Autor Tópico: Hamas ganha  (Lida 2839 vezes)

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Pug

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Hamas ganha
« Resposta #25 Online: 31 de Janeiro de 2006, 11:19:30 »
Citação de: Roberto
Citação de: Pug
Considero um erro ter-se criado Israel, pior é corrigir esse erro eliminando-o.


Realmente é estranho isso de se criar um Estado no Oriente Médio pra abrigar uma minoria religiosa predominantemente européia, mas o fato é que já foi criado e não há muito o que se possa fazer quanto a isso. Israel existe desde 1948, e desde o primeiro dia da sua existência vive sob a ameaça dos seus vizinhos muçulmanos. Quanto aos crimes de Israel, é preciso lembrar que os israelenses lutam para continuar existindo, lutam pela sua sobrevivência. Se não justifica (no sentido de tornar justos) os excessos cometidos pelos israelenses, os tornam ao menos algo compreensível.




Idem para os palestinianos.
Quem lhes dá o direito a existir, e terem uma vida digna?
Tem até quem negue que existam :x

Offline Barata Tenno

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Re: Re.: Hamas ganha
« Resposta #26 Online: 31 de Janeiro de 2006, 11:21:40 »
Citação de: Pug
Citação de: Lord Barata
Vc ia querer voltar pra um país onde mataram toda sua familia num forno?Eu nw........



E isso dá o direito de ir ocupar a terra dos outros?


Muitos judeus ficaram na europa e outros foram para os EUA.


Conheci um judeu polaco que vivenciou a shoa e depois a criação de Israel, acabou por mudar-se para França, não apreciou os metodos usados para a criação de Israel. Já a esposa era a favor do estado de Israel.


Quanto a "Terra dos Outros" ai a gente vai ter que voltar a trocentos anos no tempo com aqueles argumentos de que ali era a Judéia e tal....
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Barata Tenno

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Re.: Hamas ganha
« Resposta #27 Online: 31 de Janeiro de 2006, 11:22:32 »
E depois, os dois lados ja quebraram tantos tratados de paz que na verdade eu acho que eles gostam mesmo de guerra.......
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Offline uiliníli

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Re: Re.: Hamas ganha
« Resposta #28 Online: 31 de Janeiro de 2006, 11:53:10 »
Citação de: Tarcísio
Durante uma semana direta passou na TV E um documentário sobre as maldades que o povo Israelense faz com os palestinos há 60 anos. Talvez se você, humilde, tivesse pessoas com fuzil desapropiando sua casa e demolindo-a junto com a sisterna que você demorou 1 ano e meio para erguer do chão, digo talvez, você apoiaria o Hamas.


Eu não apóio nenhuma organização terrorista que mata pessoas inocentes. E o que os israelenses fizeram há 60 anos não justifica uma revanche hoje, o Hamas chegou 60 anos atrasado. Além do mais, em compromentemento com a paz Israel recentemente foi forçada a cortar da própria carne desapropriando casas de judeus na Faixa de Gaza, ou você se esquece dessa iniciativa?

Pug

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Hamas ganha
« Resposta #29 Online: 31 de Janeiro de 2006, 13:59:05 »
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Quanto a "Terra dos Outros" ai a gente vai ter que voltar a trocentos anos no tempo com aqueles argumentos de que ali era a Judéia e tal....



Abraão nasceu no que hoje se chama Iraque.

os hebreus invadiram a terra dos cananeus, filisteus (palestinos :D )...

romanos conquistaram-na e chamaram-na de Palestina...

O argumento histórico a mim não diz nada, porque nesse caso tem muita nação com direito a reclamar por esse mundo fora...


por mim toda a terra poderia chamar-se Israel, só quero paz e uma vida digna para todos...vou esperar sentado isso ocorrer :(

Offline Roberto

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Hamas ganha
« Resposta #30 Online: 31 de Janeiro de 2006, 14:02:28 »
Citação de: Pug
Idem para os palestinianos.
Quem lhes dá o direito a existir, e terem uma vida digna?
Tem até quem negue que existam :x


Coisas do Oriente Médio. Recebi, numa lista de discussão, a informação de que 77% dos eleitores do Hamas querem um acordo de paz com Israel. Por que diabos votaram no Hamas então? M'explica isso, Pug!
Se eu disser ou escrever hoje algo que venha a contradizer o que eu disse ou escrevi ontem, a razão é simples: mudei de idéia.

Pug

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Hamas ganha
« Resposta #31 Online: 31 de Janeiro de 2006, 14:05:54 »
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Eu não apóio nenhuma organização terrorista que mata pessoas inocentes



Penso que apoiamos todos essa posição, mas o que dizer dos assassinatos israelitas?

Terrorismo ou não?


AH! já sei vitimas colaterais.


Hamas, Brigadas de alqasa, jihad islamica, cada vez que cometem um atentado suicida faz-me desperar por todas as vitimas, é uma politica estupida e sem resultados, no final Israel irá disparar misseis indiscriminadamente matando por sua vez outros inocentes....

neste conflito só inocentes são vitimas dos governantes nojentos de ambas as partes.

Israel/Palestina é um bom local para os EUA intervirem  :)

Offline uiliníli

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Re.: Hamas ganha
« Resposta #32 Online: 31 de Janeiro de 2006, 14:38:58 »
Também não aprovo todas as ações de Israel. Porque esse maniqueísmo todo de "ou está conosco ou está contra nós!" ? Não posso ser contra o terrorismo palestino e ao mesmo tempo ser contra certas políticas israelitas? A minha vontade é a de que o Estado Palestino seja estabelecido e coexista pacificamente com Israel, para mim tanto os terroristas quanto os políticos mais linha-dura de Israel atrapalham mais do que ajudam nesse objetivo.

Pug

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Hamas ganha
« Resposta #33 Online: 31 de Janeiro de 2006, 18:27:07 »
Defendo os dois, só desvio um pouco mais para os Palestinianos por sentir que são os mais desamparados.


realmente condenar ataques palestinianos é natural, para mim claro.

Pug

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Hamas ganha
« Resposta #34 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 07:46:24 »
Israel reconhece a Palestina nas fronteiras de 1967?

R: Não

Offline Rodion

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Re: Re.: Hamas ganha
« Resposta #35 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 16:06:35 »
Citação de: Pug
Citação de: Lord Barata
Vc ia querer voltar pra um país onde mataram toda sua familia num forno?Eu nw........



E isso dá o direito de ir ocupar a terra dos outros?


Muitos judeus ficaram na europa e outros foram para os EUA.


Conheci um judeu polaco que vivenciou a shoa e depois a criação de Israel, acabou por mudar-se para França, não apreciou os metodos usados para a criação de Israel. Já a esposa era a favor do estado de Israel.


Lembrar ainda que muitos são originários de países que não tiveram fornos...


por que a terra era dos palestinos? afinal, aquilo era uma província do império otomano até a primeira guerra(já no final do século passado tinha começado a imigração de judeus pra lá). depois passou para a mão dos ingleses. israel foi criado, aliás, pra apaziguar os ânimos, já que havia muitos judeus, ainda que fossem minoria.
apesar disso, se você ainda quiser considerar invasão, não importa. what's done is done. se for pra pensar em de quem aquela terra deveria ser, e ao invés de voltarmos 50 ou 100 anos voltássemos 2 mil, então... bem, os invasores seriam os palestinos de agora.
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Pug

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Hamas ganha
« Resposta #36 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 17:28:06 »
Bruno é o que tu quizeres, porque isso não muda a história.


Que se dane a shoa, o que já foi, já foi, porque perseguir quem o nega?



Quero dignidade para o povo palestiniano, se isso a ti não diz nada, o que posso fazer?

Obviamente que nada!

nem isso interessa muito para o caso.

A Paz é precisa, que ambas as partes se reconheçam e prontos estará terminado o confito absurdo.

Pug

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Hamas ganha
« Resposta #37 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 17:29:05 »
Lembrei o recomhecimento porque hoje existe quem negue a mera existência de Palestinianos.

Offline Perseus

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Re.: Hamas ganha
« Resposta #38 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 21:34:03 »
A própria divisão territorial feita pela ONU foi trágica por si só.  Depois disso, foi desgraça atrás de desgraça.
É fato que Israel aumentou consideravelmente seu território depois das guerras, mas a intolerência palestina não a espaço para conversas, tanto é que is líderes palestinos que tentaram ir para o caminho pacifico, foram assassinados.

Enquanto houver esta intolerância por parte da turma do islã, conversar será perder tempo.

O problema la pelo jeito só vai se resolver quando um os lados for aniquilado...
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Offline Rodion

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Re.: Hamas ganha
« Resposta #39 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 21:51:49 »
Hamas está preparado para uma paz justa

Khaled Meshaal *

É amplamente reconhecido que os palestinos estão entre os povos mais educados e politizados do mundo. Quando eles foram às urnas na quarta-feira passada estavam perfeitamente cientes do que estava em jogo e os que votaram no Hamas sabiam o que ele defendia. Eles escolheram o Hamas por sua promessa de jamais desistir dos legítimos direitos do povo palestino e sua promessa de empreender um programa de reformas. Não faltaram vozes para adverti-los, local e internacionalmente, a não votarem numa organização taxada de terrorista pelos EUA e a União Européia porque um direito democraticamente exercido dessa maneira lhes custaria a ajuda financeira oferecida por doadores estrangeiros.
No dia em que o Hamas venceu as eleições democráticas palestinas, as principais democracias do mundo falharam no teste da democracia. Em vez de reconhecer a legitimidade do Hamas como representante livremente eleito do povo palestino, aproveitar a oportunidade criada pelo resultado para respaldar o desenvolvimento de uma boa governança na Palestina e buscar meios de encerrar o derramamento de sangue, os EUA e a UE ameaçaram o povo palestino com uma punição coletiva por exercer seu direito de escolher seus representantes parlamentares.
Estamos sendo punidos simplesmente por resistir à opressão e lutar por justiça. Os que ameaçaram impor sanções sobre nosso povo são as mesmas potências que iniciaram nosso sofrimento e continuam apoiando nossos opressores quase incondicionalmente. Nós, as vítimas, estamos sendo penalizadas enquanto nossos opressores são elogiados. Os EUA e a UE poderiam ter usado o êxito do Hamas para abrir um novo capítulo em suas relações com os palestinos, os árabes e os muçulmanos e para compreender melhor um movimento que até aqui tem sido amplamente visto pelos olhos dos ocupantes sionistas de nossa terra.
Nossa mensagem aos governos dos EUA e da UE é a seguinte: sua tentativa de nos forçar a desistir de nossos princípios ou de nossa luta é vã. Nosso povo, que produziu milhares de mártires, os milhões de refugiados que esperaram por quase 60 anos para voltar para casa e nossos 9 mil prisioneiros políticos e de guerra em prisões israelenses não fizeram esses sacrifícios para se acomodar por quase nada. O Hamas foi eleito principalmente pela sua fé inabalável na inevitabilidade da vitória; e o Hamas é imune a propinas, intimidações e chantagens. Embora estejamos ansiosos por relações amistosas com todas as nações não buscaremos amizades à custa de nossos legítimos direitos. Temos visto como outras nações, como o Vietnã e a África do Sul, persistiram em sua luta até sua busca pela liberdade e justiça ser alcançada. Não somos diferentes, nossa causa não é menos valiosa, nossa determinação não é menos profunda e nossa paciência não é tão abundante.
Nossa mensagem às nações árabes e muçulmanas é a seguinte: vocês têm a responsabilidade de defender seus irmãos e irmãs palestinos cujos sacrifícios são feitos em favor de todos vocês. Nosso povo na Palestina não deve esperar nenhuma ajuda de países que vinculam condições humilhantes a cada dólar ou euro que pagam apesar de sua responsabilidade moral e histórica por nosso sofrimento. Esperamos que vocês se apresentem e compensem o povo palestino por qualquer perda de ajuda e pedimos que levantem todas as restrições a instituições da sociedade civil que queiram levantar fundos para a causa palestina.
Nossa mensagem aos palestinos é a seguinte: nosso povo não é apenas aquele que vive sitiado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, mas também os milhões que definham em campos de refugiados no Líbano, Jordânia e Síria, e os milhões espalhados pelo mundo impedidos de voltar para casa. Nós lhes prometemos que nada no mundo nos demoverá de perseguirmos nosso objetivo de libertação e retorno. Não pouparemos nenhum esforço para trabalhar com todas as facções e instituições para colocar nossa casa palestina em ordem. Tendo vencido as eleições parlamentares, nosso objetivo de médio prazo é reformar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) para reviver seu papel como verdadeira representante de todo o povo palestino, sem exceção ou discriminação.
Nossa mensagem aos israelenses é a seguinte: não combatemos vocês porque pertencem a uma certa fé ou cultura. Judeus viveram no mundo muçulmano por 13 séculos em paz e harmonia; eles são, em nossa religião, 'o povo do livro', que tem um promessa de Deus e de Seu Mensageiro Maomé (a paz esteja com ele) de ser respeitado e protegido. Nosso conflito com vocês não é religioso, mas político. Não temos problemas com judeus que não nos atacaram - nosso problema é com aqueles que vieram para nossa terra, se impuseram pela força, destruíram nossa sociedade e baniram nosso povo.
Jamais reconheceremos o direito de qualquer poder de roubar nossa terra e negar nossos direitos nacionais. Jamais reconhecermos a legitimidade de um Estado sionista criado em nosso solo para expiar pecados alheios ou resolver problemas alheios. Mas se vocês estiverem dispostos a aceitar o princípio de uma trégua de longo prazo, estamos preparados para negociar os termos. O Hamas está estendendo a mão da paz aos que estiverem realmente interessados numa paz baseada na justiça.

*Khaled Meshaal, chefe do birô político do Hamas, escreveu para ´The Guardian´


...

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Em vez de reconhecer a legitimidade do Hamas como representante livremente eleito do povo palestino, aproveitar a oportunidade criada pelo resultado para respaldar o desenvolvimento de uma boa governança na Palestina e buscar meios de encerrar o derramamento de sangue, os EUA e a UE ameaçaram o povo palestino com uma punição coletiva por exercer seu direito de escolher seus representantes parlamentares.

oh, pobres palestinos. pois bem, senhor turbante; a ajuda internacional só cessará se o hamas não desistir do objetivo de destruir israel e renunciar à luta armada. um governante que ameaçar pulverizar seus vizinhos não será bem visto por ninguém, democraticamente eleito ou não. não me venha falar de paz enquanto teu partido advoga pela destruição de um estado soberano e democrático e colabora com terroristas, mas acha um absurdo ser chamado de terrorista por isso.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

ukrainian

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Re.: Hamas ganha
« Resposta #40 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 22:36:45 »
A LIÇÃO DO HAMAS

A vitória esmagadora do Hamas nas eleições legislativas para a Autoridade Palestina foi uma vitória da combatividade. Os representantes do Hamas foram eleitos não porem serem muçulmanos e sim por serem combativos. Trata-se de um lição fundamental para aqueles que se dizem laicos, ateus, "de esquerda", ou até "marxistas" mas na vida real têm posições capituladoras e de compromisso com a reacção.

Assim, entre laicos conciliadores e religiosos combativos, os povos preferem os últimos — por serem combativos e não por serem religiosos. Esta lição é preciosa para o movimento revolucionário de todo o mundo. Hoje, tanto na Europa como em outros continentes, há numerosos partidos que se dizem comunistas mas já não o são. Transformaram-se na prática em partidos reformistas/possibilistas, que muitas vezes se prestam a por um carimbo "de esquerda" a políticas reaccionárias. Contudo, não chegam a obter as ditas "reformas possíveis" e acabam por desmoralizar-se. Foi o que aconteceu ao Fatah.

http://www.resistir.info/

ukrainian

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Hamas ganha
« Resposta #41 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 22:42:21 »
A vitória eleitoral do Hamas: um voto pela clareza
por Ali Abunimah


. A vitória do Hamas nas eleições legislativas da Autoridade Palestina levou toda a gente a perguntar: "e agora?" A resposta, e se o resultado deveria ser encarado como algo bom ou mau, depende muito de quem faz a pergunta.

Embora o êxito do Hamas tenha sido fortemente perseguido, a escala da vitória foi geralmente considerada como um "choque". Vários factores explicam a ascensão dramática do Hamas, incluindo a desilusão e o desgosto com a corrupção, o cinismo e a falta de estratégia da facção do Fatah que dominou o movimento palestino durante décadas e que se considerava, de forma arrogante, como o líder natural e indisputável.

O resultado desta eleição não é inteiramente surpreendente, entretanto, e fora prenunciado pelos acontecimentos recentes. Tomemos por exemplo a cidade de Qalqilya, no norte do West Bank. Cercado por pelos colonatos israelenses e agora completamente rodeada por uma muralha de betão, os 50 mil residentes da cidade são prisioneiros num gueto gigante controlado pelos israelenses. Durante anos o concelho da cidade de Qalgilya foi controlado pelo Fatah, mas após a conclusão da muralha os eleitores, nas eleições municipais dos últimos anos, passaram a eleger só vereadores do Hamas. O efeito Qalqilya agora generalizou-se por todos os territórios ocupados, com o Hamas a ganhar confirmadamente todas os cargos electivos. Assim, o êxito do Hamas é uma manifestação da determinação do palestinos de resistirem aos esforços de Israel para forçá-los à rendição, assim como uma rejeição do Fatah. Isto reduz o conflito aos seus elementos fundamentais: há ocupação, e há resistência.

Para os palestinos sob ocupação, ainda não está claro o que significará a vitória do Hamas. Agora é comum falar-se de um "governo" palestino a ser formado fora dos resultados eleitorais, como se a Palestina já fosse um estado soberano e independente. Mas se o primeiro dever de um governo é proteger as vidas, a liberdade e a propriedade do seu povo, então a Autoridade Palestina nunca mereceu ser chamada um governo. Desde o seu início ele não foi capaz de proteger os palestinos dos ataques diários e letais do exército israelense no coração das suas cidades e campos de refugiados, ou de impedir um único dunum (1000 m 2 ) de terra ser agarrado para colonatos, nem de salvar um único arbusto das mais de um milhão de árvores arrancadas por Israel nos últimos dez anos. Ao invés disso, na concepção de Israel, a Autoridade Palestina era suposta esmagar a resistência palestina a fim de tornar os territórios ocupados seguros para a continuada colonização israelense. O Hamas certamente não permitirá que isto continue, mas se será capaz de transformar a Autoridade num braço da luta contra Israel não é de modo algum certo. O Hamas, que observou uma trégua unilateral com Israel durante um ano, assinalou que quer continuá-la se houver "reciprocidade" de Israel. O movimento evidentemente acredita que pode fazer uma tal oferta a partir de uma posição de força e tacticamente vantajoso para si deixar incerteza sobre quando e como retomará a resistência armada em plena escala.

Elementos dos serviços de segurança da Autoridade Palestina dirigida por personalidades do Fatah podem estar relutantes em colocar-se sob o controle de uma autoridade dirigida pelo Hamas, o que poderia conduzir ao colapso do que resta da estrutura da Autoridade, ou mesmo da sua fragmentação em milícias pessoais. Israel e os Estados Unidos, que se recusaram a aceitar o resultado da eleição, podem ver algum interesse em encorajar um tal conflito interno. Israel provavelmente vai usar a vitória do Hamas como um novo pretexto para endurecer a repressão e acelerar sua imposição unilateral de muralhas e colonatos no West Bank destinados a anexar o máximo de terra com o mínimo de palestinos. Tais desenvolvimentos aumentam os riscos de uma escalada dramática da violência israelense-palestina.

Quanto à maioria dos palestinos, que vivem como refugiados e exilados na diáspora, eles têm sido progressivamente excluídos e marginalizados dos esforços para resolver o conflito. Enquanto os EUA e os seus aliados, com assistência da ONU, foram a extremos extraordinários a fim de permitir aos iraquianos "fora do país" participarem nas eleições do país, estas mesmas potências não mostraram qualquer interesse em dar uma voz aos refugiados palestinos. O Fatah, que muitos refugiados palestinos suspeitam que liquidaria os seus direitos numa paz tratada com Israel, obviamente não tem incentivo para exigir tal participação. Está para ser visto se o Hamas, nascido em Gaza onde 90 por cento da população é refugiada, será capaz de articular uma agenda que atenda às preocupações da diáspora.

Para a "comunidade internacional" — principalmente o "Quarteto" constituído pelos Estados Unidos, União Europeia, Rússia e o secretário-geral da ONU Kofi Annan, o resultado da eleição é muito embaraçoso. Eles, e a camarilha de bem financiadas ONGs e think tanks que gera a maior parte dos logros intelectuais, construíram a sua abordagem com base na noção de que a "reforma" palestina ao invés de ser um fim para a ocupação israelense é um meio para a resolução do conflito. Enquanto nominalmente comprometem-se numa solução dois-estados, estas potências arrastaram a Autoridade Palestina liderada pelo Fatah a um jogo infindável em que os palestinos têm de saltar através de obstáculos para provar o seu merecimento aos direitos básicos, ao passo que a mesma pressão não tem sido aplicada a Israel para findar o confisco de terras e a expansão dos colonatos. Esta indústria do processo de paz escolheu abençoar a retirada táctica de Israel de 8000 colonos de Gaza no verão passado, enquanto ignorava o número muito maior de colonos que Israel continuava a plantar ao longo de todo o West Bank, tornando efectivamente inalcançável uma solução dois-estados.

A finalidade principal deste jogo não é trazer uma paz duradoura e justa e sim simplesmente isentar os jogadores da acusação de que nada estão a fazer para resolver um conflito que permanece um foco permanente de preocupação regional e mundial. Um esforço verdadeiro de paz exige confrontar Israel e torná-lo responsável, algo que nenhum dos membros do Quarteto tem a vontade política de fazer. Não há dúvida de que o Fatah foi inteiramente cúmplice neste jogo, pelo que tornou-se um prisioneiro e um parceiro indispensável. Por que outra razão teriam os Estados Unidos tentado tão desesperadamente sustentar o Fatah nos últimos meses, com o dispêndio de milhões de dólares em projectos destinados a comprar votos, e por que outra razão teria a UE ameaçado cortar a ajuda se os palestinos votassem pelo Hamas? A maior parte dos palestinos podia ver claramente que após anos de negociações e milhares de milhões de dólares de ajuda externa estavam mais pobres e menos livres do que nunca pois mais da sua terra fora apresada. Não é de admirar que esta espécie de suborno e chantagem não tivessem poder sobre eles e que provavelmente tenha tido o efeito oposto, aumentando o apoio ao Hamas.

A vitória do Hamas puxa o tapete sob o projecto de tentar desviar a culpa pelo conflito da colonização israelenses para as patologias internas palestinas. Contudo, a indústria do processo de paz não desistirá facilmente, e agora pressionará o Hamas a actuar "responsavelmente" e a "moderar" as suas posições — o que significa, com efeito, abandonar todas as formas de resistência e assumir o dócil e cúmplice papel desempenhado até agora pelo Fatah.

O pedido instantâneo dos EUA para que o Hamas "reconheça Israel" é como reverter o calendário 25 anos atrás, quando o mesmo pedido foi o pretexto para ignorar e excluir a OLP das negociações de paz. Mas como observou o Hamas, toda a submissão da OLP a estes pedidos não conduziu a qualquer relaxamento das garras de Israel ou a qualquer diminuição do apoio dos EUA a Israel. É improvável que o Hamas faça o que pedem os EUA e, mesmo que o fizesse, isto provavelmente apenas daria ascenso a novos grupos de resistência respondendo à pioria das condições no terreno geradas pela ocupação.
26/Janeiro/2006

  • Co-fundador de The Electronic Intifada.

Offline Rodion

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Hamas ganha
« Resposta #42 Online: 02 de Fevereiro de 2006, 22:54:36 »
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Assim, entre laicos conciliadores e religiosos combativos, os povos preferem os últimos — por serem combativos e não por serem religiosos. Esta lição é preciosa para o movimento revolucionário de todo o mundo. Hoje, tanto na Europa como em outros continentes, há numerosos partidos que se dizem comunistas mas já não o são. Transformaram-se na prática em partidos reformistas/possibilistas, que muitas vezes se prestam a por um carimbo "de esquerda" a políticas reaccionárias. Contudo, não chegam a obter as ditas "reformas possíveis" e acabam por desmoralizar-se. Foi o que aconteceu ao Fatah.


engraçado que li que um dos principais apelos do hamas, na campanha, em sua própria tv, foi o religioso. falaram em deus direto. e não faltaram análises determinando que o hamas ganhou não por ser terrorista, mas por ser uma alternativa à corrupta e ineficiente fatah.
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