Autor Tópico: Descentralização em sistemas políticos  (Lida 601 vezes)

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Offline -Huxley-

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Descentralização em sistemas políticos
« Online: 26 de Setembro de 2018, 22:57:42 »
Raphael Lima descreve o caso bem-sucedido da Suíça, que já tratei neste fórum algumas vezes:


Alguns observações que já tratei neste fórum sobre as vantagens de um federalismo extremo como o da Suíça:

1- Um exército de lobistas manipulando a democracia em nome de uma corporação tem mais baixo custo operando num sistema político supercentralizado do que num descentralizado.

2-  Alguns danos aqui e acolá em unidades de federação (cantões e municípios) permitem que elas entrem em crise suficientemente cedo (através de fuga de investidores e de outros tipos de residentes, por exemplo), permitindo que elas "fracassem logo" e os incentivos para elas se reerguerem aumentem; assim, o sistema minimiza os danos permanentes ao tornar a fragilidade das unidades em um fator de evolução, não tanto por que as unidades evoluem individualmente, mas por causa de "aprendizado por meio de remoção".

3- Os erros se tornam menores na descentralização. O número de pessoas afetadas por leis ruins diminui drasticamente e essas estarão sob mais escrutínio da competição de unidades políticas.

4- Como já mostrou a economista Elinor Ostrom, registros empíricos mostram que é mais fácil uma pequena comunidade agir como uma unidade racional coletivista do que uma sociedade muito extensa.

E... acrescentando mais uma vantagem:

5- Convencer pessoas de convicções políticas muito distintas a concordarem com uma mudança como essa é mais fácil, pois um sistema de governança baseado na eficácia da escolha da escala de centralização política não é nem de direita e nem de esquerda. E centralização administrativa é uma das causas mais subestimadas do fracasso do socialismo.
« Última modificação: 27 de Setembro de 2018, 09:10:14 por -Huxley- »

Offline Chico

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #1 Online: 27 de Setembro de 2018, 19:45:15 »
Aqui nada funciona:


A Suíça é um bom país por usar o modelo de democracia direta e frequentemente fazer eleições para votar em decisões e não em pessoas. É um sistema muito melhor e democrático e separa as pautas. Isso permite votar pela liberação da maconha e contra o aborto.


Eu concordo que seria melhor descentralizar o máximo que puder. Tenho amigos que moram em cidades pequenas e lá eles podem contar com o SUS e com a escola municipal de lá. Nem conseguem abrir escola particular em cidadezinhas. É muito mais fácil administrar e fiscalizar um território pequeno. Seria bom dar o máximo de poder aos municípios. Escola estadual deveria ser municipal e universidade federal deveria ser estadual.

Acho que imposto sobre consumo, como ICMS e outros, são bobagem. Acho que a tributação deveria ser só pela renda e ela deveria ser destinada aos estados e não à união. O sistema brasileiro coloca uma carga muito pesada sobre os estados, que vivem falidos.

O sistema de energia elétrica no Brasil é uma zorra, onde uma empresa é dona de outra empresa em vários estados, tendo participação fracionária e atuando em várias áreas.

A segurança seria melhor se for administrada pelo município, mas é bom que exista uma polícia estadual para oferecer recursos como helicópteros, que cidades pequenas quase nunca precisam ou não conseguem comprar. Além disso, existem muitas quadrilhas intermunicipais. O salário mínimo tem que ser determinado pelo estado e não pela união, porque as diferenças no país são grandes. Investimentos na economia também tem que ser estadual, porque deixar nas mãos da união é favorecer a corrupção que tornou a Odebrest como o maior esquema de corrupção da história da humanidade.

O SUS municipal é o modelo ideal, mas cidades pequenas não tem condições de ter todas as especialidades médicas. Por isso, seria bom que o governo estadual tenha hospitais em cidades centrais de microrregiões para atender cidades pequenas.

Os estados brasileiros são maiores do que estados em outros países. Argentina e México são menores do que o Brasil, mas o México tem mais estados e a Argentina tem um pouquinho menos.

Acho que a responsabilidade do governo federal deveria ser a definição de leis, a coordenação de estados (construir vias), documentação e forças armadas. Leis, normas e padrões, acredito que a lei deve ser definida pel. Acho ridículo nos EUA cada estado ter uma legislação diferente. Isso não é necessário. O importante é descentralizar a administração. Também considero RG estadual uma burocracia, ter só o CPF já é o suficiente.

Mas ainda teria várias coisas a perguntar.
O INSS poderia ser dividido para cada estado, tornando a gerência mais fácil, mas o que fazer se a pessoa mudar de estado?
Seria bom emancipar povoados pequenos, mas qual número de habitantes mínimo seria o ideal para criar um município?
Por que não transformar reservas indígenas e quilombolas em municípios normais administrados pela população local?


Existem duas objeções para a descentralização.
A primeira seriam os custos de criar novas sedes administrativas e o Brasil é o país dos privilégios. O Brasil tem 137 mesorregiões e se cada uma fosse um estado, teríamos um número enorme de senadores, para receber privilégios. O Brasil não tem condições de fechar o senado e ter só uma câmara, mesmo redividindo os estados, porque muitas regiões tem densidade demográfica diferente. No sudeste é muito densa e no norte a densidade é muito baixa; o estado do Rio (0,5% do território) tem mais pessoas do que na região Norte inteira (45% do território nacional).

Outra consequência das novas sedes seria o grande aumento no número total de deputados estaduais. Estados de população pequena, como Roraima e Acre tem 24 deputados, enquanto o Paraná, que tem população 20 vezes maior tem 54, um pouco mais que duas vezes o número de deputados. Deixar um número pequeno de deputados numa assembleia torna fácil fazer um complô.

A segunda é que isso desfavorece a igualdade entre os estados, porque a renda de alguns é mais alta do que de outros. Esse problema poderia ser resolvido se um percentual dos impostos fossem para união e transferidos para desenvolver os estados mais atrasados. Essa ideia seria um fracasso se os estados desviarem essa verba ou se endividarem pesadamente para poder recebê-la no futuro. Temos que lembrar que aqui é Brasil.



Esqueci de falar de algumas coisas.

Quando o município tem uma população enorme, seria melhor dividir em municípios menores em vez de sair criando subprefeituras. O modelo de São Paulo está errado porque votam no prefeito e ele nomeia os subprefeitos e não o contrário.

Seria bom ampliar o papel de associações de moradores. Vemos muitos casos de vizinhos se unindo para fazer trabalhos de forma muito mais rápida e eficiente do que a prefeitura, como construção de pontes e escadas, limpeza e instalação de câmeras de segurança.



Pensei numa forma de aumentar o número de estados sem aumentar o número de parlamentares. O congresso seria uma só câmara, mas as votações precisariam ser aprovadas em dois critérios: simulação da câmara e simulação do senado. O número de parlamentares seria, por exemplo, 1 para cada 500 mil habitantes e o mínimo de 3 por estado.
No primeiro critério de votação, o voto de cada parlamentar teria um peso proporcional ao número de habitantes do estado. Se o estado tem 300 mil habitantes, então seriam 3 parlamentares com peso 0,2. Se o estado tiver 3 milhões, seriam 6 com peso 1.
No segundo critério, o peso do voto de cada parlamentar seria igual a 3 dividido pelo número de parlamentares que o estado tem. Se o estado tiver 3, o peso é 1. Se tiver 12, o peso é 0,25.
« Última modificação: 28 de Setembro de 2018, 11:32:33 por Chico »

Offline Chico

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #2 Online: 03 de Outubro de 2018, 21:40:17 »
É um assunto interessante, mas ninguém comenta.  :|



Uma coisa que achei errada foi o plebiscito do Pará. O povo da região que ia se separar votou sim, mas o povo da capital, onde a população é maior, votou contra. Achei errado. Quem tinha que participar deveria ser só a população local, que ia fundar um estado novo. Considero anti-democrático por uma região dominar sobre a outra.

Claro que sou contra barreiras e redundâncias, mas em questões administrativas, é melhor administrar territórios pequenos.



Offline -Huxley-

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #3 Online: 22 de Outubro de 2018, 23:25:38 »
Interessante que, além da questão da descentralização, uma ideia apreciada e amplamente disseminada em pessoas de convicções políticas muito distintas é a democracia direta. Estranhamente associada a esquerdistas (Suíça, por exemplo), a verdade é que, se for o modelo que tem no melhor do mundo real, até os libertários a defendem: https://mises.org.br/Article.aspx?id=2954

Um movimento político que tivesse por objetivo de tornar a sociedade politicamente coesa poderia se chamar "Descentralização e democracia direta".

Offline Geotecton

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #4 Online: 23 de Outubro de 2018, 02:04:29 »
Interessante que, além da questão da descentralização, uma ideia apreciada e amplamente disseminada em pessoas de convicções políticas muito distintas é a democracia direta. Estranhamente associada a esquerdistas (Suíça, por exemplo), a verdade é que, se for o modelo que tem no melhor do mundo real, até os libertários a defendem: https://mises.org.br/Article.aspx?id=2954

Um movimento político que tivesse por objetivo de tornar a sociedade politicamente coesa poderia se chamar "Descentralização e democracia direta".

E que se for aplicado no conceito de formação de novos países, encontra fortíssima oposição dos militares e dos direitistas ultra-nacionalistas, que não admitem a fragmentação da 'rodínia'.
Foto USGS

Offline Entropia

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #5 Online: 23 de Outubro de 2018, 20:36:25 »
"Descentralização em sistemas políticos"

Excelente ideia, pode já implantar.

E arrisco dizer que teria pelo menos um relativo apoio popular. Já existe muita sinalização das pessoas de serem favoráveis a isso. O nosso "Nacionalismo" por vezes se mostra mais a nível regional.

Offline Gauss

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #6 Online: 23 de Outubro de 2018, 21:16:22 »
O Federalismo, por exemplo, pode sim ser muito popular.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #7 Online: 27 de Outubro de 2018, 14:15:07 »
Isso deve variar bastante, não havendo uma solução/princípio universal que garanta segurança, senão vigilância e democracia propriamente dita, significando poder tirar do poder aqueles que o usurpam.

"Dividir e conquistar" também deve ter alguma validade estratégica, mesmo para oligarquias.

Uma vez que você tenha o capital para comprar um grande poder centralizado, isso possivelmente é mais barato do que ter que lidar com múltiplas relações diferentes, mas estas também serão mais baratas e então mais vulneráveis mesmo a um poder menor.

Offline -Huxley-

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Re:Descentralização em sistemas políticos
« Resposta #8 Online: 28 de Outubro de 2018, 00:23:51 »
Isso deve variar bastante, não havendo uma solução/princípio universal que garanta segurança, senão vigilância e democracia propriamente dita, significando poder tirar do poder aqueles que o usurpam.

"Dividir e conquistar" também deve ter alguma validade estratégica, mesmo para oligarquias.

Uma vez que você tenha o capital para comprar um grande poder centralizado, isso possivelmente é mais barato do que ter que lidar com múltiplas relações diferentes, mas estas também serão mais baratas e então mais vulneráveis mesmo a um poder menor.


Não há como o lobismo obter vantagem de custo em um município ou uma região muito pequena em relação a um Estado grande centralizado. O primeiro caso exigiria exércitos de lobistas tentando convencer as pessoas enquanto se infiltram nas suas comunidades. O custo médio de produção do lobby por unidade da mercadoria em tal caso é MAIOR. Estado grande centralizado é o que torna mais evidente as vantagens da escalabilidade do lobby. Em empresas com grande escala de produção, normalmente grandes empresas, o custo fixo é difundido sobre o crescente número de unidades de produção.

Ainda assim, não é certo fazer comparações entre países quando o tamanho das organizações não é o mesmo - por exemplo, comparar Singapura com Malásia. O tamanho da unidade pode ser mais importante do que o sistema. Realmente, não se pode obter um diagnóstico apelando-se somente a um parâmetro reducionista.
« Última modificação: 28 de Outubro de 2018, 10:35:45 por -Huxley- »

 

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