O britânico e matemático Lewis Fry Richardson (1881-1953), que serviu na Primeira Guerra como
motorista de ambulâncias, se destacou inicialmente em estudos sobre meteorologia.
Posteriormente ao seu trabalho sobre as previsões das condições do tempo, resolveu desenvolver
um trabalho estatístico sobre as guerras, para ver se era possível descobrir a existência de relações correlativas entre elas.
Recolheu dados de cerca de 315 conflitos surgidos entre 1820 e 1945. Seus resultados foram publicados postumamente
em um livro chamado "The Statistics of Deadly Quarrels"
Como no caso de terremotos e furacões, Richardson usou uma escala logarítmica de base 10 para medir a intensidade
das guerras. Uma guerra de magnitude 3 significa um conflito com 1.000 mortos, magnitude 4 representa 10.000 vitimas,
e assim em diante. Os conflitos de magnitude 0 - nesse caso, homicídios - foram igualmente incluídos.
http://www.americanscientist.org/issues/pub/statistics-of-deadly-quarrels/3Desse estudo os pontos seguintes podem ser destacados:
- os maiores conflitos ocorrem com menos frequência que aqueles de menor escala (do mesmo modo que furacões
são bem menos frequentes que forte ventanias). Da maior até a menor magnitude, o número de conflitos
cresce de uma forma exponencial (ou logarítmica seguindo o caminho inverso).
- O tempo médio entre guerras de diferente magnitude é randômico, mas o número de guerras por ano possui
uma distribuição particular: a distribuição Poisson (distribuição de probabilidade discreta que expressa a probabilidade
de um certo número de eventos ocorrerem num dado período de tempo, caso estes ocorram com uma taxa média conhecida
e que cada evento seja independente do tempo decorrido desde o precedente).
Essa distribuição é usada para avaliar o decaimento radioativo e surgimento de câncer e tornados.
Presumindo que as tendências futuras são as mesmas que aquelas do passado, poderíamos estimar
a probabilidade da ocorrência de uma guerra de certa magnitude num determinado período.
- Parece haver a evidência de "contágio". Um guerra em andamento aumenta a probabilidade de desencadear uma nova guerra.
- Fronteiras e religiões exercem influências em conflitos. Apenas 12 dos 94 conflitos entre nações envolviam Estados que
não dividiam uma fronteira comum. Nações com religiões diferentes são mais propensas a entrar em conflitos.
Os países de religião cristã parecem ser mais beligerantes, enquanto o Confucionismo parece ter ajudado em pacificar a
China (vitima antes de frequentes guerras civis) .
Fatores sociais, econômicos, culturais não puderem ter sido correlacionados de forma relevante nessas estatísticas.
Até as corridas armamentistas não parecem ser um fator de peso, Richardson só viu evidências de uma pré-corrida às armas
em apenas 13 dos 315 conflitos. Um fator que pareceu entretanto mais promissor como prevenção de conflitos entre Estados
seria a existência um forte comércio internacional entre eles (Na véspera da Segunda Guerra, Alemanha e União Soviética tinham
um regime econômico quase fechado, com pouquíssimo comércio com outras nações).
Esses resultados frustraram Richardson pois ele esperava descobrir implicações estatísticas mais profundas que ajudariam
melhor no controle e prevenções das guerras. As guerras são na verdade "caóticas e inevitáveis".
Ao longo dos séculos 19 e 20, as guerras cresceram em termo de magnitude. Guerras com magnitude 6 (Guerra Civil americana
em 1861-1865, Guerra do Paraguai em 1865-1870) até chegar as duas últimas Guerras Mundias com magnitude 7 (correspondendo
à dezenas de milhões de vitimas). Os dois conflitos mundiais responderam por cerca de 3/4 dos mortos do total de conflitos
analisados por Richardson ( e o total de homicidios representou uns 10.000.000 de vitimas).
Em seu livro "Cosmos", o astrônomo Carl Sagan extrapola que, em se baseando nesses índices e acompanhando a
evolução da magnitude dos conflitos, há a possibilidade de acontecer em menos de 1000 anos um conflito de magnitude 10,
que liquidaria a humanidade. Segundo ele, a evolução das armas nucleares pode ter baixado esse prazo (embora o fim da
Guerra fria parece ter afastado um pouco o fantasma de uma guerra nuclear).
(Esse gráfico se encontra na página 327 de "Cosmos". O ebook pode ser baixado em:
http://www.4shared.com/network/search.jsp?searchmode=2&searchName=cosmos+sagan)
Uma outra coleção de dados bem mais recente foi compilada por Peter Brecke:
http://www.americanscientist.org/issues/pub/statistics-of-deadly-quarrels/6que vai de 1400 até 2000 e inclui todos os conflitos (cerca de 3000) de pelo menos magnitude 1.5 (30 mortos ou mais).
O gráfico mostra um número de guerras surpreendentemente baixo no século 18, época que corresponde ao domínio marítimo
da Grã-Bretanha no mundo. Hoje, com o predomínio americano e o fim da União Soviética, os conflitos diminuíram bastante em relação
à época da Guerra Fria (que alimentou diversos conflitos por motivos ideológicos).
Lewis Fry Richardson é também considerado o precursor dos estudos sobre fractais ao procurar medir as fronteiras entre países
(pois as fontes eram então divergentes).