
O pastor da Comunidade Zadoque Antônio Carlos Batista, 40, que diz receber 400 fiéis aos domingos ao som de punk rock
DA REPORTAGEM LOCAL
Esqueça a imagem do pastor de terno e gravata, Bíblia embaixo do braço, cabelo penteadinho. Na Comunidade Zadoque, uma igreja evangélica na Barra Funda, zona oeste da cidade, essa figura já era. O pastor Batista é prova disso. Com mais de uma dúzia de piercings nas orelhas, corpo repleto de tatuagens de símbolos cristãos e cabelos compridos e rebeldes, ele até pode parecer mais roqueiro do que religioso, mas consegue combinar as duas coisas.
Fundador da comunidade, Antônio Carlos Batista, 40, quer que seus fiéis, a quem chama de "pequeninos", adorem a Deus de uma forma que foge do convencional e que se sintam entrando em uma danceteria, não em um templo religioso. Ele consegue.
As paredes pintadas de preto, as luzes coloridas no teto e o som de punk rock que sai das guitarras do palco não deixam dúvidas de que aquele não é um lugar comum. Não chega a ser uma boate porque as músicas falam de Deus.
No meio do show religioso, há sessões de exorcismo.
O local não é uma igreja convencional (apesar de cobrar o dízimo -que deve ser colocado em um envelope preto) porque louvor, oração e todo o resto ocorrem aos berros, embalados pelo som pesado.
Os "pequeninos", claro, não se importam. Estão lá para ouvir a mensagem, dançar trombando uns nos outros, curar suas dores e, principalmente, se sentir em casa. A grande maioria tentou freqüentar outras igrejas antes de chegar à Zadoque, mas sentiu na pele o pecado da discriminação. Na comunidade, os góticos usam seu preto dos pés à cabeça, e os punks desfilam seu cortes moicanos coloridos. Sem nenhuma reprovação nem sermão que os façam andar por uma linha conservadora.
O que Batista quer é que sigam uma linha reta. "Zadoque, em hebraico, quer dizer retidão. Oramos para que não se desviem dos seus objetivos." A missão, conta, é dura. "Além de ajudar os fiéis a resolverem seus problemas, temos que lidar com igrejas que nos acusam de satanistas. Só porque tocamos heavy metal, punk rock e temos um visual diferente, acham que não somos de Deus", diz. "Mas ainda assim a Zadoque cresce. Já são 11 igrejas, sendo uma no Peru, e mais de 400 fiéis aos domingos. Deus está conosco." (DT)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2901200608.htm