CATIA SEABRA
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Candidato declarado à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou ontem a distribuição de 4,7 milhões de kits de material escolar. Apresentado em quatro modalidades, o kit será entregue em mochilas azuis, cor predominante na bandeira do seu partido. Em cada item, o slogan do governo do Estado -"Respeito por você"- e o nome do programa: "Aluno presente".
Em 12 anos de administração tucana, é a primeira vez que o governo envia material diretamente aos alunos. O custo é de R$ 93,5 milhões, dos quais R$ 39,2 milhões saídos dos cofres do Estado.
O restante do investimento veio, na prática, de recursos federais: R$ 39,3 milhões são fatia do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef). Registrados como recursos próprios, outros R$ 15 milhões são rendimentos de aplicações com dinheiro do Fundef.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação, o governo optou pelo azul porque seria a melhor escolha entre as que apresentavam menor custo: magenta (vermelho), ciano (azul) e amarelo.
Embora a medida, de grande visibilidade, tenha sido adotada num ano eleitoral, Alckmin negou que seja essa sua motivação. "Não tem a ver com o ano eleitoral. Estamos dando passo a passo", reagiu ele, citando suas ações.
Alckmin afirma que o governo destinava recursos para compra de material para alunos carentes. De 2003 a 2005, foram repassados às escolas R$ 131,9 milhões, sendo R$ 43 milhões no ano passado.
O governador reconhece que, até 2005, era menor o número de alunos beneficiados -cerca de dois milhões, segundo o secretário Gabriel Chalita (Educação). Para 2006, a antiga dotação (R$ 54 milhões) será mantida, mas para comprar material complementar. No discurso para pais e professores em Itaquera, Alckmin disse que, quando criança, o que mais gostava era do caderno novo.
Para justificar o novo gasto, ele deu a entender que o programa substituirá antigos, como o de formação de professores. "[A] cada ano, a gente vai avançando. [Em] um ano a gente pagou a faculdade de pedagogia. Acabou. Todo mundo já está com faculdade. No outro ano, a informatização das escolas. Não tem mais que comprar computador", afirmou.
A Secretaria da Educação nega que esses programas tenham sido afetados. O orçamento da área é de R$ 11,9 bilhões neste ano, R$ 2,1 bilhões a mais do que em 2005.
O custo do kit varia de R$ 17,01 (1ª a 4ª série) a R$ 20,61 (5ª a 8ª) -o que vai para escola ficou em R$ 82,37. Os pacotes de materiais oferecidos pela Prefeitura de São Paulo aos alunos custam, em média, R$ 28, mas possuem mais itens, como papel sulfite.
O material escolar da rede estadual será enviado por correio às escolas até 13 de fevereiro, quando começam as aulas.
Alvo de críticas por ter optado pelo vermelho - símbolo petista - como cor dos uniformes da capital, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) disse que fica "contente com a iniciativa". Só que "demorou para acontecer e veio depois do anúncio da candidatura do governador à Presidência".
"Mas as boas idéias não são monopólio de ninguém, e toda iniciativa tomada para promover a inclusão social e a educação conta com meu apoio. Assim foi como a decisão do prefeito [José] Serra] de construir CEUs e assim é para a decisão do governador Alckmin."
Ao assumir, Serra adotou a cor azul nos uniforme, alegando ter feito uma pesquisa entre alunos.
Para o presidente da Apeoesp (sindicato dos professores do Estado), Carlos Ramiro, a entrega dos materiais escolares é positiva. "Mas deveria ser feita sempre, e não apenas em ano de eleição."
Na entrega simbólica dos kits, Chalita disse que o governo coloca a "educação como prioridade. Não no discurso. Mas no recurso". Ele anunciou um investimento de R$ 100 milhões na compra de livros, o dobro do ano passado.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2001200607.htm