Brasil vive "boom" de envio de recursos ao mercado externo
Além de promover menos investimento internamente, o Brasil vem exportando recursos, via remessas derivadas de juros e dividendos. Segundo cálculos da economista Leda Paulani, da Universidade de São Paulo (USP), nos últimos 30 anos, a economia brasileira cresceu 129% e a emissão de divisas ao exterior, 1.085%.
De acordo com levantamento da economista, os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), que estavam ao redor dos 25% do Produto Interno Bruto (PIB) nos anos 70, caíram para algo perto de 15% em 2000. Em uma exposição da taxa de investimento desde 1947, os anos 90 e 2000 ficam no nível mais baixo da série.
"Se a formação bruta de capital vem caindo, não se pode esperar uma retomada sustentada de crescimento", completou a economista, que participou ontem do seminário Alternativas à Política Econômica, realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo cálculos da economista, a média da taxa de investimentos nos anos 80 ficou em 18,6%. Na década de 90, atingiu 15,5%, e no governo Lula, a média foi de 13,5%. Por outro lado, a abertura comercial, produtiva e do sistema financeiro vem provocando, segundo ela, um "boom" no envio de recursos ao exterior, via remessa de dividendos, lucros e de pagamento de juros.
Ainda de acordo com os números levantados por Leda, a soma de recursos que sai do País deixou de uma média anual de até US$ 5 bilhões nos anos 70 para mais de US$ 20 bilhões a partir de 1995. A quantia se explica pelas privatizações a empresas de capital internacional e abertura financeira, segundo a economista.
"Os números nos levam a repensar a dependência e se explica com a adoção da política econômica em meados dos anos 90. (O ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso implementou um modelo tal qual havia descrito nos anos 60 e 70", avalia Leda, referindo-se ao livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", que escreveu com Enzo Faletto, de 1969.
De acordo com a economista, para reverter o ciclo de dependência e vulnerabilidade, o Brasil precisaria adotar um pacote mínimo de exigências, como controle de fluxo de capitais e impostos progressivos sobre a propriedade.
"Pelas elites, o avanço dessa política não me surpreende. Mas ela foi aprofundada por um governo popular e democrático, com a história do PT (Partido dos Trabalhadores)", diz. "Esperava-se que o governo Lula não fizesse o que foi feito", completa a economista da Universidade de São Paulo.
Fonte: Gazeta Mercantil - 08/11/2005
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