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Camundongo canta como ave, diz estudo
« Online: 01 de Novembro de 2005, 02:42:14 »
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Camundongo canta como ave, diz estudo

REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se os seres humanos ouvissem ultra-som, os canários correriam sério risco de perder o emprego para concorrentes improváveis: os camundongos. Os paus-para-toda-obra dos laboratórios de biologia, revela um estudo publicado hoje, emitem uma cantoria que nada deve à dos pássaros.

"Nós não descobrimos os sons. As pessoas os conhecem há décadas. Só descobrimos o quanto são interessantes", contou à Folha o neurobiólogo Tim Holy, da Universidade Washington em Saint Louis (EUA). Até hoje, entre os mamíferos, só baleias e morcegos (excetuando, é claro, os seres humanos) tinham demonstrado capacidade de cantar.
No entanto, a análise dos "gorjeios" ultra-sônicos mostrou a existência de pelo menos quatro tipos de "acordes" diferentes, além de melodias relativamente complexas, que parecem variar de indivíduo para indivíduo, assim como acontece com os pássaros.
O estudo está disponível para leitura na revista científica de acesso livre "PLoS Biology" (www.plosbiology.org).

"Cantando" as fêmeas?
Holy relata que ele e seu colega Zhongsheng Guo, no começo, estavam mesmo interessados em entender como os bichos respondem aos feromônios, odores que funcionam como mensageiros químicos, principalmente no contexto sexual, entre várias espécies. Sabia-se que os camundongos machos se põem a vocalizar quando as fêmeas (ou o mero cheiro dos feromônios na urina delas) estão presentes.
Então, de certo modo, os bichos parecem emitir suas árias ultra-sônicas para cortejar as garotas. "Mas isso não é 100% certo, porque seria preciso verificar se a vocalização tem algum impacto na fêmea, e se um macho cantor teria vantagens sobre um que não canta. Embora isso pudesse ter sido testado faz muito tempo, até onde sei ninguém investigou o problema seriamente", diz Holy.

Da mesma maneira, ninguém tinha analisado a estrutura temporal dos sons que os machos produziram, ou seja, como eles iam mudando ao longo do tempo. A dificuldade óbvia de fazer isso é que a freqüência dos "gorjeios" é sempre maior que 30 kHz, enquanto a audição humana capta, no máximo, 20 kHz.

Para dar um jeito nisso, os pesquisadores primeiro gravaram os sons (depois de excitar devidamente os machos com algodão empapado em urina de fêmea) e depois usaram um programa de computador que faz os sons ficarem muito mais graves -e portanto audíveis.

Primeiro, a análise revelou que os bichos "tocam" pelo menos quatro tipos de "sílabas" -na terminologia do estudo, são as emissões de som separadas das outras por períodos de silêncio. Como um bom tenor, os roedores emitem sílabas que podem conter saltos de quase uma oitava para cima ou para baixo na escala. É como se o bicho estivesse soltando um dó e saltasse em seguida para o si imediatamente mais agudo (sem passar por ré, mi, fá, sol e lá).

Além disso, as sílabas parecem se juntar numa estrutura maior de melodia, que não é aleatória. Alguns tipos de sílaba tendem a ser emitidos juntos, ou a só serem usados no começo ou no fim da emissão de som. Resumo da ópera: os pesquisadores concluíram que as vocalizações preenchem os dois requisitos mais usados para definir canção (múltiplos tipos de sílaba e sílabas emitidas em seqüências regulares).
Repetidos em 45 camundongos diferentes, os resultados parecem sólidos. Os pesquisadores dizem que outras espécies de roedor também podem ser cantoras.



fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0111200501.htm



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Sons podem ter elo com "gene da linguagem"

DA REPORTAGEM LOCAL

Descobrir que o animal mais onipresente dos laboratórios sabe cantar tem vantagens cruciais para quem quer estudar como essa capacidade evoluiu. É bem mais fácil alterar geneticamente os roedores para entender como a química do cérebro influencia o talento. E parece já haver um alvo: um gene chamado Foxp2.

A versão desse pedaço de DNA que existe nos seres humanos parece estar ligada à capacidade para linguagem. No entanto, conta Tim Holy, os pássaros também o possuem, assim como os camundongos -e, sem ele, os roedores não parecem ser capazes de vocalizar.
"Ainda estou tentando descobrir como interpretar esse dado", diz Holy. Pode ser que o gene seja só importante para o desenvolvimento do cérebro, influenciando indiretamente a "fala".

"Mas é intrigante como ele parece surgir o tempo todo na comunicação vocal", afirma. Isso sugere que o canto animal e a fala humana poderiam ter origem comum. (RJL)



fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0111200502.htm


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