Autor Tópico: Crianças Selvagens  (Lida 967 vezes)

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Offline Südenbauer

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Crianças Selvagens
« Online: 09 de Outubro de 2005, 21:24:35 »
Crianças Selvagens

"Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas."

Lucien Malson, "Les Enfants Sauvages"

As crianças selvagens são crianças que cresceram com contato humano mínimo, ou mesmo nenhum. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos) ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os humanos.

Afastados do contato com a cultura, os seres humanos podem não desenvolver os requisitos mínimos de manifestação do que entendemos como Humanidade. E religião nada mais é que um elemento cultural. Religiosidade é aprendida a partir do meio, tanto quanto a linguagem ou os costumes.

O MENINO SELVAGEM DE AVEYRON

Em setembro de 1799 um menino, de cerca de 12 anos de idade, foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da frança. Estava sozinho, sem roupa, andava de quatro e não falava uma palavra. Aparentemente fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante 5 anos o Dr.Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler, a se comportar como um ser humano, mas seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e aprendeu a ler somente uma palavra (leite). Não era mais o menino selvagem de quando fora encontrado mas, também, não se tornou humano.

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER

Kaspar Hauser apareceu para a sociedade em 1828, numa praça do centro de Nuremberg. Tinha cerca de 16 anos de idade e falava de modo confuso; suas palavras eram pouco inteligíveis. Sua vida passada era um mistério, porém tudo indica que ele vivera preso em um celeiro desde havia nascido. Teve pouco contato (ou talvez nenhum) com outros homens. Da mesma forma que Victor, Kaspar foi educado por seu tutor e, ao contrário de Victor, aprendeu a ler e escrever, pelo menos num certo nível em que era possível a comunicação com outras pessoas. Seu raciocínio, contudo, não foi muito adiante. Continuava a ser a mesma criança do dia em que fora encontrado. Sua visão não enxergava em perspectiva e também não conseguia apreender conceitos abstratos, como Deus e religião, apesar dos esforços de padres e educadores. Morreu 5 anos depois, assassinado, e seu passado misterioso nunca foi desvelado.

AS MENINAS-LOBO DA ÍNDIA

Em 1920, o reverendo Singh encontrou, em uma caverna, duas crianças que viviam entre lobos. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o rev. Singh levou-as para o orfanato que mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização das duas meninas-lobo. Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão era melhor à noite do que de dia. Amala, a mais jovem, morreu um ano após ser encontrada. Kamala viveu por mais oito anos sem, contudo, aprender a falar, ler, usar o banheiro ou a ter qualquer comportamento que pudesse ser considerado próprio de seres humanos. A única emoção que demonstrou em todos esses anos foi algumas lágrimas que caíram de seus olhos, no dia em que Amala morreu.

O que esses exemplos, e muitos outros que poderiam ser citados, têm em comum é que eles retratam pessoas que foram privadas de contato humano durante sua infância. Sem contato humano não conseguimos nos tornar seres humanos de fato: a aparência pode ser humana, mas o comportamento é de outra espécie. O homem, portanto, só pode ser homem se viver em sociedade. Por outro lado, o tipo de sociedade em que vivemos vai determinar, de modo geral, o tipo de pessoas que seremos. Uma sociedade de ladrões vai gerar mais ladrões; uma sociedade voltada para o lucro e competição gera indivíduos ambiciosos e egoístas; uma sociedade injusta gera indivíduos sem caráter; uma sociedade baseada na justiça e cooperação gera indivíduos bons e felizes.

Não temos a possibilidade de optar entre viver ou não em sociedade, mas, pelo menos, podemos escolher qual o tipo de sociedade em que desejamos viver.

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Offline Vexille

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Crianças Selvagens
« Resposta #1 Online: 09 de Outubro de 2005, 23:19:12 »
É de se indagar o que realmente é o ser humano.

Talvez sejamos apenas um espelho do que vemos a nossa volta, um espelho da sociedade. A sociedade, por sua vez, foi formada também por seres humanos, e vem se desenvolvendo há milênios. Cada uma em seu local, com situações diferentes ocorrendo, no tempo e nas mentes, as sociedades primórdias se desenvolveream cada uma de um modo diferente.

O que nos leva a crêr que tudo que somos é algo que já foi alguém antes de nós. As coisas boas e, frequentemente, as ruins também.

 

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