O que o cara lá disse com todas as letras é que não descarta raça como conceito científico, apesar de pressões ideologicas(na acepção dele, "princípios éticos")em contrário.
Sérgio, eu sei o que se passa dentro da sua cabeça. Sei como ela funciona.
Você sofreu uma lavagem cerebral aplicada pelo astroturfing que promove a crença na insidiosa conspiração marxista em marcha pelo domínio mundial. (Sim, existe!). Está convencido que questionar noções popularescas de raça é uma das estratégias do marxismo cultural e portanto
algo maléfico, extremamente perigoso e que deve ser combatido a qualquer custo. Nem que para isso tenhamos que abraçar o mal menor do racismo na sociedade.
Na verdade nem a esquerda costuma se entusiasmar muito com a ideia de questionar o conceito de raça, porque os movimentos de esquerda gostam de levantar as bandeiras das minorias. É da esquerda o discurso de "dívida histórica", por exemplo. E convenhamos, para esse discurso é desconcertante que alguém com a aparência do puxador de samba da Beija-Flor tenha ascendência predominante de opressores europeus. Quem gosta de apontar incongruências como esta são justamente os críticos do sistema de cotas defendido pelas administrações petistas e partidos de esquerda em geral.
Então você pode desencanar disso, não precisa acreditar mais que todo índio é indolente e que todo judeu é pão duro por receio de estar fazendo coro com o marxismo cultural.
Quanto ao texto, se você reler agora, já livre de qualquer paranoia, vai entender que o cara basicamente disse que para a Biologia o conceito de raça é uma ferramenta da taxonomia, definido arbitrariamente, mas que qualquer definição deve atender a critérios racionais de classificação. A similaridade genética entre indivíduos é informação até certo ponto útil quando se pretende estimar a taxa de incidência de determinados traços, mas esta similaridade não corresponde diretamente às noções mais popularmente aceitas do que seriam as raças humanas.
Por exemplo: se diz que a raça negra tem mais propensão à anemia falciforme, que é genética. Esta seria uma informação útil para um médico ao examinar um paciente se fosse precisa. Então, em prejuízo da Medicina mas em benefício do discurso politicamente correto, estaria se negando que exista essa coisa assim tão bem definida tal como uma "raça negra".
Mas não é o caso, porque na verdade para algumas populações na África que viviam em regiões onde a malária era endêmica, a anemia falciforme era uma proteção natural. Isso fez com que em algumas populações a incidência chegasse a 40%, enquanto em outras era relativamente esparsa. Porém, como você pode conferir no estudo que eu vou linkar abaixo, o conceito cientificamente
impreciso mas culturalmente arraigado de "raça negra", mais prejudicou que auxiliou as pesquisas científicas sobre a anemia
falciforme no Brasil e nos Estados Unidos até meados do século 20.
O médico João Maia de Mendonça fez extensa pesquisa onde classificou os grupos a serem estudados como melanodermos (negros), faio-dermos (descendentes de negros e brancos), xantodermos (descendentes de brancos e índios) e leucodermos (brancos). E ainda subdividiu os negros em 3 subgrupos de acordo com o grau de negritude. Porém ao pesquisar a incidência de hemácias falciformes obteve resultados inconclusivos, confusos. Encontrou maior incidência entre os faio-dermos de pigmentação moderada que os de pigmentação mais escura. O que ainda contrariava estudos de autores americanos que haviam encontrado maior incidência entre negros de pele mais clara.
Onde o Dr. Mendonça errou? É certo que anemia falciforme é hereditária e se verifica uma grande incidência em algumas populações na África. Mas a concepção de raça que ele tinha não ajudava muito. Parece que a presunção do Dr. Mendonça era de que aquela era uma doença da raça negra, portanto quanto mais preto fosse o preto, mais provável deveria de ser portador dessa condição.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702011000200007Veja o que diz o site da Associação Brasileira de Hematologia:
2) A doença predomina em pessoas afro-descendentes, já que o gene da HbS teve origem no continente africano. Porém, em países com alta miscigenação entre as etnias, como ocorre no Brasil, qualquer pessoa pode ter a anemia falciforme.
"Predomina em afro-descendentes"... o problema é que afro-descendente não é raça! Afro-descendentes é que tem algum ancestral que veio da África há menos de 500 anos. E existe tanta variedade entre as populações africanas quanto existe entre as populações do humanas do mundo. Na África você encontra desde a tribo dos pigmeus até guerreiros masai de mais de 2 metros de altura, e uma variedade incrível de etnias. Em algumas o gene da Hbs pode ser tão raro quanto antigos vikings da Noruega. Logo, esse conceito de "raça negra" jamais teria sido criado pela objetividade científica, mas ao contrário tem origem sócio-política-cultural. Porém, como se viu,
essa contaminação histórica-sócio-política-cultural acaba por contaminar prejudicialmente a própria objetividade científica. Afinal de contas o próprio cientista em última instância também é um indivíduo inserido em algum contexto de crenças e valores culturais.
Mesmo a ABHH alerta que em um país miscigenado como o nosso, ser ou não "negro" não diz muito sobre as chances de uma pessoa ser ou não portadora dessa doença. Esse exemplo, que vem se juntar a outros que o Banzai já te apresentou, deve ajudar a entender o problema com
esta sua noção de raça e o porquê dela ser atualmente questionada como critério de classificação científica. Não tem nada a ver com militância de espécie alguma, muito menos marxismo cultural, é apenas razão e lucidez. Coisa que faltou um pouco aos pesquisadores dos anos 30 e 40, que tentaram até encontrar correlações entre a incidência de anemia falciforme e o grau de pigmentação da pele.
Porque o conceito então de raça, especialmente o conceito de "raça negra" ( que era semelhante a este que você ainda acredita "existir" ) era impreciso demais para ser útil como critério de classificação e delimitação científica.
Agora deu para entender o que eu quis dizer?
Mantenho o que eu disse lá.
Existem a depender do critério adotado. Os critérios de semelhanças fenotípicas, e de fundo genotípico, mesmo que discretos.
Claro que existem a depender do critério adotado. Porque o critério adotado, o sistema de classificação adotado, é que faz as subespécies existirem por definição. E também as espécies, os gêneros, famílias ...
Mas esta confusão entre semelhanças fenotípicas e proximidade genética é que não é um bom critério científico a se adotar, mas é justamente o critério que a sua concepção de raça humana intuitivamente adota.