"O que é Inconsciente para Psicanálise?
Para entender o que é Inconsciente é preciso, antes de mais nada, compreender a duplicidade de seu significado. A palavra “inconsciente” define todos aqueles processos mentais que ocorrem sem que o indivíduo se dê conta. Sem que tenha consciência sobre eles. Esse é o significado mais amplo, – ou genérico – atribuído ao termo.
A maior parte dos pesquisadores empíricos da psicologia e psicanálise defendem a existência desses processos. No entanto, quando a palavra “inconsciente” é apropriada pela psicanálise, ela se torna um conceito. Por isso, dentro desse campo de pesquisa e trabalho, ela assume um significado mais específico.
O que é Inconsciente na Psicanálise
Uma metáfora comum para compreender o sentido psicanalítico do inconsciente é a do iceberg. Como sabemos, a parte emersa do iceberg, aquela facilmente visível, representa apenas um pequeno pedaço de sua verdadeira dimensão. Sua maior parte permanece submersa, escondida sob as águas. Assim é a mente humana. Aquilo que comumente entendemos como nossa mente é apenas a ponta do iceberg, o consciente. Enquanto o inconsciente é esse pedaço submerso e insondável.
O inconsciente pode ser definido então como o conjunto de processos psíquicos misteriosos para nós mesmos. Nele estariam explicados os nossos atos falhos, nossos esquecimentos, nossos sonhos e até mesmo paixões. Uma explicação, no entanto, inacessível para nós mesmos. Desejos ou memória reprimidas, emoções banidas do nosso consciente – por serem dolorosas, ou de difícil controle – se encontram no inconsciente, praticamente inacessíveis para a razão.
Essa definição de inconsciente pode variar dentro da própria psicanálise. Isso porque diferentes autores identificaram diferentes aspectos dessa parte de nossa mente. Vejamos as distinções principais.
O que é Inconsciente Freudiano
A definição básica dada acima vai de encontro com a teoria psicanalítica de Freud. Para ele, o inconsciente seria como a caixa-preta do indivíduo. Ela não seria a parte mais profunda da consciência, nem a que possui menos lógica, mas uma outra estrutura que se distingue da consciência. A questão do inconsciente é abordada por Freud principalmente nos livros “Psicopatologia da vida cotidiana” e “A Interpretação dos sonhos”, que são, respectivamente, de 1901 e 1899.
Muitas vezes Freud utiliza o termo inconsciente para se referir a qualquer conteúdo que se encontre fora da consciência. Outras vezes, ainda, refere-se ao inconsciente não para tratar dele em si, mas de sua função enquanto estado mental: é nele que se encontram as forças sublimadas por algum agente repressor, que as impede de chegar ao nível da consciência.
Para ele, é nos pequenos erros, confusões, esquecimentos ou omissões que acontecem em nosso dia a dia que se expressa o inconsciente. Esses pequenos erros são uma forma de exprimir opiniões ou verdades que a razão consciente não permite. Dessa forma, a intenção do indivíduo veste um disfarce de acidente.
O que é Inconsciente para Jung
Para Carl Gustav Jung o inconsciente é onde se encontram todos aqueles pensamentos, memórias ou conhecimentos que foram, um dia, conscientes mas sobre os quais não pensamos naquele momento. Está também no consciente aquelas concepções que começam a se formar dentro de nós, mas que apenas no futuro serão percebidas de forma consciente, pela razão.
Além disso, este autor ressalta a diferença entre seu conceito de inconsciente e o de pré-consciente de Freud. No pré-consciente estariam aqueles conteúdos que estão a ponto de emergir à consciência, prestes a se tornarem claros para o indivíduo. O inconsciente, por sua vez, encontra-se mais profundo, tendo esferas praticamente inalcançáveis para a razão humana.
Jung ainda diferenciou dois tipos de inconsciente, o coletivo e o individual. O inconsciente pessoal seria aquele formado a partir das experiências individuais, enquanto o inconsciente coletivo seria aquele formado a partir de concepções herdadas da história humana, esta que é alimentada pela coletividade.
É importante ressaltar que não há um consenso quanto a existência de um inconsciente coletivo, ainda que os estudos de mitologia ou religião comparada fortaleçam a tese.
O que é inconsciente para Lacan
O francês Jacques Lacan promoveu em meados do século XX uma retomada da perspectiva freudiana. Retomada porque esta se encontrava deixada de lado pela psicanálise daquele momento. À concepção do antecessor ele acrescenta a linguagem como aspecto fundamental para a existência do inconsciente. Sua contribuição se baseia principalmente na obra de Ferdinand de Saussure, um linguista e filósofo francês que teve como principal avanço a ideia de signo linguístico. Segundo ele, o signo linguístico seria composto por dois elementos independentes, o significado e o significante. O signo não se formaria a partir da união entre um nome (significado) e uma coisa (significante), mas entre um conceito e uma imagem. Segundo Lacan, assim funcionaria também o inconsciente.
O autor ainda coloca que nos fenômenos chamados de lacunares – que são os sonhos ou aquelas confusões do dia a dia já citadas – o sujeito consciente se sente atropelado pelo sujeito do inconsciente, que se impõe.
Exemplos
São exemplos de expressões do inconsciente os sonhos. O mesmo vale para ato de trocar o nome de alguém ou soltar alguma palavra descontextualizada. Além disso, quando fazemos algo que parece não ser do nosso feitio, ou não corresponder com nossa forma de agir, também temos uma expressão do inconsciente que se impõe.
Mas porque reprimimos essas forças para o inconsciente?
Não cabe no post de hoje aprofundar essa questão. Apenas para complementar o conteúdo exposto, ressalto que o sofrimento é o que reprime algum conteúdo. Nossa mente visa sempre a autoconservação. Por isso afasta do consciente qualquer conteúdo que leve a uma dor profunda, que coloque em risco a vida do indivíduo. Esses conteúdos, no entanto, não podem ser mantidos completamente reprimidos, se expressando por meio daquelas ações já citadas." Fonte:
https://psicanaliseclinica.com/o-que-e-inconsciente/