Estudo diz que chimpanzé é egoísta e revê tese sobre sua "humanidade"
Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:
Eles caçam em conjunto, armam golpes de Estado e até montam operações de guerra. O rótulo de "humanos" parece quase ao alcance dos chimpanzés.
Mas, segundo um novo estudo, eles são incapazes de pensar no bem-estar de outros membros da espécie, mesmo que eles sejam seus amigos de longa data, o que ajuda a complicar a imagem "humanizada" desses primatas.
A conclusão vem de um teste que avaliou a consideração dos macacos por colegas de bando. No experimento, os bichos tinham a chance de obter um almoço e, ao mesmo tempo, brindar um companheiro com a guloseima sem nenhum esforço extra.
No entanto, os pesquisadores descobriram que os chimpanzés não se preocupavam nem um pouco em escolher a opção que também favorecia os outros. Para todos os efeitos, agiram como se seus amigos não estivessem ali.
O estudo, que sai na edição de hoje da revista "Nature", pode desbancar de vez a idéia de que os chimpanzés possuem o que se costuma chamar de "teoria da mente" -grosso modo, a capacidade de se colocar mentalmente no lugar de outro indivíduo.
"A capacidade para o altruísmo e a teoria da mente não estão necessariamente ligadas. Mas é possível que a capacidade de levar os outros em consideração, como os humanos fazem, realmente dependa de uma teoria da mente bem desenvolvida", disse à Folha Joan Silk, autora do trabalho e pesquisadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA).
No teste, os bichos eram colocados frente a frente em dois cercados separados. Diante de um deles, ficavam quatro bandejas, presas a uma plataforma dobrável e ligadas a cordas.
Se o chimpanzé testado puxasse uma das cordas, duas bandejas carregadas de comida se estendiam -uma para ele e outra para o amigo. Se puxasse a outra corda, só ele recebia a comida.
Os testes mostraram que os macacos puxavam a corda de maneira aleatória.
"Acho que há boas razões para imaginar que a preocupação com os outros surgiu depois que os humanos e os grandes macacos se separaram na evolução", diz Silk.
Mas é preciso cuidado: "Há uma longa tradição de identificar traços humanos únicos e depois descobri-los em outras espécies".
(Folha de SP, 27/10)