Enquete

Sabendo da realidade dos presídios brasileiros, você é contra ou a favor da privatização do Sistema Penitenciário brasileiro?

Sim, somente traria benefícios. A iniciativa privada agiria de uma maneira muito mais eficiente que a pública, resolvendo um dos principais problemas públicos do Brasil atualmente,que é a situação da população carcerária e a falta de espaço nos presídios.
Sim, mas com restrições. Não acho que a iniciativa privada resolveria todos os problemas dos presídios, mas para o imediato seria a solução  desde que seja focada na parceria público-privada.
Deixe como está.
Não, pois é imediatismo. A privatização dos presídios seria somente uma proposta imediatista que a longo prazo traria prejuízos a população, pois a corrupção e a transformação do preso em mercado, feririam o estado democrático como nos EUA.
Não, somente traria malefícios.  É necessário uma maior participação estatal na recuperação dos presos brasileiros, além de a privatização ser uma proposta neoliberal imediatista que prejudica as camadas mais pobres.
Sim, mas com outro motivo. Explique.
Não, mas com outro motivo. Explique.

Autor Tópico: Privatização do Sistema Penitenciário  (Lida 642 vezes)

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Offline Gauss

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Privatização do Sistema Penitenciário
« Online: 30 de Junho de 2016, 15:50:33 »
Já vi tópicos sobre o sistema penitenciário por aqui, mas nunca enquetes de opinião ou  conversas que toquem no assunto da privatização  do sistema penitenciário. Por isso, crio esse tópico para fins de discussão sobre o assunto, sujeito a alterações da moderação caso ela ache necessário.

Para isso passo a seguir dois textos para reflexão, um pró e outro contra o assunto. Caso saibam de textos que clareiam melhor a ideia, tragam, esses foram os melhores que encontrei.

Privatização dos presídios: Problema ou solução?

Por Priscila Almeida Carvalho

Celas abarrotadas de delinqüentes, rebeliões em massa nos presídios, cidadãos inassistidos para um posterior convívio em sociedade. Este é o cenário da mazela social em que os encarcerados vivem no Brasil. O problema é há muito estudado, agora, urge uma solução.

A mídia veicula a privatização dos presídios como assunto instigante na seara do Direito e também podemos vê-la em debates ingênuos ou sofisticados. Tanto alvoroço se dá porque o tema é pertinente não apenas ao Direito Público, mas às concepções morais e ideológicas da população. Muitos moralistas fervilham ao dizer que as empresas financiadoras da privatização de um serviço até então público exercem tais atividades à procura de lucros cada vez mais rentáveis (a gananciosa comercialização de uma atividade do governo). No que tange à esfera ideológica este fato pode ser traduzido como algo que se insurge ao controle do Estado o que acabaria por arruinar nossa ordem político-econômica. Surge, então, um acalorado conflito de idéias debatendo o que para uns seria um problema maior e para outros uma parte da solução. Neste momento cabe ao leitor se definir por uma posição.

Privatização das prisões é subsidiar certos serviços públicos ao setor privado dasafogando assim parte do trabalho estatal na condução dos presídios. A atividade da iniciativa particular deve se resumir na administração do espaço físico prisional com a possibilidade de ser empregador do preso.

A sua história se remete à política do hands-off, quando o juiz sentenciava de acordo com a decisão dos jurados. Entretanto, a definição da quantidade da pena e o acompanhamento da execução penal eram de responsabilidade do “Adult Authority”, órgão administrativo. Isto acabou por enfraquecer o sistema penal e implicou na interdição de vários presídios pelos tribunais americanos devido abusos contra os presos. E foi o empresário Thomas Beasley quem propagou a idéia de privatização dos estabelecimentos prisionais motivado pela falta de vagas que geravam muitos abusos contra os presos nas cadeias.

O seu estopim também se reputa à década de 80 com o presidente norte-americano Ronald Reagan, devido à escassez de recursos públicos em face de grande demanda por vagas o que beneficiaria às empresas e ao país. E ele logo foi seguido pela primeira-ministra britânica Margareth Tatcher. Daí a preocupação com a redução dos gastos públicos e a política neoliberal de apoio às empresas privadas. Desde que a privatização começou, hoje envolve 10% das prisões americanas, o lucro das empresas que a fazem só tem aumentado. As evidências indicam que este ganho continuará a crescer porque houve endurecimento das leis Antidrogas e o contingente de 2.193.798 presos 1 progredirá. Neste país onde a população carcerária subiu 4 vezes em 20 anos, mais de 1 milhão dos atuais detidos são condenados por infração não violenta. Os números são 8 vezes maiores que de países como França, Itália, Alemanha, 14 vezes do Japão e o dobro da África do Sul no ápice da luta contra o apartheid2. Tendo estes resultados em vista muitos sustentam que os EUA vêm provocando um inchaço de detentos com o passar dos anos.

As estatísticas também são álibi para os oposicionistas, pois dizem ser a tal “Gestão Penal da Miséria” que acumula entre seus malogros, de cada 4 cidadãos negros 1 que está encarcerado. Estudando as principais causas que fizeram destes excluídos marginais sustentam a opinião ferrenha contra a privatização.

Os opositores afirmam que a privatização é imprópria porque seria realizada devido a urgência. Tendo isso em vista, Ercília Rosana3 disse:“O importante é não deixar que a urgência nos conduza a medidas impróprias e desvinculadas da realidade nacional e que pouco possam produzir em termos de justiça”. Dizem que observar apenas o fato da superpopulação das prisões é imaturo e poderia fazer o Brasil acatar a terceirização das prisões por impulsividade.

E entre tantos argumentos para criticar a privatização o que vem ganhando mais força é a defesa da execução como função jurisdicional que não pode ser exercida por nenhum outro organismo. Dizem que a terceirização vai ofuscar a função que cabe ao Estado. Ora, a execução penal é extensão desta atividade executiva penal, não é só serviço público, mas função pública. Assim, o poder-dever jurisdicional do Estado é do judiciário (Sistema de pesos e contrapesos de Montesquieu). Daí também se depreende que os três poderes são harmônicos e independentes entre si sendo três funções com independência, prerrogativas e imunidades próprias. Obedecendo a esta regra basilar do Estado Democrático de Direito, a Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 2°: “são poderes da União independentes e harmônicos entre si, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário”. Pautando-se nesses argumentos eles afirmam categoricamente que se esta privatização ocorresse, seria inconstitucional uma vez que anularia um dos preceitos mais clássicos da Constituição brasileira (art.60 parágrafo único).

Explicitam os opositores que as empresas só pensam em lucro o que redundará numa perda da qualidade de serviços como saúde e alimentação dos detentos. Ora, após uma imagem de eficiência passada pelos EUA, o preço da CCA4 na bolsa de valores de New York subiu de 200 milhões para US$1 bilhão em 5 anos. Estando ela agora em diversos países bem como a Wackenhut empresa de igual ramo e também lucrativa.

Ainda visualizando a experiência norte-americana, são acusados de usar o “trabalho semi-escravo” dos detentos e, por conseguinte todos os países que apóiam esta idéia. Lá, acusam o país de utilizar tal trabalho, pois todos os detentos precisam ser força produtiva recebendo US$0.28 a hora enquanto o salário mínimo é US$5/h. Esta polêmica sobre o tal “trabalho escravo” dos presos de cadeias em regime privado que vem se espalhando sem que a população indague o motivo do fato, começou em 1994. Época em que sindicalistas flagraram ex-policiais que dirigiam um presídio em Chicago levando detentos para empilhar brinquedos de uma loja famosa6.

Ainda para acalentar a discussão sobre o tema, a Comissão do Congresso Norte-americano –Escritório Geral de Contabilidade- comprovou que as prisões privadas custam apenas 1% a menos que as administradas pelo governo. As pesquisas mesmo indicam que no Estado do Texas e Califórnia onde se localizam 40% dos 160 presídios do referido sistema nos EUA o gasto com a manutenção desta estrutura é maior que com a educação. No Texas, em 1980 um preso custava ao governo US$13, hoje são US$45 por dia. Os números também chamam atenção para Califórnia que tem gatos de US$5,3 bi para construção e reenovação de celas e dívida de US$10 bi devido estes gastos super-elevados. Os agentes dessas prisões recebem 30 % a mais que um professor universitário- assistente. Daí as alegações que o país gasta mais com presidiários que em educação do povo. As já citadas CCA e Wackenhut faturam juntas cerca de 900mi de dólares por ano com 110 presídios e 103 mil presos administrados.   

Remetendo-nos à opinião dos favoráveis à privatização, argumentam que não é pelo fator urgência que o Brasil a quer não seria apenas uma medida rápida e aparentemente eficaz, mas pouco estudada. Assim rebatem o argumento contrário. Ela já é analisada há anos em diversos países. Mas como não basta o espelho eles solidificam opinião nos casos brasileiros. Dos 11 mil detentos do Ceará, 1549 cumprem pena com regime privado, como na prisão da Penitenciária Regional Industrial do Cariri, na periferia de Juazeiro do Norte.

O modelo de gestão privada quando criticado é visto como um conglomerado de empresas ávidas por lucros e com terceiras intenções, o que acabaria por desmoronar a estrutura estatal. Os favoráveis dizem ser tal opinião uma falácia tendo em vista argumentos fortes para pautar este parecer. O Estado e seus juristas não estão enfraquecidos ao ponto de permitir esta desordem, pois entendem que as empresas que aquecem a economia são as mesmas que podem contribuir para um avanço no sistema penitenciário brasileiro quando em parceria com o governo. E não deixam sua qualidade por conta disso, afirmam os favoráveis, continuam a ser empresas com fins lucrativos (amparadas pelo Livro II do CC). Há sim, que se exigir o cumprimento das metas e orçamento à risca o que bem fazem muitas empresas particulares. Com as tarefas pública e privada bem estabelecidas a função que cabe ao Estado -da execução- será melhor cumprida, afirmando assim os princípios do art. 37 da CF/88 que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, o quinteto da boa gerência governamental que já nos provou não poder trabalhar sozinha.

É alegado que o fato dos presos trabalharem é positivo sob todos os aspectos. Os detentos brasileiros sairiam da inércia, como se pode ver do RJ que de 22 mil apenas 900 encarcerados se ocupam produtivamente nas prisões. Os benefícios vão desde a redução da pena, de 1 dia para cada 3 de trabalho, o salário de R$295 a R$550 sendo que 5% do valor é retido como imposto para custear o encarceramento, até o aspecto mais importante que é a ressocialização envolvendo a aprendizagem de um ofício e sua execução. Assim, é notório que o argumento de trabalho escravo (ainda mais num país que zela pelos Direitos Humanos como o Brasil) é defasado. Neste entendimento, mesmo que os presos recebessem nenhum centavo do governo ganhariam benesses mais valiosas para seus futuros. Ainda, a CF/88 esclarece no art. 170 que a ordem econômica nacional é fundada na valorização do trabalho humano e livre iniciativa, o que representa amparo ao labor que os presos devem ter e aceitação da iniciativa privada no que a refere. Ora, a própria Constituição aceita claramente a economia de mercado capitalista que favorece as empresas.

Assim, mostram-se contrários a parte do argumento do sociólogo Benoni Belli7: "Não podemos deixar que os ladrões de galinha no Brasil, isto é, as pessoas das classes mais desfavorecidas que cometem deslizes leves, virem instrumento de negócio para os empresários. Os políticos que respeitam os direitos humanos devem pensar muito sobre isso, antes de apoiarem a privatização do sistema carcerário".

A privatização dos presídios, já presente entre nós, tem se mostrado a solução mais palpável para assegurar uma utilização eficiente da grande quantia de dinheiro público dispendido. Embora haja inúmeras críticas, devemos ser plausíveis em admitir que a situação estarrecedora de nossas prisões já passou do tempo de ser mudada. A população corre risco com este modelo prisional cuja gestão é ineficiente e desequilibrada, ambiente propício para a fertilização e desenvolvimento do crime. Por certo as medidas a serem implantadas devem condizer com a realidade nacional e serem objeto de acompanhamento intenso por parte do Estado. Este, já percebeu que não pode lutar sozinho, por isso no Paraná observamos o sistema de co-gestão, com administração terceirizada presente na Casa de Custódia de Londrina, nos Presídios Industriais de Guarapuava e Cascavel e na Penitenciária Estadual de Piraquara.

Ainda temos diversos fatores a tratar em prol da privatização uma vez que a força produtiva do encarcerado terá mais condições de ser desenvolvida e, portanto só gera benefícios para o mesmo e à sociedade. Como disse Michel Foucalt, em sua obra clássica sobre prisões e Direito Penal (Vigiar e punir, p. 196, 25 ed. Vozes): “a obviedade da prisão se fundamenta também em seu papel de aparelho para transformar os indivíduos”. Nesta linha, propomos um sistema onde a administração e a execução da pena serão facilitadas uma vez que nesta estrutura mais sadia para o Brasil os presos serão grandemente beneficiados, humanizados. Deste respeito advirão resultados positivos para toda a sociedade.

Do exemplo da penitenciária de Guarapuava observa-se que quase todos os presos trabalham e a reincidência é de apenas 6%. A empresa Humanitas, que ganhou por licitação o direito de coordenar as atividades internas do presídio tem quase os 140 funcionários da prisão pagos por ela. Além do “cunho social”, como ressalta o gerente-administrativo, José Mário Valério, a empresa tem retorno financeiro. No Rio Grande do Sul, por exemplo, cada preso custa  em média R$ 450,00. Na PIG, o governo do  Paraná paga à Humanitas R$ 1,4 mil mensais por interno. É por onde  lucra a empresa. Para a secretária nacional de Justi-ça, Elisabeth Süssekind, o  custo mais alto compensa. Ela vê na possibilidade de demissão imediata de agentes corruptos ou incompetentes as principais vantagens da terceirização.

 Além de Guarapuava, existe apenas mais uma penitenciária inteiramente administrada por empresa privada no país  em Juazeiro do Norte, no Ceará. ‘‘Os presídios de Guarapuava e do Cariri oferecem aos detentos apenas o que determina a Lei de Execução Penal, mas que nenhuma outra penitenciária do país consegue oferecer por inteiro’’, afirma Elizabeth Süssekind. (Correio brasiliense, peniteciária ltda 10/5/2001).  A empresa recebe do governo R$ 650,00 por preso, mesmo valor gasto nos presídios públicos. Também monitoram todos os passos dos presos que cumprem pena lá por 64 câmeras ligadas dia e noite. Tudo que é gravado no presídio fica arquivado por três dias. Os presos só ficam livres das câmeras em uma situação: quando entram nas celas. Outra medida eficazmente implantada é o rodízio de funcionários e a proibição de quaisquer intimidades com os presos. Desde sua implantação nenhuma fuga ou rebelião. Assim, a corrupção latente nas prisões administradas pelo governo é barrada. Daí um exemplo real da utilidade de tal sistema.

 A empresa Montesinos – Sistemas de Administração Prisional Ltda, é que administra maior quantidade de prisões no Brasil. São quatro prisões no Paraná e seu êxito a coroou de reconhecimento internacional gerando interesses em Chile e Angola. Por certo, além da função de humanizar os presídios essas empresas auferem os lucros válidos pelo trabalho realizado. Ora, Luiz Flávio Borges D’Urso, (insigne advogado criminalista em entrevista à Revista Consulex nº 07 31.7.1997) disse da privatização, termo mal empregado na maioria das vezes, que não se trata de vender ações de grandes penitenciárias em bolsa, mas de chamar e admitir a participação da sociedade, da iniciativa privada para colaborar com o Estado na importante função de gerir as unidades prisionais.

Não estamos mais em tempo de questionar a motivação dos que empreendem os negócios que garantirão a privatização das prisões. A discussão ideológica que tem impedido o melhor andamento das privatizações no Brasil, é combatida arduamente por Fernando Capez (promotor e escritor, DATAVENI@ - Entrevista de Fernando Capez - Ano VI - N.º 55 - março de 2002) diz que a privatização não deve ser enfrentada analisando a opinião contrária ou favorável, antes, como uma necessidade absolutamente insuperável. Há que se analisar o exemplo que deu certo no setor da alimentação. Hoje, nos lugares onde as cozinhas industriais que são administradas pelo governo não atingem satisfatoriamente o padrão, cede-se o espaço para as particulares.

Como o demonstrado, a privatização é uma medida sensata para que o Brasil tenha prisões mais decentes. Um sistema carcerário digno, representando a segurança da população. Pois que melhor analogia para se balancear o nível de segurança do país que não a observância da eficácia da própria pena do condenado? Se o sistema carcerário atual não funciona nos seus aspectos básicos imaginemos quão vulnerável está a população. O que apresenta maior viabilidade como medida para melhorar a situação do país, a mais próxima de nós, é a Privatização das Prisões. Válida e eficaz representa parte da solução deste problema intrínseco no Brasil.


Acessem a fonte: http://www.ambitojuridico.com.br/site/%20n_link=%20revista_artigos_leitura&%20artigo_id=5206



Armadilhas na privatização de presídios

Fixar gasto médio mensal de R$ 4 mil por presidiário em longas condenações pode transformar o preso numa espécie de “mercado futuro”

Por Antonio Carlos Prado

Com aproximadamente 200 mil presidiários e liderando o ranking da população total de presos no País (cerca de 580 mil internos), o governo de São Paulo insiste na privatização de penitenciárias propondo a criação inicial de 7,2 mil vagas no regime fechado de cumprimento de pena. Vai assim na esteira de outros Estados que já testam tal modelo, a exemplo de Minas Gerais com o Complexo Prisional de Ribeirão das Neves. E todos, por sua vez, vão no rastro de experiências internacionais, sobretudo a dos EUA que em 1983 recolocou em prática a gestão privada no presídio de Chattanooga, no Tennessee – isso após meio século de seu desuso porque ela se mostrara lucrativa somente à iniciativa privada, sem contrapartida para a sociedade. A maior empresa americana do setor, a Correction Corporation of America, em cinco anos alavancou seu valor de mercado de US$ 200 milhões para US$ 1 bilhão. A falta de retornos sociais, porém, faz com que hoje apenas 7% da população prisional americana (a maior do planeta, com 2,4 milhões de detentos) esteja em instituições privatizadas.

O que pode então parecer, à primeira vista, uma solução para o caótico sistema penitenciário brasileiro guarda armadilhas. Estudos feitos no Brasil apontam que, com a privatização, cada preso custará mensalmente em média R$ 4 mil – quantia que os governos terão de repassar às empresas. Nem no Principado de Mônaco, onde se oferece champanhe no café da manhã (não é ironia, é isso mesmo), um presidiário custa tanto. Será que o prisioneiro, aqui, já não está sendo superfaturado? Se essa é a quantia necessária para mantê-lo, então como explicar que o governo paulista tenha despendido apenas R$ 41 per capita ao longo do último ano? Por que os gestores dos cofres públicos, tão econômicos na questão prisional, tornam-se generosos quando entra em cena a iniciativa privada?

Negócio é negócio, e é natural que empresários não ingressem nessa empreitada para perder – a racionalidade do capitalismo é o lucro. O que não vale, no entanto, é o Estado usar o falso argumento de que ele gastará menos. Em 1999, o Paraná testou a privatização e desistiu: o custo chegou a aumentar 80%, sem retorno na recuperação dos institucionalizados, um dos objetivos da pena. Com a privatização, ensinam as malsucedidas experiências, o condenado corre o risco de vir a ser “o preso dos ovos de ouro”, um produto a gerar dividendos. Nos EUA denunciou-se um esquema de lobby que forçava condenações cada vez maiores, uma vez que, quanto mais longa for a permanência do sentenciado na instituição, mais a empresa ganhará. Ligada a isso, há outra armadilha: nos contratos reza que serão as empresas (como vimos, interessadas na rentabilidade advinda de longo encarceramento) que indicarão advogados aos presidiários e responderão pelos laudos que mostram se eles podem progredir para o livramento condicional. Difícil haver, portanto, isenção e imparcialidade. O Estado não pode abrir mão de sua função ética de cuidar das pessoas das quais restringiu a liberdade. Gastar mirrados R$ 41 como o governo paulista vem gastando é manter nas cadeias uma economia subterrânea nutrida pelo narcotráfico e organizada pelos próprios internos para sobreviverem. Mas, por outro lado, fixar gasto mensal de R$ 4 mil por presidiário em parcerias não inferiores a 27 anos pode transformar o preso numa espécie de “mercado futuro” que afronta o Estado de Direito.


Acessem a fonte: http://istoe.com.br/330364_ARMADILHAS+NA+PRIVATIZACAO+DE+PRESIDIOS/
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Lorentz

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Re:Privatização do Sistema Penitenciário
« Resposta #1 Online: 30 de Junho de 2016, 16:06:23 »
A privatização somente, sem que o preso trabalhe e custeie sua própria prisão, não valeria muito a pena mesmo.

O preso tinha que trabalhar. Faria até bem pra ele.
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Offline Gauss

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Re:Privatização do Sistema Penitenciário
« Resposta #2 Online: 30 de Junho de 2016, 16:19:49 »
A privatização somente, sem que o preso trabalhe e custeie sua própria prisão, não valeria muito a pena mesmo.

O preso tinha que trabalhar. Faria até bem pra ele.

Eu sou da mesma opinião. Se eu não me engano, em muitas prisões americanas que são privatizadas os presos tem que trabalhar. Isso ajuda a sustentar a própria casa penitenciária.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Privatização do Sistema Penitenciário
« Resposta #3 Online: 30 de Junho de 2016, 17:19:26 »
Imagino que privadas tenderiam a ser melhores independentemente de trabalho dos prisioneiros, que desconfio não ser sempre que ajuda a custear qualquer coisa, em especial para o estado.

Não sei como é o esquema de custeio dos presos nas prisões privadas, e exatamente o quanto o trabalho de fato ajuda a custear, versus ter apenas um papel "educativo", e/ou não impactar em nada para os custos do ponto de vista do estado (isso é, a prisão-empresa não daria desconto de acordo com o quanto lucrar com o trabalho dos prisioneiros, apenas lucra mais).

Desconfio que em muitos casos para as prisões privadas seja desprezível o ganho com o trabalho dos presos, ou até possivelmente pode representar um custo mais elevado com protocolos de segurança para lidar com o risco dos presos terem acesso a ferramentas e materiais diversos. E nos casos em que eles conseguem sistematizar a coisa para ser lucrativo, isso tem elevado risco de ressuscitar o trabalho escravo. Tanto mais quanto maior for o retorno financeiro para o estado proveniente desse trabalho. Se o retorno é mais significativamente privado, ainda há chance de influência por lobbies, mas talvez seja um caminho mais difícil, indireto, para incentivar o governo a aprisionar mais pessoas.

Citar
http://www.theatlantic.com/business/archive/2015/09/prison-labor-in-america/406177/

American Slavery, Reinvented
The Thirteenth Amendment forbade slavery and involuntary servitude, “except as punishment for crime whereof the party shall have been duly convicted.”

[...] Convict leasing was cheaper than slavery, since farm owners and companies did not have to worry about the health of their workers. [...]

 By one report’s measure, more than half of the inmates in jails and prisons in the United States are suffering from mental illness of some kind. These risk factors are social-welfare and public-health issues. America makes the choice to respond to these outcomes with the penal system, but there are other ways. 

[...]

[...] ample experience and research point us to an uncomfortable reality: There are innocent men at Angola. We don’t know which they are, but we do know they are there, and they are disproportionately likely to be black. In American criminal justice, “duly convicted” doesn’t always mean what we wish it to.

[...]







Citar
http://www.economist.com/node/8599146

[...] Comparing prisons is tricky, and that leaves plenty of ammunition for critics of private jails. They argue, plausibly, that big prison-management companies, especially in America, distort the criminal-justice system by lobbying for tougher sentencing. Mr Nathan terms it “Capitalism 101”. “You've got to expand your markets—you've got to fill your beds.”

Israel's supreme court is considering a lawsuit brought by opponents of an 800-inmate private prison being built at Be'er Sheva, who claim it is unconstitutional. Meanwhile some governments are having second thoughts. Canada and New Zealand have both reversed earlier decisions to run prisons on private contracts. Meanwhile, South Africa is haggling with a firm it accuses of having pushed it into an unnecessarily costly contract. “We ordered a Rolls-Royce but we should have ordered a Toyota,” a government adviser has haplessly admitted. [...]


Acho trabalho é algo mais prático para penitenciários de menor periculosidade, já que para os de maior periculosidade, empregá-los vai ter sempre despertar todo o problema de logística de estar se dando armas ou ferramentas para que usem como armas ou as fabriquem.


Uma vez postaram do spotniks algo sobre prisões onde os prisioneiros podem comprar celas e até morar com as famílias. Já vi em outros lugares outras coisas parecidas onde há algo como uma transição mais gradual entre a vida na prisão e fora dela, em vez da prisão ser uma sociedade paralela que de repente um dia joga o cara de volta no mundo, esperando ter aprendido a lição.

Com essa variação em sistemas de prisão privada, privado vs. estatal é algo bastante secundário com relação ao sistema em geral, ao que de fato se faz além de só trancar as pessoas esperando que se recuperem. Num "reporter record" vi umas coisas interessantes em países pobres em termos de recuperação, que pareciam mais compatíveis tanto com cultura quanto com verbas brasileiras do que aquelas prisões nórdicas. Mas não me lembro qual/quais eram os países apontados como bom exemplo. Talvez esse da prisão com celas de aluguel do spotniks fosse um, coincidentemente.

Offline Gauss

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Re:Privatização do Sistema Penitenciário
« Resposta #4 Online: 30 de Junho de 2016, 18:54:42 »
Só que sempre há o problema psicológico do preso. Um psicopata não poderia viver em  uma "sociedade paralela" dessas, vistoque ele não consegue sequer viver em uma "sociedade livre".

Mas acho válida essa discussão de privado vs. estatal, ainda mais com  a ineficiência doestado brasileiro em gerir coisas fundamentais como essa.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Privatização do Sistema Penitenciário
« Resposta #5 Online: 30 de Junho de 2016, 19:47:54 »
Sim, acho que um sistema ideal tinha que em primeiro lugar separar os criminosos ou infratores com problemas psiquiátricos dos demais.

Psicopatas em especial tem o problema de ser uma condição sem tratamento. Mas não é, dependendo da terminologia adotada, algo que necessariamente impede a pessoa de viver na sociedade -- a maioria dos psicopatas/sociopatas não é violento, e a maioria das pessoas violentas não é psicopata/sociopata. O determinante é não ter empatia e não aprender com punições. Então talvez o ideal seja ou terem uma "sociedade paralela" a parte dessa da dos não-psicopatas, ou, em qualquer delas, ficarem permanentemente sob uma espécie de liberdade condicional, e vigilância mais acentuada, talvez restrição de alguns direitos (como algumas que de vez em quando se aplica a viciados em drogas, que meio que precisam de um "tutor legal", como se não fossem exatamente adultos).

Tecnicamente algumas dessas medidas, ao menos pela legislação brasileira, não seriam penais, mas "medidas de segurança", que então em figura de linguagem se poderia dizer serem "penas perpétuas", embora tecnicamente não sejam mais "penas". Isso é, se isso fosse adotado, pois, evidentemente, parece não haver discriminação significativa de problemas psiquiátricos entre os criminosos. Só quando estão bem no perfil de doidão de filme de horror mesmo, e a solução sendo então apenas a mais "básica", internação em manicômio de alta segurança.



Acho 100% válida a discussão estatal vs privado, mas, como disse, secundária ao que está sendo feito. "Government work" nos EUA é uma expressão meio que para "trabalho porco" ou "lerdo", de modo geral o privado seria melhor, só precisando atenção quanto a possíveis incentivos indesejáveis "específicos" a esse regime. "Específicos" entre aspas porque não é como se estatal não existam também incentivos para fazer as coisas irem para direções indesejadas, só talvez não sejam os mesmos exatamente.

 

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