Tópico: Os órfãos da globalização

[Claudio Loredo]

Os órfãos da globalização

Fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br/agencia.asp?id=3721&cd_editoria=005&coluna=reportagens

Emir Sader - Carta Maior    07/11/2005

Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA. O que isso tem a ver com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA, dos quais um terço está ilegalmente no país? O que tem a ver com os árabes e negros na França e com os milhões de turcos na Alemanha? A análise é de Emir Sader.

Emir Sader - Carta Maior    07/11/2005
 


 Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA – a única fronteira, no mundo, entre o terceiro e o primeiro mundo. Por essa razão, o governo dos EUA impôs o retorno do visto de entrada dos brasileiros no México e o Brasil, em reciprocidade, tomou a mesma atitude para a entrada dos mexicanos aqui.


 Para se ir ao México, é preciso pedir o visto nos consulados, o que inclui a impressão de um formulário, com foto recente, mais comprovantes de reservas de hotéis no México, comprovante de rendimentos dos últimos três meses, comprovante de pagamento de cartão de créditos nos últimos três meses, entre outros documentos. Uma vez entregues todos os documentos, os vistos serão concedidos, caso os documentos sejam aprovados em três dias úteis. A circulação entre os dois países mais importantes do continente fica submetida a esses trâmites, a partir da decisão do governo dos EUA.


 O que isso tem a ver com outros conflitos mundiais? O que tem a ver com os árabes e negros na França? Com os milhões de turcos na Alemanha? Com as centenas de milhares de equatorianos e marroquinos na Espanha? Com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA – dos quais, 40% proveniente do México e da América Central e um terço está ilegalmente no país?


 Todas essas situações têm a ver com os órfãos da globalização. São todos eles trabalhadores buscando empregos que não encontram nos seus países ou salários um pouco melhores do que as miseráveis remunerações que recebem nos seus países de origem. Africanos saindo de seus países, abandonados pelo capitalismo, que desconhece a África. Equatorianos fugindo da dolarização do seu país. Mexicanos fugindo dos salários de fome que recebem, quando encontram empregos, nos seus países.


 Situações dramáticas, resultado da acentuação gigantesca da desigualdade dentro de cada país e entre países e regiões do mundo, produzida pela “livre circulação” dos capitais, promovida pelas políticas neoliberais. Mesmo discriminados, vivendo em condições incomparavelmente inferiores às dos nativos em cada país a que chegam, os trabalhadores imigrantes ainda assim tem mais possibilidades de sobrevivência que nos seus países de origem – o que dá uma idéia da brutal miséria a que as regiões globalizadas do mundo são submetidas.


 A globalização neoliberal tira das pessoas – além do direito ao emprego e a condições de vida minimamente decentes – o direito a viver no seu próprio país, colocando-lhes dilemas cruéis entre permanecer no seu país, ao lado de suas famílias, de seus amigos, com seu idioma, sua cultura, seu mundo ou deslocar-se para um mundo hostil, que os discrimina, os condena à marginalidade, mas que lhes permite obter alguns recursos a mais, de que enviam parte para suas famílias.


 Formam todos um imenso mercado internacional de mão-de-obra, sem direitos, nem de deslocar-se, nem de radicar-se, nem de ser cidadãos, disponíveis para ser explorados de forma ilimitada pelo grande capital internacional. Essa a realidade humana mais aguda da globalização neoliberal. Que não se surpreendam com as revoltas atuais na França! Como podem reagir marroquinos jogados de volta da Espanha no meio do deserto, abandonados para que morram à mingua? Como podem reagir mexicanos, brasileiros, centro-americanos, abatidos ou presos na fronteira com os Estados Unidos, cercados pelo muro da vergonha do neoliberalismo?
         
 
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[Rodion]

ah tá, a culpa da miséria é a 'globalização'... mentira, é o g8. ah, mas não é o G8 que coordena a globalização?

engraçado esse jeito de pôr, 'excluídos', 'órfãos' pela globalização. dá a impressão de que a áfrica subsaariana foi excluída pelos valentões do processo. quando na verdade não se integraram por diversos motivos, desde conflitos internos até incompetência. quem está excluído, excluiu-se a si mesmo.

e os sul coreanos que o digam...

agora, voltemos à coerência. como advogar contra o livre mercado ao mesmo tempo em que se reclama da 'exclusão' que a globalização realiza? como falar contra a globalização e pedir o fim de subsídios agrícolas?

[Claudio Loredo]

Aprenda a ler o texto Bruno. Ele não critica a globalização em si. Ele critica a forma como ela está sendo feita.

[Roberto]

Ah, como o mundo era melhor antes da "globalização neoliberal". Que começou quando mesmo? Que é o que mesmo?

[Südenbauer]

Esse texto de esquerda tá muito ruim...
 

[Rodion]

Aprenda a ler o texto Bruno. Ele não critica a globalização em si. Ele critica a forma como ela está sendo feita.

é, ele critica só a 'globalização neoliberal'. eu não conheço outra...

[Rhyan]

Se fosse um texto-piada ironizando a mentalidade da esquerda seria engraçado.

[Südenbauer]

Se fosse um texto-piada ironizando a mentalidade da esquerda seria engraçado.

Verdade.

 

[Claudio Loredo]

Este texto não critica a globalização em si. Ele critica uma das  caracteristicas da globalização neoliberal.

A globalização não é algo ruim, ela está ai e não tem mais volta. Na realidade, ela sempre existiu desde o inicio das civilizações quando os povos antigos faziam sua trocas comerciais há pelo menos 3000 anos. Tendo sido interrompida durante a idade média e o absolutismo.

Não existe apenas um modelo de globalização. Existem vários. Qualquer que seja o modelo adotado, ele deve ser criticado, pois é através da critica que melhoramos o que já existe.

Portanto, não se assustem pelo fato do texto está criticando a globalização neoliberal. Por incrivel que pareça, ela não é perfeita e suas imperfeições devem ser criticadas para que no futuro possamos cada vez mais nos aproximar de um modelo melhor de globalização.

[Perseus]

O problema não é a Globalização, é o neoliberalismo.

Neoliberalismo é bom quando é dentro da casa dos outros, afinal, preve a extinções de subsidios, o livre comércio e etc etc etc.
Não existe nada melhor para os Eua, que de neoliberais não tem nada, mas praticamente obrigam os países aqui da Amédica Latrina a serem 'neoliberais'.
O resultado disso, com o FHC, foi um singelo aumento de 130 bilhões de dólares na divida externa, que até 94 era de 120. (esses 120 bilhões foi a divida que o país acumulou em 300 anos alias).

A consequência esta aí, geralmente em semáforos de praticamente todas as grandes cidades.

[Rodion]

O problema não é a Globalização, é o neoliberalismo.

Neoliberalismo é bom quando é dentro da casa dos outros, afinal, preve a extinções de subsidios, o livre comércio e etc etc etc.
Não existe nada melhor para os Eua, que de neoliberais não tem nada, mas praticamente obrigam os países aqui da Amédica Latrina a serem 'neoliberais'.
O resultado disso, com o FHC, foi um singelo aumento de 130 bilhões de dólares na divida externa, que até 94 era de 120. (esses 120 bilhões foi a divida que o país acumulou em 300 anos alias).

A consequência esta aí, geralmente em semáforos de praticamente todas as grandes cidades.

estranho dizer isso, já que geralmente associam 'neoliberalismo' primeiro com reagan nos eua e thatcher no reino unido, e depois com consenso de washington.

é estranho você dizer que o neoliberalismo de fhc produziu um aumento de 180 bilhões na dívida externa, já que entre os principais pontos do consenso de washington está a austeridade fiscal[1]. vc poderia então relacionar com a carga tributária, mas esta, no começo do governo fhc, era de menos de 30% do pib (hoje, você bem sabe, beira os 40%).
em que, exatamente, este 'neoliberalismo' se relaciona com a dívida externa?

[Luis Dantas]

Eu não vejo por que culpar quer a globalização, quer o neoliberalismo.

Pelo que entendi, os problemas são de base mesmo.  As soluções são dolorosamente óbvias e conhecidas: investimento e compromisso em infra-estrutura, principalmente educação.  Investimento e compromisso continuados, por décadas.

Isso infelizmente não elege muitos políticos, mas É a única solução que consigo ver.  Felizmente hoje em dia há um crescente movimento de criação e ação de ONGs que torna um tanto menos necessário que os governos atuem.

[Perseus]

O problema não é a Globalização, é o neoliberalismo.

Neoliberalismo é bom quando é dentro da casa dos outros, afinal, preve a extinções de subsidios, o livre comércio e etc etc etc.
Não existe nada melhor para os Eua, que de neoliberais não tem nada, mas praticamente obrigam os países aqui da Amédica Latrina a serem 'neoliberais'.
O resultado disso, com o FHC, foi um singelo aumento de 130 bilhões de dólares na divida externa, que até 94 era de 120. (esses 120 bilhões foi a divida que o país acumulou em 300 anos alias).

A consequência esta aí, geralmente em semáforos de praticamente todas as grandes cidades.

estranho dizer isso, já que geralmente associam 'neoliberalismo' primeiro com reagan nos eua e thatcher no reino unido, e depois com consenso de washington.

é estranho você dizer que o neoliberalismo de fhc produziu um aumento de 180 bilhões na dívida externa, já que entre os principais pontos do consenso de washington está a austeridade fiscal[1]. vc poderia então relacionar com a carga tributária, mas esta, no começo do governo fhc, era de menos de 30% do pib (hoje, você bem sabe, beira os 40%).
em que, exatamente, este 'neoliberalismo' se relaciona com a dívida externa?

Além de privatizações fraudulentas (obviamente, a fonte de dinheiro do PSDB para comrpar deputados no Congresso) ha principalmente o nivel absurdo de importações e quase nenhum investimento em areas necessárias.

O FHC privatizou a area de distribuição de energia, justamente aquela que dava mais lucro. Beleza. Sobrou para o governo, o que da preju: A de geração.

Janeiro de 99, o dólar sobe absurdamente. O Brasil exporta pouco, importa muito. qual é a solução adotada por FeHC?
Diminuir ainda mais os investimentos e manter/aumentar as exportações.

O resultado tai... em 3 anos, ele conseguiu acumular de divida externa o que o país levou mais de 300 anos para acumular.

É assim que o neoliberalismo se relaciona com nossa impagavel divida externa.... infelizmente.

[Agnostic]

Eu não vejo por que culpar quer a globalização, quer o neoliberalismo.

Eu também não.

Pelo que entendi, os problemas são de base mesmo.  As soluções são dolorosamente óbvias e conhecidas: investimento e compromisso em infra-estrutura, principalmente educação.  Investimento e compromisso continuados, por décadas.

Eu também acrescentaria a isso um rígido controle da taxa de natalidade, embora pessoalmente eu defenda a simples interrupção da natalidade.

Isso infelizmente não elege muitos políticos, mas É a única solução que consigo ver.  Felizmente hoje em dia há um crescente movimento de criação e ação de ONGs que torna um tanto menos necessário que os governos atuem.

De maneira universal e mais eficaz a única solução que consigo ver é a extinção voluntária da humanidade. Nossos sistemas econômicos corruptos e desumanos (onde se valoriza mais um pedaço de papel do que o componente humano) são os frutos da nossa própria "humanidade" e não a causa dos problemas. Onde houver seres humanos sempre existirão diversos tipos de crueldade, tanto e principalmente para com os  da própria espécie quanto para com o meio-ambiente de forma geral. Não me surpreende em nada o fato de haver tantas discrepâncias sócio-econômicas no mundo. Estamos inclusive num período relativamente muito bom, em comparação com algumas décadas atrás, quando o bicho-homem resolveu brincar de fazer guerra de forma mais séria. O que me surpreende é o fato de uma espécie tão medíocre como a nossa ainda não ter se extingüido.

[Claudio Loredo]

De maneira universal e mais eficaz a única solução que consigo ver é a extinção voluntária da humanidade. Nossos sistemas econômicos corruptos e desumanos (onde se valoriza mais um pedaço de papel do que o componente humano) são os frutos da nossa própria "humanidade" e não a causa dos problemas. Onde houver seres humanos sempre existirão diversos tipos de crueldade, tanto e principalmente para com os  da própria espécie quanto para com o meio-ambiente de forma geral. Não me surpreende em nada o fato de haver tantas discrepâncias sócio-econômicas no mundo. Estamos inclusive num período relativamente muito bom, em comparação com algumas décadas atrás, quando o bicho-homem resolveu brincar de fazer guerra de forma mais séria. O que me surpreende é o fato de uma espécie tão medíocre como a nossa ainda não ter se extingüido.

Agnostic,

Parabéns pelas palavras. Concordo com tudo que você falou e dá vontade de deixar de fazer algo por um mundo melhor quando vejo que o que você diz é a mais absoluta verdade. Infelizmente está é a realidade, fazer o que? Diante de todo esse sistema econômico perverso que nos rege e que deixa as pessoas alienadas e sem ação, só temos motivos para tristeza ou para a alienação e o descaso.