Dois pesquisadores brasileiros, o biólogo Mark Hubbe e Walter Neves, ambos da Universidade de São Paulo (USP), publicam nesta terça-feira o maior estudo de fósseis já realizado sobre o povoamento das Américas. O estudo está publicado na revista PNAS, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Análises morfológicas de 81 crânios do sítio arqueológico de Lagoa Santa, em Minas, confirmam a tese de que o continente foi ocupado por duas migrações de populações de morfologia distinta: a primeira, cerca de 14 mil anos atrás e a segunda, 3 mil anos depois.
Entre os crânios estudados está a famosa Luzia, considerada o fóssil mais antigo das Américas - datado entre 11 mil e 11,5 mil anos.
“Nunca houve um trabalho com um número tão grande de crânios", afirma Hubbe. "Esse é o grande diferencial que dá credibilidade ao estudo."
As análises morfológicas indicam que a aparência craniofacial dos primeiros americanos - aqueles que vieram na primeira migração pelo Estreito de Bering - era muito mais semelhante à dos atuais africanos e australianos do que à dos atuais asiáticos - que teriam originado a segunda migração.
Os cientistas deixam claro que a origem africana ou australiana não implica uma travessia marítima: ambas as migrações teriam ocorrido pelo Estreito de Bering, onde, no último período glacial, havia uma enorme faixa de terra entre a Ásia e as Américas (atuais Rússia e Estados Unidos).
Os crânios representam vários períodos de ocupação das cavernas de Lagoa Santa, ao norte de Belo Horizonte. A maioria tem entre 8 mil e 8,5 mil anos, mas alguns - como Luzia - têm mais do que isso. O fósseis foram coletados ao longo de mais de 150 anos, desde as primeiras escavações feitas por Peter Lund, em 1842.
Fonte: Estadão
http://www.estadao.com.br/ultimaspdf/noticias/2005/dez/12/219.htm