Reformas econômicas impopulares não conseguem ser feitas na democracia? No âmbito das reformas previdenciárias nos países emergentes feitas entre 1981 e 2005 em 26 países, por exemplo, já houve quem desmentiu tal tese. Isso já foi tema de um trabalho de recopilação e reflexão acerca das reformas previdenciárias ao redor do mundo, feita pelo Banco Mundial em 2005, em que Robert Holzmann e Richard Hinz sintetizaram os dilemas envolvidos para os líderes políticos dos países emergentes. Inspirado nele, no capítulo 7 intitulado "Reformas previdenciárias pelo mundo" do livro Reforma da Previdência, o economista Fábio Giambiagi mostrou o que países como o Brasil podem aprender com a experiência acumulada ao longo do processo de reformas nos mais diversos países do mundo: 1. reformas tomam tempo; 2. gradualismo é fundamental; 3. campanhas institucionais são críticas; 4. o debate deve ser intergeracional. Sobre o item 2, um fator especialmente crítico, percebeu-se que "as reformas que politicamente foram mais bem-sucedidas e tiveram um menor dissenso foram aquelas que definiram um prazo de carência - ou seja, estabeleceram que as mudanças não seriam de aplicação imediata - e espaçaram os efeitos da reforma ao longo de muitos anos a partir de sua aprovação".
Num âmbito econômico mais abrangente, pode-se mencionar que a Suécia e outros países nórdicos vivenciaram uma grave recessão com o fim da Guerra Fria, por volta de 1990, à qual responderam com uma política de austeridade fiscal, que os protegeram efetivamente da grave crise financeira que ocorreria cerca de duas décadas depois (a amostra não inclui a Islândia).
No que se refere à história das origens da prosperidade, James Robinson e Daron Acemoglu, no livro Por que as nações fracassam, contestam a tese de associação entre regimes autoritários e crescimento econômico sustentável. Segundo os autores, instituições políticas autoritárias são erigidas para proteger os interesses de uma elite econômica e restringir a participação política a um seleto grupo de atores. Embora breves surtos de crescimento sejam possíveis na vigência de instituições extrativistas, o desenvolvimento só seria sustentável na presença de instituições econômicas democráticas e inclusivas. No que se refere a um exame meu dessa tese, uma confirmação dela seria que existem atualmente zero nações desenvolvidas que são ditaduras - e zero nações que tiveram a maior parte de sua caminhada até onde chegaram através de regimes autoritários. Uma possível contestação dessa tese seria o milagre econômico da China (1978-) e a sua possível chegada ao Primeiro Mundo daqui a alguns anos. Os dois autores do livro que mencionei chegam a apostar que o desenvolvimento da China eventualmente será solapado por conta de suas instituições políticas extrativistas. De qualquer forma, o caso do milagre chinês tem similar. A Índia mostra um exemplo de país com crescimento econômico em ritmo chinês no longo prazo e em ambiente de democracia.