Autor Tópico: Família  (Lida 625 vezes)

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Offline JJ

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Família
« Online: 13 de Setembro de 2017, 08:51:11 »


Família em Primeiro Lugar



Há vinte anos presenciei uma cena que modificou radicalmente minha vida. Foi num almoço com um empresário respeitado e bem mais velho que eu. Ele era um dos poucos engajados no social, embora fosse pessoalmente um workaholic.


O encontro foi na própria empresa, ele não tinha tempo para almoçar com a família em casa nem com os amigos num restaurante. Os amigos tinham de ir até ele.


Seus olhos estavam estranhos, achei até que vi uma lágrima no olho esquerdo. Bobagem minha pensei, homens não choram, especialmente na frente de outros.


Mas durante a sobremesa ele começou a chorar copiosamente. Fiquei imaginando o que eu poderia ter dito de errado. Supus que ele tivesse lembrado dos impostos pagos no dia, impostos que ele sabia que nunca seriam usados para o social.


“Minha filha vai se casar amanhã”, disse sem jeito, “e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo de um workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo o tempo a minha empresa e me esqueci de me dedicar à família.”


Voltei para casa arrasado. Por meses eu me lembrava dessa cena patética e sonhava com ela. Prometi a mim mesmo e a minha esposa que nunca aceitaria seguir uma carreira assim.


Colocar a família em primeiro lugar não é uma proposição ética tão óbvia, trivial, nem tão aceita por aí. Basta entrar na internet e você encontrará milhares de artigos que lhe dirão para colocar em primeiro lugar os outros – a sociedade, os amigos, o dever, o trabalho, o cliente, raramente a família.


Normalmente, a grande discussão é como conciliar o conflito entre trabalho e família, e a saída salomônica é afirmar que dá para fazer ambos. Será?


O cinema americano vive mostrando o clichê do executivo atarefado que não consegue chegar a tempo à peça de teatro da filha ou ao campeonato mirim de seu filho. Ele se atrasou justamente porque tentou “conciliar” trabalho e família. Só que surgiu um imprevisto de última hora, e a cena termina com o pai contando uma mentira ou dando uma desculpa esfarrapada.


Se tivesse colocado a família em primeiro lugar, esse executivo teria chegado a tempo, teria levado pessoalmente a criança ao evento, teria dado a ela o suporte psicológico necessário nos momentos de angústia que antecedem um teatro ou um jogo.


A questão é justamente essa. Se você, como eu e a grande maioria das pessoas, tem de “conciliar” família com amigos, trabalho, carreira ou política, é imprescindível determinar, muito antes das inevitáveis crises, quem você prioriza e coloca em primeiro lugar. Você não terá de tomar difíceis decisões de lealdade na última hora, pois a opção já terá sido previamente discutida e emocionalmente internalizada.


Na época pensava deixar de ser professor da USP, apesar do ambiente tranquilo e dos três meses de férias que a carreira proporcionava. Mas aquele almoço me fez ficar, para desespero de meus alunos.


Colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olhá-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: “Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar”.


Qual o verdadeiro “sucesso” de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia a dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem-sucedido e depois chorar na sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?


Os leitores que ficaram indignados porque não tiro férias podem ficar tranquilos. Eu só não tiro férias aqui da Veja, como a maioria dos colunistas.

 

Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1739, ano 35, nº 7, 20 de fevereiro de 2002, página 26.


http://blog.kanitz.com.br/primeiro-lugar/



Offline Spencer

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Re:Família
« Resposta #1 Online: 14 de Setembro de 2017, 16:39:31 »
A vida tem sua ciência e uma delas diz que só aprendemos as coisas quando já é tarde.

Offline Gigaview

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Re:Família
« Resposta #2 Online: 14 de Setembro de 2017, 17:28:42 »
Essa exposição de uma dedicação à família do Prof. Kanitz não é de forma alguma nem receita nem garantia de felicidade e chega a ser infeliz porque em momento algum aborda a opinião da "família" sobre os trade-offs da decisão de abandonar uma carreira.

Walter White fez "tudo" pela família tomando decisões solitárias que acabaram destruindo sua família.

Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Gigaview

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Re:Família
« Resposta #3 Online: 14 de Setembro de 2017, 17:32:08 »
A vida tem sua ciência e uma delas diz que só aprendemos as coisas quando já é tarde.

Essa frase não faz sentido.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

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Offline JJ

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Re:Família
« Resposta #4 Online: 14 de Setembro de 2017, 18:00:24 »
Essa exposição de uma dedicação à família do Prof. Kanitz não é de forma alguma nem receita nem garantia de felicidade e chega a ser infeliz porque em momento algum aborda a opinião da "família" sobre os trade-offs da decisão de abandonar uma carreira.





Mas o autor não propõe abandonar uma carreira, e sim colocar a família em primeiro lugar.  Não me parece que seja necessário abandonar uma carreira para isso.  Acho que é mais uma questão de achar um ponto de equilíbrio entre carreira profissional e família, e dando um grande peso para a família.



Offline Gigaview

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Re:Família
« Resposta #5 Online: 14 de Setembro de 2017, 18:48:54 »
Essa exposição de uma dedicação à família do Prof. Kanitz não é de forma alguma nem receita nem garantia de felicidade e chega a ser infeliz porque em momento algum aborda a opinião da "família" sobre os trade-offs da decisão de abandonar uma carreira.





Mas o autor não propõe abandonar uma carreira, e sim colocar a família em primeiro lugar.  Não me parece que seja necessário abandonar uma carreira para isso.  Acho que é mais uma questão de achar um ponto de equilíbrio entre carreira profissional e família, e dando um grande peso para a família.




Sim...sim...mas a carreira pode impor dificuldades na forma de pequenos detalhes, como viagens constantes, por exemplo. É difícil e complicado abrir mão disso sem prejuízos para a carreira. Chega um momento que é preciso optar entre uma coisa ou outra e nem sempre a família, principalmente as esposas, estão preparadas para trocar umas horas a mais do marido em casa com os filhos por uma queda quase inevitável no padrão de vida. Na maioria dos casos as esposas nem são consultadas e muitos casais se separam por causa disso.
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Offline Pedro Reis

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Re:Família
« Resposta #6 Online: 15 de Setembro de 2017, 00:38:16 »
A vida tem sua ciência e uma delas diz que só aprendemos as coisas quando já é tarde.

A frase é sua? É maravilhosa.

Me lembra outra do Pedro Nava: " Experiência é um farol virado para a traseira do automóvel. Só ilumina o que já passou."

Offline JJ

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Re:Família
« Resposta #7 Online: 15 de Setembro de 2017, 08:29:25 »
Sim...sim...mas a carreira pode impor dificuldades na forma de pequenos detalhes, como viagens constantes, por exemplo. É difícil e complicado abrir mão disso sem prejuízos para a carreira. Chega um momento que é preciso optar entre uma coisa ou outra e nem sempre a família, principalmente as esposas, estão preparadas para trocar umas horas a mais do marido em casa com os filhos por uma queda quase inevitável no padrão de vida. Na maioria dos casos as esposas nem são consultadas e muitos casais se separam por causa disso.


Para tornar a questão um pouco mais objetiva, proponho duas situações:

1) Na primeira um profissional se dedica prioritariamente à profissão (e está pouco presente na vida familiar) e deste modo ganha 47.000 por mês;

2)Na segunda o mesmo profissional se dedica bem menos à profissão, e dedica muito à família (está bem presente na vida familiar) e deste modo ganha 22.000 por mês;


Qual situação você considera a melhor ? Qual você seguiria ?


« Última modificação: 15 de Setembro de 2017, 08:33:15 por JJ »

Offline Gigaview

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Re:Família
« Resposta #8 Online: 15 de Setembro de 2017, 10:04:55 »
Sim...sim...mas a carreira pode impor dificuldades na forma de pequenos detalhes, como viagens constantes, por exemplo. É difícil e complicado abrir mão disso sem prejuízos para a carreira. Chega um momento que é preciso optar entre uma coisa ou outra e nem sempre a família, principalmente as esposas, estão preparadas para trocar umas horas a mais do marido em casa com os filhos por uma queda quase inevitável no padrão de vida. Na maioria dos casos as esposas nem são consultadas e muitos casais se separam por causa disso.


Para tornar a questão um pouco mais objetiva, proponho duas situações:

1) Na primeira um profissional se dedica prioritariamente à profissão (e está pouco presente na vida familiar) e deste modo ganha 47.000 por mês;

2)Na segunda o mesmo profissional se dedica bem menos à profissão, e dedica muito à família (está bem presente na vida familiar) e deste modo ganha 22.000 por mês;


Qual situação você considera a melhor ? Qual você seguiria ?




Sinceramente, não sei. Depende da família, depende da esposa e dos filhos, depende do nível cultural de todo mundo envolvido, dos valores materiais e imateriais decorrentes da decisão , etc.

Essa conversa de "se dedicar à família" também é muito elástica. O que significa isso na prática é muito específico para a situação do momento. Acho que decisão deve ser tomada com a esposa que normalmente já se dedica à família mais do que o marido.

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Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Spencer

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Re:Família
« Resposta #9 Online: 15 de Setembro de 2017, 14:21:12 »
A vida tem sua ciência e uma delas diz que só aprendemos as coisas quando já é tarde.

A frase é sua? É maravilhosa.

Me lembra outra do Pedro Nava: " Experiência é um farol virado para a traseira do automóvel. Só ilumina o que já passou."
obrigado, Pedro.
Na mesma linha tem aquela de que diz: se a juventude soubesse e se a velhice pudesse...

Offline Muad'Dib

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Re:Família
« Resposta #10 Online: 19 de Dezembro de 2017, 18:06:24 »
A vida tem sua ciência e uma delas diz que só aprendemos as coisas quando já é tarde.

A frase é sua? É maravilhosa.

Me lembra outra do Pedro Nava: " Experiência é um farol virado para a traseira do automóvel. Só ilumina o que já passou."

Eu já tinha ouvido "Experiência é algo que adquirimos somente um segundo após necessitarmos dela."


 

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