Autor Tópico: Petróleo  (Lida 623 vezes)

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Offline JJ

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Petróleo
« Online: 05 de Setembro de 2017, 09:15:46 »
Como o Estado participa na exploração de petróleo em outros países?

Néli Pereira e Rafael Barifouse

Da BBC Brasil

em São Paulo 17 outubro 2016

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Campo de petróleo no Oriente MédioDireito de imagemAP
Image caption


Arábia Saudita mantém monopólio sobre exploração e produção porque tem muitas reservas


A Câmara dos Deputados deve concluir nesta terça-feira a votação do projeto de lei que desobriga a Petrobras de participar de todos os consórcios de exploração dos campos do pré-sal.


A proposta quer mudar a legislação em vigor, que determina que a estatal tenha uma participação mínima de 30% nos consórcios desta área e seja a operadora destes campos de petróleo e gás - ou seja, a responsável por conduzir direta ou indiretamente a exploração e produção.

Aprovada pelo Senado em fevereiro, a nova regra desobriga a empresa de participar da totalidade dos consórcios licitados sob o regime de partilha de produção. A empresa poderá escolher quais campos tem interesse em explorar, e caberá à Presidência decidir quais são de fato as áreas estratégicas.
A estatal manterá a participação mínima de 30% nestes campos selecionados. Os restantes serão leiloados e explorados e operados pela empresa vencedora.


Na última quarta-feira, a Câmara aprovou o texto-base do projeto, de autoria do senador licenciado José Serra (PSDB-SP). Agora, votará sete emendas que alteram trechos da lei. Concluída a etapa, o projeto seguirá para sanção presidencial.


Ao longo de toda sua tramitação no Congresso, a mudança proposta gerou debates acalorados. Partidos de oposição ao governo Temer, que apoia a iniciativa, dizem que o projeto "entregará o pré-sal ao capital estrangeiro".


Por sua vez, seus defensores argumentam que estarão resguardados os campos mais lucrativos para a estatal, que terá assim maior flexibilidade de gerir investimentos em um momento em que está muito endividada.


Extremos

Mas como o Brasil se insere no contexto global dos modelos de exploração de petróleo? Qual é o peso de empresas estatais na atividade? E o que determina o papel assumido pelo Estado em diferentes países?


"A maioria dos governos dá algum tipo de privilégio para suas estatais. É raro, ainda que não inédito, um ambiente de exploração em que haja competição total com empresas privadas", diz Patrick Heller, diretor de programas jurídicos e econômicos do Natural Resource Governance Institute (NRGI), organização sem fins lucrativos dedicada a promover o gerenciamento eficaz e transparente de recursos mineiras.


No entanto, o pesquisador diz não conhecer um país que aplique um percentual mínimo de participação obrigatória para sua empresa estatal, como ocorre hoje com a Petrobras.

Campo de petróleo no Texas, EUADireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption


Nos Estados Unidos, não há uma empresa estatal de exploração de petróleo


Entre os diferentes modelos adotados no mundo, Heller posiciona em um extremo a Arábia Saudita, o terceiro maior produtor de petróleo do mundo em 2015, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), organização intergovernamental com representantes de 29 países.


O Estado saudita detém o monopólio da exploração e só permite a participação de empresas estrangeiras como prestadoras de serviços contratados por sua estatal. Tudo o que é extraído e produzido pertence ao país.


No outro extremo, está o maior produtor global no ano passado, os Estados Unidos, onde não existe uma petrolífera estatal.


"Não existe um modelo ideal. A pergunta que um país tem de se fazer ao determinar sua política é como balancear riscos, porque a indústria de petróleo é muito arriscada: os projetos mais falham do que têm sucesso", afirma Heller.


Fabiano Mezadre Pompermayer, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acrescenta que, além dos riscos da exploração, o "potencial de rendimento determina a maior ou menor presença dos governos."


"Em países do Oriente Médio, onde a rentabilidade é alta e o risco é baixo, o Estado resolve fazer tudo diretamente. Nos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega, onde o risco é alto, se compartilha isso com empresas privadas por meio de concessão, que, em troca, pagam tributos, como royalties, participações especiais e bônus de assinatura", afirma Pompermayer.


Tabela de participação de empresa estatal na exploração de petróleo
Fonte: Natural Resource Governance Institute


Monopólio, concessão e partilha


Ao longo das últimas duas décadas, o Brasil transitou de uma ponta a outra deste espectro.


A Petrobras detinha o monopólio da exploração até o final dos anos 1990, um regime que, por exemplo, se manteve no México até 2013 - no ano seguinte, uma reforma constitucional abriu a indústria mexicana para investimentos privados.


Em 1997, foi instituído o modelo de concessão, em que o governo brasileiro entrega a empresas privadas o direito de explorar determinadas áreas por um prazo determinado.


O país passou a ter um regime misto a partir de 2009, quando foi aplicado o modelo de partilha aos campos do pré-sal. Nele, o Estado continua a ser o "dono" do petróleo e cabe às empresas contratadas a exploração e extração, dando uma parte da produção ao governo.


Esse modelo é usado quando o risco de exploração é baixo, mas é necessário fazer um grande investimento para explorar, como é o caso do pré-sal.
Nestes campos, localizados a grandes profundidades, o acesso às reservas é difícil e custoso, mas o índice de sucesso dos primeiros campos perfurados girou entre 80% e 90%, diante de uma taxa de 10 a 20% na indústria global, explica Ricardo Leães, pesquisador especializado em Relações Internacionais da Fundação de Economia e Estatística (FEE), instituto de pesquisa ligado ao governo do Rio Grande do Sul.


Plataforma da PetrobrasDireito de imagemABR
Image caption


Mudança nas regras de exploração do pré-sal geraram debates acalorados no Congresso


"O mais comum é se adotar modelos diferentes de acordo com circunstâncias diferentes. A maior parte dos países se vale da concessão, que tende a predominar em países desenvolvidos e na maior parte dos sul-americanos", afirma Leães.


"O modelo de partilha é mais comum em países africanos, na China e na Índia. A Rússia usa um modelo misto, como o Brasil."
'Decisão política'



O pesquisador da FEE ressalta que os dois países nos extremos desse grau de participação do Estado, Arábia Saudita e Estados Unidos, têm características próprias que impedem sua comparação ou replicação mundo afora.


Leães avalia que seria "desonesto" comparar o Brasil com a Arábia Saudita, que tem "reservas absurdas com um risco muito baixo".
"Há tanto petróleo que as empresas aceitam serem só prestadoras de serviço, algo que é menos lucrativo, porque ainda assim elas faturam muito", afirma.

A situação americana também é especial, explica o pesquisador, porque a lei do país determina que o petróleo não pertence ao Estado, como no Brasil, mas a quem o encontrar.

"As primeiras descobertas se deram na década de 1860. Quando o petróleo vira um item de segurança nacional, em meados do século passado, já havia grandes empresas privadas nacionais fortes, que podiam garantir os interesses do país."

Leães esclarece que a decisão sobre o papel do Estado na exploração do petróleo tem um caráter "político" e se dá de acordo com as diferentes circunstâncias de um país. Ele cita o exemplo da Noruega.

"Quando se descobriu petróleo, era um país relativamente pobre, mas com instituições consolidadas. Houve uma grande discussão sobre o que fazer, e foi criada uma estatal e um fundo soberano para administrar os recursos obtidos com a atividade", afirma.


Mas a maioria dos países está em estágio de desenvolvimento anterior, em guerra civil ou sob regime ditatorial quando se descobre o petróleo em seus territórios, diz o pesquisador.


"A princípio, se permite muito investimento externo, mas as pessoas passam a ter a sensação de que estão sendo exploradas. Há, então, um rompimento completo e se vai de um extremo a outro, como no Brasil, mas isso vai mudando com o tempo."


Custos x benefícios

Campo de petróleo russoDireito de imagemREUTERS
Image caption


Rússia usa modelo misto, com concessões e partilha, assim como o Brasil


Inicialmente, o modelo de partilha foi escolhido para o pré-sal porque ele dá maior poder de fiscalização ao Estado sobre os custos de operação, já que o lucro da exploração é o que é partilhado. O modelo também daria à Petrobras a possibilidade de desenvolver os fornecedores locais para esta indústria, avalia Pompermayer, do Ipea.


Ao mesmo tempo, o especialista aponta que este argumento suscita controvérsias. "Você pode até dizer que a Petrobras é quem melhor faria esse desenvolvimento. Mas a Operação Lava Jato evidencia os problemas disso", argumenta ele, fazendo referência à corrupção nos contratos de licitação.


"Além disso, o modelo de partilha, como está, engessa demais a Petrobras e não garante que ela conseguirá desenvolver fornecedores locais. O custo sobre a empresa é maior do que benefício para o país."


Por sua vez, Leães acredita que a mudança nas regras de exploração do pré-sal podem ser positivas no curto prazo, mas tem ressalvas quanto aos efeitos da medida daqui a alguns anos.


"Agora, isso alivia a situação da empresa e permite aumentar o volume de investimentos em petróleo no país, porque ela está muito endividada e sem capacidade de investir", afirma o pesquisador.


"Mas, no longo prazo, isso pode diminuir a fatia da estatal no pré-sal e, quando o preço do barril subir - tornando esses investimentos mais vantajosos - e a empresa se recuperar, ela já terá aberto mão de uma participação nestes campos e isso pode comprometer uma política nacional para esta indústria."


http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37613325
« Última modificação: 05 de Setembro de 2017, 09:21:30 por JJ »

Offline Gaúcho

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Re:Petróleo
« Resposta #1 Online: 15 de Setembro de 2017, 10:46:51 »
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Participantes do Petros vão à Justiça contra plano para cobrir rombo

A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) vai questionar na Justiça o plano de ajuste no principal fundo de pensão da estatal, que prevê aporte de R$ 27,7 bilhões de empregados e da estatal para cobrir o rombo acumulado entre 2013 e 2015.

Aprovado na terça (12) pelo conselho deliberativo da Petros, o plano estabelece, por 18 anos, contribuição extraordinária para os empregados e aposentados. Eles serão responsáveis por injetar R$ 14 bilhões no Plano Petros do Sistema Petrobras (PPSP), que tem 77 mil participantes.

A Petrobras e a BR Distribuidora contribuirão com o restante, caso a proposta seja aprovada pela Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Estatais).

"Nos últimos 14 anos, as contas da Petros foram rejeitadas pelo conselho fiscal, mas depois aprovadas pelo conselho deliberativo, que é controlado pela Petrobras. E agora os trabalhadores pagam a conta", disse o presidente da Aepet, Fernando Siqueira.

A entidade convocou para o dia 25 uma reunião para definir a estratégia na Justiça, considerada "a mais dura batalha a ser enfrentada" pela categoria. Chamou para o evento, além dos participantes do plano, a OAB.

INTERESSES DO PT

Entre 2013 e 2015, a PPSP acumulou deficit de R$ 25,6 bilhões, provocado por questões estruturais, como a mudança no perfil dos assistidos, e por perdas com investimentos. A Petros é acusada pelos participantes de ter cedido a pressões políticas para investir em negócios de interesse do governo PT, como a empresa de sondas Sete Brasil.

"Há também outros investimentos malfeitos, como os 70 identificados pela consultoria EY", acrescentou Siqueira, referindo-se a relatório antecipado pela Folha no qual a consultoria identifica perdas com aportes em fundos com garantias insuficientes.

Nesta quarta (13), o presidente da Petros, Walter Mendes, divulgou vídeo para explicar aos participantes as causas do deficit e o plano de equacionamento. Repetiu a afirmação da véspera, de que os investimentos suspeitos não explicam todo o rombo.

Siqueira, porém, lembra que apenas na Sete Brasil a Petros perdeu R$ 2 bilhões. Ele cita ainda decisão tomada pelo conselho deliberativo em 2008 para reduzir à metade dívida de R$ 9,8 bilhões da Petrobras com o plano.

"O participante não teve nenhum poder de decisão nesses casos."

Ele admite a necessidade de ajuste no fundo, mas defende que a cobrança de alíquotas menores.

O plano aprovado pela Petros estabelece alíquotas progressivas para os participantes. Em casos de salários mais altos, a contribuição passará de 12% para até 40% do vencimento mensal.

"O momento é difícil, pois o equacionamento impacta diretamente nos rendimentos e exige grande esforço", disse Mendes.

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1918237-participantes-do-petros-vao-a-justica-contra-plano-para-cobrir-rombo.shtml

Só pra lembrar: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/lava-jato-descobre-que-estatal-sete-brasil-foi-criada-para-ajudar-na-corrupcao.html

O Estado tem que ser empresário do ramo do petróleo sim, pode confiar.
"— A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras." Sérgio Moro

Offline JJ

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Re:Petróleo
« Resposta #2 Online: 16 de Setembro de 2017, 11:16:00 »
Petróleo, Noruega e Reino Unido: o estatal milionário e o liberal sem tostão

POR FERNANDO BRITO · 19/01/2014

noruega

Quarta-feira passada, cada norueguês se tornou um milionário – sem ter que levantar um dedinho sequer.

Eles devem isso ao seu litoral, e a uma enorme dose de bom senso.

Desde 1990, a Noruega foi fazendo seu caixa a partir do óleo e do gás do Mar do Norte, em um fundo para o futuro. (…)

Na semana passada, o saldo deste fundo atingiu um milhão de coroas para cada um dos 5 milhões de noruegueses, ou perto de US$ 163 mil (R$ 383 mil).

O texto acima é o início de uma reportagem do inglês  The Guardian, publicada esta semana que, logo a seguir, pergunta porque os ingleses, que começaram a explorar o petróleo do Mar do Norte ao mesmo tempo que os noruegueses, no final dos anos 70,  não têm praticamente nada acumulado pelos bilhões de barris que foram extraídos do leito marinho.

Para onde foi o dinheiro? “Virou corte de impostos para os ricos ou foi desaguado nas paredes das concessionárias de veículos ou dos agentes imobliários”, lamenta o Guardian.

O economista-chefe da PricewaterhouseCoopers, John Hawksworth, admite que “não temos quaisquer novos hospitais ou estradas para mostrar: o investimento líquido do setor público caiu de 2,5% do PIB no início da era Thatcher a apenas 0,4% do PIB até 2000”. E ele explica o destino do dinheiro: “A resposta lógica é que o dinheiro do petróleo permitiu baixar os impostos não petrolíferos”.

Claro que os sobre a renda e o capital.

Enquanto isso, a Noruega se tornou o maior PIB per capita entre os países da região, como você vê lá no gráfico. À frente, inclusive dos “paraísos” da Dinamarca e da Suécia. E muito à frente dos arrogantes ingleses.

O Fundo do Petróleo Norueguês é, hoje, o dono de 1% de todas as ações do mundo, em valor.

Equivale a 1,8 vezes o produto interno bruto do país.

Não que eles não gastem o dinheiro do petróleo.

Gastam, inclusive o do fundo, mas apenas 4% ao ano, menos do que os rendimentos.

A riqueza veio da atividade exploratória, feita em regime de partilha e com uma empresa estatal fortalecida, a Statoil, que desenvolveu tecnologia e indústria no até então atrasado e pesqueiro país. Hoje, a sua empresa busca petróleo em todo o mundo e o país exporta tecnologia.

Mas os noruegueses têm outra estatal: a Petoro, a Petrosal deles, que recolhe a parte estatal do petróleo e a transforma em dinheiro para o Fundo.

Trago esta história, sugerida pelo leitor Ernesto, para que os amigos e amigas fiquem atentos, quando começar a entrar os recursos do pré-sal, contra os discursos de que o dinheiro deve ser direcionado para “aquecer o mercado”, cortar impostos e distribuir perdulariamente aos municípios.

Ou que andaríamos muito mais rápido se o país permitisse mais liberdade às multinacionais, não exigindo participação da Petrobras, cotas de partilha e alto conteúdo nacional nos equipamentos exploratórios.

A obra dos “eficientes” neoliberais do petróleo do Mar do Norte está lá, bem marcada no gráfico sobre o PIB per capita do Reino Unido.

O modelo escolhido pelo Brasil para o pré-sal é o norueguês e também está lá onde ele levou o pais em quarenta anos.

O país que, mais que seu, é dos seus filhos e dos seus netos.


http://www.tijolaco.com.br/blog/petroleo-noruega-e-reino-unido-o-estatal-milionario-e-o-liberal-sem-tostao/


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Re:Petróleo
« Resposta #3 Online: 16 de Setembro de 2017, 11:21:54 »
CARTAS DA SUÉCIA
Claudia Wallin


O Fundo do Petróleo norueguês e o Pré-Sal brasileiro


CRÔNICAS DA ESCANDINÁVIA

Por Claudia Wallin

A essa altura, os noruegueses poderiam estar razoavelmente desesperados, ou já tramando algum pacto de suicídio. Os preços do petróleo despencam como uma jaca madura, e a Noruega deve sua riqueza e bem-estar ao ouro negro.

Mas não se fala em crise no país. Por quê?

Porque nos anos 90 a Noruega criou um Fundo do Petróleo (o “Oljefondet”), a fim de economizar a fabulosa fortuna do petróleo e assim assegurar o bem-estar dos cidadãos e das gerações futuras.

É o modelo que serviu de inspiração, em parte, para o fundo brasileiro do pré-sal.

Trata-se do maior fundo soberano do mundo – e pertence ao povo norueguês. Isso quer dizer que há limites rigorosamente demarcados para que os políticos possam tocar o dinheiro do petróleo, e que a gestão pública dos recursos obedece a rígidos critérios de transparência e ética.

Pergunte a um norueguês, e ele dirá: o Fundo foi criado para beneficiar os nossos filhos, e também os filhos dos nossos filhos.

O Oljefondet é controlado pelo Ministério das Finanças, mas gerenciado pelo Banco Central da Noruega. Foi o seu conselho de ética que decidiu no fim de janeiro, sob pressão das recorrentes denúncias de corrupção na Petrobrás, colocar em observação o investimento do Fundo na estatal.

No modelo norueguês, a regra de ouro é que o governo só pode gastar o dinheiro gerado pelo retorno dos investimentos das aplicações do Fundo, a um teto fixado em 4% ao ano. Mexer no capital do Oljefondet, só em circunstâncias especiais – o que nunca ocorreu, até a recente virada na maré dos preços do barril.

Desde o princípio, consolidar uma sociedade igualitária e manter a estabilidade da economia, com práticas de boa governança, foi a prioridade dada pelos noruegueses ao dinheiro que caiu do céu. Aliás, do mar.

A Noruega era um país de camponeses e pescadores quando descobriu imensas reservas de petróleo no Mar do Norte, no fim dos anos 60. O casamento da sorte com a prudência gerou uma prosperidade meteórica, que alçou o país ao clube dos mais ricos do planeta.

O povo norueguês deixou de ser um dos mais pobres da Europa, para se tornar um dos mais afluentes e socialmente justos: o país passou a escalar o topo de todos os rankings globais de progresso e bem-estar social, com sua sociedade que escolheu como ideal dar a todos os cidadãos as mesmas oportunidades e garantias de uma vida digna.


Noruega: antes e depois


Aos poucos, a Noruega se converteu no maior produtor de petróleo da Europa Ocidental, e o terceiro maior exportador de gás natural do mundo. E conseguiu transformar os recursos obtidos, sobretudo através dos impostos pagos pelas companhias petrolíferas e pelas licenças de exploração, em riqueza e prosperidade para a população como um todo.

Mas a queda dramática nos preços do petróleo vem perturbando o éden norueguês.

O valor do barril caiu de mais de 110 dólares, em 2014, para os atuais cerca de 30 dólares.

Dizem os noruegueses que o momento não é de crise – e sim de adaptação.

“Vendemos muito petróleo quando os preços estavam altos, e economizamos grande parte do dinheiro que recebemos”, diz Ragnar Torvik, professor de Economia da universidade de Trondheim.

“O resultado é que a economia norueguesa está bem equipada para enfrentar a queda dos preços do petróleo, e o desafio da diversificação”.

Mas o país acende a luz amarela: pela primeira vez desde a criação do Oljefondet, os noruegueses recorrem agora ao seu gigantesco Fundo soberano do petróleo, de mais de 800 bilhões de dólares, para equilibrar o orçamento.

O setor petroleiro responde por cerca de 25% do PIB norueguês, e diversificar a economia para quebrar a dependência do ouro negro é preciso. Já.

No país que é um dos mais ricos do mundo em termos per capita, a demissão de quase 30 mil trabalhadores do setor desde 2014 é um fato, e o índice de desemprego atingiu 4,1% em 2015.

“A economia norueguesa, como um todo, não está em crise”, diz a ministra das Finanças, Siv Jensen.

“Mas é uma crise para as empresas, as regiões e as famílias afetadas pela transformação estrutural da economia”.

Fica a lição norueguesa: a palavra de ordem é usar o dinheiro do Fundo com sabedoria, e agir como se o petróleo já tivesse acabado.

 

10 de Julho de 2016

Para o Diário do Centro do Mundo


http://www.claudiawallin.com.br/2016/07/11/o-fundo-do-petroleo-noruegues-e-o-pre-sal-brasileiro/



Offline JJ

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Re:Petróleo
« Resposta #4 Online: 16 de Setembro de 2017, 17:59:16 »
Quatro das dez maiores empresas do mundo são estatais


Levantamento da revista 'Economist' mostra avanço do capitalismo de Estado


Carla Miranda

20 Janeiro 2012 | 18h29
Atualizado às 19h07

capa_the_economist_20012012


Quando a respeitada revista “The Economist” não consegue mais do que lamentar o avanço do capitalismo de Estado, podemos suspeitar que o livre mercado esteja, de fato, ameaçado.


Com o revolucionário russo Vladimir Ilitch Lenin na capa da sua atual edição, o semanário mostra o avanço, mundo afora, das empresas estatais de países emergentes – e dos governos que as dirigem. Em seguida, expõe os principais problemas desse modelo e afirma que ele tende a ruir no longo prazo. Mas o fato é que, com todas as suas distorções, esse modelo está ganhando espaço justamente por causa da crise dos países onde reina o livre mercado.


Poder do Estado

A revista apresenta alguns dados que mostram o poder do capitalismo de Estado:

– Das dez empresas de capital aberto do mundo que mais faturam, quatro são estatais: as chinesas Sinopec, Corporação Nacional de Petróleo da China e State Grid e a japonesa Japan Post (veja abaixo reprodução de gráfico publicado na revista);

– As dez maiores empresas de petróleo e gás do mundo, medidas pelo tamanho das reservas, são estatais;

– Juntas, as companhias controladas pelo Estado têm um valor de mercado correspondente a 80% do mercado de ações chinês, 62% do russo 38% do brasileiro, considerando o índice de ações MSCI, calculado pelo banco Morgan Stanley;

– Dos investimentos estrangeiros diretos em países emergentes previstos para 2012 e 2013, um terço tende a ir para empresas estatais.

maiores_empresas_capital_aberto_economist_reproducao.JPG

E o avanço do Estado em territórios tradicionalmente liberais não para. No dia em que a “Economist” publica essa reportagem, a rede pública de TV britânica informa que o Fundo Soberano da China comprou 9% da Thames Water, a maior empresa de tratamento e fornecimento de água do Reino Unido.

Fraquezas do novo modelo

É mais do que sabido que o capital estatal é menos eficiente que o privado. Mesmo assim, a “Economist” reforça esse argumento, explicando que as estatais costumam crescer mais devagar do que as empresas privadas e seus custos tendem a aumentar mais rapidamente. Acrescenta que o capital público promove menos inovações.


Mesmo assim, as companhias gigantes controladas pelo Estado, como a Corporação Nacional do Petróleo da China, acabam “roubando” a cena no mercado local, atraindo grandes investimentos e profissionais de talento, sobrando pouco para o setor privado. “Pode levar muitos anos para as fraquezas desse modelo se tornarem óbvias.”


É verdade. Principalmente enquanto não encontrarmos uma solução razoável para a crise provocada pela radical liberalização (ou desregulamentação) do mercado financeiro – cujas fraquezas, essas sim, já estão mais do que evidentes desde pelo menos 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers.


A revista espera que, no longo prazo, os problemas do modelo chinês apareçam com força e provoquem a normalização da economia de mercado. “Ao transformar empresas em órgãos do governo, o capitalismo de Estado simultaneamente concentra o poder e gera corrupção. Ele introduz critérios comerciais em decisões políticas e decisões políticas em negociações comerciais.”


Mas por que esperar que esse modelo entre em colapso num momento em que os países que teoricamente defendem o livre mercado crescem pouco, engalfinham-se em guerra cambial e ameaçam, ainda que veladamente, aumentar o protecionismo comercial?


http://economia.estadao.com.br/blogs/radar-economico/quatro-das-dez-maiores-empresas-do-mundo-sao-estatais/




« Última modificação: 16 de Setembro de 2017, 18:03:41 por JJ »

Offline JJ

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Re:Petróleo
« Resposta #5 Online: 16 de Setembro de 2017, 17:59:57 »


É, a coisa não tá fácil para o liberalismo.   :'(



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Re:Petróleo
« Resposta #6 Online: 07 de Novembro de 2019, 10:02:30 »

Os diferentes custos de produção de petróleo na Opep

Data: 08/12/2015

Autor: Alex Prado


"Temos que vender petróleo tanto na baixa como se voltar aos US$ 100 o barril”. A frase é do ministro do petróleo do Irã, Bijan Zanganeh e resume a situação dos países exportadores: mesmo que os preços sigam baixando eles necessitam seguir exportando para manter suas economias dependentes do petróleo.
 

Entretanto, o grau de afetação não é simétrico e está diretamente associado ao custo de produção do barril. Então, países como Angola, Nigéria ou Venezuela têm muito a perder.


Segundo consultores, as diferenças são abissais. Dados mais recentes, Angola é o país menos eficiente da Opep, com um custo por barril em torno de US$ 35, muito próximo da atual cotização do tipo Brent. Na Nigéria, o custo unitário chega a quase US$ 32, enquanto que na Líbia e na Venezuela supera os US$ 32. Mais confortáveis estão as petromonarquias do Golfo Pérsico. Na Arábia Saudita, extrair um barril de petróleo custa menos de US$ 10 , cifra similar à do Qatar. O Kwait, dentro da Opep tem o menor custo, apenas US$ 8,5 o barril.


http://www.aepet.org.br/noticias/pagina/13102/Os-diferentes-custos-de-produo-de-petrleo-na-Opep



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Re:Petróleo
« Resposta #7 Online: 07 de Novembro de 2019, 10:24:16 »
Custo de extração no pré-sal cai 67% em 5 anos


Em 2014, Petrobrás gastavaUS$ 15,3 para extrair um barril de petróleo; esse valor recuou para US$ 5 e deve continuar em queda



Menina dos olhos da Petrobras, o pré-sal tem trazido resultados crescentes para a companhia. Em uma das frentes de retorno está a brusca redução do custo de extração do pré-sal, chamado no mercado de lifting cost. O indicador, que mede quanto se gasta na extração do barril de óleo, atingiu níveis sem precedentes no terceiro trimestre. Foram US$ 5 por barril ante US$ 6
nos três meses anteriores, segundo dados da Petrobras.


A perspectiva, segundo analistas, é de que esse custo caia ainda mais diante do aumento de produção de novas plataformas em 2020. Na quarta-feira, o governo realiza o megaleilão do pré-sal, que deve impulsionar ainda mais os resultados do setor nos próximos anos.


Dados levantados pelo Estadão com a Rystad Energy Ucube, empresa de pesquisa em energia, mostram que o custo de exploração do pré-sal recuou 61% de 2014 até 2019, de US$ 15,3 por barril para US$ 6. Se forem considerados os números atualizados pela Petrobras em seu último relatório, a queda é ainda maior, de 67%, para US$ 5. Os números são em barris de óleo equivalentes (boe), unidade que considera o potencial energético do gás e o petróleo em um barril.


Impulsionada pelo pré-sal, a empresa conseguiu reduzir em 7,3% seu custo de extração total para US$ 9,67 entre julho e setembro, de US$10,43/barril nos três meses anteriores. Tal movimento tem aproximado a estatal de gigantes do setor. Juntas, Shell, ExxonMobil, BP, Chevron, Eni e Total apresentaram um lifting cost médio de US$ 5,4/barril até agora em 2019.


Apesar do resultado comemorado por analistas, a estatal ainda tem um caminho considerável pela frente para se equiparar com o Oriente Médio, berço da produção de petróleo global, cujo custo médio de extração é de US$ 3,2 por barril, conforme números da Rystad Energy Ucube. Os dados foram coletados pela consultoria em mais de 500 empresas no segmento.


O analista de petróleo e gás da XP Investimentos, Gabriel Francisco, disse que a abundância do petróleo no Oriente Médio colabora para os custos inferiores. Entretanto, o analista afirmou que o pré-sal é um ativo valioso: exige um investimento elevado no início, mas traz forte produção. Francisco disse que, para além da característica favorável do ativo, a estatal tem feito investimentos
importantes em produtividade.


Para se ter dimensão das proporções, em média, um poço em terra (onshore) produz 15 barris por dia no Brasil, enquanto no pré-sal, o volume diário alcança 40 mil. Isso faz com que um único poço em águas profundas produza mais que toda a extração onshore da Bahia ou do Rio Grande do Norte. Já o custo de extração da estatal em terra foi de US$ 18,19 por barril, 3,5 vezes superior ao do pré sal.


O analista do Itaú BBA, André Hachem, afirmou que os números da Petrobras para o custo de extração foram positivos. Segundo ele, a estatal tem se esforçado para cortar custos. O analista afirmou que a tendência é de que esse custo continue a cair ao passo que as plataformas novas (P-75, P-77, P-69, P-76, P-67 e P-74) vão atingindo sua capacidade máxima. “Elas não estão rodando a 100% ainda. A gente estima que isso (o ganho de escala após o início da produção) continue acontecendo até o ano que vem.”


https://www.metropoles.com/brasil/economia-br/custo-de-extracao-no-pre-sal-cai-67-em-5-anos


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Os custos de extração de petróleo do pré sal estão muito mais baixos do que eu imaginava  (há uns 4 anos eu tinha visto informação de que o custo era muito mais alto).  Está notícia foi uma surpresa para mim.



« Última modificação: 07 de Novembro de 2019, 10:28:19 por JJ »

 

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