Bush acumula prejuízos políticos e tem menos para investir em 2006Caio Blinder
de Nova York
Quando tomou posse pela segunda vez no começo do ano, o presidente George W. Bush disse que tinha capital político e iria gastá-lo. Não houve bancarrota, mas há prejuízo para contabilizar. Bush perdeu muito capital ao longo do ano e recuperou um pouco agora nas últimas semanas.Os americanos se desencantaram definitivamente com a situação no Iraque e consideram a invasão um erro. É verdade que hoje a opinião pública pressiona por uma retirada das tropas americanas, mas está consciente que não deve ser uma debandada. Bush tem um pouco de crédito por ter estimulado a construção de democracia em um país-chave do Oriente Médio e por ter abandonado o triunfalismo nas suas avaliações.
Em 2006, o Iraque, claro, continuará sendo o desafio crucial para Bush, a questão que no final das contas irá definir o seu legado. Para o ano novo, o presidente também deverá arrastar outras agonias que são as crises nucleares do Irã e da Coréia do Norte.
Reformas
Para trás, Bush deixa grandes ambições domésticas. Seu projeto no segundo mandato era se dedicar a reformas caseiras, como o sistema de previdência social. As resistências enormes até no Partido Republicano enterraram a idéia de obras monumentais.
Na economia, o crescimento americano em 2005 foi decente, na faixa dos 4%, e ajudou Bush a estancar sua hemorragia nas pesquisas. Mas existe um cenário de incertezas no próximo ano, sempre com o temor do estouro da bolha imobiliária.
Há também alívio, pois a crise do petróleo não teve um impacto devastador como se temia, embora a alta dos preços da gasolina tenha incomodado o bolso dos consumidores.
Outro motivo de alívio para Bush e seus compatriotas: o terror não atacou por aqui. As vítimas estiveram em outras partes do mundo, como Londres. No lugar do terror, foi o ataque da natureza.
Katrina
As imagens de Nova Orleans após a passagem do furacão Katrina são inesquecíveis, assim como o desastre que foi o papel das autoridades nas horas iniciais da tragédia.
A incompetência e a lentidão do governo Bush para reagir a um desastre natural devassaram um cenário de arrogância de uma administração que se vende como incomparável para lidar em emergências.
O desgaste da Casa Branca se agravou com o vexame da indicação de Harriet Miers para uma vaga da Corte Suprema. A iniciativa gerou uma insurreição da base conservadora em razão da falta de qualificação da indicada.
Sucessivos escândalos e casos de corrupção fizeram com que o presidente atingisse em novembro seu mais baixo índice de aprovação em cinco anos de governo.
Até agora a oposição democrata não soube capitalizar o desencanto nacional com os republicanos e nada garante que a minoria se torne maioria com as eleições para o Congresso em novembro próximo.
As coisas estão ruins para o presidente, pois poderiam estar piores com tantos reveses acumulados. Ele estará entrando em 2006 com um índice de aprovação abaixo de 50%.
Janeiro será marcado pelas audiências no Senado para a confirmação do juiz Samuel Alito para a vaga na Corte Suprema. É um nome que gera controvérsias, mas não espanto, como foi o caso de Harriet Miers. Tudo indica que haverá a aprovação, em uma vitória importante para Bush.
Mas o próximo ano promete muitos duelos entre o Executivo e o Legislativo. Existe desconforto no Congresso, mesmo entre integrantes da maioria republicana, com os pendores de Bush para exercer uma presidência imperial, e na surdina, em nome da segurança nacional.
Em 2005, ficou claro que acabou um consenso patriótico que se forjou nos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro de 2001. Diante de Bush há um cenário de muitas dificuldades em 2006 e ele tem bem menos para investir devido aos desperdícios registrados este ano.