Autor Tópico: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"  (Lida 1631 vezes)

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"Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Online: 19 de Novembro de 2005, 20:29:43 »
O que pensam dessa frase de Roberto Campos?

"É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: 'anos de chumbo' ou 'rios de sangue'..."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Campos
http://pt.wikiquote.org/wiki/Roberto_Campos

Offline Rodion

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #1 Online: 19 de Novembro de 2005, 21:37:12 »
boa pra se levar em conta. é bom lembrar que, ainda que jango fosse trabalhista, não comunista, havia toda uma atmosfera de golpe. não fosse castelo branco, seria o pcb. não fosse o pcb, seria o brizola.. e assim vai indo. o professor marco antonio villa parece ter feito um bom trabalho a esse respeito.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Südenbauer

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #2 Online: 19 de Novembro de 2005, 21:38:00 »
Interessante, só não entendi por que colocaram um Interwiki para o artigo de Ernst Gellner como assunto relacionado a Roberto Campos.

Offline Perseus

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #3 Online: 19 de Novembro de 2005, 22:46:49 »
Imagino que ele faça uma referência ao ato de Getúlio, afinal, ou os militares tomavam o poder para conter o inexistente "risco Comunista" ja em 54, ou 64.
Teve que ficar para 64 devido à suicidade que cometeram em Getúlio...

O engraçado é que chegaram ao poder falando em democracia, todo aquele ar de felicidade de 'vencemos os comunistas'... Carlos Lacerda de champagne na mão e tudo o que tem direito... deu no que deu.
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Offline n/a

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #4 Online: 19 de Novembro de 2005, 23:32:35 »
Pois é, mas se não me engano em 66 o Lacerda deixou de apoiar a ditadura.

Gostaria de saber o que algum historiador, ou historiadora como a Rizk, pensa do assunto. Cadê a mulher?

Offline Luis Dantas

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #5 Online: 20 de Novembro de 2005, 02:31:00 »
É um tanto apressado achar que um ou outro fato histórico "fez toda a diferença".
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Rodion

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Re: Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue&
« Resposta #6 Online: 20 de Novembro de 2005, 03:39:36 »
Citação de: Ricardo M
Pois é, mas se não me engano em 66 o Lacerda deixou de apoiar a ditadura.

Gostaria de saber o que algum historiador, ou historiadora como a Rizk, pensa do assunto. Cadê a mulher?


a udn ajudou os milicos com o golpe, mas depois acabou desiludida. queriam o poder pra si, mas na hora do vamo ver os milicos deram um chega pra lá. é bom lembrar, aliás, que castelo branco pretendia fazer somente uma intervenção, algumas reformas, e depois entregar o poder aos civis. mas....
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ukrainian

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"Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #7 Online: 20 de Novembro de 2005, 23:53:52 »
As praias do Brasil ensolaradas,
    O chão onde o país se elevou,
    A mão de Deus abençoou,
    Mulher que nasce aqui tem muito mais amor.

    O céu do meu Brasil tem mais estrelas.
    O sol do meu país, mais esplendor.
    A mão de Deus abençoou,
    Em terras brasileiras vou plantar amor.

    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
    Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil.
    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!
    Ninguém segura a juventude do Brasil.

    As tardes do Brasil são mais douradas.
    Mulatas brotam cheias de calor.
    A mão de Deus abençoou,
    Eu vou ficar aqui, porque existe amor.

    No carnaval, os gringos querem vê-las,
    No colossal desfile multicor.
    A mão de Deus abençoou,
    Em terras brasileiras vou plantar amor.

    Adoro meu Brasil de madrugada,
    Nas horas que estou com meu amor.
    A mão de Deus abençoou,
    A minha amada vai comigo aonde eu for.

    As noites do Brasil tem mais beleza.
    A hora chora de tristeza e dor,
    Porque a natureza sopra
    E ela vai-se embora, enquanto eu planto amor.

rizk

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #8 Online: 21 de Novembro de 2005, 00:10:22 »
Mimi, valeu a lembrança :D

Eu do alto do meu vasto conhecimento acadêmico geral digo que VEJA BEM
:sotto:
A vida não é binária, não tem essa de rios de sangue ou anos de chumbo.

Além do fato de eu duvidar ALTAMENTE da possibilidade de implantação de regime comunista/socialista no Brasil então. A meu ver, foi uma escolha entre regimes democrático e ditatorial "apenas".

Offline Roberto

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Re: Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue&
« Resposta #9 Online: 21 de Novembro de 2005, 09:44:10 »
Citação de: rizk
Além do fato de eu duvidar ALTAMENTE da possibilidade de implantação de regime comunista/socialista no Brasil então. A meu ver, foi uma escolha entre regimes democrático e ditatorial "apenas".


Eu também duvido, mas não há como negar que temos hoje muito mais informações do que tinham os atores políticos à época (e a incerteza costuma levar a atitudes desastradas). Cabe também ressaltar que nossa história republicana, até então, tinha sido marcada por golpes de Estado (nossa República começou num golpe militar), e que Jango era herdeiro político de Getúlio Vargas, o mais longevo ditador brasileiro, o que põe em dúvida seu apreço pela democracia. E, finalmente, hoje também não vivemos mais o clima de Guerra Fria, que na década de 1960 atingiu seu auge.

Pode haver mais fatores a se levar em conta numa análise honesta do golpe de 1964, mas os que menciono acima eu julgo que sejam os mais relevantes.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Rodion

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #10 Online: 21 de Novembro de 2005, 13:11:27 »
Citar
[...]até então, tinha sido marcada por golpes de Estado (nossa República começou num golpe militar), e que Jango era herdeiro político de Getúlio Vargas, o mais longevo ditador brasileiro, o que põe em dúvida seu apreço pela democracia.


é bom lembrar do 'na lei ou na marra' ...
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

rizk

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Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #11 Online: 21 de Novembro de 2005, 13:43:00 »
Termos mais informações sobre as possibilidades não significa que as possibilidades não existissem à época, é até óbvio dizer isso. Mas é claro, colega, não posso negar, que quando a gente tem um histórico de golpe militar, qualquer ameacinha pode apertar o gatilho pra outra decisão do gênero.

Offline Roberto

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Re: Re.: "Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue&
« Resposta #12 Online: 21 de Novembro de 2005, 15:25:32 »
Citação de: rizk
Termos mais informações sobre as possibilidades não significa que as possibilidades não existissem à época, é até óbvio dizer isso. Mas é claro, colega, não posso negar, que quando a gente tem um histórico de golpe militar, qualquer ameacinha pode apertar o gatilho pra outra decisão do gênero.


Pois é. A coisa estava quente na época. Jango assumiu praticamente sem apoio depois do Jânio surtar e, segundo dizem, tudo o que poderia ter sido feito, primeiro, para anular, depois, para desestabilizar seu governo foi feito. Daí vem algumas declarações infelizes, como as do cunhado Brizola naquele comício, e o palco estava armado para o golpe.
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Offline Rodion

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"Anos de Chumbo" ou "Rios de Sangue"
« Resposta #13 Online: 21 de Novembro de 2005, 15:36:25 »
PRESIDENTE QUIS FORÇAR REFORMA, DIZ HISTORIADOR

Marco Antonio Villa, autor de perfil inédito de Jango, vê mitologia em torno de eventos ocorridos no Comício da Central do Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL

O Comício da Central do Brasil, que completa 40 anos hoje, foi o instrumento encontrado pelo presidente João Goulart para forçar o Congresso a aprovar suas reformas. Há toda uma lenda de que o Congresso era contra as reformas, mas o fato é que, até o dia do comício, Jango não tinha enviado nenhuma delas.
As afirmações são do historiador Marco Antonio Villa, 48, professor da Universidade Federal de São Carlos e autor de "Jango - Um Perfil", biografia a ser lançada até o final do mês pela editora Globo, e de "Vida e Morte no Sertão -História das Secas no Nordeste nos Séculos 19 e 20", entre outros.
A seguir, trechos da entrevista à Folha.
(SÉRGIO DÁVILA)

Folha — Em sua opinião, o Comício da Central precipitou o golpe?

Marco Antonio Villa — Criou-se uma mitologia sobre o comício, como se ele tivesse sido o elemento que levasse à queda de Jango. Não é verdade. Foi organizado como meio de o governo pressionar o Congresso a aprovar uma série de reformas, as quais o próprio governo ainda não havia enviado.
Tanto que no dia seguinte, um sábado, não aconteceu absolutamente nada. Jango assina o decreto do congelamento de aluguéis e vai para Brasília, onde, no domingo, Darcy Ribeiro, então chefe da Casa Civil, leva a mensagem presidencial ao Congresso, que iniciava o ano legislativo.
Ainda houve uma recepção no Palácio do Planalto naquela noite, em que Jango se encontra com Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara e na prática o vice-presidente, e Auro Moura Andrade, do Senado. O governo considerava a situação tão tranqüila que o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, anuncia viagem de duas semanas para os EUA.
Há outra lenda, de que o Congresso era contra as reformas, mas os deputados e os senadores só souberam do desejo e do teor das reformas por meio daquela mensagem presidencial lida no dia 15, portanto dois dias depois.
Folha — Mas o discurso de Jango não foi considerado incendiário?

Villa — Não, em termos políticos é absolutamente idêntico a uma série de discursos que ele vinha fazendo no mês de março, em visitas a universidades e guarnições militares. O radical naquela noite foi Leonel Brizola. Ali sim você tem alguém que quer fechar o Congresso Nacional.

Folha — E a presença ostensiva do Exército no ato?

Villa — Primeiro, servia para mostrar o suposto apoio militar a Jango, reforçado pelo comparecimento dos três ministros militares no palanque. Segundo, naquela época não se dissociava muito o prestígio político das armas, político forte era o que tivesse votos mas também o apoio militar..

Folha — E a ameaça do golpe, já estava no ar?

Villa — Vários grupos lutam pela hegemonia política naquele período. De um lado a direita, contra qualquer tipo de reforma. Do outro lado, os brizolistas e os comunistas, aliados a Jango, mas todos com projeto próprio.
Se você consultar o jornal "Panfleto" do começo de 1964, verá que o próprio Brizola dizia considerar Jango um indeciso. O Partidão era um aliado do presidente, mas havia também pequenos agrupamentos de extrema-esquerda, como o PC do B, criado dois anos antes, e a Polop.
O que une ambos os lados é que todos querem chegar ao poder por golpe, seja os militares, seja Brizola e mesmo Jango, no caso para continuar no poder. Tanto é assim que o golpe veio.

Folha - Em sua opinião, não havia outro desfecho possível?

Villa — Sim, se Jango tivesse buscado a hegemonia no Congresso. Era possível chegar a um acordo que viabilizasse por exemplo a reforma agrária. A proposta de Jango teria aprovação de parte do PSD e da chamada bossa nova da UDN. Houve uma pessoa naquele mês que lutou muito por uma solução negociada, uma pessoa-chave, San Tiago Dantas, deputado federal pelo PTB de Minas Gerais e ex-ministro (duas vezes) de Jango. Ele tenta buscar uma solução para o impasse com uma proposta reformista, um conjunto de projetos que tivessem viabilidade de ser aprovados pelo Congresso. Mas não é bem-sucedido. Ele era a prova de que era possível uma solução democrática, mas em 1964 a democracia tinha muitos inimigos.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/ditadura_13mar2004.htm

este mesmo ainda deu uma entrevista no mês passado à revista primeira leitura.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

 

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