Gostaria de narrar um episódio que aconteceu há quase 20 anos numa cidade vizinha a Assis (SP).
O pedreiro Francisco Ovídio da Silva morava em Platina, uma cidade 3192 habitantes na região de Assis, no Oeste Paulista. Nascido em 1957, ele era membro da Igreja do Evangelho Quadrangular na cidade e, segundo jornais da época, ele era auxiliar do pastor da igreja.
Ele costumava orar nas margens de um rio que corta uma fazenda próxima à casa onde ele morava, que fica na periferia da cidade. No dia 11 de abril de 1997, quando estava orando próximo ao rio, ele teria visto uma mulher muito bonita, flutuando acima da água do rio. Ela teria se identificado como Maria, mãe de Jesus, e teria pedido para ele não ter medo. Ela então teria entregue uma imagem de "Nossa Senhora" a ele, pedindo para que ele cuidasse da imagem, pois os donos anteriores não estavam cuidando bem dela. Com medo da reação da esposa, também evangélica, quando visse a imagem, ele a enrolou com a camisa dele e foi embora. Quando ele chegou em casa e a esposa desenrolou a imagem, ela disse a Francisco que a estatueta estaria chorando. A partir daí, a imagem teria começado a chorar um líquido semelhante a sangue.
Platina pertence à diocese de Assis. Como "Nossa Senhora" supostamente queria que fosse construída uma capela em Platina para abrigar a imagem, Francisco procurou o bispo de Assis à época, Dom Antonio de Sousa, que concordou com que um terreno fosse doado à diocese para que a capela fosse construída, também com material doado pela comunidade.
A partir da primeira aparição, Chiquinho, como o "vidente" ficou conhecido entre a população, teria se convertido ao catolicismo, depois de passar pelo racionalismo cristão (dos 6 aos 14 anos) e pela Igreja do Evangelho Quadrangular. Chiquinho começou a reunir a comunidade no mesmo local onde teria tido a primeira visão para rezar o terço, depois do qual "Nossa Senhora" sempre aparecia e manipulava o sol, como suposta prova da sua presença. Depois da reza do terço, "Nossa Senhora" ditava mensagens para o suposto "vidente".
Depois de alguns meses, o dono da fazenda onde teria ocorrido a aparição, passou a proibir a entrada dos fiéis na propriedade para as orações. Depois que a capela ficou pronta, as reuniões passaram a acontecer em seu interior. Nela estão a imagem de "Nossa Senhora" que teria sido entregue por Maria a Chiquinho e também outra de Jesus que supostamente também chora sangue.
Chiquinho chegou a ser acusado de ter roubado a imagem de uma capela do cemitério da cidade e de fraudar as lágrimas da imagem. Placas feitas de papelão chegaram a ser colocadas ao longo da estrada que liga Assis a Platina com essas acusações. Até hoje isso não foi provado.
O jornal "
Voz da Terra", de Assis, dedicou bastante espaço às aparições e às supostas mensagens ditadas pela "santa". O repórter Paulo Cardoso, que é natural de Assis, fez uma matéria sobre o assunto quando trabalhava no "Programa do Ratinho", no SBT. Uma pequena matéria sobre o caso também foi exibida no "Jornal Hoje" da Globo. A matéria foi feita pela afiliada da Globo em Bauru, então chamada TV Modelo (atual TV TEM). Houve um boato de que a emissora teria tirado uma amostra do líquido vermelho que vertia da imagem para análise, para saber se era realmente sangue, mas segundo eu apurei junto à emissora bauruense, isso não foi feito.
Segundo uma reportagem do "Voz da Terra", o então bispo de Assis, Dom Antonio de Sousa, teria pedido ao Centro Latino Americano de Parapsicologia (Clap), de São Paulo, para fazer uma análise do caso como um todo e, particularmente, do líquido que vertia dos olhos da imagem. Segundo o jornal, uma equipe do padre Oscar Quevedo viria a Platina para analisar o caso. No entanto, até hoje isso não foi feito. Se foi, nunca foi divulgado pela imprensa local.
Segundo uma amiga minha, católica, que morava em Platina e se mudou há alguns anos para Assis para estudar, o bispo achava que Platina poderia se tornar uma "nova Aparecida", com um fluxo grande e permanente de fiéis da região e de outros lugares do Estado (e mesmo de outros estados) visitando a imagem, pedindo "graças", etc.
Durante alguns meses, realmente o movimento na cidade provocado pelas supostas aparições foi bem grande, com gente vindo do Brasil inteiro. Mas com o tempo, o movimento caiu muito e agora deve se limitar apenas a pessoas de cidades vizinhas a Platina, como Assis, Cândido Mota, Palmital, entre outras.
Chiquinho trabalhava como pedreiro, mas, depois da primeira "aparição", teria deixado o trabalho para se dedicar apenas à "evangelização" e à divulgação das supostas mensagens da "santa". Um jornalista que fez a cobertura do caso na época insinuou certa vez que Chiquinho teria enriquecido por causa das supostas aparições.
Na visita do papa João Paulo II ao Brasil em 1997, uma pessoa não identificada pagou uma viagem ao suposto vidente Chiquinho para que ele fosse ao Rio de Janeiro tentar falar com o papa sobre as visões e as mensagens (se me lembro bem, "Nossa Senhora" teria ditado a ele mensagens que deveriam ser entregues ao papa). Caso Chiquinho não conseguisse falar com João Paulo II no Rio (como realmente não conseguiu), essa pessoa pagaria para ele ir ao Vaticano. Mas até hoje nada foi divulgado sobre essa suposta segunda viagem. Sem falar que essas visões nunca foram aceitas oficialmente pela Igreja Católica Apostólica Romana.
Há uma página sobre as aparições no site da
Igreja Católica Apostólica do Brasil (ICAB), uma dissidência da Igreja de Roma. Ao final da página, há a seguinte declaração:
Dom Jurandir Anísio Padovani, Bispo Diocesano de Jundiaí, SP, da Igreja Católica Apostólica Brasileira, assegura que dará toda atenção e amor para o Sr. Francisco e a Vigem de Platina, bem como para com aquele Santuário e jamais permitirá a exploração da fé em nome de Deus e da devoção Sagrada da Virgem de Platina.
O vidente Chiquinho faleceu no dia 1º de maio do ano passado, morte que teria sido prevista pela "santa de Platina".
E a capela construída em homenagem a Nossa Senhora de Platina agora pertence à diocese de Jundiaí da Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), uma igreja dissidente da ICAR. A ICAB, ao contrário da Igreja de Romana, aceita as aparições de Maria em Platina como verdadeiras. Infelizmente o sistema do fórum me impede de postar links, senão embasaria essas informações com os links apropriados.
Atualmente, o bispo diocesano de Assis é Dom Argemiro de Azevedo.