Mas o experimento de Miller não explica o surgimento da matéria, ele explica o surgimento de sistemas bioquímicos formados por algumas substâncias como aminoácidos, carboridatos...
Não é isso?
Nem isso. O experimento de Uery e Miller, baseando-se nas teorias de Oparin e Haldane, prova que aminoácidos podem se formar a partir de química inorgânica naquelas condições. Mais tarde outros fizeram experimentos, com diferentes situações químicas e fontes de energia (UV em vez de faíscas), e obtiveram resultados bem semelhantes.
Numa espécie de continuação à isso, Fox aqueceu aminoácidos e esse aquecimento gerou "proteinóides", ou termo-proteínas, moléculas maiores, compostas de alguns aminoácidos, mas menores que a maioria das proteínas encontradas nos seres vivos. Mas ao menos uma das proteínas encontradas nos seres vivos foi obtida dessa forma, a flavina (o que nem significa que ela tenha sido utilizada como quer que seja utilizada hoje a partir dessa síntese).
É interessante que a formação dos proteinóides não era exatamente aleatória, mas condições similares produziam proteinóides similares.
Mas isso nem é tudo sobre origem da vida, apesar de ser a parte mais "famosa".
Um detalhe importante: não existe "a teoria da abiogênese". Existem teorias da abiogênese;
a abiogênese em si é um evento que obrigatoriamente teve que ter ocorrido, a menos que se proponha que a vida sempre existiu, eternamente, juntamente com um universo eterno.
Nem a criação divina escapa direito da necessidade da abiogênese. Mesmo que se considere que exista um deus que tenha criado a vida, ele (ou eles) fez isso a partir de matéria não-viva, ou de não matéria (e logo "não-vida"), ou seja, abiogenicamente. A única escapatória seria se esse(s) deus(es) era(m) um ser vivo e literalmente pariu os seres vivos, mas acho que isso não seria bem aceito pela maioria dos teístas ou deístas.
Outras coisas interessantíssimas quanto a abiogênese são os experimentos de Spiegelman e Eigen, com RNA. Spiegelman fez vírus de RNA evoluírem sem hospedeiros vivos, mas num ambiente com a enzima de replicação do DNA e algumas outras matérias primas. O que era originalmente um vírus de RNA relativamente grande, tornou-se menor, mas
um replicador mais eficiente naquele meio. Isso meio que mostra que a altos níveis de complexidade talvez não sejam indispensáveis nos primórdios da vida, ou para a "pré-vida".
Já Eigen, num experimento a parte, com esse mesmo "ambiente" em substituição à célula hospedeira. Eu não entendi bem o que aconteceu, mas no final eles conseguiram fazer cadeias replicantes de RNA sem ter utilizado qualquer molécula de RNA viral. É praticamente como criar um vírus de RNA "do nada". A analogia do livro em que li isso, diz que é mais ou menos "como jogar uma pilha de tijolos numa misturadora gigante, e produzir, se não uma casa, uma garagem".
Nisso e em outras coisas se baseiam as teorias do "mundo de RNA". Mas o problema é que era demasiadamente controlado esse ambiente, utilizavam enzimas que eram produzidas por seres vivos.
Mas tem mais que isso... são coisas interessantes, procurem por auto-organização, auto-catálise e outras coisas....
Ah, o livro que estou lendo sobre isso é "o quinto milagre - em busca da origem da vida" por Paul Davies.
(ah, parei de ler "2001: odisséia espacial", sem terminar

)