Simples - colapsos/regressões parciais ocorrem a todo momento, colapsos sistêmicos são eventos raríssimos e com um número limitado e disputado de exemplos (Queda do Império Romano e Colapso da Era do Bronze Tardia) e não implicam necessariamente em eventos apocalípticos. Além, previsões apocalípticas de colapsos civilizacional por um fator único são feitas a todo momento.
Tempora mutantur, nos et mutamur in illis.
A História é feita de uma sucessão de ascensões e quedas de impérios. Muitas vezes os fatores que constroem a grandeza de um império, mais tarde, serão os mesmos que causarão seu declínio.
Mas eu acho que o Nostromo não está se referindo a esse tipo de colapso, mas sim ao colapso da humanidade como um todo, a possível inviabilidade do "projeto Homo Sapiens Sapiens".
Diferentemente de tudo que já ocorreu no passado, há que se levar em consideração que pela primeira vez a civilização atingiu um grau de desenvolvimento tecnológico capaz de causar impactos de proporções verdadeiramente apocalípticas. Alguns geólogos até sugerem que a intervenção da nossa espécie no planeta já é de tal ordem que seria justificável considerar que o surgimento do Homem inaugura uma nova era ou período geológico.
Mesmo no passado tecnologias primitivas foram capazes de selar destinos de civilizações degradando o meio ambiente. Por exemplo: a região antigamente conhecida como Crescente Fértil, berço da civilização, hoje é predominantemente árida. E já se sabe que estas alterações ocorreram por conta da degradação do solo, consequência do emprego de técnicas agrícolas deletérias por séculos e séculos.
Eu sou pessimista: somos a espécie remanescente do gênero Homo, que ao que tudo indica não foi uma boa aposta evolutiva. Todas as outras espécies neste gênero se extinguiram mais ou menos rapidamente, e a nossa própria parece estar repetindo este mesmo padrão de fracasso. Fez ainda ontem sua espetacular aparição neste planeta, e já se encontra seriamente ameaçada.
Ou talvez... ameaçando-se.
A questão que preocupa o Nostromo é relevante, mas não seria a causa da extinção da humanidade. Evidentemente a população não poderá crescer indefinidamente e quando a taxa de natalidade cai pode haver uma inversão na pirâmide etária, o que gera uma dificuldade real para os sistemas de previdência. Mas também tem relação com a rapidez com que esta taxa decresce, porque quando a redução é abrupta, em algum momento a razão entre população ativa/inativa se torna muito desproporcional. Se a taxa de natalidade cai mais lentamente o problema é menos grave.
Porém mesmo no pior dos cenários, uma super crise nos sistemas previdenciários só afetaria a população inativa. A maior parte dos idosos, que teriam dificuldade de ter acesso a cuidados de saúde e talvez tivessem até seus proventos de aposentadoria comprometidos. Mas a população ativa continuaria produzindo para se manter.
Eu acho que o alarmante mesmo é a possibilidade de um colapso ambiental ainda neste século. Que pode ainda ser agravado pelo esgotamento dos combustíveis fósseis; hoje nossa principal fonte de energia. É certo que as reservas de petróleo, gás e carvão não vão durar até o próximo século.
O planeta já tá praticamente na UTI:
- As áreas de floresta continuam a se reduzir no mundo todo, o que acarreta mais CO2 na atmosfera.
- Juntamente com a extinção dos habitats naturais há a redução da biodiversidade, e na verdade já estamos vivendo uma nova era de extinção em massa de espécies animais e vegetais.
- Quando o humano avança dizimando determinados ambientes, ele pode se tornar alvos de vírus que antes estavam restritos a estes habitats, e neste exato momento há um novo surto de ebola no Congo. E como somos muitos, estamos em toda parte e nos deslocamos cada vez mais e também mais velozmente por todo o planeta, o risco de uma super epidemia é cada vez maior.
- As áreas desérticas vem crescendo de tamanho em ritmo acelerado desde a década de 70 do último século. Pela ação da erosão provocada pelo homem, pelo desmatamento, e agora também devido às mudanças no clima.
- O ar continua sendo poluído. Também mares, oceanos, rios, mananciais, lençóis freáticos, os lagos, as lagoas, etc...
- Existe a previsão gravíssima de que já na próxima década começa a faltar água!
- Rios continuam sendo assoreados, suas margens sofrendo com desmatamentos, o que significa que muitos rios estão tendo seus volumes hídricos diminuídos. As populações que dependem da pesca já sofrem com o extermínio da vida nos rios, mares e lagoas.
- O lixo é um problema enorme que continua sem solução. Nossa voraz sociedade de consumo só consegue reciclar uma pequena parcela do que produz, e o pior é que boa parte do que é produzido é tóxico para o ser humano e o ambiente. Há pouco tempo li uma notícia estarrecedora: segundo dados do Ministério da Saúde, o câncer já é a maior causa de morte em mais de 10% dos municípios brasileiros.
- O solo agrícola também é um recurso escasso e muito frágil, que está sendo perigosamente comprometido mesmo na Europa e nos EUA.
Os fertilizantes, por exemplo, mascaram o problema real da erosão do solo causada pelo cultivo. Os pesticidas mascaram um segundo problema: a fragilidade inerente a monoculturas geneticamente idênticas. Os empréstimos para pagamentos de investimentos em combustíveis fósseis mascaram um terceiro problema: o fato de que a agricultura industrial não apenas destrói o solo e a água, como também sufoca as comunidades rurais. [...] Com nossa ajuda estão dizimando um capital ecológico que os prados precisaram de 5 mil anos para acumular.
Há uma lista imensa de graves problemas ambientais que ameaçam explodir quase todos ao mesmo tempo, como centenas de bombas relógio sincronizadas. E o mais grave é o aquecimento do planeta, que agrava muitos destes problemas e ainda desencadeia outros. As áreas litorâneas são densamente povoadas, e em algumas regiões como na Ìndia, a elevação do nível do mar pode desalojar centenas de milhões de pessoas. Um desastre de proporções inimagináveis que inevitavelmente acarretará na desestabilização política, social e econômica de dois países que são potências nucleares: a própria Índia e o Paquistão.
Eu acho que quando paramos pra pensar em tudo de terrível que podemos causar a nós mesmos ainda neste século, começamos a vislumbrar um quadro tão tenebroso que já não queremos mais pensar sobre isso. E este é o maior problema de todos.