Uma outra coisa que torna perigoso o apelo à autoridade com médicos. Muitos deles negam exageradamente a capacidade do corpo para se curar, e prescrevem medicamentos com efeitos colaterais potencialmente muito graves. Eles também se envolvem naquilo que os economistas chamam de problema do principal-agente. No livro Super Freakeconomics de Levitt e Dubner, foi mostrados dados interessantes que corroboram isso.
Constatou-se que pacientes não fatais que deixam de tomar remédios e de fazer procedimentos fazem diminuir a taxa de mortalidade. Greves gerais de médicos em Los Angeles, Israel e Colômbia fizeram cair a taxa de mortalidade de 18% a 50%. Em parte, isso poderia acontecer por adiamento de cirurgias eletivas, mas foi Craig Feied que teve a chance de observar que, quando muitos médicos de Washington deixaram a cidade ao mesmo tempo para participarem de um congresso, houve queda generalizada na taxa de mortalidade. As referências são: Argeseanu, S. Mitchell, K. Venkat, KM. Yusuf, S. Doctors' strike and mortality: a review. Social Science & Medicine. 2008;67:1784-1788... E o livro do médico Robert S. Mendelsohn chamado
Confessions of a Medical Heretic.
Deixando de lado a questão da iatrogenia, e indo para o problema do principal-agente... Pegando dados e entrevistas com oncologistas, foi mostrado que eles tendem a exagerar a eficácia de quimioterápicos. Dados nos Estados Unidos e Austrália, mostram que 63% das pessoas em tratamento de câncer sobrevivem 5 anos, mas a quimioterapia mal contribui para 2%. Nos EUA, mais da metade da renda dos oncologistas vem da venda e administração de quimioterápicos. Outra questão é que existe médico que acha difícil comunicar notícias muitos ruins aos pacientes e ainda por cima alertar sobre as ineficácia do tratamento. E, em alguns casos de câncer, a quimioterapia tem efeito discernível zero.
A pesquisa do livro também fala sobre como achar os melhores médicos. Ter bom desempenho em medicina não se correlaciona, em grande parte, com gastar mais. Os melhores médicos não gastam mais (em exames laboratoriais, etc.). O médico ótimo fez faculdade de medicina de ótima qualidade, fez residência em hospital prestigioso. O médico que irá atendê-lo é importante, mas não é fator tão importante tanto quanto sua doença, seu sexo e seu nível de renda.
Ainda assim, em um ano, pacientes de excelente médico da unidade de emergência de determinado hospital terão taxa de mortalidade quase 10% inferior a média nos 12 meses subsequentes.
No livro
Ciência Picareta, o médico Ben Goldacre (autor de um dos vídeos do TED Talks que Buckaroo já pôs aqui num tópico específico intitulado "O que os médicos não sabem sobre as drogas que prescrevem") mostra que a conexão entre médicos e pesquisa acadêmica não é tão grande quanto muitos imaginam. Segundo ele, pesquisas mostram que 50% a 80% dos tratamentos são medicina baseada em evidências. E 70% dos experimentos com fármacos relatados em importantes periódicos científicos são financiados pela indústria farmacêutica, os quais distorcem e ocultam as evidências. Um importante dado sobre os experimentos é que eles devem ser replicados para ter validade, mas isso pode ser impossível quando uma única instituição financia o estudo.
Por outro lado, um nefrologista chamado Jason Fung argumenta que a indústria farmacêutica anda corrompendo muitos médicos e mesmos editores de prestigiados periódicos acadêmicos médicos já admitem isso:
https://medium.com/@drjasonfung/the-corruption-of-evidence-based-medicine-killing-for-profit-41f2812b8704