"Sem alegria, na abundância alegre,
Votada ao desamparo e só,
Em silêncio, vagueava Cassandra,
Nos bosques de loureiros de Apolo.
Nas profundezas mais obscuras
Procurava refúgio a vidente
E, tirando a faixa de sacerdotisa,
Irada, exclamou, veemente:
“A todos se abrem as portas da alegria,
Todos os corações são abençoados,
E os pais venerandos esperam
A minha irmã, de noiva, adornada,
Só eu tenho de me penar sozinha,
Pois de mim se aparta o doce enlevo,
E, a aproximar-se das muralhas,
Vejo a destruição em seu segredo.
Um archote vejo a brilhar,
Mas não na mão de Himeneu,
Para as nuvens se encaminha
Mas não é oferenda ao céu.
Alegres se aprontam os festejos
Mas, num augúrio funesto,
Já escuto a disputa dos deuses
Que os destroem cruelmente.
E das minhas queixas desdenham,
E escarnecem da minha dor,
Só, tenho de levar para os desertos
O meu coração sofredor,
Sendo pelos ditosos evitada
E para os felizes um escárnio!"
http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/BEC41/12_-_CASSANDRA___VOX_FEMINA_TRAGICA.pdf