Certa feita, um pacato cordeiro bebia água num córrego límpido e cristalino que havia na floresta.
Enquanto o gracioso animal matava a sede, a poucos metros dali, num botequim rio acima, um português defecava abundantemente nas águas, ao lado de sua mulher, que lavava as partes para a bacalhoada de domingo.
O português, vendo o cordeiro, interpelou-o:
- Ó, animal! Por que estás a sujaire a água que vou usar para fazeire a laranjada?
Ao que o manso cordeiro respondeu humildemente:
- O senhor me perdoe, mas a acusação que me faz não tem o menor fundamento, segundo as leis da lógica.
- Lógica? Que porra de lógica é iesta?
- Por exemplo: o senhor tem aquário?
- Tenho - respondeu o lusitano.
- Então, pela lógica, podemos deduzir que o senhor deve ter crianças em casa. Se o senhor tem crianças em casa, então, pela lógica, o senhor deve ser casado. Se o senhor é casado, é sinal de que gosta de mulher. Então, pela lógica, se o senhor gosta de mulher, o senhor não é viado. Certo?
- É isto mesmo! Antão isto é que é lógica? Que maravilha! - O português parou, coçou a cabeça, e perguntou ao humilde e cartesiano animal:
- Diga-me lá uma coisa: tens aquário?
- Não - respondeu o ovino.
- Antão és veado!
E comeu o cordeiro.