Carta de leitor que defende design inteligente
O editor e os leitores deste ‘JC e-mail’ sempre souberam da minha condição leiga abordando a biologia evolutiva: eu me apóio em 'ombros de gigantes'
Mensagem de Enézio E. de Almeida Filho (neddy@uol.com.br) é coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente:
Nos textos que submeto ao “JC e-mail” questionando a suficiência epistêmica do Neodarwinismo e a robustez científica da teoria do Design Inteligente tenho sempre em mente e me utilizo dos recursos da tríade clássica da retórica de Aristóteles: ethos, pathos e logos.
Ethos – é a credibilidade e reputação do comunicador – sempre central à análise retórica em qualquer contexto. É o efeito persuassivo do retórico que permite às pessoas considerá-lo como uma pessoa confiável, mesmo que numa área fora de sua especialidade.
O editor e os leitores deste JC e-mail sempre souberam da minha condição leiga abordando a biologia evolutiva: eu me apóio em 'ombros de gigantes'. Razão de aqui e ali ter sempre textos publicados nesta mídia reforça isso. Darwin nunca esteve em boa companhia.
Pathos -- é o sentimento, a emoção e a paixão introjetados ou gerados pelo discurso persuasivo. Eu habito o meu estilo e as reações contrárias às teses que defendo não são inesperadas e sequer me surpreendem. Não existe ciência sem pathos.
Logos -- é a argumentação racional ou a prova que surge dos encadeamentos racionais de idéias claras e estabelecidas. Procuro fazer isso demonstrando a insuficiência epistêmica do Neodarwinismo em relação à evolução geral. Eu não estou sozinho neste juízo:
D. Collingridge e M. Earthy, historiadores de ciência, descreveram o Neodarwinismo como um paradigma que perdeu a sua capacidade de resolver problemas científicos importantes. [1]
Em 1980, Stephen Jay Gould foi mais criticamente contundente – a síntese neodarwinista foi considerada efetivamente morta apesar de sua persistência como ortodoxia nos livros-texto de Biologia. [2]
Em junho de 2005, Massimo Pigliucci, professor no Departamento de Ecologia e Evolução na SUNY [State University of New York] escreveu numa resenha que "o clamor de se revisar o Neodarwinismo está se tornando tão alto que, espera-se, a maioria dos biólogos evolucionistas começará a prestar atenção". [3]
Kuhn nos apresentou um quadro muito confortador e conservador de História da Ciência: a ciência moderna seria inerentemente auto-corretiva por meios de ciclos periódicos de paradigmas e revoluções.
Apesar de leigo, discordo radicalmente disso. O que vemos no entanto é a 'grande ciência' auto-perpetuando-se como um verdadeiro monstro politicamente insulado que cresceu arrogante e não presta contas ao público que através dos impostos 'religiosamente' pagos torna possível este notável empreendimento humano.
Eu não estou sozinho nesta postura epistemológica anárquica à la Feyerabend e de os leigos também poderem 'fazer ciência' – Steve Fuller, Professor de Sociologia na University of Warwick, Inglaterra,
http://www.warwick.ac.uk/~sysdt/Index.html defende a tese da "Presunção Democrática" [um dos temas de sua epistemologia social]:
"O fato de que a ciência pode ser estudada cientificamente pelas pessoas que não são credenciadas naquela ciência que elas estudam sugere que a ciência pode ser escrutinizada e avaliada pelas pessoas leigas apropriadamente informadas” [Philosophy, Rethoric, and the End of Knowledge", Madison: University of Wisconsin Press, 1993, p. 25].
Quando abordo neste JC e-mail algumas pesquisas em biologia evolutiva, que fique bem claro o quanto respeito os cientistas e sei que eles deram, dão e darão enormes contribuições ao nosso conhecimento do mundo.
Todavia, entendo não existir uma 'theoria universalis' (isso se aplica também à teoria do Design Inteligente). O que não é mais possível é esconder a séria crise epistêmica do Neodarwinismo e que estamos assistindo a uma iminente ruptura paradigmática em biologia evolutiva.
Além disso, baseado na 'presunção democrática' de Fuller, que prevê um novo papel da retórica científica, onde os cientistas terão que justificar seu trabalho no contexto de avaliação altamente democrática por um eleitorado real de cidadãos inteligentes e bem informados [in "Thomas Kuhn: A Philosophical History of Our Times", Chicago: University of Chicago Press, 2000].
Como Maxwell Swamp, eu sou um 'leigo inteligente' [Dawkins, in "O gene egoísta", p. 19] 'apropriadamente informado' [Fuller, in "Philosophy, Rethoric, and the End of Knowledge", Madison: University of Wisconsin Press, 1993, p. 25] e um 'retórico científico' revolucionário escrutinizando, avaliando e anunciando o fim iminente do Neodarwinismo e o acolhimento de um nova teoria: Design Inteligente.
Notas:
1. COLLINGRIGDE, D. and EARTHY, M., "Science Under Stress: Crisis in Neo-Darwinism", in History and Philosophy of the Life Sciences 12:3-26, 1990.
2. GOULD, Steve J., "Is a New Theory of Evolution Emerging?", in Paleobiology 6: 119-130, 1980.
3. PIGLIUCCI, Massimo, "Expanding Evolution", in Nature 435, 565-566, 2 June 2005. A broader view of inheritance puts pressure on the neo-darwinian synthesis. Book reviewed: "Evolution in Four Dimensions: Genetic, Epigenetic, Behavioral, and Symbolic Variation in the History of Life" by Eva Jablonka and Marion J. Lamb. Bradford Books: 2005. 462 pp.