Tópico: Tucanos revelam estilos diferentes de administrar

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Tucanos revelam estilos diferentes de administrar
Valor Econômico    
29/11/2005   

Os dois postulantes do PSDB paulista à Presidência da República impuseram formas distintas de governo em São Paulo. O prefeito José Serra é tido como centralizador das ações dos membros do governo. Cobra resultados diariamente e tenta manter-se inteirado da administração das diferentes secretarias e subprefeituras. Alckmin delega tarefas e é descrito como discreto, na exposição de idéias e na cobrança.

Nos primeiros meses frente à Prefeitura de São Paulo, Serra pôs fim ao processo de descentralização da gestão iniciada no governo de sua antecessora, Marta Suplicy (PT), e chamou para si as coordenadorias de educação e de saúde distribuídas em subprefeituras. A oposição na Câmara dos Vereadores ataca o estilo. "A descentralização parou e ele concentrou o poder. Serra governa por decretos", diz o vereador Paulo Teixeira (PT).

No início da gestão, em março, chegou a repreender publicamente seus funcionários e discutiu com um manifestante, que pedia reajuste salarial, durante a inauguração de um posto de saúde. Entre medidas consideradas conservadoras, Serra propôs o fechamento de bares na periferia às 22h, construção de rampa "anti-mendigo" em passagem subterrânea e retirada de moradores de rua do centro da capital. No inverno, exigiu que os moradores de rua de São Paulo que não quisessem dormir em albergues e abrigos da prefeitura em noites com temperatura abaixo dos 10º C assinassem um termo de responsabilidade.

No governo de Geraldo Alckmin, por outro lado, a terceirização de serviços dominou o Estado por meio de organizações sociais, nas áreas de saúde e cultura. Entre seus interlocutores, Alckmin é considerado pouco centralizador, cauteloso e conciliador. Vice de Mário Covas, o tucano assumiu o Palácio dos Bandeirantes em 2001 com a morte do governador e prometeu não fazer grandes mudanças. Seguiu a promessa nos anos seguintes de governo, depois de ter ganho a eleição de 2002 e sempre faz referências a Covas.

"Alckmin é mais discreto em sua atuação e no fim de seu governo tem demonstrado interesse em estabelecer contatos internacionais", diz o cientista político Rui Tavares Maluf. O perfil de Serra, diz, lembra o de Covas. "Ele tem visão macro, mas quer saber dos detalhes. Ele chama a si as decisões. Ele conhece bem a área financeira, tenta ver o que está acontecendo. Já o Alckmin lembra mais Franco Montoro e Fernando Henrique. Ele delega mais funções aos outros, quer eficiência, mas não é tão rígido como Serra". Desde que assumiu, Alckmin enfrentou greves no ensino superior, na rede de saúde e no sistema prisional. No ano em que demitiu 1,7 mil funcionários da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem), o órgão teve 44 rebeliões, das 108 enfrentadas durante a gestão.

Serra não tem maioria na Câmara, mas conseguiu aprovar a reforma na Previdência e mudanças na cobrança de ISS. Para Alckmin, as dificuldades na Assembléia foram poucas, a não ser neste ano durante a escolha da mesa diretora, quando seu candidato foi derrotado. O vereador José Aníbal, pré-candidato do partido ao governo do Estado, diz que as circunstâncias em que ambos assumiram o governo moldaram seu estilo. "São situações muito distintas o que cada um encontrou: Alckmin assumiu de Mário Covas um Estado em ordem e Serra assumiu com as finanças desorganizadas".

O ex-secretário da gestão de Marta Suplicy, Marcio Pochmann vê o conservadorismo fiscal como ponto em comum dos dois tucanos. "O governo dos tucanos em São Paulo é conhecido pelo ajuste fiscal e eles pregam a seriedade. Já a gestão de Marta ficou conhecida como governo social, com ações voltadas à periferia", analisa. (CA)

http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=236412