A vida é dura, injusta e brutal com os homens, não nego isso.
É dura e eu sei bem. Mas o Donatello continua forçando a barra.
Donatello, você acha mesmo que o que me passava pela cabeça era que nenhum homem, em tempo algum, em lugar algum, já sofreu esse mesmo tipo de embaraço: o froutteirismo?
( Nem conhecia esse termo... )
Então vou explicar, como se houvesse necessidade, que estes casos são tão pouco significantes, tanto em número quanto em relação à enorme diferença no nível de incômodo que um homem experimenta sendo alvo desse tipo de comportamento, em comparação a uma mulher, que nós podemos e devemos desprezar eventuais ocorrências como essa que você relatou. Ou, pelo menos, considerar que casos mais ou menos isolados como estes não se constituem problema suficiente para que se tomem medidas de prevenção equivalentes às que se fazem necessárias para coibir o assédio masculino ( ao sexo feminino ).
E faria muito menos sentido ainda o argumento de que, se homens assediam outros homens de forma inconveniente, e ainda que eventualmente ( muito raramente ) existam mulheres froutteiristas, isso justificaria que
não se tome nenhuma medida na prevenção de um problema que é uma queixa recorrente de milhares de usuários do transporte público.
E qualquer medida de prevenção, se pretende ser efetiva, deve levar em consideração o dado de realidade que a maioria esmagadora dessas queixas são provenientes de usuários do sexo feminino.
Porque essencialmente o que você parece estar defendendo é que nada deva ser feito: pois seria "privilégio", seria "tratamento diferenciado".
Meu caro, note que se, digamos, 10 mil mulheres/dia são constrangidas por tarados nos trens da Grande São Paulo, enquanto uns 5 homens passam pelo que você passou e tiram de letra como você tirou, então já se pode dizer que elas estão recebendo um "tratamento diferenciado".
Só não se poderia chamar isso de privilégio.
O problema existe mesmo, ele é real, não é uma mentira inventada por feministas histéricas ou ideólogos de uma nova esquerda. E pra quem está sendo vítima deste transtorno não importa o que determinados grupos queiram fazer com isso, o que inclui também os grupos de direita que no fundo estão incomodados mesmo apenas com os possíveis dividendos políticos que seus antagonistas possam obter ao levantar bandeiras de minorias.
Os passageiros, ou melhor as passageiras, não querem tomar parte nesse jogo. Elas só reivindicam ( elas!, não o Junger Habermas ) o direito de uma viagem mais tranquila da casa pro trabalho, do trabalho pra casa.
Agora podemos voltar àquela questão da falsa ( ou não ) equivalência.
Sabe o que seria uma analogia perfeita e honesta? Imagine que as estatísticas indicassem que 99,9% das vítimas de furto na Supervia são pessoas idosas: você acharia um absurdo que a empresa reservasse um vagão para estas pessoas viajarem em segurança?
Mas a sua analogia não tem equivalência nenhuma:
1 - Se for verdade que a maioria desses meliantes são negros ou pardos, isso se deverá apenas ao fato de que isso reflete a distribuição e frequência racial nas diferentes classes sociais. Um preto pobre da periferia não tem mais chance de ser um trombadinha só porque é preto, suas chances de infortúnios sãos as mesmas de qualquer garoto branco pobre da periferia. Raça ( se tal coisa existisse ) não tem nenhuma relação com delinquência.
Porém ter nascido do sexo masculino não é condição suficiente
MAS PRATICAMENTE NECESSÁRIA para que o indivíduo seja um froutteirista. E na imensa maioria dos casos essa pessoa procura uma presa do sexo feminino. Pra não aceitar fato tão óbvio e evidente só mesmo forçando a barra e apelando para aquelas raras exceções de praxe de contrariam qualquer regra.
Não sei se encontramos a explicação para isso na Biologia ou na Cultura, ou em uma combinação qualquer de fatores. Eu estou apenas constatando um fato.
2 - Se também fosse verdade que a maioria das vítimas de furto são pessoas socialmente qualificadas como "brancas", então novamente isto não teria nenhuma relação intrínseca com elas serem brancas. O punguista não escolhe a vítima pela cor, ao contrário do tarado que escolhe a vítima pelo sexo.
No entanto essa foi só mais uma "forçada" para inventar analogia entre exemplos que não se equivalem.
Se a maioria dos passageiros da Supervia são moradores do subúrbio, e se eu for aceitar sua presunção de que a maioria dos batedores de carteira são negros ou pardos porque também são gente da periferia, então isso deveria ser verdadeiro também para a maioria das vítimas.
E é. Quanto mais baixa a renda maior a chance de alguém ser vítima da criminalidade no Rio de Janeiro, é o que mostram os números.
Mas o item 3 precisa ser melhor explicado: o vagão exclusivo obviamente não impede que quem embarcar no vagão comum seja vítima desse tipo de constrangimento. Contudo só querendo forçar muito a barra pra achar que tem um monte de mulher se esfregando sem consentimento em outras no vagão feminino... ( porque um caso foi registrado no Recife em 1977

)
Então separar vagões para mulheres não acaba com o problema, mas essa medida é uma demanda de mulheres que já passaram por isso e agora se sentem muito desconfortáveis e inseguras usando o transporte público. Então quem não pode fazer como a Brienne e comprar um carro ( nem uma
bicicleta, um patinete... ) pode usar a opção do vagão seletivo.
Outras que acham que saberiam lidar com esse tipo de situação não se importam e viajam nos vagões comuns mesmo.
Uma medida que infelizmente não extingue o problema mas é muito bem-vinda por quem se beneficia dela. Haja visto o número de passageiras que só viajam nos vagões femininos.
Agora, se você acha que o problema não existe, ou que estão exagerando muito, então se pergunte por quê tantas mulheres procuram e se acotovelam no vagão feminino?
Por outro lado imagine se homens teriam alguma necessidade ou fariam questão de usar um vagão
exclusivo para homens...
Tratar diferentes necessidades de forma diferenciada não é favorecimento, é justiça.