Assim como a história do "Pedrinho e o lobo" não precisa ser verídica para ser uma estorinha que demonstra que mentindo você pode se ferrar, ou como pode se ler "a arte da guerra" de Sun Tzu e aplicar os conceitos metaforicamente em outras coisas que não guerra, acho que as mitologias diversas também talvez tenham algo de útil, independentemente de serem contos fictícios.
Acho que talvez até independentemente de uma interpretação mais "literal" poderem ser muito reprováveis moralmente, talvez seja possível em muitos casos extrair algo de útil.
Alguém aqui concorda com essa perspectiva, e saberia dizer de passagens, trechos ou contos, de qualquer religião ou mitologia, dos quais possa se extrair algo de útil?
Concordo e ainda acho a sua afirmação tímida. Há muita coisa de útil em quase toda verdadeira tradição religiosa. Muito do desenvolvimento da ética estava atrelado a elas até bem recentemente.
Para citar o Cristianismo, é possível fazer diálogos e mesmo pregações bastante construtivas com base no Evangelho de Lucas (principalmente a Parábola do Bom Samaritano) - ou, de uma forma bem diferente, no Cântico dos Cânticos, também conhecido como Cantares de Salomão.
Eu gosto muito da perspectiva de Ken Wilber sobre o assunto, que em resumo diz que é preciso consolidar estágios mais primitivos e egocêntricos de formação de valores morais para poder de fato passar para os estágios seguintes, mais altruístas e ambiciosos.
Muito do motivo por que criticamos as religiões está no descuido delas em respeitar essa sequência orgânica de consolidação de valores. Na situação estereotípica se cobra desde o início que as crianças tenham algum tipo de compreensão instintiva de modelos sofisticados de moral e sociedade. Isso, é claro, gera culpas sem sentido.
Eu não conheço muito, mas eu suponho que tenha que algo de bom no final das contas acabe contando por parte da longevidade das religiões. Não acho que sobreviveriam se fossem só sandice, pura e concentrada, ainda que possa ocorrer em muitos casos, e mesmo os religiosos possam se perder nas interpretações e extrair só o que há de pior.
Realmente, se fossem puramente destrutivas as religiões nunca teriam durado tanto.
Há explicações para tal. Uma delas é a
tradição oral, que tanta falta faz hoje em dia. Outra, mais cínica, é a função social da religiosidade.