Um mergulho na Escuridão
Fonte:
http://www.forumnow.com.br/vip/mensagens.asp?forum=15836&topico=2622766Postado originalmente em 12/12/2002 18:41:32 no Fórum Religião é Veneno
Autor: Acauan
De todos os fanáticos o fanático religioso talvez seja o mais sombrio e perigoso.
Este tipo de comportamento caracterizado pela convicção obsessiva de que todos os aspectos da vida devem se subordinar incondicionalmente a um único e determinado aspecto, pode ser motivado pelas mais diversas paixões: da política ao esporte; mas é na religião que o fanatismo encontra sua forma mais pura e individualmente mais destrutiva.
Todo fanático assimila como verdade inquestionável a doutrina que alimenta o seu fanatismo. Doutrinas de natureza laica, como as ideologias políticas, são capazes de produzir terror e destruição em grau superior ao que podem fazer hoje aquelas de natureza religiosa. Como a maioria dos países estabelece a separação entre religião e estado, somente o fanatismo político pode mobilizar recursos para destruição em massa, como fez o nazismo e o stalinismo.
Se por um lado o fanatismo político possui maior capacidade de destruição física o fanatismo religioso é muito mais poderoso no que se refere à destruição do indivíduo.
Não é raro vermos fanáticos políticos mudarem de posicionamento quando os ventos da História mudam de direção. Após a derrota, nazistas convictos se diziam “chocados” com os campos de extermínio que ajudaram a construir e comunistas “fanáticos” se converteram em empresários milionários na Moscou pós-queda do muro de Berlim.
O fanatismo político está fortemente associado a oportunismo.
Já o fanático religioso é arrasadoramente sincero. Ele não está interessado em recompensas “nesta vida” ou “neste mundo”. Seu desprendimento da realidade é tamanho que nenhum fator dela é capaz de impor restrição ou limite aos atos motivados pela convicção fanática.
Ao dedicar-se ao que chama ou considera como alma, o fanático nada mais faz além de destruí-la e destruir-se, uma vez que todos os elementos de sua personalidade que o definiam como um indivíduo único são pulverizadas e remodelados pelas formas doutrinárias definidas pelo dogma religioso.
Redefinido em todos os seus princípios e valores, o fanático religioso amará o que a religião diz que deve ser amado e odiará o que a religião diz que deve odiado, e o fará, ao contrário do fanático político, com a mais absoluta sinceridade, sem fingimentos ou segundas intenções.
O religioso que lesse o parágrafo acima poderia argumentar que se ele for fanático por uma crença que manda amar a todos e odiar a ninguém então nenhum mal poderia resultar deste fanatismo.
Errado, perigosamente errado. Nenhum ato construtivo pode vir de uma personalidade fanática simplesmente porque os valores construtivos foram destruídos dentro dele. Os únicos valores que lhe restaram são aqueles especificados pelo dogma. Assim para o fanático, amar alguém é traze-lo para o seu grupo, converte-lo, pela força se necessário.
Em seu estágio final e completo, o fanático religioso rompe seus últimos vínculos com a realidade. Se a realidade contraria o dogma então a realidade é o inimigo e deve ser combatida, assim como devem ser combatidos aqueles que sustentam que a realidade e não o dogma representam a verdade.
Atingido este estágio, o fanático abandona o último valor que competia com o valor dado ao dogma: o respeito pela vida, seja a dos outros ou a sua própria. Se a realidade tornou-se um inimigo a ser combatido, o assassinato (individual ou em massa) pode ser visto como uma missão divina a ser cumprida e a própria morte no “martírio”, como uma graça a ser conquistada.
O que torna cada Ser Humano especial é o fato de ser um indivíduo único. Em cada mente existe uma luz rara, com um brilho particular que não pode ser reproduzido em nenhuma outra. Aquele que cede ao fanatismo atenta contra o brilho da própria individualidade, apaga sua própria luz e mergulha na escuridão.