Bloqueio de sites, leitura de e-mails e olho vivo no que é publicado em blogs e em sites de notícias. Essas são as armas mais comumente usadas por países que mantêm o pulso firme sobre o uso da internet por seus cidadãos.
Atualmente, o campeão entre os países que impõem restrições ao uso da web é a China, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Por lá, os cerca de 100 milhões de internautas, quando acessam a internet, muitas vezes se deparam com a mensagem "this site cannot be displayed" (esse site não pode ser exibido, em português).
"Em certos casos, essa mensagem aparece não porque o site está fora do ar, mas porque o endereço foi bloqueado pelo governo", explica o jornalista Richard (nome fictício), 24 anos, que mora em Pequim.
Segundo Julien Pain, editor de internet da RSF, na China são bloqueadas páginas que tratam de direitos humanos, democracia e que têm conteúdo pornográfico ou críticas ao governo.
"O governo também intercepta e-mails e investiga fóruns e blogs", diz ele. "Em um blog, por exemplo, só é possível abordar assuntos que foram publicados previamente pela imprensa oficial, que é controlada pelo Estado."
Segundo ele, quando um assunto proibido é escrito na web, o sistema de controle montado pela China deleta esse texto automaticamente. Em casos extremos, entretanto, o internauta pode acabar na cadeia. Atualmente, segundo a RSF, 75 pessoas estão presas por esse motivo.
Outra medida tomada pela China foi instalar sistemas de segurança, como softwares de monitoramento e câmeras de vigilância, em cybercafés. "Os estabelecimentos que se recusaram a obedecer a regra foram fechados pelo governo", diz o investidor Yan (nome fictício), que mora em Xangai. Foram fechados cerca de 10 mil cybercafés nos últimos dois anos.
A assessoria de imprensa da Embaixada da China no Brasil confirma que alguns sites são bloqueados pelo governo. "Isso é para manter os valores da sociedade e afastar os cidadãos das notícias falsas." Entretanto, a assessoria diz que não existe censura em blogs e fóruns. "Os chineses têm diversas formas de expressar suas opiniões. E a internet é uma delas."
Além da China
O Irã é outro país que adotou medidas restritivas para a web. "Aqui, temos dificuldade em acessar páginas com pornografia e sites sobre política. Muitos blogs também são bloqueados", conta o consultor Mr. Behi (nome fictício), 27 anos, que mora em Teerã (capital).
Segundo o consultor, por lá, manifestar uma opinião contrária ao regime do país pela internet pode levar uma pessoa à cadeia. Mesmo assim, ele possui um blog, onde diz que costuma ser muito crítico ao governo. "Tenho medo de ser preso. Já passei dos limites algumas vezes", conta ele.
O país, atualmente, vive uma febre de blogs. Dos 4,3 milhões de internautas da nação, 700 mil possuem diários virtuais.
Em face do crescimento do número de diários virtuais, segundo a RSF, o governo também incrementou a vigilância na rede. Só neste ano, 20 blogueiros foram parar na prisão.
Mas a prisão não é o único destino dos condenados. Na Tunísia, segundo o Comitê de Proteção aos Blogueiros, a punição pode ser a pena de morte. Desde fevereiro deste ano, o blogueiro Mojtaba Saminejad está preso por desacatar em seu diário virtual as leis da nação. Sua sentença é a morte.
No país, blogueiros como Abd (nome fictício), 26 anos, que mora em Túnis, estão apreensivos. "Não escrevo sobre coisas ilegais. Mas tenho medo de quebrar as regras sem perceber e acabar tendo problemas", diz.
Segundo a RSF, na Tunísia, os e-mails dos cidadãos também são vasculhados. A organização diz, inclusive, que o governo desencoraja a população a usar webmails, como o Yahoo! e o Gmail. Isso porque é mais fácil vasculhar mensagens em programas como o Outlook Express.
Já a Arábia Saudita vive uma forma diferente de censura. A população tem participação na escolha dos sites que devem ser bloqueados. Para tanto, os sauditas acessam o site
www.isu.net.sa e podem dedurar as páginas que julgam impróprias. Segundo a RSF, cerca de 400 mil páginas não podem ser acessadas no país.
"As pessoas são muito conservadoras por aqui. Elas não querem ver sites com material pornográfico e que são contra o islamismo. Por isso, elas denunciam essas páginas", diz a universitária Farah Aziz, 20 anos.
Outra forma de censura, segundo a RFS, é feita por Cuba. No país, apenas 120 mil pessoas pessoas possuem acesso à rede. "A internet está limitada apenas a autoridades e a turistas", diz Pain.
Segundo o brasileiro Flávio (nome fictício), que mora em Cuba, em universidades, por exemplo, só é permitido o acesso a sites cubanos ou aqueles selecionados pelo governo.
Flávio diz que o e-mail no país também é limitado. "Quando se consegue uma conta, você não tem o direito de enviar mensagens para o exterior. Para tanto, é preciso provar a necessidade de acesso internacional."
Segundo Juan Roberto Forte, conselheiro da Embaixada de Cuba no Brasil, Cuba não exerce censura sobre a sua população. "O problema da web no país é o embargo norte-americano. Precisávamos de uma conexão de fibra óptica com os EUA para podermos nos conectar à web. Mas os EUA não querem. A solução foi usar uma conexão via satélite, o que encarece o acesso. Por isso, a internet está restrita às instituições oficiais."
A reportagem entrou em contato com as Embaixadas da Tunísia, do Irã e da Arábia Saudita no Brasil. A da Tunísia não quis comentar o assunto. E as do Irã e da Arábia Saudita não retornaram as ligações até o fechamento desta edição. As informações estão na edição de hoje de O Estado de S. Paulo/Caderno Link
Fonte: Agência Estado / iBest