Pastor evangélico acusado de estupro
Adailson Santos teria violentado uma adolescente na Universal de Alagoinhas. Ele foi autuado mas a Justiça relaxou a prisão
DEODATO ALCÂNTARA
O pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) Adailson Silva dos Santos, 19 anos, foi preso em flagrante por acusação de ter estuprado uma adolescente de 16 anos no interior da igreja, em Alagoinhas, a 109 quilômetros de Salvador. Mas ele passou apenas dois dias detido, pois foi libertado anteontem à tarde, depois que deputados ligados à Iurd estiveram na cidade, onde o crime está sendo mantido em sigilo.
O estupro, segundo registros e depoimento da vítima e familiares, ocorreu por volta das 6h30 de segunda-feira, horário que a estudante costumava ir à igreja.
A jovem contou que orava e Santos se sentou ao seu lado, procedimento que seria comum aos pastores e obreiros evangélicos. “Eles são dedicados, principalmente quando há pouca gente na igreja”, afirma a mãe da vítima, uma dona-de-casa evangélica, viúva e que cuida de uma extensa prole na qual a vítima é caçula.
A garota disse que o religioso a levou a uma sala, com o pretexto de “fazer aconselhamento”. No cômodo haveria uma mesa e pilhas de jornais da instituição.
Ele teria fechado a porta e a bloqueou com a mesa, em seguida falado à estudante de suas intenções. “Minha filha não aceitou e ele passou a beijá-la no pescoço e a tirar suas roupas”, relata a viúva, afirmando que a jovem gritou, mas ninguém apareceu em socorro.
A estudante relatou que após o crime foi ameaçada de morte caso fizesse a denúncia e, ao deixar a sala, viu que havia apenas uma idosa na igreja – assim mesmo distante da sala. A jovem contou que correu chorando e chegou a ser interceptado por pessoas na rua. Um motorista de ônibus, seu conhecido, a levou para casa, mas ela se negou a revelar o ocorrido. “Só contou a mim, quando eu a vi chorando. Decidi logo ir à polícia”, relata a mãe.
Na mesma manhã, o pastor foi detido na igreja e autuado em flagrante por estupro pelo delegado José Augusto Saldanha. Familiares da vítima afirmam que no mesmo dia, também na terça e quarta-feira, pastores e políticos ligados à Iurd estiveram na delegacia, inclusive dois deputados – um deles o federal Reginaldo Germano. Anteontem, no fim da tarde, a Justiça local relaxou a prisão do pastor, que foi libertado.
Santos teria chegado há pouco tempo na cidade, transferido da Catedral da Iurd, da capital, segundo a delegada titular Lélia Raimundi David. “Ele negou ter cometido o crime, mas a jovem foi convincente e suas afirmações coincidiram com o que a perícia coletou no local, inclusive uma roupa ’suja’ com material que parece ser esperma. Ela havia contado que o rapaz usou a roupa para limpar o esperma que caiu no piso”, relatou, afirmando que solicitou exame de DNA no material. O deputado Reginaldo Germano foi procurado por A TARDE, mas nenhuma ligação foi atendida.
SEM APOIO – Segundo a viúva, sua filha está depressiva e quase não conversa. “Fica o tempo todo no quarto”, conta, acrescentando que nenhum ajuda psicossocial foi oferecida pela polícia. “Estamos disposto a lutar por justiça. Ele se mostrou muito frio. Acreditamos que já fez outras vítimas, que não o denunciaram”, disse um dos irmãos da estudante.
A viúva informou que apenas sua filha freqüentava a Iurd. “Eu, duas filhas e um filho freqüentamos a Assembléia de Deus”, acrescentou. A viúva se queixou da polícia ter mantido sigilo da ocorrência. O coordenador regional de polícia, delegado Celso Bezerra, foi questionado por A TARDE. “Ocorrências de crimes como estupro, atentado violento ao pudor ou agressões a mulheres, por exemplo, só os delegados são autorizados a dar informação, para evitar constrangimento às vítimas”, disse.