Sempre senti que havia algo de errado com os figurões da "direita" brasileira como Bolsonaros, Felicianos, Nando Mouras da vida. Também sempre desconfiei da capacidade mental de toda essa massa de paneleiros desfilando e me mandando ir para Cuba. Nunca me pareceram ter lá muita consciência política, nem saber o que defendem. Se apropriam, de forma precipitada e rotulante, do termo "conservador" - afirmam sê-lo. Instigado, comecei a investigar a tradição político-filosófica do Conservadorismo, em seus fundadores (como Edmund Burke) e grandes representantes (como Popper e Scruton). O que encontrei foi radicalmente diferente do que imaginava.
CONSERVADORES SE OPUSERAM À REVOLUÇÃO FRANCESA
Um dos pais fundadores da tradição do Conservadorismo é Edmund Burke, político inglês que escreveu Reflexões sobre a Revolução na França. Os iluministas radicais acreditavam ser possível reorganizar a sociedade através da razão, refazendo as instituições e leis a partir de modelos abstratos e idealistas de sociedade. Burke, muito corretamente, previu caos e degeneração dessa tentativa, porque as instituições são fruto de um longo desenvolvimento histórico e natural, profundamente ligado aos costumes, hábitos e tradições de um povo. O conservadorismo é uma espécie de 'ceticismo' aplicado à política - desconfia profundamente de quaisquer soluções mágicas, idealizações maravilhosas.
CONSERVADORES DEFENDEM AS ESFERAS INTERMEDIÁRIAS
Associações, igrejas, comunidades, famílias - conservadores defendem todas as organizações de homens não-abstratos. A diferença? Explico - há o homem, enquanto INDIVÍDUO real, humano, vivo, com seus laços sociais, e há o "Homem" conceitual, representação abstrata que só existe nas leis, nas teorias políticas, no idealismo das filosofias. O Estado, quando pensa em seus homens, vê apenas números, estatísticas. O mesmo se dá com o Capital - vê lucro, força de trabalho, etc. Todas as tentativas abstratas de reorganização planificada da sociedade estão destinadas ao fracasso porque são planejadas para homens conceituais, enquanto que só existem homens enquanto indivíduos reais, e é apenas em suas livre-associações que sua humanidade se expressa. Hoje em dia há, por exemplo, conservadores antiglobalistas e antineoliberais, como Olavo, por exemplo, que questiona o patrocínio bilionário dado por Soros' e Rockefeller's e grandes bancos a movimentos esquerdistas, militantes e socialmente liberais em todo o mundo. Isso pode ser enxergado como uma tentativa do Capital de destruir as únicas esferas onde ele ainda não possui total domínio, como a Família e a Igreja, que ainda resistem à onipotência de sua mão invisível.
É FÁCIL AMAR A HUMANIDADE, DIFÍCIL AMAR UM SER HUMANO
Rousseau mandou seus filhos para o orfanato. A esposa de Marx cometeu suicídio e seus filhos morreram de fome enquanto ele era bancado para "libertar a humanidade". É fácil amar e libertar "a humanidade", aquele ente abstrato, genérico, totalizante, inexistente. O ser humano real, enquanto indivíduo cheio de dilemas, contradições, vícios e defeitos é muito mais difícil de ser amado e admitido mas é, infelizmente, o único que realmente existe. Como o conservadorismo é cético e só acredita em homens reais, não pode acreditar em bons frutos vindo da concentração de poder nas mãos desses poucos homens, muito menos em planejamentos utópicos e abstratos de uma sociedade que leva muitos séculos de tentativa e erro para progredir.
CONSERVADORES SE OPÕEM AO TOTALITARISMO
A existência de qualquer totalitarismo depende do esmagamento completo das esferas intermediárias nas quais os indivíduos se associam livremente. Isolado, o indivíduo é fraco e não tem chance contra o Estado/Mercado. Destituído de cultura, identidade e independência, o homem perde seu sentido existencial e se torna mais um número - estatística. É apenas em uma sociedade liberal-conservadora que pode haver liberdade de associação, crença e opinião. Por isso, nenhum conservador de verdade defende qualquer tipo de ditadura ou totalitarismo. A associação "conservador=Fascista!", do imaginário de pseudoesquerdistas brasileiros, é uma contradição intrínseca absurda. O Conservadorismo defende os indivíduos e suas associações e instituições contra quaisquer formas de Hegemonia, sejam elas teocráticas, estatistas ou até mesmo do mercado.
BOLSONAROS, FELICIANOS E NANDO MOURAS NÃO SÃO CONSERVADORES
São apenas populistas, reacionários, intolerantes e cheios de senso comum. Não há, no cenário político, representantes do conservadorismo clássico, senão em alguns descendentes da família real, pelo pouco que vi de suas entrevistas. Pessoas que pedem, por exemplo, a volta da ditadura militar, ou um louco como Bolsonaro no poder, são tudo, menos conservadores. O conservador é o cético político, e desconfia profundamente de qualquer intenção política messiânica - para ele, o melhor Estado é aquele que menos fizer e que mais permitir o desenvolvimento natural dos indivíduos em suas livre associações, pois são estes, homens reais e individuais, os verdadeiros produtores de toda a riqueza e motores da história.
O CONSERVADORISMO NÃO É REACIONÁRIO/PRECONCEITUOSO
Dizem, inclusive, que Burke era homossexual. Se alguém tentasse impor seu estilo de vida e opiniões à todos os outros indivíduos, seria um fascista, estatista ou reacionário, mas não um conservador. O liberal-conservative clássico não se incomoda que os indivíduos tenham suas próprias opiniões, vivam conforme seus próprios estilos de vida, orientação sexual, crença religiosa, etc. O problema surge apenas se estes tentam transformar suas discordâncias em cartilhas político-ideológicas. Você é livre para fazer o que for com sua vida privada, contanto que não tente transformar isso em ideologia para obrigar outros a concordarem.
SÓ A SOCIEDADE LIBERAL-CONSERVADORA CLÁSSICA É REALMENTE ABERTA
Só é possível haver vários grupos com diversos pensamentos e estilos de vida em uma sociedade liberal que permita que você trabalhe para quem quiser, produza o que quiser, se associe com quem quiser, creia no que quiser, etc. Assim sendo, um "Estado" conservador seria muito mais um estado Negativo (limitador do poder e das pretensões de hegemonia) do que um estado Ativo sobre a vida e cultura das pessoas. Na sociedade marxista, todos estão subjugados à moral marxista, há uma hegemonia de pensamento e organização. O mesmo se dá com a teocracia islâmica, por exemplo. Todos os que possuem pretensão de hegemonia são potenciais inimigos, pois colocam em risco a livre-organização das pessoas em suas associações e esferas intermediárias.
CONSERVADORES NÃO SÃO CONTRA O PROGRESSO
Conservadores não são contra o progresso natural dos indivíduos e seus costumes e associações, mas contra a intervenção ativa do Estado e de seus idealismos. Para um conservador, as mudanças devem ser graduais e devem vir de baixo para cima, e não a partir de um planejamento abstrato e centralizado de idealistas que tentam, por meio de engenharia social, quando não da própria força, re-restruturar a cultura humana a partir de suas próprias ideias.
O que pensam a respeito?
Como você define conservadorismo?
Concorda com minhas reflexões e conclusões??