(BUDDHA FOR BEGINNERS)
Um dos conceitos capitais, embora pouco compreendido, da filosofia budista é a doutrina do "não si mesmo" (anatman). A filosofia hindu enfatizou corretamente a natureza transitória do corpo humano, a falibilidade dos sentidos e o caráter fugidio da consciência diária. Entretanto, a despeito de todo esse fluxo e instabilidade, um agente interno, o atman, persiste. O Buda adotou a teoria da transitoriedade das coisas, mas foi além dos Upanishads e sustentou que esse eu supostamente permanente, o atman, era ele próprio uma ficção.
Dizer que não existe um eu imortal é puxar o tapete reconfortante do pensamento religioso. A ideia de que uma parte de nós sobrevive indefinidamente nos agrada e satisfaz nossa ânsia de imortalidade. Segundo o Buda, porém, satisfazer desejos não conduz à verdade.
Não só não existe prova alguma de um eu eterno como crer nele significa, segundo o Buda, levar uma vida imoral. Essa crença suscita o mal porque é egoísta, enraizada no eu, e os seres humanos jamais conseguirão libertar-se caso busquem recompensas em vidas futuras.
No Samyutta Nikaya, o Buda estabelece:
"Todas as formações são transitórias; todas as formações estão sujeitas ao sofrimento; todas as coisas são destituídas de eu ou si mesmo. A forma é passageira, o sentimento é passageiro, os construtos mentais são passageiros, a consciência é passageira."
Segundo o Buda, compreender e aceitar que não temos um eu ou alma imortal faz parte do processo de iluminação - é um aspecto de nosso despertar.
Porém, muito mais chocante que essa ideia segundo a qual não existe nenhum eu substancial entre vidas é a afirmação do Buda de que sequer existe esse eu durante uma vida. A pessoa, realmente, é apenas um feixe de percepções. Buda nega o mito do eu metafísico (atman) como entidade que subsiste ao longo das vidas e entre estas. Compreende, porém, que a pessoa se sinta como um eu ou ego. O Buda afirma que essa experiência palpável do "eu" nasce de combinações ou conjunções de sentimento (vedana), percepção (sanna), disposição (sankhara), consciência (vinnana) e corpo (rupa). Esses são os cinco agregados ou feixes que, embora transitórios e sempre flutuantes, combinam-se na "sensação" do ego pessoal.