Essas ponderações parecem dar razão à tese, encampada pelos defensores do "sim", de que, no Brasil, a simples retirada de circulação das armas é capaz de reduzir significativamente o número de assassinatos. Isso seria possível porque grande parte dos homicídios tem como motivação conflitos interpessoais provocados por causas fúteis, nos quais a presença da arma de fogo faz a diferença entre os hematomas e escoriações típicos de quem "sai no braço" e a morte.[...]
É apenas para reduzir esse tipo muito específico de crime que o Estatuto do Desarmamento funciona. Ninguém minimamente sério jamais sugeriu que o endurecimento das leis e a campanha de coleta afetaria o crime organizado. É apenas para reduzir as mortes por causas banais que a aprovação do "sim" no referendo pode modestamente contribuir, ao tornar as balas uma mercadoria menos acessível aos "cidadãos de bem" que um dia, numa explosão de ira, decidam matar o amante da mulher, o vizinho chato, a namorada infiel...
Nem isso, não tanto quanto se poderia pensar.
Esses crimes, por acaso são na maioria cometidos por pessoas com armas legais? Será que é igual a proporção de pessoas com armas legais e ilegais cometendo esses crimes? Teoricamente não deveria ser, já que para se ter uma arma
legal tem que se ser considerado psicológicamente apto.
Ah, o desarmamento até agora deve ter recolhido um monte de armas ilegais também, sendo essas responsáveis por boa parte do decréscimo de óbitos por pessoas usando armas.
Já a principal tese do campo do "não", a de que as restrições ao comércio violariam o direito à autodefesa, não poderia ser mais falsa. Em primeiro lugar, como já mostrei, quem realmente insistir em possuir um revólver e estiver disposto a cumprir as exigências, poderá fazê-lo dentro da lei.
Tanto quanto sei, só se conseguir convencer o SINARM de estar sob ameaça de morte. Ter em casa apenas por precaução, não pode.
Minha principal motivação para defender o "sim", porém, é, como já adiantei, filosófica. Não acredito em bom selvagem, emancipação do homem ou redenção da sociedade, mas a civilização, que vem prosperando ainda que tropegamente sob a égide da razão, já amadureceu o suficiente para impor a seus integrantes que não resolvam suas diferenças à bala. Eliminar as armas é só uma idéia reguladora, uma meta longínqua que provavelmente jamais será alcançada. É justamente o tipo de idéia no qual vale a pena votar.
Eu também sou bastante "pró-paz", e etc... mas isso não tem nada a ver com a impor que as pessoas "não resolvam suas diferenças a bala"... a menos que "diferenças" aí sejam coisas como "eu quero te comer, sua vaca", e coisas como mmm... "disputas de propriedade"..... esse tipo de "diferenças" eu acho que de uma forma ou de outra acabam sendo resolvidas a força, não tem muita possibilidade de diálogo entre as partes... já diferenças do tipo brigas de namorados e etc, bem essas realmente não devem ser resolvidas a bala, mas isso já é assim há muito tempo, não é isso que o referendo vai decidir.