Está em debate no Congresso a regulamentação do plantio doméstico da "canabis medicinal", para atender as necessidades de milhares de portadores de doenças graves que podem se beneficiar dos efeitos terapeuticos dos canabinóides presentes na planta.
Os debates nas comissões têm sido dramáticos, com depoimentos de mães e pais de crianças que conseguiram autorização judicial para o cultivo domestico da planta após perceberem a enorme melhoria no quadro de saude de seus filhos gravemente enfermos após a administração do óleo rico em cbd, o principal canabinóide da planta. Fora o plantio doméstico a unica alternativa é a importação do óleo com custo de milhares de reais um frasco que dura um mês.
Os depoimentos de médicos, representantes do governos e de organizações sociais também são carregados de tensão, o que combinado com a inacreditável confusão entre o que seria droga recreativa ou remédio, problema de saude ou de segurança, e a mistura explosiva entre interesses corporativos, políticos, religiosos e comerciais, lobbies, preconceito, desinformação, dificulta enormemente o encaminhamento de uma solução racional para o problema.
Nesse pântano mortal, a única esperança seria focalizar o debate em torno do cânhamo, a variedade da planta que até os EUA do Trump decidiu liberar o cultivo, juntando-se a dezenas de outros paises em que seu cultivo já é realidade há décadas, ou nunca foi proibido. É uma variedade rica em cbd mas com uma pequena dosagem de thc, insuficiente para gerar o barato da maconha, mas em quantidade suficiente para manter a sinergia entre os demais canabinóides e assim preservar a integridade das propriedades terapêuticas da planta.
Mas infelizmente o foco das discussões foi desviado para a tal da "maconha medicinal", permitindo que os proibicionistas deitassem e rolassem usando o argumento de que a luta pela liberação para fins terapêuticos era apenas uma escada para criar uma industria da droga no pais que destruiria a nossa juventude, como se destruição ainda maior fosse possível.
Na internet e na mídia percebe-se essa confusão terminológica e a completa marginalização do termo cânhamo para designar a planta sem efeito psicoativo, dando-se preferencia para maconha medicinal, canabis medicinal, ou cânabis, ao invés do termo tradicional que evitaria toda essa confusão. Parece uma clara indicação de que não há interesse em resolver o dramatico problema de saude vivido por sabe-se lá quantos milhares ou milhões de pacientes que poderiam se beneficiar do livre acesso ao cultivo do cânhamo, que alem de tudo tem propriedades nutritivas e industriais valiosas, e sim em promover os interesses dos grupos interessados em se apropriar de um mercado muito mais amplo que seria a liberação da maconha sem distinção de variedades.
Vale uma pena dar uma zapeada no vídeo dos debates para ter uma idéia da trágica confusão de interesses e manipulação informativa que cerca o tema. Em torno de 1h48min tem inicio a unica fala mais esclarecedora sobre o canhamo que revela um pouco do absurdo da sua proibição no Brasil (aparentemente não só do cultivo do cânhamo, mas até da menção à sua existencia).