Como fazem para estudar e como chegaram até onde estão?
Primeiramente, considero indispensável a paixão. Schopenhauer, que criticava bastante os acadêmicos de sua época, via nos eruditos não mais do que decoradores e repetidores vazios e incapazes de criatividade e independência. Ele dizia que o que distingue o homem de gênio do zumbi acadêmico é a paixão pelo saber, que está acima de meras motivações econômicas, egoístas ou de segundas intenções, como era o caso dos eruditos da época, que utilizavam sua bagagem para se autoafirmar e o conhecimento não passava de uma fonte de renda. Há diversas formas de despertar a paixão. Pode vir do amor que você tem por um determinado assunto, pela determinação com a qual você se dispôs a estudá-lo, ou até mesmo da necessidade que a urgência impõe sobre você. Minha área por amor, por exemplo, é o esoterismo. Por dedicação, a Filosofia, a Arte e a Linguística. Pela necessidade, consegui passar na frente de umas 1000 pessoas e ficar em 20º no primeiro concurso público que prestei, e no segundo fiquei em 7º com 20 anos de idade e fui convocado. Apesar de ainda estar me graduando, já tenho certa excelência acadêmica e, fora dos estudos, componho músicas, escrevo peças, etc. Não me vejo conseguindo absolutamente nenhuma dessas coisas senão pela paixão. Aprendi muito com Éliphas Lévi, o escritor de Dogma e Ritual de Alta Magia, que influenciou profundamente a Golden Dawn, a Ordem Martinista e outras. De acordo com ele, a Magia é um exercício de todas as horas e todos os instantes cujo grande propósito é exercitar e educar a Vontade. Vencer as atrações do prazer, do apetite e do sono. Dessa Vontade Inquebrantável nasce o verdadeiro artista, o verdadeiro filósofo, o homem de gênio.
Conseguem se concentrar numa coisa só de cada vez e por longos períodos de tempo?
Bem, você declarou estar com dificuldades para estudar e, com essa pergunta, demonstrou que pressupõe que se concentrar em uma coisa por um longo período de tempo seja bom para isso. Na verdade, não necessariamente. Você pode estudar de forma intercalada, ou intercalar seus estudos com outras atividades. É preciso dar um tempo para que sua mente assimile as coisas. A melhor forma de estudar que encontrei para mim mesmo é o questionamento elaborativo e a autoexplicação. Funciona da seguinte forma - o que importa não é "decorar", "repetir", nada disso, e sim ser capaz de compreender a relação entre os tópicos, entre os conceitos. Saber como uma coisa leva à outra. Qual é a definição das coisas? Como um determinado assunto se liga aos outros? Qual o significado das palavras em questão? O segredo está em conseguir montar este mapa mental dentro do qual você consegue ver cada coisa em sua relação com as outras, dando um zoom out para entender o tema de forma integrada e dando um zoom in para destrinchar minuciosamente um determinado aspecto da estrutura. A chave está em entender como cada coisa se relaciona com as outras. Um exemplo prático de como fazer isso é tentando ensinar para alguém o que você está aprendendo, mesmo que ainda não domine o assunto. Tente preparar uma aula, montar um esquema. Não estude como se estivesse lendo e decorando, muito menos repetindo e resumindo, mas, ao invés disso, explicando cada coisa. Não leia decorando, leia questionando. Vá perguntando para si mesmo enquanto lê. Pense em como você explicaria para outra pessoa aquilo que acaba de entender. Aos poucos, você vai desenvolvendo sua capacidade de articulação, de linguagem e de raciocínio. Talvez você esteja com dificuldade porque se focou em decorar as matérias, em aprender os conteúdos, e não em desenvolver a sua própria capacidade mental, isto é, desenvolver sua própria capacidade de aprender, de refletir, de desenvolver, de explicar, etc. Isso é muito mais valioso do que querer decorar qualquer coisa.
Ao menos enquanto estudam conseguem não se distrair com a net, jogos, TV, CC, etc, etc?
Nesse caso, acredito que ou não haja paixão suficiente da sua parte para se envolver completamente com seu objeto de estudo, ou você esteja com problemas de atenção e concentração. Se a segunda hipótese for o caso, seria interessante da sua parte desenvolver alguma atividade que exija concentração e atenção. Você pode, por exemplo, aprender a tocar bateria, a pintar ou a meditar. Eu fui iniciado no zenbudismo em 2017 e prática da meditação vazia, o zazen, me trouxe uma excelente capacidade de foco em todas as áreas da minha vida. Se for meditar, não busque por transes, sugestões hipnóticas ou lengalenga esquisotérico. Tem que ser uma meditação silenciosa, de atenção plena. Simplesmente sentar e respirar. Não precisa "lutar contra" seus pensamentos e tal, basta se manter em um estado de observação silenciosa. Se acontecerem pensamentos e desejos aleatórios, apenas observe-os. A meditação pode desenvolver a sua capacidade de concentração.
Varam a noite, caso precisem?
Você precisa também levar em conta as questões orgânicas, biológicas. Perder uma noite de sono ou estudar até a exaustão são erros de descaso com a mente e suas necessidades. Se você estudar menos e de forma intercalada, mas comer bem, dormir bem e tiver uma concentração plena, seu cérebro funcionará melhor, e sua produtividade estará muito acima dos que se matam para correr atrás dos estudos.
Insistem nos problemas até resolve-los? Se não, pedem ajuda?
Quando passei no meu primeiro concurso, como disse ali em cima, eu ainda era muito ansioso, estava sempre pensando na meta, "tenho que passar", etc. Depois de refletir um pouco, percebi que a ansiedade só atrapalhava, e que eu deveria apenas me focar em responder cada questão separadamente, como se fosse um simulado qualquer, sem toda aquela carga de expectativa ou medo. Foi assim que passei no meu segundo concurso e que mantenho todas as minhas notas no mínimo acima de 90 na faculdade. Presto atenção apenas no que tenho que fazer agora, e não nas consequências, nas expectativas. Abandono completamente o "tempo psicológico", onde vive o grande parasita da mente - a ansiedade.
Leem varias vezes o mesmo material? Memorizam?
Não, pois o que importa não é a capacidade de memorizar, porque você não deve se tornar uma máquina decoradora. O que importa é a sua capacidade de pensar bem, de raciocinar, de se articular, de explicar, de entender como as coisas se relacionam. É desse "bom pensar" que você precisa. É ele que vai te ajudar a responder questões, a dissertar, a produzir textos acadêmicos, etc. Os livros e leis estarão sempre à sua disposição.
Discutem, ajudam e são ajudados por outros?
Se for possível, sim! Isso será de grande ajuda! Se não for possível, discuta consigo mesmo. Disseque o tema. Explore as possibilidades. Elabore questões para si mesmo e as responda. Invente críticas e rebata. Se esforce para refutar algo verdadeiro, só para depois se reassegurar daquela veracidade, ao mesmo tempo em que explora as possibilidades semânticas e os caminhos perniciosos do mau pensar.
Lidam bem com seus limites e suas frustações?
Todos os erros contam como experiência, portanto, é sempre bom descobrir que errou, que estava errado. Tente aprender com cada um deles. Faça da experiência sua grande conselheira. Não se apegue psicologicamente à frustração ou ao fracasso, isso é uma grande armadilha da mente que só serve para te sabotar, mas também não se apegue pessoalmente ao acerto e ao sucesso - não se torne prepotente, não pense que foi porque "você é bom". Ao invés disso, observe tudo de forma neutra, objetiva. Coloque na balança. Como diz o Tao Te King, o segredo é "agir sem expectativa". Simplesmente faça o que tem que ser feito, sem levar os resultados para um lado pessoal.