE, a meta quantitativa passa a ser de € 80 bilhões por mês. Isso equivale à produção anual do Uruguai. Considerando um total de € 960 bilhões por ano, o APP é 40% maior que o PIB da Holanda, ou do tamanho do PIB da Espanha, ou um 1/3 do PIB da Alemanha. Mas ao contrário da produção anual de um país, produzir € 80 bilhões não custa praticamente nada ao BCE. Veja que lindo este didático vídeo sobre o APP:
41) Dos 616 bilhões de francos suíços detidos pelo Banco Nacional da Suíça na forma de investimento em moeda estrangeira, 20% correspondem a ações de empresas — ou CHF 123 bilhões —, o equivalente a 25% do valor de mercado de todas as empresas listadas na Bovespa. O Banco Central da Suíça é um dos grandes acionistas da Apple, da Exxon Mobil, da Johnson & Johnson. Além disso, o BNS ainda possui CHF 74 bilhões de bônus corporativos em seu balanço.

42) Bancos Centrais são hoje um dos major players do mercado de ações.

43) Obviamente, nos últimos 5 anos, diversos índices de ações bateram recordes históricos. A esmagadora maioria das bolsas de países desenvolvidos ou alcançou as máximas de toda a história (muitos se mantêm e seguem testando novos picos) ou estão no maior patamar desde a crise de 2008. Vejam o Dow Jones (mais de 18.000 pontos em 2015), o S&P 500 (mais de 2.100 pontos em 2015), a Nasdaq (mais de 5.200 pontos em 2015), o DAX (mais de 12.300 pontos em 2015), o Nikkei 225 (mais de 20.700 pontos em 2015). A lista é extensa.

O que tudo isso significa? Quais as implicações desse grande experimento? A resposta a essas perguntas será o foco da continuação deste artigo.

Fernando Ulrich é mestre em Economia da Escola Austríaca, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros. É conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado "Moeda na era digital". Também é autor do livro "Bitcoin - a moeda na era digital".


Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2435

Rhyan

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Re:O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas
« Resposta #2 Online: 23 de Junho de 2016, 06:26:37 »
Os Bancos Centrais mundiais são hoje a principal fonte de risco e instabilidade à economia mundial
por Fernando Ulrich, quinta-feira, 16 de junho de 2016


Digeridos os mais de 40 fatos surreais da economia mundial, podemos agora entender o significado e as implicações do grande experimento monetário do milênio.
A primeira constatação é que os Bancos Centrais definitivamente mudaram de atitude, postura e propósito. O discurso oficial pode ser o combate indelével à deflação, mas o objetivo primário é outro: sustentar a alta dos mercados financeiros e, em especial, o preço dos títulos soberanos.

Muito embora pudéssemos admitir o pretexto oficial como verossímil — os banqueiros centrais realmente estão preocupados com a deflação acima de tudo —, a dimensão das intervenções e das distorções é tamanha, que a dependência das ações dos BCs se acentua a cada dia, levando, cedo ou tarde, ao cenário em que o mercado financeiro será de fato a principal preocupação, na prática e na retórica.

Originalmente apenas prestamistas de última instância, os BCs hoje se tornaram precificadores de primeira instância — from lender-of-last-resort to market-maker of first resort.

O rendimento dos Treasuries americanos não está alto ou baixo; está onde a Janet Yellen quer que esteja. O que guia os mercados são os discursos, ora cifrados, do Fed e do BCE. Não importa mais se a dívida está aumentando. Importa apenas se os bancos centrais estão injetando mais liquidez.

Há um descasamento entre o preço dos ativos e o risco subjacente. Os preços já não refletem os fundamentos, mas sim a vontade dos banqueiros centrais. Os fundamentos foram solapados pela injeção de liquidez.

E permeando todas as políticas — e de certa forma até a própria existência — dos Bancos Centrais está a grande arrogância fatal: a arrogância de que um punhado de burocratas — por mais bem qualificados, inteligentes e bem intencionados que sejam — possa saber qual o preço correto da taxa de juros, dos bônus soberanos, das ações ou de qualquer mercadoria no mercado.

A presunção de crer que preços podem ser determinados por decreto ou modelos econométricos.

O preço não é um número arbitrário. O preço é parte essencial em uma economia de mercado. O preço carrega uma miríade de informações capaz de coordenar a vida em sociedade. Os agentes ajustam seus comportamentos com base nas informações transmitidas pelos preços. Os consumidores decidem se devem economizar ou se podem consumir mais; os produtores, se podem investir e aumentar a produção, ou se reduzem a oferta de bens no mercado.

Somente um preço livre pode regular a oferta e demanda. Somente um preço livre pode regular a cooperação social harmonicamente. Quando o preço não é livre, as informações por ele transmitidas são adulteradas. Um preço controlado ou deturpado desorienta os agentes, provocando ou influenciando comportamentos distintos do que seriam em um ambiente sem intervenção. Distorcer preços significa falsificá-los, e isso tem consequências não-intencionadas e não de todo previsíveis.

Essas noções são igualmente válidas para o preço dos ativos financeiros, sejam eles títulos de dívida, sejam ações de empresas. O preço de um bônus deveria refletir a percepção dos investidores com relação à qualidade e à saúde financeira do emissor em face da preferência temporal e da aversão ao risco em dado instante no tempo. A convergência entre os investidores e os tomadores determina o valor de mercado dos ativos. Dito de outra forma, os preços dos ativos são formados pelos demandantes e ofertantes de poupança.

Mas quando bancos centrais intervêm no mercado, comprando bônus e ações sem nenhuma parcimônia, quais informações os preços desses ativos passam a transmitir? Quando Draghi adquire dívida da Espanha, que informação o preço do título transmite?

Isso nos traz a uma discussão fundamental: a alta continuada dos títulos soberanos poderia ser considerada uma bolha? Para Andy Haldane, diretor executivo de Estabilidade Financeira do Banco da Inglaterra, não há dúvidas. Em uma audiência do Comitê do Tesouro, em 2013, Haldane foi assertivo: "Sejamos claros, nós inflamos intencionalmente a maior bolha de títulos soberanos da história".

Mas poderíamos contra-argumentar com a seguinte indagação: pode uma bolha durar tantos anos? Afinal de contas, os rendimentos dos bônus soberanos vêm caindo consistentemente desde o início dos anos 1980, ou dito de outra forma, os títulos governamentais estão em uma ascensão continuada há mais de três décadas. Seria razoável uma bolha com mais de 30 anos de alta?

Talvez a alcunha de bolha mereça um refinamento.

Primeiro de tudo, grande parte dos casos históricos de bolhas de ativos sempre teve como força motriz alguma forma de expansão monetária, de crédito farto e barato. Mas os "participantes" dos episódios eram, normalmente, agentes privados. Era o mercado quem comprava e vendia. Os governos — por meio dos Bancos Centrais — como protagonistas de um processo deliberado e sustentado de boom em classes inteiras de ativos é algo inédito na história.

Segundo, em um sistema monetário como o padrão-ouro — e, em menor medida, até mesmo o sistema de Bretton Woods —, os bancos e os Bancos Centrais eram impedidos de emitir moeda em excesso devido a um detalhe simples: a inflação monetária drenava as reservas de ouro dos bancos, pois os depositantes logo demandavam o resgate em espécie. Encurralado com reservas insuficientes lastreando os depósitos e os bilhetes emitidos, cedo ou tarde o sistema bancário tinha de reverter o processo inflacionário de expansão creditícia. Uma alta injustificável e insustentável nos preços dos ativos não tardava muito para ser corrigida.

Hoje, contudo, quando analisamos os fundamentos dos bônus soberanos, nos deparamos com uma série de artifícios impostos pelos estados que visa a manter um mercado cativo a essa enorme classe de ativos. Explico.

Para começar, títulos soberanos são os principais ativos utilizados pelos bancos centrais para fins de política monetária. Isso, por si só, já assegura uma demanda mínima e relevante para a dívida governamental.

Além disso, na maioria das jurisdições, os fundos de pensão, os quais são geralmente os maiores investidores institucionais do mercado, são obrigados por lei a direcionar uma boa parte dos recursos geridos à aquisição de títulos do governo. Mais um expediente para propiciar uma demanda mínima a essa classe de ativos.

E não nos esqueçamos da regulação bancária, encabeçada pelo Banco de Compensações Internacionais por meio do Comitê da Basileia. Nas regras de adequação de capital dos chamados Acordos de Basileia, bônus soberanos com uma boa classificação de risco não requerem nenhum capital. São ativos que os bancos podem carregar no seu balanço sem nenhuma necessidade de comprometer capital como colchão de segurança em cenários de stress. Isso naturalmente estimula o sistema bancário a acumular dívida governamental — ativos de risco zero ou livres de risco, segundo a regulação bancária —, liberando capital para investimento em outros ativos.

Esses três fatores já garantem uma forte demanda pela dívida soberana, e esse estado de coisas vigora há pelo menos 30 anos.

Mas isso não é tudo. Porque, atualmente, além das circunstâncias acima expostas, temos os Bancos Centrais no mundo desenvolvido criando moeda em dimensões assombrosas para a aquisição direta de bônus soberanos ao longo de toda a curva de juros. E o que é pior, prometendo ao mercado implícita e explicitamente comprar ainda mais títulos de dívida na quantidade e pelo tempo que forem necessários.

Diante disso tudo, devemos parar e levantar algumas questões essenciais para reflexão. Por exemplo, por que os agentes ainda investem nesses ativos, considerando que a situação fiscal em grande parte dos emissores é preocupante, se não calamitosa? Por causa da liquidez? E quanto da alta liquidez dos bônus soberanos dependeu ou depende dos três fatores acima mencionados?

Ou ainda, de que forma as ações inéditas dos bancos centrais influenciam o comportamento dos investidores? Estes aceitam comprar bônus com juros negativos porque esperam um longo período de deflação de preços ou porque esperam revender os títulos por um juro ainda menor em poucos meses, realizando um belo ganho? O quão determinante ao preço dos ativos é a capacidade quase ilimitada de emissão de moeda pelos bancos centrais — um privilégio exacerbado no mundo pós-Bretton Woods?

Com as intervenções sucessivas, os Bancos Centrais resgatam os mercados ou impedem as correções dos excessos?

E a pergunta derradeira: qual seria o preço desses ativos em um mercado genuinamente livre e desimpedido, sem interferências das autoridades monetárias? Qual seria o custo de refinanciamento de Portugal, por exemplo, sem as intervenções do BCE?

O mercado altista (bull market) dos títulos soberanos que sobrevive há décadas talvez não siga rigorosamente a definição clássica de bolha justamente porque ainda não estourou. Mas certamente é um caso especial de bolha porque: i) os preços dos ativos guardam pouca relação com os fundamentos; e ii) os grandes compradores são detentores do monopólio de emissão de moeda com "poder de compra" quase infinito e, precisamente por isso, são capazes de impedir ou adiar o eventual colapso da bolha.

A sustentação dos ativos em níveis de preço recordes é fundamentalmente um resultado deliberado dos Bancos Centrais. Que estes atores são um dos principais propulsores dos títulos soberanos é evidente e incontestável. Que os investidores não se importem em acumular bônus soberanos a despeito de todos os fundamentos é plenamente compreensível, dado os artifícios explicados acima e a forte presença dos BCs como compradores com poderio ilimitado.

Não fossem todos os incentivos concedidos à dívida soberana e as recorrentes rodadas de QE, estariam os preços dessa classe de ativos batendo recorde atrás de recorde? Parece-me pouco plausível.

Outra consequência grave é a forma como uma distorção nos mercados repercute em todo o restante dos ativos e influencia o comportamento dos agentes.

Exatamente isso é o que está ocorrendo com os bônus corporativos. Diante de rendimentos cada vez mais risíveis nos títulos governamentais, os investidores buscam obstinadamente qualquer papel que possa render um pouco mais que zero e, com isso, acabam elevando os preços de outros ativos como dívida corporativa.

Já os empresários, vislumbrando o potencial de refinanciar a dívida contraída com custos menores, se lançam ao mercado emitindo mais bônus, saciando o apetite dos investidores. Ou então, levantam dívida nova para financiar projetos que antes seriam inviáveis ou, pior ainda, utilizam-se da conjuntura inusitadamente favorável para realizar nada menos que pura engenharia financeira e turbinar os retornos dos acionistas.

A recente compra da SAB Miller pela AB InBev é um caso emblemático dessa nova realidade. A mega-cervejaria entrou para a história ao realizar uma das maiores emissões corporativas de todos os tempos: captou cerca de US$ 46 bilhões para financiar a fusão com juros mais do que camaradas. E os analistas já preveem outras fusões e aquisições bilionárias financiadas com muita alavancagem barata neste ano.

A verdade é que, com juros próximos de zero, qual empresário não se sentiria atiçado a tomar um pouco mais de risco? Será que uma transação como a da AB Inbev-SAB Miller teria acontecido em uma conjuntura com taxas de juros mais normais? É tudo uma questão de incentivos. E os incentivos dados pelos Bancos Centrais são os mais perversos, com potencial de desestabilizar os mercados financeiros e a economia como um todo.

Quais outras alternativas restam aos BCs?

O curioso de todo esse grande experimento monetário é que, sob a ótica dos próprios banqueiros centrais, tantos estímulos, tantas compras maciças de ativos, tantas intervenções ainda não foram suficientes para sanar a economia. O crescimento segue cambaleante, o desemprego preocupa em muitas nações e a inflação de preços ao consumidor mantém-se longe da meta. A deflação é, supostamente, o grande mal a ser combatido pelas políticas monetárias extremadas.

Diante desse diagnóstico — o abismal fracasso de suas ações —, qual o caminho aventado pelos banqueiros centrais e economistas? A resposta é teimosamente a mesma: mais expansão monetária, mais QE, mais intervenções. Retroceder, jamais.

Em essência, todas as novas soluções propostas indicam nessa direção. Os menos engenhosos sugerem aumentar as compras de ativos no mercado. Outros defendem a imposição de taxas de juros negativas aos depositantes no varejo — é preciso incentivá-los a gastar! — e para isso alegam que a abolição do dinheiro em espécie é imprescindível.

E ainda há aqueles que realmente pensam fora da caixa e propõem o chamado "dinheiro de helicóptero", eufemisticamente chamado de "finanças monetárias" (monetary finance), que consiste em creditar as contas dos cidadãos de um país — criar dígitos eletrônicos nas contas-correntes, impressão de dinheiro na forma moderna — para estimulá-los a gastar e, com isso, escapar da deflação.

Políticas como essa merecem nada além de escárnio. Mas a presidente do Fed, Janet Yellen, discorda e muito embora a considere uma medida extrema, ela "não pode ser descartada da caixa de ferramentas do Banco Central americano". Essas afirmações deveriam apavorar qualquer economista sensato.

E aí vem a pergunta: e se tudo isso não der certo? E se todas essas medidas — por mais estapafúrdias que sejam — forem implantadas e ainda assim os consumidores não gastarem o suficiente a ponto de escapar da deflação, alcançando a meta de 2% de inflação ao ano? Quais alternativas restarão aos BCs?

Se comprar ativos e dar dinheiro à população não funcionar, a única saída para elevar os preços será os próprios Bancos Centrais iniciarem uma compra volumosa e direta de bens e mercadorias no mercado. Algo como uma "Cesta-Básica Purchase Programme", ou "Consumer and Durable Goods Purchase Programme".

Você acha que enlouqueci? Isso jamais aconteceria? Que seria uma maluquice completa, não discordo. Mas essa é a consequência lógica das estratégias de elevação dos índices de preços pelos BCs.

Portanto, não se surpreendam se, em alguns anos, os economistas começarem a formular teorias mirabolantes com eufemismos criativos para justificar a aquisição direta de bens pelos Bancos Centrais. Ou, de repente, se propuserem o corolário dessa política, qual seja, a destruição dos estoques, da oferta dos bens, exatamente como o Brasil na era Vargas fez com a produção de café, na vã tentativa de aumentar o preço da commodity que despencava no mercado internacional. Sandice, sem dúvida, mas nada que não haja um economista ávido para legitimar.

Onde isso vai parar? Ou quando isso vai parar?

Não é necessário ser especialista para perceber que algo está estranho, atípico. Mas é preciso entender economia para concluir que tudo isso está fundamentalmente errado.

O fato inconteste é que os bancos centrais estão intervindo, influenciando, distorcendo e adulterando os preços das taxas de juros e dos ativos financeiros. É a política monetária "não-convencional" a grande responsável por sustentar os ativos em níveis que desafiam a lógica e o bom senso.

Não deixa de ser irônico quando apontam o mercado financeiro como o arquétipo máximo do capitalismo, uma vez que os bancos centrais estão deliberadamente confundindo ou obstruindo por completo a descoberta honesta de preços, cujo processo só pode ocorrer em um mercado genuinamente livre. Porque preço monitorado, controlado ou intervindo não é preço, é apenas um dado arbitrário.

Nesse arranjo, os grandes beneficiados são os governos que estão conseguindo um alongamento da dívida sem precedentes e com juros irrisórios. Emitem dívida longa e travam juros baixos. Mas os bancos ficam extremamente vulneráveis, pois são eles que carregam uma boa parte dessa classe de ativos em seus balanços. Em um cenário de juro zero ou negativo, qualquer mínima elevação pode dizimar o capital de uma instituição financeira.

Logo, para manter o sistema bancário líquido e solvente, os Bancos Centrais atuam como uma espécie de prestamista de última instância preventivo: que mantenhamos os preços dos ativos em alta e assim evitamos o risco de insolvência dos bancos. No fundo, os banqueiros centrais acabam socorrendo tanto os bancos — que carregam os ativos — quanto os governos — que precisam se financiar com baixo custo.

Então, as perguntas de trilhões de dólares são: por quanto tempo mais os Bancos Centrais conseguirão manter essa situação? Até quando conseguirão manter a ilusão de que tem tudo sob controle? Até quando os economistas enxergarão a discricionariedade dos Bancos Centrais como uma virtude e não uma falha? Por quanto tempo mais defenderão a ideia de que estabilidade de preços ao consumidor é o essencial, independentemente de as cotações dos demais ativos estarem subindo indefinidamente? Até quando os banqueiros centrais se aterão à ideia de que suas intervenções no mercado financeiro não causam sérios desequilíbrios? Por quantos anos mais conseguirão conter uma reversão desordenada nos preços dos ativos, especialmente nos dos títulos soberanos?

A resposta cientificamente precisa é: não sei. É o velho dilema do timing de mercado.

O que podemos prever é que, à medida que o tempo passa, à medida que as intervenções se agravam, as distorções se acentuam e os problemas permanecem insolúveis, a confiança dos agentes no sistema vai se esvaindo.E como todos muito bem sabem, confiança é a palavra-chave.

A confiança que os agentes depositam nas autoridades monetárias é fundamental para a continuidade desse jogo, mas ela não é infinita. Passaremos mais duas ou três décadas sem nenhum evento sísmico nos mercados financeiros, exatamente como acontece no Japão? Francamente, acho que os banqueiros centrais não dispõem de tanto tempo.

Investidores de peso, como Bill Gross, também andam extremamente receosos com os excessos dos mercados. Segundo ele, os yields (rentabilidades) globais mais baixos dos últimos 500 anos, aliados aos US$ 10 trilhões de dívida em território negativo, são uma "supernova que explodirá algum dia". Para alguém da estatura e relevância de Gross, tal afirmação é muito significativa.



Na sua visão, o sistema financeiro está todo disfuncional. A cada nova intervenção, a cada rodada de compra de ativos, as distorções não são expurgadas, mas intensificadas. Com o passar do tempo, mais investidores compartilharão dessa visão.

Mas poderá haver hiperinflação em decorrência desse experimento, como advertem alguns alarmistas? Não. A expansão creditícia pelo sistema bancário de reservas fracionárias não é capaz de gerar uma hiperinflação. Instabilidade, sim. Hiperinflação, não. Colapso total e absoluto da moeda só é factível em um cenário em que os BCs são nacionalizados e passam a emitir moeda para financiar os estados diretamente. Ainda estamos longe disso nos países desenvolvidos.

Em última instância, o que acaba sendo questionado é a confiança na própria moeda, a confiança na moeda estatal. Embora o cenário de hiperinflação seja altamente remoto, é inegável que a confiança na moeda vai sendo minada depois de tantos abusos e arbitrariedades por parte dos bancos centrais. Logicamente, ativos como o ouro e o Bitcoin passam a ser vistos como refúgios genuínos, quando não únicos — mas isso é assunto para um outro artigo.

Filosoficamente, até mesmo o conceito de moeda é posto em cheque. Porque além das utilidades clássicas de "meio de troca, reserva de valor e unidade de conta", os banqueiros centrais estão adicionando mais uma: a função de sustentar os mercados financeiros.

Por fim, sobre uma coisa não há a mais mínima incerteza: os Bancos Centrais são hoje a principal fonte de risco e instabilidade à economia mundial.



Fernando Ulrich é mestre em Economia da Escola Austríaca, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros. É conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado "Moeda na era digital". Também é autor do livro "Bitcoin - a moeda na era digital".

Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2440

Offline JJ

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Re:O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas
« Resposta #3 Online: 24 de Junho de 2016, 10:39:22 »
Os Bancos Centrais mundiais são hoje a principal fonte de risco e instabilidade à economia mundial
por Fernando Ulrich, quinta-feira, 16 de junho de 2016


Digeridos os mais de 40 fatos surreais da economia mundial, podemos agora entender o significado e as implicações do grande experimento monetário do milênio.


Quais outras alternativas restam aos BCs?


E ainda há aqueles que realmente pensam fora da caixa e propõem o chamado "dinheiro de helicóptero", eufemisticamente chamado de "finanças monetárias" (monetary finance), que consiste em creditar as contas dos cidadãos de um país — criar dígitos eletrônicos nas contas-correntes, impressão de dinheiro na forma moderna — para estimulá-los a gastar e, com isso, escapar da deflação.


E aí vem a pergunta: e se tudo isso não der certo? E se todas essas medidas — por mais estapafúrdias que sejam — forem implantadas e ainda assim os consumidores não gastarem o suficiente a ponto de escapar da deflação, alcançando a meta de 2% de inflação ao ano?




E se tudo isso não der certo nós teremos uma prova de que nem sempre expansão monetária provoca inflação (aumento de preços generalizados e contínuos na economia).




Rhyan

  • Visitante
Re:O bizarro arranjo monetária atual das taxas de juros negativas
« Resposta #4 Online: 26 de Junho de 2016, 02:34:58 »
E se tudo isso não der certo nós teremos uma prova de que nem sempre expansão monetária provoca inflação (aumento de preços generalizados e contínuos na economia).





Erro comum, confundir base monetária com M1, M2 e etc.. Ao governo não resta nada além de criar dinheiro extra nas reservas bancárias dos bancos, se esse dinheiro não entra no sistema bancário e no mercado (ainda bem que não entra, se não os EUA estaria em hiperinflação, mas esse nunca foi o objetivo do Fed mesmo) não há inflação de preços.

Numa economia recessiva, ter um pouco a mais numa conta corrente não faria as pessoas consumir que nem loucos e nem produção anterior pra atender esse consumo. Não solucionaria nem a recessão e nem a deflação, inclusive, ambos não são problemáticos dentro da teoria austríaca.

 

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