Caros colegas:
Tive que fazer para a matéria "História do Jornalismo", da faculdade, um pequeno resumo de alguns trechos do livro "Notícias do Planalto", de Mário Sérgio Conti.
Para quem se interessa por jornalismo político, é um excelente livro.
O livro aborda os diversos aspectos da campanha presidencial de Fernando Collor e sua relação com a mídia. Também aborda vários temas da política nacional, em relação com a cobertura jornalística.
Aqui vai o trabalho:
Rede Globo:
Nos trechos sobre a Rede Globo, é dado destaque ao fato de que a primeira aparição de Fernando Collor de Mello na emissora foi em um Globo repórter, aonde ele aparecia como governador do Estado de Alagoas e “caçador de Marajás”. Este foi um termo que marcou a trajetória política de Collor, que afirmava combater os abusos no serviço público do Estado, como a contratação de parentes de políticos em repartições.
A idéia de transformá-lo em tema de um Globo repórter foi de Alberico Souza Cruz, diretor de telejornais da Globo em 1987. Na época, a Central Globo de Jornalismo era comandada por Armando Nogueira e tinha um orçamento de mais de 40 milhões de dólares.
A Globo sempre evitara problemas com a ditadura militar. Por exemplo, se ocorria um congestionamento no Rio de Janeiro, omitia o fato de que este tinha sido causado por uma passeata de estudantes contra a ditadura.
Outro exemplo disto foi quando houve o protesto pedindo eleições diretas, em 1984 , na Praça da Sé , em São Paulo. A Globo noticiou o fato apenas como aniversário da Cidade de São Paulo (e era), e ignorou o conteúdo da manifestação, que contou com diversos políticos como Ulysses Guimarães, Lula e Fernando Henrique Cardoso.
A Globo foi claramente a favor da eleição de Fernando Collor de Mello. No dia seguinte ao último debate entre os candidatos Lula e Collor, Roberto Marinho (presidente das Organizações Globo) achou que a edição do debate que tinha ido ao ar no “Jornal Hoje”, passada à tarde, havia sido favorável à Lula. Roberto Marinho mandou refazer a edição do debate, com os melhores momentos de Collor. Lula de fato parecera mais nervoso e tenso durante o debate, mas a edição do debate que ira ao ar no “Jornal Nacional” do dia seguinte fora de fato mais favorável a Collor.
Fernando Collor de Mello foi o escolhido na eleição de 1989 por 35 milhões de eleitores, 50% dos votantes. Luis Inácio Lula da Silva conquistou 31 milhões de eleitores, 44%.
Revista “Veja”:
Nos trechos sobre a Revista Veja na Parte I do livro, podemos destacar a primeira reportagem da revista com Collor. Na foto da matéria, sugerida por Elio Gaspari, editor adjunto e responsável pela cobertura política da revista, aparecia Collor na frente do Palácio do Planalto, com a declaração de Collor: “ Alagoas está com os bolsos vazios”. A declaração se referia ao fato de que Collor alegava que o Governo do presidente Sarney destinava poucos recursos ao seu Estado, Alagoas, por simples perseguição política. Tal perseguição se veria ao fato de que Collor era contra o mandato presidencial de cinco anos, que Sarney desejava na época.
Também se destaca neste trecho do livro a história da Veja, com fatos curiosos. Temia-se que a revista sofreria censura ao publicar uma reportagem com Fidel Castro, nos anos 70. A censura curiosamente não veio, já que o governo militar poderia alegar que a Veja estava fazendo propaganda comunista.
Por divergências com Roberto Civita (dono do grupo abril, Editora da Revista Veja), Elio Gaspari deixou a revista em 1988. E a Veja cobriu a campanha presidencial de 1989 sem o seu melhor profissional na área política.
A Revista Veja sempre se interessou em uma linha editorial que alavancasse as vendas constantemente. A revista teve uma cobertura ligeiramente favorável a Collor enquanto ele era governador de Alagoas.
Jornal “Folha de São Paulo”:
Podemos destacar as visitas do então candidato Collor às redações da Folha de São Paulo. Ele se sentiu tratado de forma descortês em duas destas visitas. Na primeira, nem Octavio Frias de Oliveira, dono do jornal em sociedade com Carlos Caldeira Filho, nem o diretor de redação, Octavio Frias Filho, estavam presentes.
Na segunda visita, Octavio Frias Filho e o repórter especial Clóvis Rossi recepcionaram Collor e seu acompanhante, o empresário Olacyr de Moraes, amigo de Octavio Frias de Oliveira.
No final do Encontro, Frias Filho achava que Collor era um político como tantos outros que visitavam o jornal e recitavam chavões e frases ocas. No início do ano, num seminário interno da Folha que discutiu a cobertura da campanha presidencial, o texto que serviu de base para as discussões notava a falta de estofo de Collor. Com base nas discussões do seminário, Frias Filho e o pai decidiram uma linha de cobertura: colocar um repórter colado em cada candidato, e tentar descobrir o máximo de cada um deles. Na prática, era cada candidato por si e Folha contra todos.
O repórter que seguiria Collor era Ricardo Amaral. No baixo clero do funcionalismo do congresso, deparou-se com uma imagem diversa do governador alagoano. Desde estranhos destinos de verbas à imagem de ladrão e corrupto. Em sua primeira reportagem sobre Collor, Amaral escreveu uma coluna interpretativa, sustentando que Collor tinha algo de bonapartista: não estava ligado a partidos e falava direto às massas, sem intermediários. Quando membros da equipe de Collor o procuraram para observar que suas matérias se destacavam da hostilidade da Folha contra Collor, o repórter explicou: “Eu sou eu, eu não sou a Folha”.
A “hostilidade” estava presente nas matérias que foram feitas em Maceió por Clovis Rossi, Gilberto Dimenstein e Elvira Lobato.
A Folha também publicou matérias sobre o assassinato de José Kairala por Arnon de Mello, sobre o mau uso das verbas de representação do governador, sobre as suas viagens constantes para fora de Alagoas quando devia governá-la. As reportagens que mais irritaram a equipe de Collor foram as de Elvira Lobato.
É interessante notar que entre a Rede Globo, O jornal o Globo ,a Revista Veja e a Folha de São Paulo, a Folha teve a cobertura menos favorável à imagem de Collor.
Jornal “O Globo”:
Em um editorial de 4 de Abril de 1989, Roberto Marinho assinou um editorial em O Globo defendendo e apoiando a candidatura de Fernando Collor de Mello. Curiosamente, a maioria dos 520 jornalistas de O Globo simpatizava com as candidaturas de Lula e Brizola.
O dono de O Globo foi dos primeiros jornalistas a se dar conta da interligação entre imprensa e tecnologia. Em 1944, fundou a Rádio Globo e obteve uma concessão para FM, antes mesmo que houvesse aparelhos receptores no Brasil.
Na eleição de 1989, Roberto Marinho ficou satisfeito ao ver Collor liderando as pesquisas, pois preferia ele à Lula ou Brizola. Chegou a negar em entrevista a Revista Veja que a Globo estivesse apoiando Collor.
Um dos filhos de Roberto Marinho, João, dizia ao pai para ter cautela com Collor, pois este se achava acima do bem e do mal.
Collor também tinha cautela em relação a Roberto Marinho, mesmo depois do empresário apoiá-lo publicamente. Reclamava a amigos que Roberto Marinho só veio a apoiá-lo quando ele estava liderando as pesquisas de intenção de voto. Com o tempo, Collor foi adquirindo confiança no dono das Organizações Globo.
Quando sentia que o noticiário lhe era desfavorável, o candidato procurava o dono do Globo e lhe dizia: “Doutor Roberto, fale para o seu pessoal me tratar bem”. Roberto Marinho costumava perguntar: “ Mas não estão te tratando bem? Você precisa ser bem tratado”.
Quando alguma matéria era excepcionalmente boa, Collor lhe falava: “Que bela matéria que o senhor fez ontem”.
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